Destacamos e transcrevemos trechos do artigo editado na Revista ESPM JAN-FEV 2007, denominado “O Espírito Das (Nas) Empresas”, do autor Celso Nucci, Jornalista e Assessor da Presidência da Radiobrás (em 2007), abordando que a espiritualidade nas empresas nada tem a ver com religião ou com práticas religiosas, mas com a consciência [no nível da realidade (awareness)] que pode se desenvolver dentro das organizações com relação ao lugar que ocupam no mundo e à maneira como se relacionam com ele.

Alguns destaques entre […] e Itálico são por conta do Projeto OREM®.

Vamos refletir sobre o que pensa o autor sobre um importante tema para as organizações com ou sem fins lucrativos, embora pouco abordado nas mídias de nosso país:

“Falar em Espiritualidade nas Empresas é tocar em um assunto pouco claro para a maioria das pessoas. Esse tema esbarra nas resistências da tradicional postura materialista dos negócios, na confusão que existe entre espiritualidade e religião e ainda tem, como pano de fundo, todo o mundo Ocidental em que matéria e espírito estão divididos em grande estilo filosófico desde o Iluminismo. Além disso, as visões sobre o que é espiritualidade e sobre como ela pode estar presente nas empresas variam de cabeça para cabeça. Mas vale a pena estimular a sua discussão, porque o futuro das empresas depende disso.

A busca do sucesso empresarial no Brasil tem sido moldada segundo os padrões utilizados em países onde o capitalismo é mais estruturado e adiantado. Desse modo chegam aqui para nós tanto os sucessos conseguidos como os fracassos e os problemas não resolvidos na gestão das organizações. São problemas muito semelhantes os que atormentam as empresas no mundo inteiro

A idéia básica do mundo empresarial Ocidental é atingir eficiência, desempenho e eficácia. Esses objetivos têm sido buscados por meio de práticas gerenciais, na sua maioria, duras e materialistas. Práticas que consagram a separatividade filosófica entre matéria e espírito. Os resultados são muito duvidosos, haja vista as empresas precisarem cada vez mais de auxílios externos para melhorar as suas condições internas. Do ponto de vista das pessoas que fazem essas organizações, as empresas se dividem em dois tipos: aqueles em que as pessoas são felizes e outras onde as pessoas são infelizes. É nesses ambientes em que mora a infelicidade que surgem os maiores obstáculos ao desenvolvimento empresarial.

Os profissionais que se dedicam a pensar a gestão das empresas tentaram e continuam tentando, ao longo das últimas quatro décadas, buscar soluções para uma gestão empresarial ideal, a que construiria o sonhado mundo feliz e lucrativo dentro de uma instituição de negócios. As modas de gestão empresarial se sucederam ao longo do tempo e uma substitui a outra; a mais nova sempre faz a felicidade financeira das consultorias que as vendem aos empresários como se fossem soluções mágicas.

Hoje já existem empresários conscientes de que uma empresa de sucesso precisa, necessariamente, ser feita por pessoas felizes, por funcionários que passem seu tempo no trabalho, sentindo o mesmo prazer que sentiriam em horas de lazer ou em seus lares. Empresas têm desbravado caminhos para criar ambientes bons para os seres humanos que ali se reúnem diariamente. Frutos dessa busca existem hoje disputados concursos que indicam quais são as melhores organizações para se trabalhar, segundo a opinião dos funcionários. Ou seja, quais são as companhias em que os funcionários se sentem mais felizes no trabalho.

Um dia o presidente de uma grande organização Brasileira comentava comigo, com muito desagrado, o fato de sua empresa nunca ter sido sequer mencionada nesses certames. Eu conhecia bem a sua empresa e disse a ele que não ficava surpreso com aquele resultado, pois achava que havia um baixíssimo grau de solidariedade entre os seus funcionários. Esse era, para mim, apenas um pequeno sinal de que as pessoas ali não eram felizes e que não iriam eleger, tão cedo, aquela empresa como o melhor lugar para se trabalhar.

Penso que as empresas em que as pessoas se sentem mais felizes são aquelas que têm um grau de consciência [no nível da realidade (awareness)] mais elevado. Perdoem-me a licença de criar aqui uma “consciência [no nível da realidade (awareness)] empresarial”. Não interessa agora saber se esse estado que eu chamo de consciência [no nível da realidade (awareness)] empresarial é gerado pela consciência [no nível da realidade (awareness)] individual de uma pessoa, geralmente o líder máximo, ou de um grupo de pessoas sintonizadas com o objetivo de realizar a gestão empresarial como uma questão de consciência [no nível da realidade (awareness)]. Mas a tradição empresarial Brasileira, pelo menos a construída nas três ou quatro últimas décadas, é baseada na dureza, num comportamento que parece descartar a evolução da consciência [no nível da realidade (awareness)] e cultivar a rigidez materialista do puro desenvolvimento tecnológico.

“Mas a tradição empresarial Brasileira, pelo menos a construída nas três ou quatro últimas décadas, é baseada na dureza, num comportamento que parece descartar a evolução da consciência [no nível da realidade (awareness)] e cultivar a rigidez materialista do puro desenvolvimento tecnológico.”

Empresas com grau de consciência [no nível da realidade (awareness)] mais elevado são necessárias nessa quadra do desenvolvimento humano. No século XXI, o desenvolvimento da consciência [no nível da realidade (awareness)], no âmbito empresarial, torna-se cada vez mais um instrumento indispensável para a própria viabilidade das empresas em um mundo em intensa mutação. Há movimentos fortes nessa direção que começam a se fazer presentes em muitas companhias. O que se resolveu chamar de responsabilidade social é de longe o mais presente, embora muitas incursões de empresas nessa área estejam funcionando mais como uma moda de gestão, como algo que permite à empresa não ficar para trás – todos estão fazendo; vamos fazer também – a estar atualizada com a prática de uma postura politicamente correta.

“Penso que as empresas em que as pessoas se sentem mais felizes são aquelas que têm um grau de consciência [no nível da realidade (awareness)] mais elevado.”

O que era considerado sonho torna-se necessidade vital

Eu trabalhei por muitos anos em uma grande empresa Brasileira, companhia de ponta em sua especialidade, cuja característica marcante era ser muito boa naquilo que ela fazia. Pairava no ambiente de trabalho uma visão materialista, orgulhosa da alta qualidade produzida, colorida de presunção e arrogância. Era uma empresa em que as chefias tinham um alto grau de liberdade, essas pessoas, portanto, se divertiam no trabalho. De outro lado havia muitas pessoas infelizes, geralmente chefiadas pelos felizes.

No século XXI, o desenvolvimento da consciência [no nível da realidade (awareness)], no âmbito empresarial, torna-se cada vez mais um instrumento indispensável para a própria viabilidade das empresas em um mundo em intensa mutação.

Eu participava ativamente dessa vida; por muitos anos eu fui feliz ali, mas sempre com uma ponta de preocupação por conviver com esse paradoxo entre felicidade de uns poucos e infelicidade de muitos outros no mesmo ambiente de trabalho. Aquela era uma empresa “dura”. Cultivava a superior qualidade de seus produtos e tratava os seus funcionários com uma correção formal perfeita. Mas permitia que chefias criassem verdadeiros infernos particulares ou departamentais para os seus funcionários. Era materialista na acepção da palavra. Aquela empresa precisava desabrochar o seu espírito.

Ao longo do tempo eu fui trabalhando o meu processo pessoal de aperfeiçoamento da consciência [no nível da realidade (awareness)] e o incômodo que sentia na empresa foi se explicando. As causas da síndrome da infelicidade no trabalho foram se tornando claras. A minha visão de como deveria ser uma empresa espiritualizada se conformou. Pouco mais de quinze anos atrás, era o início da década de noventa, eu conversava com alguns colegas de diretoria e contava as minhas ideias sobre o futuro das empresas. Em resumo, eu dizia que só teriam lugar, no século XXI, as empresas que, em sua gestão, levassem em consideração três pontos:

1. Preocupação (e atuação) com a saúde do planeta.

2. Compromisso com o desenvolvimento social da comunidade e do país.

3. Consciência [no nível da realidade (awareness)] de que o desenvolvimento da empresa é a soma dos desenvolvimentos individuais de todos os seres humanos que a fazem.

Aquela empresa precisava desabrochar o seu espírito.

Naquele tempo eu fui tratado como um sonhador, um alimentador de utopias descabidas no mundo empresarial e esse meu pensamento nunca foi levado a sério. Por vezes eu recebia o sorriso condescendente que se dispensa nas empresas àqueles que se afastam do rigor da gestão cartesiana tradicional.

Mas muita coisa mudou de lá para cá. Mais e mais empresas e empresários já não acham essas ideias sonhos descabidos – cresce a consciência [no nível da realidade (awareness)] de que nós somos todos habitantes do mesmo planeta, que esse planeta tem sido maltratado, inclusive por nossas empresas, que as desigualdades sociais têm de ser trabalhadas para tornar o mundo mais justo e que o pequeno microcosmo de cada empresa é formado por seres humanos que devem se realizar, serem felizes também dentro do trabalho, como na vida pessoal. Essa consciência [no nível da realidade (awareness)] é que irá quebrar o duro materialismo vigente no interior das empresas.

Ela irá acolher os seres humanos, os seus funcionários como pessoas integrais, que não deixam as suas emoções e o seu espírito do lado de fora da empresa para vir trabalhar, ela irá introduzir a espiritualidade nos negócios.

Essa espiritualidade simples e fundamental não deve ser confundida com religiosidade. Ela reúne a vida material com a vida emocional, a matéria com o espírito, acolhe a convivência de cada pessoa com o Divino, seja qual for a sua expressão religiosa. Estimula a solidariedade, o sentimento de justiça, a sensação fraterna e harmônica.

Não tem nada a ver com conteúdo e prática religiosa, seja Católica, Protestante, Budista, Maometana ou outra qualquer. A eventual escolha de uma religião é exercício do livre-arbítrio de cada indivíduo e em nada se relaciona com as empresas. Juntar religiões dentro da empresa pode gerar desarmonia.

A empresa conquista uma espiritualidade simples e sutil

Desenvolver pessoas é colocar os seres humanos, que fazem a empresa, em primeiríssimo lugar. É praticar o envolvimento de todos com os assuntos de trabalho, abolir o autoritarismo, a caixa preta da desinformação, estimular a criatividade, incrementar a afetividade. Pessoas que convivem em clima de liberdade, afeto, criação, solidariedade, são pessoas que exprimem o espírito, vivem a espiritualidade.

Uma espiritualidade simples e sutil que flui fácil, que melhora a convivência, o desempenho pessoal, a produtividade e o desempenho das empresas. Aperfeiçoa a consciência [no nível da realidade (awareness)] individual e do conjunto. O resultado disso faz parecer os antigos programas de qualidade total e os seus assemelhados a velhas peças de museu.

Essa atmosfera torna a preocupação e o cuidado com o consumidor um processo natural germinado na solidariedade e no sentimento de compartilhar. O consumidor dos serviços ou produtos de uma empresa torna-se apenas mais um ser humano a ser respeitado. Essa mesma solidariedade faz com que as equipes descubram a gratificante e realizadora prática do autotreinamento – quando em uma empresa os mais capazes ensinam os menos adiantados. Ela costuma brotar quando se promovem encontros entre funcionários para discutir o seu fazer. Os mais habilitados afloram naturalmente ali e compartilham os seus conhecimentos. Vastas e eficazes ações de autotreinamento podem ser geradas a partir daí.

Os programas de treinamento e desenvolvimento passam a ser discutidos com todos os funcionários; cada um desenvolve a capacidade de autoanálise e identifica os seus pontos fracos e as suas necessidades de desenvolvimento. O crescimento de cada um amplia a consciência [no nível da realidade (awareness)] individual e a coletiva.

Um processo como esse provoca reações em cadeia, que levam as pessoas a um envolvimento forte e natural com a empresa: é quando elas se sentem felizes, crescendo e se desenvolvendo de modo integral, sem a velha esquizofrenia entre vida pessoal e vida profissional.

Desse modo se constrói o orgulho das pessoas pelo que fazem e pela empresa na qual trabalham. É quando as pessoas sentem que a empresa é realmente fruto de seu trabalho, de sua colaboração, de sua criatividade. Sentem que são coautoras. Assim elas elegem a sua empresa como uma das melhores empresas para se trabalhar.

As mesmas pessoas sentem necessidade de saber que a empresa que estão envolvidas até a medula está preocupada com a sociedade e com o meio-ambiente. No momento em que essa preocupação se torna uma prática dentro das empresas, ao envolver os funcionários e fazer com que entrem com a sua parte nas ações de responsabilidade social e ecológica, funciona como socializadora, ampliadora de vivência dessa espiritualidade simples e sutil, entranhada com a Terra e os seus habitantes.

Responsabilidade com o desenvolvimento social e com a saúde do planeta não é cumprir meia dúzia de propósitos que coloquem a empresa no time dos “cumpridores politicamente corretos” e ao mesmo tempo continuar a ser dura e cartesiana em sua prática diária de negócios.

“Responsabilidade com o desenvolvimento social e com a saúde do planeta não é cumprir meia dúzia de propósitos que coloquem a empresa no time dos ‘cumpridores politicamente corretos’…”

Ser responsável é também uma prática espiritual, é colocar o ser humano que está fora da empresa também em primeiro lugar, é rever práticas internas que modifiquem pontos fracos no tangenciamento da empresa com a sociedade. É realizar e expandir a consciência [no nível da realidade (awareness)] de que uma empresa faz parte do grande organismo formado pela Terra, pela sociedade e pelos seres humanos que estão dentro e fora de suas paredes, como funcionários e consumidores. É recusar o desenvolvimento a qualquer custo que destrói, aos poucos, a sociedade e o planeta.

Se uma empresa vive essa espiritualidade simples e fundamental, as questões morais e éticas internas da empresa e as referentes às suas relações com a sociedade tornam-se muito mais claras para todos.

Os parâmetros morais e éticos adotados pela empresa passam a ser valores compartilhados, todos se sentem também autores dos documentos escritos, dos códigos de ética e de comportamento e se envolvem, ativamente, em sua aplicação.

Quando o espírito da empresa aflora, ela passa a ter um ambiente de trabalho amigo e acolhedor, a ser uma comunidade que sabe respeitar as diferenças, a viver e promover uma vida mais simples. Ela passa a não ter mais lugar para pessoas que se dão demasiada importância e que supõem ser muito melhores do que as outras e passa a viver muito mais a solidariedade e a fraternidade. É quando uma empresa está cheia de espiritualidade.

História da ESPM

Site: Princípios Institucionais • ESPM

A ESPM nasceu em 1951, quando um grupo de publicitários e empresários da mídia, liderados por Rodolfo Lima Martensen e apoiados pelo então diretor do Masp, Pietro Maria Bardi e pelo lendário Assis Chateaubriand, teve a visão de que somente com uma escola de excelência nós teríamos no Brasil uma indústria da comunicação forte e desenvolvida.

Foi da grandeza desse ideal de nossos fundadores que a ESPM foi criada, pelo mercado e para o mercado. A escola na qual, desde sempre, “Ensina quem faz”.

Ao longo dos anos, sob a direção de Martensen, Otto Hugo Scherb, Francisco Gracioso, Luiz Celso de Piratininga e José Roberto Whitaker Penteado, a ESPM chegou aos dias atuais com campi em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Florianópolis, com cerca de 12 mil estudantes e 863 professores, 9 cursos de graduação, pós, mestrados, doutorados.

Quando o espírito da empresa aflora, ela passa a ter um ambiente de trabalho amigo e acolhedor, a ser uma comunidade que sabe respeitar as diferenças, a viver e promover uma vida mais simples. Ela passa a não ter mais lugar para pessoas que se dão demasiada importância e que supõem ser muito melhores do que as outras e passa a viver muito mais a solidariedade e a fraternidade. É quando uma empresa está cheia de espiritualidade.

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Imagem: vitaly-gariev-8N0oIGSSNcU-unsplash 21.11.25

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A Espiritualidade nas Empresas trata-se de uma Filosofia cujos Princípios são capazes de ajudar tanto as Pessoas quanto as Organizações.

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Autor

Graduação: Engenharia Operacional Química. Graduação: Engenharia de Segurança do Trabalho. Pós-Graduação: Marketing - PUC/RS. Pós-Graduação: Administração de Materiais, Negociações e Compras - FGV/SP. Blog Projeto OREM® - Oficina de Reprogramação Emocional e Mental - O Blog aborda quatro sistemas de pensamento sobre Espiritualidade Não-Dualista, através de 4 categorias, visando estudos e pesquisas complementares, assim como práticas efetivas sobre o tema: OREM1) Ho’oponopono - Psicofilosofia Huna. OREM2) A Profecia Celestina. OREM3) Um Curso em Milagres. OREM4) A Organização Baseada na Espiritualidade (OBE) - Espiritualidade no Ambiente de Trabalho (EAT). Pesquisador Independente sobre Espiritualidade Não-Dualista como uma proposta inovadora de filosofia de vida para os padrões Ocidentais de pensamentos, comportamentos e tomadas de decisões (pessoais, empresariais, governamentais). Certificação: “The Self I-Dentity Through Ho’oponopono® - SITH® - Business Ho’oponopono” - 2022.

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