Série de artigos – A Ética Budista nos Negócios.
Nós estamos destacando trechos de um artigo denominado “Sigalovada Sutta: The Buddha’s Advice to Sigalaka” [“Sigalovada Sutta: O Conselho do Buda para Sigalaka”], Traduzido do Páli por John Kelly, Sue Sawyer e Victoria Yareham ©2005, visando inputs para o conhecimento e o entendimento sobre o sistema de pensamento (ética, princípios e valores), o sistema organizacional (ambiente de trabalho, de relacionamentos e de políticas) e o sistema de tomada de decisões (propósitos, resultados e metas) de uma Organização Baseada na Espiritualidade (OBE), sendo esse tipo de Organização uma tendência global irreversível para as pequenas, as médias e as grandes Empresas, em quaisquer mercados de atuação, que visam a agregação de valor para todos os envolvidos nos negócios, assim como a sua própria perenidade.
Fonte:
Sigalovada Sutta: The Buddha’s Advice to Sigalaka [Sigalovada Sutta: O Conselho do Buda para Sigalaka]
Site: Sigalovada Sutta: The Buddha’s Advice to Sigalaka
DN 31
PTS: D iii 180
Traduzido do Pali por John Kelly, Sue Sawyer e Victoria Yareham © 2005
Tradução alternativa: Narada
Tradução livre Projeto OREM®
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O Sigalovada Sutta (DN 31) é frequentemente chamado de código de disciplina ou código de ética do leigo. É um dos poucos textos — e talvez o mais amplo e abrangente — do cânone Páli em que o Buda ensina um leigo a viver uma vida boa. Por isso, o texto tem sido transmitido ao longo dos séculos na tradição Theravada como uma obra a ser estudada, contemplada e praticada por leigos. (Fonte: Home – Buddhistdoor Global)
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Sigalovada Sutta: O Conselho do Buda para Sigalaka
O Sigalovada Sutta (DN 31) é frequentemente chamado de código de disciplina ou código de ética do leigo.
“Isso é o que eu ouvi.
1. Em certa ocasião, o Buda[1] estava vivendo perto da cidade de Rajagaha[2], em um local no Bosque de Bambu chamado Local de Alimentação do Esquilo.
[1] Ao longo do texto, a palavra usada para se referir ao Buda é Bhagavant, uma palavra Páli que significa ‘Aquele Abençoado’ ou ‘Aquele Afortunado’. Para fazer com que a linguagem seja mais clara para o público moderno, nós temos optado por usar apenas ‘o Buda’.
[2] Significando literalmente ‘a casa do rei’, Rajagaha era uma grande cidade e a capital do reino de Magadha.
Naquela ocasião, um jovem chefe de família chamado Sigalaka levantou-se cedo e partiu de Rajagaha com roupas e cabelos recém-lavados.[3] Com as palmas das mãos unidas e erguidas em reverência,[4] ele prestava homenagem às seis direções:[5] leste, sul, oeste, norte, abaixo e acima.
[3] As roupas e os cabelos recém-lavados de Sigalaka talvez indiquem que ele havia acabado de realizar o ritual védico de banho tarpa.na. Enquanto entoava mantras, o banhista colocava água nas mãos em concha e a deixava fluir de volta para o rio. Após a ablução, ele se vestia com roupas limpas. (Ver Klaus K. Klostermaier, A Survey of Hinduism, 2ª ed. (Albany: State University of New York Press, 1994), Chitrabhanu Sen, A Dictionary of the Vedic Rituals: Based on the Srauta and Grhya Sutras (Nova Déli: Concept Publishing Company, 1978)).
[4] Mais especificamente, Sigalaka está adorando com as mãos unidas e estendidas.
[5] As palavras em Páli que denotam as seis direções têm implicações simbólicas óbvias em relação aos seis grupos de pessoas que o Buda associa a elas. Puratthima (‘leste’) deriva da palavra Sânscrita purastaat, que, além de denotar o leste, significa ‘diante, à frente, em ou da frente;… no início’ (Monier Monier-Williams, Carl Cappeller e Ernst Leumann, A Sanskrit-English Dictionary: Etymologically and Philologically Arranged with Special Reference to Cognate Indo-European Languages, Nova ed. (Delhi: Motilal Banarsidass, 2002), 634). Os pais são representados no leste, pois são o nosso começo. Dakkhi.na, o sul, também significa ‘a direita (em oposição à esquerda)’ (T. W. Rhys Davids e Wilhelm Stede, The Pali Text Society’s Pali-English Dictionary (Oxford: Pali Text Society, 1999), 311). O lado direito, considerado respeitoso, representa apropriadamente os professores. À medida que o sol se põe no oeste, pacchima simboliza a conclusão da vida de alguém, onde se encontram o cônjuge e a família dele próprio. Enquanto a palavra Páli heṭṭhimā, que denota a direção mais baixa, não oferece grande contexto simbólico, um equivalente Sânscrito, dhruva, no Atharva-Veda (AV) III.26, 27, oferece. Como servos e escravos representam a direção sob os pés no Si’ngalovada-Suttanta, uma imagem clara de inferioridade social emerge com as classes menos favorecidas sendo literalmente pisoteadas. Uparima, a direção mais elevada, representa os Brâmanes e Ascetas, que podem ser vistos como estando mais próximos do céu e espiritualmente mais elevados do que os leigos. Como seis direções são mencionadas em apenas três textos Sânscritos, essas referências são importantes. O adjetivo dhruva, quando usado com di’s, como aqui, significa ‘o ponto dos céus diretamente sob os pés’ (Monier-Williams, Cappeller e Leumann, A Sanskrit-English Dictionary, 521).
2. Enquanto isso, o Buda se vestiu de manhã cedo, pegou a sua tigela e o seu manto e foi até Rajagaha para a ronda de esmolas. No caminho, ele viu Sigalaka adorando as seis direções. Ao ver isso, o Buda lhe disse: ‘Jovem, por que você se levantou de manhã cedo e saiu de Rajagaha para adorar dessa maneira?’
‘Caro senhor, o meu pai, em seu leito de morte, instou-me: ‘Meu filho, você tem que adorar as direções’. Então, caro senhor, por reconhecer, honrar, respeitar e manter sagrado o pedido de meu pai, eu tenho levantado de manhã cedo e saído de Rajagaha para adorar dessa maneira.’
‘Mas, jovem homem, não é assim que as seis direções devem ser veneradas, de acordo com a disciplina dos nobres.’
‘Então, caro senhor, como as seis direções devem ser veneradas, de acordo com a disciplina dos nobres? Eu apreciaria se o senhor me ensinasse a maneira correta de fazer isso.’
‘Muito bem, jovem homem, ouça e preste bastante atenção enquanto eu lhe digo.’
‘Sim, caro senhor’, concordou Sigalaka.
O Buda disse o seguinte:
3. ‘Jovem homem, ao abandonar as quatro ações impuras, um nobre discípulo se abstém de atos nocivos enraizados em quatro causas e evita as seis maneiras de esbanjar riquezas. Assim, essas quatorze coisas nocivas são removidas. O nobre discípulo, agora com as seis direções protegidas, tem entrado em um caminho para conquistar ambos os mundos, firmemente enraizado nesse mundo e no próximo. Na dissolução do corpo após a morte, ocorre um renascimento benéfico em um mundo celestial.
‘Quais são as quatro ações impuras que são abandonadas? Prejudicar os seres vivos é uma ação impura, tomar o que não é dado é uma ação impura, a má conduta sexual é uma ação impura e a fala mentirosa é uma ação impura.[6] Essas quatro são abandonadas.’
[6] As ações impuras que são abandonadas pelo nobre discípulo constituem os quatro primeiros dos cinco preceitos adotados pelos leigos que compõem o grupo Śilā, ou moralidade, mencionado no Nobre Caminho Óctuplo do Buda, isso é, Fala Correta, Ação Correta e Modo de Vida Correto. Śilā é um pré-requisito para os outros grupos de caminhos (o grupo samaadhi, concentração e o grupo paññā, sabedoria) por uma razão muito prática; o remorso e a culpa que perturbam a mente de uma pessoa imoral fazem com que a meditação e portanto o progresso em direção ao despertar, seja impossível. Os cinco preceitos podem ser resumidamente enunciados como: 1) não tirar a vida; 2) não roubar; 3) não cometer adultério; 4) não mentir; e 5) não consumir substâncias tóxicas. No entanto, elas vão além de uma simples lista de proibições e oferecem um modelo de estilo de vida que desenvolve as qualidades de uma pessoa desperta. Portanto, não tirar a vida traz consigo a implicação de uma determinação ativa de preservar a vida, de viver com cuidado e consideração pelo bem-estar dos outros. Não roubar implica uma sensibilidade pelas posses alheias (materiais e outras), bem como pelos recursos naturais disponíveis na natureza. Não cometer adultério também significa comprometer-se com o relacionamento de todo o coração. Não mentir conota reverência pela verdade, bem como pelo valor da fala gentil e branda. Consumir substâncias tóxicas é arriscar-se a quebrar todos os outros preceitos por negligência e, portanto, deve ser evitado. Manter Śilā é um assunto privado para cada indivíduo; não há autoridade que aplique punição pela não observância. Alguém capaz de manter os preceitos é aquele que vive uma existência cuidadosa, atenciosa e consciente, mais propícia ao desenvolvimento da concentração, da sabedoria e, finalmente, do nibbaana. Esse último, é claro, é a verdadeira meta do Buda para os seus estudantes, uma meta que vai muito além da adesão irrefletida a um conjunto de regras.
Foi o que disse o Buda.
4. Resumindo em versos, o sublime professor disse:
‘Prejudicar os seres vivos, tomar o que não lhes é dado,
Falar falsamente e perseguir o ente querido de outrem:
Esses os sábios certamente não elogiam.’
5. ‘Quais são as quatro causas das ações prejudiciais? Desviando-se por desejo, ódio, delusão ou medo, o nobre discípulo pratica ações prejudiciais. Entretanto, jovem homem, não se desviando por desejo, ódio, delusão ou medo, o nobre discípulo não pratica ações prejudiciais.’
Foi o que disse o Buda.
6. Resumindo em versos, o sublime professor disse:
‘Desejo, ódio, delusão ou medo:
Seja quem for que transgrida o Dhamma com isso,
Tem uma reputação que leva à ruína,
Como a lua na quinzena minguante.
Desejo, ódio, delusão ou medo:
Seja quem for que não transgrida o Dhamma com isso,
Tem uma reputação que leva à completude,
Como a lua na quinzena crescente.’
7. ‘E quais são as seis maneiras de desperdiçar riquezas que devem ser evitadas? Jovem homem, a negligência causada pela embriaguez, vagar pelas ruas em horários inapropriados, festas habituais, jogo compulsivo, más companhias e preguiça são as seis maneiras de desperdiçar riquezas.
8. ‘Esses são os seis perigos inerentes à negligência causada pela embriaguez: perda de riqueza imediata, aumento de brigas, suscetibilidade a doenças, descrédito, exposição indecente e enfraquecimento do insight.
9. ‘Esses são os seis perigos inerentes à perambulação pelas ruas em horários inapropriados: à própria pessoa, à sua família e aos seus bens próprios que ficam desguardados e desprotegidos; a pessoa é suspeita de crimes; então rumores se espalham; e a pessoa é submetida a muitas misérias.
10. ‘Esses são os seis perigos inerentes às festas habituais: Você busca constantemente: ‘Onde está a dança? Onde está quem canta? Onde está a música? Onde estão as histórias? Onde estão os aplausos? Onde estão os tambores?’
11. ‘Esses são os seis perigos inerentes ao jogo compulsivo: ganhar gera ressentimento; o perdedor lamenta a perda de bens; economias são perdidas; a palavra de alguém não tem peso em público; amigos e colegas demonstram o desprezo deles; e a pessoa não é procurada para casamento, já que um jogador não consegue sustentar uma família adequadamente.
12. ‘Esses são os seis perigos inerentes à má companhia: qualquer charlatão, bêbado, viciado, trapaceiro, vigarista ou bandido vem a ser um amigo e colega.
13. ‘Esses são os seis perigos inerentes à preguiça: dizer ‘Está muito frio’, a pessoa não trabalha; dizer ‘Está muito quente’, a pessoa não trabalha; dizer ‘É muito tarde’, a pessoa não trabalha; dizer ‘É muito cedo’, a pessoa não trabalha; dizer ‘Eu estou com muita fome’, a pessoa não trabalha; dizer ‘Eu estou muito cheio’, a pessoa não trabalha. Com uma abundância de desculpas para não trabalhar, novas riquezas não se acumulam e as existentes são desperdiçadas.’
Foi o que disse o Buda.
14. Resumindo em versos, o sublime professor disse:
“Alguns são companheiros de bebida,
Alguns dizem: ‘Caro amigo! Caro amigo!’.
Mas aquele que está por perto na dificuldade,
Esse é verdadeiramente um amigo.
Dormir até tarde, adultério,
Hostilidade, falta de sentido,
Amigos nocivos, mesquinharia total:
Essas seis coisas destroem uma pessoa.
Maus amigos, más companhias,
Más práticas — gastar tempo em maus caminhos,
Por meio delas, a pessoa se arruína,
Nesse mundo e no outro.
Sedução, jogo, bebida, canto, dança,
Dormir de dia, vagar fora de hora,
Amigos nocivos, mesquinharia total:
Essas coisas destroem uma pessoa.
Jogam dados; eles bebem bebidas alcoólicas;
Eles se unem com amantes queridas por outros.
Associando-se aos imoralistas e aos desprezíveis,
Eles se arruínam como a lua minguante.
Seja lá quem é bêbado, falido e miserável,
Arrastado pela sede de bar em bar,
Afundando-se em dívidas como uma pedra na água,
Na confusão rapidamente mergulha.
Quando dormir até tarde vir a ser um hábito
E a noite é vista como hora de acordar,
Para alguém perpetuamente embriagado,
Uma vida em casa não pode ser mantida.
‘Muito frio! Muito quente!
Tarde demais!’: eles dizem.
Desperdiçando tempo de trabalho dessa maneira,
Os jovens perdem oportunidades.
Porém aquele que vê no frio ou no calor
Menos que num pedaço de capim,
E que faz o que deve ser feito,
A felicidade não será estranha.’
15. ‘Jovem homem, esteja ciente desses quatro inimigos disfarçados de amigos: o aproveitador, o falador, o bajulador e o companheiro imprudente.
16. ‘O aproveitador é capaz de ser identificado por quatro coisas: por apenas receber, por pedir muito e dar pouco, por cumprir o dever por medo e por oferecer serviço para ganhar alguma coisa.
17. ‘O falador é capaz de ser identificado por quatro coisas: por lembrar-se de generosidade passada, por prometer generosidade futura, por proferir palavras vazias de bondade e por protestar contra o infortúnio pessoal quando chamado a ajudar.
18. ‘O bajulador é capaz de ser identificado por quatro coisas: por apoiar indiscriminadamente o bom e o mau comportamento, elogiando você na sua cara e menosprezando você pelas costas.
19. ‘O companheiro imprudente é capaz de ser identificado por quatro coisas: por acompanhá-lo na bebida, perambulando à noite, em festas e jogando.’
Foi o que o Buda disse.
20. Resumindo em versos, o sublime professor disse:
‘O amigo que só quer saber de tudo,
O amigo das palavras vazias,
O amigo cheio de bajulação,
E o amigo imprudente;
Esses quatro não são amigos, mas inimigos;
O sábio entende isso
E os mantêm à distância
Como se eles estivessem em um caminho perigoso.’
21. ‘Jovem homem, esteja ciente desses quatro amigos de bom coração: aquele que ajuda, o amigo que persevera nos bons e maus momentos, o mentor e o amigo compassivo.
22. ‘Aquele que ajuda é capaz de ser identificado por quatro coisas: por proteger você quando você está vulnerável assim como a sua riqueza, sendo um refúgio quando você está com medo e, em várias tarefas, fornecendo o dobro do que é pedido.
23. ‘O amigo que persevera é capaz de ser identificado por quatro coisas: por contar a você segredos, guardando os próprios segredos de você com cuidado, não abandonando você na desgraça e até mesmo morrendo por você.
24. ‘O mentor é capaz de ser identificado por quatro coisas: por impedir você de fazer o mal, guiando você para boas ações, dizendo a você o que você deve saber e mostrando a você o caminho para o céu.
25. ‘O amigo compassivo é capaz de ser identificado por quatro coisas: por não se alegrar com o seu infortúnio, deleitando-se com a sua boa sorte, impedindo que os outros falem mal de você e encorajando aqueles que elogiam as suas boas qualidades.’
Foi o que o Buda disse.
26. Resumindo em versos, o sublime professor disse:
“O amigo que é aquele que ajuda,
O amigo nos bons e maus momentos,
O amigo que dá bons conselhos,
E o amigo compassivo;
Esses quatro são realmente amigos,
O sábio entende isso
E cuida deles com cuidado,
Como uma mãe cuida do próprio filho dela.
O sábio dotado de virtude
Brilha como um fogo ardente,
Acumulando riquezas como as abelhas fazem com o mel
E acumulando-as como um formigueiro.
Uma vez acumulada a riqueza,
A vida familiar e doméstica pode seguir.
Ao dividir a riqueza em quatro partes,
Amizades verdadeiras são consolidadas;
Uma parte deve ser desfrutada;
Duas partes investidas em negócios;
E a quarta parte reservada
Para infortúnios futuros.’
27. ‘E como, jovem homem, o nobre discípulo protege as seis direções? Essas seis direções devem ser conhecidas: mãe e pai como o leste, professores como o sul, cônjuge e família como o oeste, amigos e colegas como o norte, trabalhadores e servos como a direção abaixo e ascetas e Brâmanes como a direção acima.
28. ‘De cinco maneiras, uma mãe e um pai como a direção leste devem ser respeitados por uma criança: ‘Eu apoiarei aqueles que me apoiaram; eu cumprirei o meu dever para com eles; eu manterei a linhagem e a tradição da família; eu serei digno da minha herança; e eu farei doações em nome dos antepassados falecidos.’
‘E a mãe e o pai assim respeitados retribuem com compaixão de cinco maneiras: por impedir você de praticar o mal, guiando você para boas ações, treinando você em uma profissão, apoiando a escolha de um(a) cônjuge adequado(a) e, no devido tempo, entregando-lhe a herança.
‘Dessa forma, a direção leste é protegida e tornada pacífica e segura.
29. ‘De cinco maneiras, os professores, como a direção sul, devem ser respeitados por um estudante: erguendo-se para eles, frequentando regularmente as aulas, desejando ansiosamente aprender, servindo-os devidamente e recebendo instrução.
‘E os professores assim respeitados retribuem com compaixão de cinco maneiras: por treinar a autodisciplina, garantindo que os ensinamentos sejam bem compreendidos, instruindo em todos os ramos do conhecimento, apresentando os amigos e colegas deles e fornecendo salvaguardas em todas as direções.
‘Desta maneira, a direção sul é protegida e tornada pacífica e segura.
30. ‘De cinco maneiras, uma esposa, como a direção oeste, deve ser respeitada pelo marido: por honrar, não desrespeitando, sendo fiel, compartilhando a autoridade e dando presentes (dádivas).
‘E a esposa assim respeitada retribui com compaixão de cinco maneiras: por ser bem organizada, sendo gentil com os sogros e os empregados domésticos, sendo fiel, cuidando dos bens domésticos e sendo hábil e diligente em todos os deveres.[7]
[7] Pode ser significativo notar que o Páli usa continuamente a palavra ‘e’ para conectar os deveres da esposa, bem como os dos servos e trabalhadores no parágrafo 32. Será que isso se deve ao fato de essas pessoas serem consideradas socialmente inferiores?
Dessa maneira, a direção oeste é protegida e torna-se pacífica e segura.
31. ‘Amigos e colegas da direção norte devem ser respeitados de cinco maneiras: pela generosidade, palavras gentis, agindo em prol do bem-estar deles, imparcialidade e honestidade.
‘E, amigos e colegas tão respeitados retribuem com compaixão de cinco maneiras: por proteger você quando estiver vulnerável e também a sua riqueza, sendo um refúgio quando estiver com medo, não abandonando você em infortúnios e honrando todos os seus descendentes.
‘Dessa maneira, a direção norte é protegida, tornada pacífica e segura.
32. ‘Os trabalhadores e servos, como a direção abaixo, devem ser respeitados pelo empregador de cinco maneiras: por distribuir o trabalho de acordo com a aptidão, fornecendo salários e alimentação, cuidando dos doentes, compartilhando refeições especiais e concedendo folgas razoáveis.
‘E os trabalhadores e servos assim respeitados retribuem com compaixão de cinco maneiras: estando dispostos a começar cedo e terminar tarde quando necessário, recebendo apenas o que lhes é dado, fazendo bem o trabalho e promovendo uma boa reputação.
‘Dessa forma, a direção abaixo é protegida, mantida em paz e segurança.
33. ‘De cinco maneiras, os ascetas e os Brâmanes, como a direção acima, devem ser respeitados: por meio de ações, palavras e pensamentos gentis, mantendo a porta aberta e provendo as necessidades materiais.
‘E os ascetas e os Brâmanes assim respeitados retribuem com compaixão de seis maneiras: por impedir você de praticar o mal, guiando você para boas ações, pensando com compaixão, dizendo a você o que você deve saber, esclarecendo o que você já sabe e mostrando a você o caminho para o céu.
‘Dessa forma, a direção acima é protegida, tornada pacífica e segura.’
Foi o que disse o Buda.
34. Resumindo em versos, o sublime professor disse:
‘Mãe e pai como o leste,
Professores como o sul,
Cônjuge e família como o oeste,
Amigos e colegas como o norte,
Servos e trabalhadores abaixo,
Brâmanes e Ascetas acima;
Essas direções uma pessoa deve honrar
Para ser verdadeiramente bom.
Sábio e virtuoso,
Gentil e eloquente,
Humilde e complacente;
Tal pessoa alcança a glória.
Energético, não preguiçoso,
Não abalado pelo infortúnio,
Impecável na conduta e inteligente;
Tal pessoa alcança a glória.
Um compassivo fazedor de amigos,
Acessível, livre de mesquinharia,
Um líder, um professor e um diplomata;
Tal pessoa alcança a glória.
Generosidade e palavras gentis,
Conduta voltada para o bem-estar dos outros,
Imparcialidade em todas as coisas;
Tudo isso é adequado em qualquer lugar.
Essas disposições gentis mantêm o mundo unido,
Como o eixo de uma carruagem em movimento.
E se essas disposições gentis não existissem,
Então a mãe não receberia
Respeito ou honra de seu filho,
Nem respeitaria um pai.
Sobre essas coisas
Os sábios refletem;
Eles alcançam grandeza
E são fontes de louvor.’
35. Quando tudo foi dito, o jovem chefe de família, Sigalaka, exclamou ao Buda:
‘Maravilhoso, caro senhor! Maravilhoso! É como se o senhor tivesse colocado em pé o que estava virado, ou descoberto o que estava oculto, ou mostrado o caminho a alguém que se extraviou, ou trazido uma lamparina a óleo para a escuridão de forma que aqueles com olhos pudessem ver. Assim também o Buda esclareceu o Dhamma de várias maneiras. Eu busco refúgio no Buda, no Dhamma e na comunidade monástica.[8] Que o exaltado me aceite como um seguidor leigo que buscou refúgio a partir de agora, enquanto eu viver.’”
[8] A Sangha.
©2005 John Kelly.
Vinaya Pitaka – The Book of the Discipline [O Livro da Disciplina] © 2007.
O Vinaya Pitaka, a primeira divisão do Tipitaka, é a estrutura textual sobre a qual a comunidade monástica (Sangha) é construída. Ela inclui não apenas as regras que regem a vida de cada bhikkhu (monge) e bhikkhuni (monja) Theravada, mas também uma série de procedimentos e convenções de etiqueta que sustentam relações harmoniosas, tanto entre os próprios monásticos quanto entre e os seguidores leigos deles, dos quais eles dependem para todas as suas necessidades materiais.
Quando o Buda em primeiro lugar estabeleceu a Sangha, a comunidade vivia inicialmente em harmonia, sem quaisquer regras de conduta codificadas. À medida que a Sangha gradualmente crescia em número e evoluía para uma sociedade mais complexa, inevitavelmente surgiam ocasiões em que um membro agia de maneira inábil. Sempre que um desses casos era levado à atenção do Buda, ele estipulava uma regra estabelecendo uma punição adequada para a ofensa, como um impedimento para futuras más condutas. A repreensão padrão do Buda era, em si mesma, um poderoso corretivo:
‘Isso não é adequado, tolo homem, isso não é respeitoso, isso não é apropriado, isso é indigno de um recluso, isso não é lícito, isso não deve ser feito. Como pode você, homem tolo, tendo seguido adiante esse Dhamma e Disciplina que são bem ensinados, [cometer tal e tal ofensa]?… Isso não é, homem tolo, para o benefício dos descrentes, nem para o aumento do número de crentes, mas, homem tolo, é para o detrimento tanto dos descrentes quanto dos crentes e causa hesitação em alguns.’
— “The Book of the Discipline” , Parte I, por I.B. Horner (London: Pali Text Society, 1982), pp. 36-37.

A tradição monástica e as regras sobre as quais ela se baseia são, por vezes, ingenuamente criticadas — particularmente aqui no Ocidente — como irrelevantes para a prática ‘moderna’ do Budismo. Alguns veem o Vinaya como um retrocesso a um patriarcado arcaico, baseado numa miscelânea de regras e costumes antigos — relíquias culturais pitorescas que apenas obscurecem a essência da ‘verdadeira’ prática Budista. Essa visão equivocada ignora um fato crucial: é graças à linhagem ininterrupta de monásticos que têm consistentemente mantido e protegido as regras do Vinaya por quase 2.600 anos que nós nos encontramos hoje com o luxo de receber os inestimáveis ensinamentos do Dhamma. Se não fosse pelo Vinaya e por aqueles que o mantêm isso vivo até hoje, não haveria Budismo.
É útil lembrar que o nome que o Buda deu para o caminho espiritual que ele ensinou foi “Dhamma-vinaya” — a Doutrina (Dhamma) e a Disciplina (Vinaya) — sugerindo um corpo integrado de sabedoria e treinamento ético. O Vinaya é, portanto, uma faceta e fundamento indispensável de todos os ensinamentos do Buda, inseparável do Dhamma e digno de estudo por todos os seguidores — leigos e ordenados. Praticantes leigos encontrarão no Vinaya Pitaka muitas lições valiosas sobre a natureza humana, orientações sobre como estabelecer e manter uma comunidade ou organização harmoniosa e muitos ensinamentos profundos do próprio Dhamma. No entanto, o seu maior valor, talvez, resida em seu poder de inspirar o leigo a considerar as extraordinárias possibilidades apresentadas por uma vida de verdadeira renúncia, uma vida vivida em plena sintonia com o Dhamma.
Conteúdos
- I. Suttavibhanga — as regras básicas de conduta (Patimokkha) para bhikkhus e bhikkhunis, juntamente com a “história de origem” de cada uma.
- II. Khandhaka
- A. Mahavagga — além das regras de conduta e etiqueta para a Sangha, essa seção contém vários textos importantes semelhantes a suttas, incluindo um relato do período imediatamente após o Despertar do Buda, seus primeiros sermões ao grupo de cinco monges e histórias de como alguns de seus grandes discípulos se juntaram à Sangha e alcançaram o Despertar.
- B. Cullavagga — uma elaboração da etiqueta e dos deveres dos bhikkhus, bem como das regras e procedimentos para lidar com ofensas que podem ser cometidas dentro da Sangha.
- III. Parivara — Uma recapitulação das seções anteriores, com resumos das regras classificadas e reclassificadas de várias maneiras para fins instrucionais.
Veja também:
- The Bhikkhuni Patimokkha of the Six Schools, por Chatsumarn Kabilsingh (Bangkok: Universidade Thammasat, 1991). Uma análise comparativa das regras de Patimokkha das monjas em seis escolas Budistas.
- The Bhikkhus’ Rules: A Guide for Laypeople compilado e explicado por Bhikkhu Ariyesako (Sanghaloka Forest Hermitage, 1999). Um resumo de fácil leitura das regras do Vinaya dos bhikkhus, com o objetivo de proporcionar aos leigos uma melhor compreensão do modo de vida dos monges.
- Book of the Discipline, Vols I-VI, by I.B. Horner (London: Pali Text Society, 1982). Uma tradução quase completa (embora arcaica) do Vinaya Pitaka para o Inglês.
- The Buddhist Monastic Code, Volume I: The Patimokkha Training Rules Translated and Explained, por Thanissaro Bhikkhu (Valley Center, CA: Metta Forest Monastery, 2007). Um comentário moderno abrangente sobre as 227 regras do Patimokkha para monges Theravada.
- The Buddhist Monastic Code, Volume II: The Khandhaka Training Rules Translated and Explained, por Thanissaro Bhikkhu (Valley Center, CA: Metta Forest Monastery, 2007). Uma explicação detalhada das regras de treinamento do Khandhaka.
- Going Forth: A Call to Buddhist Monkhood, por Sumana Samanera (Kandy: Buddhist Publication Society, 1983).
- Sisters in Solitude, por Karma Lekshe Tsomo (Albany, NY: SUNY Press, 1996). Uma tradução dos Mulasarvastivadin e Dharmaguptaka bhikkhuni Patimokkhas.
- With Robes and Bowl, por Bhikkhu Khantipalo (Kandy: Buddhist Publication Society, 1986). Um vislumbre em primeira mão do modo de vida de um monge meditador da floresta na Tailândia.
Veja também essas entradas no General Index: Monastic Life, Vinaya.
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Como citar esse documento (estilo sugerido):
“Sigalovada Sutta: O Conselho do Buda para Sigalaka” (DN 31), traduzido do Páli por John Kelly, Sue Sawyer e Victoria Yareham. Access to Insight (Edição BCBS), 30 de novembro de 2013, http://www.accesstoinsight.org/tipitaka/dn/dn.31.0.ksw0.html
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Imagem: amit-kumar-cT4wxa5jFKU-unsplash-14.06.25.jpg
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A Espiritualidade nas Empresas trata-se de uma Filosofia cujos Princípios são capazes de ajudar tanto as Pessoas quanto as Organizações.
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