…..Continuação da Parte I…..
Regra 1 – Parte IV
“(1) O enfoque [que é o enfoque do padrão de que Jesus está falando que nós devemos adotar quando acordamos todas as manhãs] começa com o seguinte: Hoje, eu não tomarei decisões por minha conta.” (T-30.I.2:1-2)
Claramente, o que isso significa é que nós não tomemos decisões com o nosso ego, porque isso seria tomar decisões com nós mesmos. Ao invés disso, esse é um apelo para que nós tomemos as decisões com Jesus [Espírito Santo]. Curiosamente, no final dessa Seção, ele parece dizer o contrário. Ele diz ali que
‘…não és capaz de tomar decisões por ti mesmo’. (T-30.I.14:3)
Ele faz esse tipo de coisa durante todo o Curso – dizendo uma coisa em um lugar e então o oposto aparente em outro lugar. É oposto na forma, mas não oposto no conteúdo – ele está apenas fazendo uma observação diferente. O ponto é: não tome uma decisão com o seu ego, o que equivale a tomá-la por conta própria. Ao invés disso, faça-a comigo. O que ele quer dizer no final dessa Seção é que você não é capaz de tomar uma decisão por conta própria, ou seja: o Filho de Deus necessita escolher o ego ou o Espírito Santo. Portanto, o conteúdo é consistente, mesmo que a forma muitas vezes não o seja.
Esse é obviamente um tema importante no Curso e é repetido em todo o caminho: nós não temos que tomar decisões por conta própria. Uma dessas referências no Texto – sobre não escolher por conta própria – que eu quero examinar com você é a seguinte:
‘Sempre que escolhes tomar decisões por conta própria [o que novamente significa fazer isso com o seu ego ao invés de com Jesus ou com o Espírito Santo] estás pensando de maneira destrutiva e a decisão estará errada.’ (T-14.III.9:1)
O ponto é: não tome uma decisão com o seu ego, o que equivale a tomá-la por conta própria.
A razão de ser um ‘pensamento destrutivo’ é que pensar por si mesmo e excluir o Espírito Santo simboliza a exclusão original de Deus. Quando você exclui Deus, você está buscando destruí-lo, porque, ao excluir Deus, você está dizendo: ‘Eu estou separado de Deus’. Se uma das definições de Deus é que Ele é a Unicidade perfeita e unidade perfeita, então dizer que você está separado Dele é negar a Deus Quem Ele é e o ego interpreta isso como matar Deus. Quando você diz que está por conta própria, está dizendo: ‘Eu sou meu próprio criador’, o que, então, nega a Deus o Seu papel como Criador. Se você nega a Deus o Seu papel e a Sua Identidade, Ele deixa de ser Deus.
Essa é então mais uma maneira de perceber como o sistema de pensamento do ego é literalmente baseado no assassinato de Deus. Isso é pensamento destrutivo. Qualquer coisa que você fizer a partir dessa base terá logicamente os mesmos elementos de destruição, ataque e assassinato. Sempre que você tenta deslocar outra pessoa, usa outra pessoa para atender às suas próprias necessidades, ou se vê como separado de outra pessoa e justificado por estar separado, sempre que você manifestar qualquer aspecto do problema de autoridade – como todo mundo faz o tempo todo – você reflete o problema original de autoridade e conflito com Deus.
Assim, sempre que você se separa da Voz do Espírito Santo, ou de Jesus, você também está se separando de todos os outros. Se Jesus representa o Cristo, se ele representa a unicidade da criação de Deus e você se separa dele, obviamente você também está se separando de Cristo. Isso significa que você está atacando a sua verdadeira Identidade como Cristo e está atacando todas as outras pessoas também.
‘Ela irá ferir-te [a decisão irá ferir-te] devido ao conceito de decisão que levou a ela.’ (T-14.III.9:2)
Essa é a frase crucial que eu quero enfatizar:
‘…o conceito de decisão que levou a ela’.
O que realmente irá feri-lo quando você decidir por si mesmo não é a decisão específica. O que irá ferir você é o pensamento que está por trás disso. Quando você decide por si mesmo, você está dizendo: ‘Eu sei mais do que Jesus; eu sei mais do que o Espírito Santo; eu sei mais do que Deus.’ Esse é o conceito que irá feri-lo, porque isso irá lembrá-lo de seu ‘pecado’ original, de seu ‘ataque’ original a Deus – e por isso você se sentirá muito culpado.
E porque a culpa sempre exige punição, você acreditará que merece ser punido. É daí que vem o medo. Essa é a fonte de toda dor. Todo sofrimento vem da ideia de que eu posso fazer isso por conta própria.
Lembre-se das falas da famosa canção de Frank Sinatra: ‘Eu fiz do meu jeito.’ Essa é a música do ego. Portanto, quando você toma uma decisão por si mesmo, não é que Deus irá puni-lo, é que você acreditará que Deus irá puni-lo. E se você não pensa em Deus conscientemente, como a maioria das pessoas não pensa, então haverá algum símbolo da punição de Deus: o mau tempo irá punir você. O mercado de ações irá puni-lo. Essa pessoa com quem você está morando irá puni-lo. Os seus filhos irão punir você. O seu chefe irá puni-lo. Não importa. Você irá acreditar que merece ser punido por causa do que você acredita que fez primeiro. Novamente, o que realmente irá feri-lo não é a decisão que você toma no nível da forma. O que irá feri-lo é o conceito de decisão que o levou a escolher o que você escolheu.
Uma das coisas importantes a lembrar quando você trabalha com o Curso (e isso sempre ajudará a mantê-lo longe de problemas com o Curso para que você não distorça o que ele diz) é que este não é um Curso em forma. Esse não é um Curso em efeito. Este não é um Curso sobre nada que tenha a ver com o mundo do comportamento. Esse é um Curso em conteúdo, em causa. Esse é um Curso apenas em mudar a sua mente.
Ainda mais direto ao ponto e diretamente relevante para esse Workshop, esse é um curso em ajudá-lo a mudar o seu professor ou o seu conselheiro: passando do ego como o seu guia, para o Espírito Santo ou Jesus como o seu guia. O que irá lhe ferir não é o que está fora de você, não é o que você acredita que irá lhe ferir. O que irá feri-lo é o seu sistema de pensamento, que lhe diz que você pode ficar por conta própria, que você deveria ficar por conta própria, que é um fato que você está por conta própria.
Esse pensamento em si, que é o conceito de decisão, reforçará o seu senso de separação e pecado, o que automaticamente levará à sua experiência de culpa e que, por sua vez, sempre exigirá que você seja punido. Não há como sair disso. É por isso que o conceito de escolha nesse Curso é tão importante. Nós realmente temos que reconhecer o que nós estamos escolhendo e com quem o estamos escolhendo, para que possamos fazer outra escolha.
Esse é um Curso em conteúdo, em causa. Esse é um Curso apenas em mudar a sua mente.
Essa primeira regra de decisão, ‘Hoje, eu não tomarei decisões por minha conta’, não deve ser considerada um imperativo. Jesus está nos dizendo que essa é a diretriz que nós devemos usar se realmente nós quisermos ser felizes. Ficará claro à medida que nós continuarmos com essa seção, como fica claro ao longo de todo o Curso, que ele não está esperando que os seus estudantes façam o que ele diz. Se ele esperasse que eles fizessem isso, ele teria parado com a primeira linha do Curso. Ele espera totalmente que nós não prestemos atenção. Portanto, não se sinta culpado por não prestar atenção. Tudo o que você necessita fazer o mais rápido possível é estar ciente de que você não está prestando atenção, porque você não quer prestar atenção, porque você tem medo de abrir mão do seu ego. Mas não se sinta culpado por não prestar atenção.
‘Isso significa que estás optando por não seres o juiz do que fazer.’ (T-30.I.2:3)
A grande ilusão sob a qual todos nós trabalhamos nesse mundo é que nós sabemos o que é melhor: que nós entendemos o que está acontecendo, que nós entendemos o que é necessário em uma situação e que nós sabemos o que fazer a respeito. É por isso que Jesus continuamente brinca com todos e diz: ‘Não há como você julgar, porque você não conhece todos os detalhes envolvidos em uma situação. Você não sabe qual é o significado.’ Acima de tudo, o que ele realmente está nos dizendo é:
‘Você não pode possivelmente saber, porque você pensa que está aqui no mundo. Você pensa que há coisas acontecendo aqui no mundo e você pensa que há problemas a serem resolvidos aqui no mundo. A realidade é que o único problema está de volta em sua mente, que você escolheu o ego ao invés de mim. No entanto, enquanto você acredita que está no mundo e está se relacionando e interagindo com outros corpos que também pensam que estão nesse mundo, então como você poderia entender o que é necessário em uma situação?’
É por isso que há uma lição no início do Livro de Exercícios que diz:
‘Eu [de fato] não percebo os meus maiores interesses.’ (LE-pI.24.Título)
E não é mesmo que nós de fato não os percebemos! Nós não podemos percebê-los, porque nós não os entendemos. Nós realmente achamos que estamos aqui. Realmente pensamos que há problemas a serem resolvidos aqui e que somos nós que somos capazes de julgá-los. Portanto, isso está reforçando a ideia de como, em nossas mentes certas, nós queremos entender que nós não queremos tomar uma decisão por nós mesmos.
‘Isso significa que estás optando por não seres o juiz do que fazer. Mas também tem que significar que não julgarás as situações às quais serás chamado a responder.’ (T-30.I.2:3-4)
Agora, deixe-me adicionar a palavra ‘situações’ ao gráfico, porque ela aparecerá novamente na leitura. Encontramo-nos em todos os tipos de situações [problemas] que exigem uma resposta. Jesus não está dizendo que dentro desse sonho não haja situações que exijam uma resposta. Ele está dizendo:
‘Você irá acreditar que existem; e terá que dar uma resposta. Mas tente não dar a resposta sozinho.’
Portanto, ele não está dizendo que não há coisas que você tenha que fazer nesse mundo que exijam julgamento: obviamente há. Ele está dizendo:
‘Tente não fazer julgamentos por conta própria.’
‘Pois se as julgares [se você julgar as situações que enfrenta em sua vida], terás estabelecido as regras segundo as quais deves reagir a elas.’ (T-30.I.2:5)
Quando nós chegamos aos trinta, quarenta, cinquenta anos – o que o mundo chama de maturidade – nós estabelecemos um conjunto de regras e diretrizes com base em nossas experiências anteriores, que nós esperamos que nos guiem em reação ao mundo e no relacionamento com outras pessoas . Sempre nós recorremos a elas. Muitos delas seriam aceitas pela maioria das pessoas no mundo; e como a maioria das pessoas concordaria com elas, nós achamos que isso as valide.
Nós não reconhecemos, entretanto, que todos nesse mundo são insanos. Portanto, você nunca deve tomar o que o mundo diz como uma diretriz para o que você tem que fazer. Lembre-se, o mundo está insano porque você acredita que está aqui. As pessoas nascem e realmente pensam que vieram a esse mundo; e então elas têm que aprender o que esse mundo tem para lhes ensinar. Isso é o que nós chamamos de educação ou socialização. Nós não nos lembramos – porque esse é o propósito do véu [vide gráfico: véu da negação (véu do esquecimento)] – que literalmente nós criamos esse mundo para esconder a verdade.
A verdade repousa no Espírito Santo em nossas mentes certas [mentalidade certa]. Deve ser escolhida pelo tomador de decisões – é disso que o ego tem medo. Portanto, o ego bloqueia tudo isso e torna o mundo uma cortina de fumaça. O mundo então reflete não a mente certa e o Espírito Santo, o mundo reflete o pecado, a culpa e o medo do ego e da mente errada. O mundo reflete o especialismo, o ódio, o conflito e o campo de batalha [vide gráfico] que é o sistema de pensamento do ego.
O perdão é necessário, então, como a correção para o que o ego sonhou primeiro. O mundo é o sonho do ego. Olhar para o mundo sem julgamento é o desfazer do sonho.
Portanto, não há como entender o que é o melhor para nós, muito menos para quem é melhor. E, no entanto, é assim que o mundo funciona. Às vezes, isso assume a forma de o mundo julgar algo como mal: como certas pessoas oprimindo e impondo a sua vontade a outras pessoas – seja isso feito individualmente em atos de estupro ou assassinato, ou coletivamente em ditaduras e opressão de um país por outro.
Existem outras formas que são igualmente letais, na verdade mais letais, porque parecem ser outra coisa. Essas são as várias formas em que as pessoas parecem estar ajudando outras. Elas julgam o que há de errado com o mundo e então se propõem a consertar, porque sabem. Elas são tão insanas quanto as pessoas que odeiam, matam e oprimem, porque pensam que sabem o que é certo. ‘Certo’ para elas significa que outra pessoa pague o preço. Matar e oprimir é claramente insano no pensamento do mundo, mas ser ‘útil’ porque você acha que sabe o que é melhor para as pessoas é igualmente insano.
Jesus não está dizendo que você não deve fazer coisas no seu mundo pessoal ou no mundo em geral. Ele está apenas dizendo:
‘Não presuma saber o que você deve fazer. Pergunte-me primeiro.‘
Perguntar a ele realmente se resume a tirar o seu ego do caminho. A maneira como você pergunta a ele o que deve fazer em um nível comportamental é primeiro olhar com ele para o que seu ego está tentando fazer. Observe o investimento que o seu ego tem em seu especialismo. Quando você puder olhar para isso com o amor gentil dele ao seu lado, o seu especialismo começará a se desfazer. À medida que começa a desfazê-lo, você será cada vez mais capaz de ouvir a sua voz. Portanto, o foco não está em ouvir a sua voz: o foco está em desfazer a interferência em ouvir sua voz.
Regra 1 (continuação) – Parte V
‘Esse é o teu maior problema agora. Ainda tomas a tua decisão e então resolves perguntar o que deves fazer.’ (T-30.I.3:1-2)
Obviamente, todo mundo entende o que isso significa. O que é surpreendente é que, quando nós lemos essas palavras em um Workshop como esse, o seu significado é claro. No entanto, quando você sai desse Workshop e volta ao seu ritual diário de perguntar ao Espírito Santo o que você deve fazer, você se esquece completamente do que era tão óbvio antes.
Jesus está dizendo aqui que você não está ciente de que quando você pede ajuda a ele ou ao Espírito Santo, o que você está realmente fazendo é dizer a eles o que eles devem dizer a você. E porque é isso que você pensa que eles deveriam lhe dizer, é isso que você irá ouvi-los dizer. Então você terá certeza de que está ouvindo a voz deles, quando na realidade tudo o que você estava ouvindo era uma projeção sua. E isso ocorre porque você não está ciente de seu silencioso investimento em estar certo – em saber o que é certo para você ou para o mundo. Isso é muito sutil [sorrateiro] e muito insidioso.
Muitos de vocês, eu tenho certeza, por meio de sua própria experiência com o Curso e da experiência de outras pessoas que estudam o Curso, viram muitas vezes quantas vezes as pessoas juram que estão ouvindo o Espírito Santo e é óbvio que elas não estão: Elas não estão agindo de maneira amorosa ou consistente e certamente não estão trazendo paz para ninguém. Mas elas têm tanta certeza de que estão certas, porque afinal fecharam os olhos, abriram os ouvidos e ouviram uma voz.
Elas se esqueceram de que uma mente dividida pode ouvir duas vozes. A voz do ego é alta, rouca e estridente. A Voz do Espírito Santo, para citar a Bíblia, é silenciosa, baixa e muito gentil. Não será ouvida enquanto a voz do especialismo clama em seu ouvido. É por isso que é tão essencial como estudante do Curso que você trabalhe no reconhecimento daquela voz clamorosa do especialismo. É somente reconhecendo o que é e reconhecendo que você o escolheu e por que o escolheu, que você pode começar a se perdoar por ter feito isso. Em seguida, o grito diminuirá e você ouvirá aquela adorável voz gentil.
Mas você não ouvirá enquanto você ainda estiver identificado com o seu especialismo. Não se engane: todos nesse mundo são totalmente identificados com o seu especialismo; caso contrário, eles não estariam aqui. Isso é muito, muito importante. Isso é o que significa cultivar uma atitude de humildade ao trabalhar com esse Curso. Humildade significa que você não nega o poder do seu ego, o que realmente significa é que você não nega o poder da sua identificação com o seu ego.
Jesus está nos ensinando que, quando nós tomamos uma decisão e depois nós decidimos perguntar o que nós devemos fazer, o conflito inevitavelmente resulta, porque nós temos uma agenda oculta sobre o que nós queremos ouvir. Nós temos uma agenda oculta sobre o que nós queremos que saia de uma situação, o que significa que nós não queremos ouvir o que Jesus tem a dizer, porque nós já sabemos o que é certo, o que por sua vez significa que nós teremos medo de ouvir a sua voz.
Esse é o conflito, o conflito nascido de uma mente dividida. Há uma parte de nós que sabe, em algum nível, que o que nós estamos fazendo, vendo e acreditando não é real – não é certo e é do ego. Mas nós estamos apavorados em deixá-lo ir, porque nós temos mais medo daquela adorável Voz que significa o fim de nosso especialismo. Isso é o que o medo realmente é.
Portanto, quanto mais nós tememos a Voz do Espírito Santo, mais temos que atacá-la glorificando o nosso especialismo. Quanto mais nós glorificamos o nosso especialismo atacando o Espírito Santo, mais culpados nos sentiremos. Quanto mais nos sentimos culpados, mais acreditaremos que merecemos ser punidos por Ele. E então continuamos e continuamos nesse círculo vicioso.
Não há saída, exceto entender o que nós estamos fazendo. No entanto, antes de nós podermos entender o que nós estamos fazendo, nós temos que olhar o que nós estamos fazendo e antes de olharmos o que nós estamos fazendo, primeiro nós temos que entender que existe um problema sério em nossas mentes. Só porque o Curso diz que o problema foi todo inventado, não significa que realmente nós acreditamos que ele foi inventado. Se realmente nós acreditássemos que ele foi inventado, nós não precisaríamos de Um Curso em Milagres e nós não estaríamos aqui nessa sala de aula conhecida como o mundo.
Assim, o que essa primeira regra para decisões indica é que todos nós estamos lutando contra um tremendo conflito. Parte de nós, mais do que qualquer outra coisa no mundo, deseja ouvir a voz de Jesus, segurar a sua mão e voltar para casa. Há outra parte de nossas mentes que tem medo disso. Isso é o que os psicólogos antigos costumavam chamar de conflito da abordagem-evitação: você deseja abordar algo mais do que qualquer outra coisa, mas também deseja evitá-lo porque acredita que isso lhe trará dor. E nós acreditamos que o Amor de Deus nos trará dor porque foi isso que o ego nos disse. Infelizmente, o diabo que conhecemos é melhor do que o diabo que nós não conhecemos, por isso nós temos mais medo do Amor do Espírito Santo. Nós ficamos mais apavorados com a Sua resposta, porque a Sua resposta significa o fim de nossa resposta.
Você não pode ter duas respostas contraditórias coexistindo. Se a resposta do Espírito Santo for verdadeira, o que no fundo de nossos corações nós sabemos que é o caso, então, no final, a nossa resposta é falsa. E nossa resposta não é apenas a resposta específica a um problema específico, a resposta é a nossa própria identidade. Isso significa que se a resposta de Jesus for verdadeira, não é apenas que a minha resposta seja falsa, significa que eu sou falso; o que significa que eu deixo de existir. Esse é o terror. Essa é a motivação oculta que está por trás do que parece ser uma teimosia obstinada em se evitar a ouvir o que Jesus nos diz. Nós devemos realmente reconhecer que o que está por trás de nossa evitação é a terrível crença de que, se eu estiver errado, o meu especialismo foi para o espaço, o que significa que eu deixo de existir.
Portanto, o que ele está nos pedindo agora é que nós estejamos cientes de que na maioria das vezes quando nós pedimos ajuda, pedindo uma resposta específica para um problema, nós estamos realmente preparando isso para nós ouvirmos a resposta que nós queremos ouvir. Tendo esquecido que o configuramos dessa forma, nós acreditaremos que a voz que ouvimos é a Voz do Espírito Santo. É por isso que é tão fácil sair do caminho com esse Curso.
Esse não é um Curso em ouvir o Espírito Santo ou em obter orientação específica. Esse é Um Curso em Milagres e o milagre é perceber que nós temos uma escolha entre duas vozes.
Esse não é um Curso em efeito; esse não é um Curso em aprender como decidir o que nós devemos fazer com nossas vidas. Não há nada no Curso que nos diga isso. O que o Curso nos dirá é quais passos tomar para que nós deixemos o nosso ego e nos juntemos ao Espírito Santo. Esse é um Curso em causa, que é um Curso em mente. Esse não é um Curso em corpo, em mundo, em efeito.
A maneira como nós resolvemos situações e problemas no mundo é ir para a única Resposta que está por trás de todos os problemas. E à medida que nós nos identificamos com aquela Resposta e experienciamos esse Amor, esse Amor se traduz automaticamente para todas as coisas específicas que nós pensamos que nós necessitamos aqui. Nós não temos que fazer a tradução. A tradução será feita para nós automaticamente. O que nós temos que fazer é nos unir a esse Amor em nossas mentes. Isso é o que importa.
Mais uma vez, nós realmente temos que entrar cada vez mais em contato com o especialismo que exige que a situação seja como nós pensamos que é e, portanto, que ela necessita da solução que a nossa experiência passada tem nos dito que funcionará. Nós temos que perceber que nós estamos sempre errados e que é melhor nós estarmos errados do que certos.
‘E o que ouves pode não resolver o problema da maneira como o encaraste a princípio.’ (T-30.I.3:3)
Ele está se referindo agora a ouvir o Espírito Santo. Portanto, a resposta que nós ouvimos pode não resolver o problema da maneira como nós percebemos o problema, que é através dos olhos do nosso especialismo. Isso significa que todos os problemas que nós percebemos são sempre através dos olhos de nosso próprio interesse: o que isso significa para mim? Eu realmente não me importo com o que acontece com você. Tudo o que me importa é que as minhas próprias necessidades sejam atendidas. Isso é o especialismo. O que é melhor para a minha família, o que é melhor para o meu grupo social, para o meu grupo religioso, para o meu grupo racial, para o meu partido político, para o meu país, para Um Curso em Milagres, para o sindicato de que eu sou membro, para o grupo de lobby em Washington no qual eu sou ativo – é sempre o que é melhor para mim e para o grupo com o qual eu me identifico. Nunca é o melhor para toda a Filiação. O ego não só não se preocupa com a Filiação inteira, como nem mesmo sabe o que isso significa, porque o ego não sabe o que é integridade. Ela sabe o que é separação, o que é diferenciação, o que é fragmentação. Ele não tem a menor ideia do que é integridade.
O ego é o pensamento de separação – ele não pode conceber outra coisa senão ele mesmo. Isso é o mesmo que dizer que o ego não tem a menor ideia do que é o amor. Certamente ele sabe o que é o amor especial, porque foi isso que ele fez. Não sabe o que é amor, porque o amor é integridade. Se Deus é Amor e integridade perfeita e se o ego é o pensamento de estar separado desse Amor e integridade, como ele poderia entender esse Amor e integridade? É por isso que esse não é um Curso em amor. De fato, Jesus diz logo na Introdução do Texto:
‘O curso não tem por objetivo ensinar o significado do amor, pois isso está além do que pode ser ensinado.’ (T-in.1:6)
Você não pode aprender sobre o amor aqui. O que você pode aprender a fazer, como ele prossegue, é remover as interferências na sua consciência no nível da realidade [awareness] da presença do amor. Esse é um Curso em desfazer o ego, não em aprender sobre o amor. Simplesmente não há como entender o que é unicidade ou integridade nesse mundo.
Portanto, sempre que você está pedindo ajuda específica, você sabe que é o seu ego, porque qualquer coisa que o Espírito Santo responder por você, de uma forma ou de outra, ajudará toda a Filiação. Esse é outro caso que Jesus invoca para pedir ajuda a ele e não a você mesmo, porque nós não sabemos o que é melhor para todos. Não há como nós sabermos disso. Portanto, é do nosso interesse abandonar a ilusão de que nós sabemos – essa é a nossa única responsabilidade: abandonar a ilusão de que nós sabemos.
‘E o que ouves pode não resolver o problema da maneira como o encaraste a princípio. [Ele está sendo gentil. Não é que o que você ouve não pode – isso não pode e não resolverá o problema como você o viu a princípio.] Isso conduz ao medo, porque contradiz o que percebes e assim te sentes atacado. E, portanto, com raiva.’ (T-30.I.3:3-5)
É por isso que as pessoas não amam Jesus. Elas odeiam Jesus, porque ele representa exatamente o oposto do que elas acreditam. É por isso que o mundo odiava Jesus e a sua mensagem e [o mundo] mudou essa mensagem quando ele esteve aqui há dois mil anos. É por isso que o mundo ainda o odeia e a sua mensagem. A sua mensagem significa o fim do especialismo. E na medida em que você se identifica com o seu especialismo, você deve odiar aquele que representa o seu fim – porque significa o seu fim. Não pode haver compromisso com isso.
Se você pensa que ama Jesus, você está muito enganado. Se você o amasse, ainda estaria com ele no Céu! É por isso que nesse Curso ele não diz que você deve amá-lo, mas que você deve perdoá-lo, porque ao perdoá-lo você estará desfazendo as barreiras que você está colocando entre você e ele.
O que você quer fazer, portanto, é entrar em contato com a parte de você que não gosta dele, não com a parte de você que de fato gosta. Você quer entrar em contato com a parte de você que tem vergonha dele e acredita que ele tem vergonha de você, a parte que o vê como um rival, como alguém que, se entrar na sua vida, irá destruí-lo. (Do ponto de vista do ego, é claro, isso é verdade.) Essa parte de você levará você a temer o que ele representa e a temer qualquer coisa que venha dele a você. No sentido geral, você temerá esse Curso e no sentido específico, você temerá qualquer coisa que experiencie em um nível pessoal. Isso é o que ele está dizendo.
Se você tem interesse em perceber a situação como a configurou e em fazer com que o resultado seja o que deseja, terá de ter medo e sentir-se pressionado por uma resposta que vem de outro lugar. Jesus não vê a situação como você.
Ele de fato não vê a situação isoladamente. Ele vê a situação apenas como mais um reflexo fragmentário do problema que toda a Filiação compartilha como uma só. Qualquer resposta que ele der a você, então, será uma resposta que beneficiará a toda Filiação como uma só. Nós percebemos a Filiação como fragmentada. Ele a conhece como ela é: como uma só. Há um Filho no Céu e um erro foi cometido. Essa é outra maneira de entender por que Jesus continua dizendo que esse é um Curso muito simples: há apenas um problema e há apenas uma resposta para esse problema.
Mais uma vez, configurá-lo de forma que você tenha um interesse pessoal no resultado levará ao medo, ‘porque ele contradiz o que você percebe e, portanto, você se sente atacado. E, portanto, com raiva’. A raiva então será direcionada para o que é percebido como o inimigo. Em última análise, o inimigo será o Curso. Será Jesus. Será o Espírito Santo. Será Deus.
‘Existem regras através das quais isso não acontecerá. Mas de fato ocorre a princípio, enquanto ainda estás aprendendo como ouvir.’ (T-30.I.3:6-7)
Mais uma vez – e nós veremos isso até o fim – está claro que Jesus vê isso como um processo – algo que nós temos que aprender e praticar. Ele está nos dizendo: ‘Espero que você não faça o que eu estou lhe dizendo para fazer. A princípio, ocorre que você colocará a sua vontade à frente da minha, que você irá acreditar que sabe melhor do que eu o que é no seu melhor interesse e nos interesses do mundo.’ Portanto, você não necessita mais fingir que é esse estudante desse santo Um Curso em Milagres. O que faz com que você seja um estudante desse santo Um Curso em Milagres é perceber o quão não-santo você é.
Esse não é um Curso em fazer. Esse é um Curso em desfazer. Isso é extremamente importante.
Não deixe ninguém dizer que esse Curso é sobre qualquer outra coisa. Não é um Curso em fazer nada. Não é um Curso em ser nada. Não é um Curso em ser amoroso.
Esse é um Curso em perceber como você está cheio de ódio e especialismo: esse é o problema.
Passagens como essa deixam claro que Jesus espera plenamente que os seus estudantes não abandonem o seu caráter especial só porque ele lhes pede.
Esse é o Capítulo 30 e ele está dizendo aqui as mesmas coisas que disse no início. Agora ele está nos dando algumas regras. E por regras ele quer dizer diretrizes – não regras no sentido de que ‘você necessita fazer isso’.
Essas são as diretrizes que o ajudarão a saber que você realmente fez uma escolha errada, o que significa automaticamente que você é capaz de fazer uma escolha certa.
Saber que você fez a escolha errada deve significar que você optou por algo mais. Esse é o propósito dessa Seção e esse é o propósito do Curso: nos fazer reconhecer que realmente existe uma escolha.
Esse não é um Curso em fazer. Esse é um Curso em desfazer. Isso é extremamente importante. Esse é um Curso em perceber como você está cheio de ódio e especialismo: esse é o problema.
Lembre-se novamente: o ego nos fez escolher o ego, contra o Espírito Santo. Então, isso nos fez esquecer que nós fizemos isso, porque o ego nos tornou sem mente. Esse termo ‘sem mente’ no gráfico é extremamente importante. O ego nos tornou sem mente, de modo que nós não temos consciência de que temos escolha. O propósito do Curso é nos lembrar – que é o que o milagre faz – que a escolha não tem significado com respeito ao que é externo às nossas mentes. A escolha tem significado apenas em relação ao que está dentro de nossas mentes. E essa escolha é sempre entre a voz do ego (a voz do especialismo) e a Voz do Espírito Santo (a Voz do desfazer o especialismo).
Essas são as diretrizes que ele nos dará agora: sejamos claros sobre o quanto nós não queremos a salvação – como nós não queremos aprender e fazer o que esse Curso diz. A razão pela qual as pessoas têm tanta dificuldade em entender o Curso não é que elas sofram de um déficit de aprendizado. A razão pela qual elas têm tantos problemas para aprender esse Curso e entendê-lo é que elas não querem saber o que ele diz, porque o que ele diz é exatamente o oposto do que nós acreditamos e de quem nós acreditamos que nós somos.
Regra 2 – Parte VI
(2) ‘Durante todo o dia, a qualquer momento em que penses a respeito disso e tenhas um momento quieto para reflexão, dize mais uma vez a ti mesmo qual é o tipo de dia que queres, os sentimentos que queres ter, as coisas que queres que te aconteçam e as coisas que queres experimentar…’ (T-30.I.4:1)
Agora, a razão pela qual ele diz ‘dize mais uma vez a ti mesmo’ é que obviamente você já se esqueceu. Eu não estou inventando isso, certo? As palavras estão bem aqui! Ele está tentando nos ajudar a iniciar o programa de treinamento. Você é capaz de ver como essa passagem prenuncia o Livro de Exercícios: o treinamento da mente que o ajudará a perceber que a razão pela qual você se sente infeliz durante qualquer dia em particular é que você fez disso o seu objetivo. Se você está infeliz, deve ter escolhido ser infeliz.
Deixe-me voltar um pouco ao que nós discutimos em nossa última Sessão. Se de fato o mundo inteiro é uma ilusão e ‘foi feito como um ataque a Deus’ como o Curso diz (LE-pII.3.2:1) e para ser um dispositivo de distração e uma cortina de fumaça [veja o gráfico] para esconder o que realmente está acontecendo em nossas mentes, então literalmente não há nada fora de nós. Eu citei anteriormente o importante princípio do Curso, ‘ideias não deixam a sua fonte.‘ A ideia de um mundo separado não deixou a sua origem em nossas mentes. Isso significa que efeito e causa não estão separados; efeito e causa estão unidos – assim como no Céu, Deus é a Causa primeira e Cristo – o Seu Filho – é o Efeito. ‘Ideias não deixam a sua fonte.‘ Esse mesmo princípio também opera dentro do sonho. O efeito, o mundo, está totalmente unificado com a causa, a ideia na mente – o que significa literalmente que não existe mundo fora de nossas mentes.
A tremenda importância disso é que, se não há nada fora de nós, então qualquer coisa que nós pensamos, percebemos ou sentimos só poderia vir de dentro de nossas mentes. Essa é outra maneira de perceber porque você tem que entender a metafísica de Um Curso em Milagres se você pretende praticar esse Curso. Esse não é um conceito intelectual abstrato com o qual você brinca. Esse é o coração e a alma do que Um Curso em Milagres ensina. Você não é capaz de entender o perdão, muito menos a prática dele, muito menos o que significa ouvir o Espírito Santo, a não ser que você realmente entenda o que é a metafísica subjacente.
Literalmente, não existe mundo fora de nossas mentes.
É por isso que eu não posso culpá-lo por nada que eu sinto. Se eu estou infeliz, ansioso, culpado, doente ou deprimido e não há nada fora de mim, então de onde vêm esses pensamentos e sentimentos? Eles só podem estar vindo de dentro de mim, porque não há nada e ninguém mais – o que significa que eu os coloquei lá. Eu estou me deixando doente e deprimido – não é um vírus que está me dando febre, não são os seus gritos estridentes que me dão dor de cabeça, não é a comida que eu comi ontem à noite que está me dando uma indisposição estomacal. Isso é extremamente importante.
Agora, se eu me tornei infeliz – se eu tenho dado a mim mesmo esses pensamentos – deve haver uma razão. O Curso nos diz qual é essa razão: Eu fico doente, então eu não experiencio o Amor e a paz de Deus. A doença é um disfarce para a culpa. Eu esqueço que a culpa está em minha mente, então a projeto e voilà – o meu corpo está doente. Então, os cientistas do mundo todo me explicam como e por que eu fiquei doente. O mundo é muito bom e astuto em nos dizer por que nós não estamos bem – em qualquer nível.
Seja um médico tradicional, um médico da Nova Era ou qualquer outro tipo de médico, todos eles são muito bons em dizer por que nós não estamos bem. Seja o nosso carma, a maneira como as nossas mães nos carregaram no útero, a maneira como nós nascemos, o ambiente em que nós crescemos, seja o que for, sempre há uma explicação para nós estarmos doentes, emocional ou fisicamente. E todas essas explicações estarão erradas, porque todas elas começam com a premissa de que existe um mundo lá fora que nos atinge. Quando você entender que não existe mundo lá fora, você não será pego nesse erro.
Pensar que o Espírito Santo faz coisas por você no mundo e faz com que as coisas melhorem para você no mundo é o mesmo erro. Como Ele é capaz de fazer com que as coisas sejam melhores para você em um mundo que não existe? Ele faz com que as coisas sejam melhores para você em sua mente – simplesmente por estar em sua mente. É por isso que você necessita de um milagre que o leve para longe do mundo e de volta à sua mente, onde está o Amor Dele. Esse amor é a resposta para todos os problemas.
Onde estamos agora com essa segunda regra é perceber em algum momento durante o dia que esse dia não está funcionando muito bem para mim, entretanto, com o entendimento de que se não está funcionando tão bem para mim, é porque eu não queria que funcionasse bem para mim. Isso nos leva agora ao importante conceito de que nós estabelecemos a meta e nós não estamos cientes de que a estabelecemos. Portanto, nós não estamos cientes de que o que está acontecendo conosco durante o dia – o que nós sentimos e vivenciamos ao longo do dia – é um efeito direto da meta que nós estabelecemos. Nós esquecemos que nós definimos a meta e, portanto, nós pensamos que coisas acontecem conosco fora do nosso controle.
Eu gostaria de desenvolver algumas dessas ideias lendo com você a Seção no Capítulo 17 do Texto chamada ‘Estabelecer a meta’.
‘A aplicação prática do propósito do Espírito Santo é extremamente simples [Jesus usa essas palavras em muitos outros lugares – obviamente os propósitos do Curso e do Espírito Santo são idênticos], mas é inequívoca. De fato, para poder ser simples, é preciso que seja inequívoca.’ (T-17.VI.1:1-2)
‘Jesus continua dizendo que esse é um Curso muito simples. E aqui vemos porque é simples: ele é inequívoco. Não existem duas maneiras diferentes de interpretar esse Curso. Não existem duas vozes diferentes que você possa ouvir que são igualmente válidas. Existe uma voz. Há uma mensagem nesse Curso, não mensagens diferentes. Ele fez questão de explicar a Helen que não há interpretações diferentes do material que ele estava dando a ela. O Curso é o que é. Diz o que diz. Não diz coisas diferentes para pessoas diferentes. Isso é o que diz a primeira lei do caos: que a verdade é relativa.’ (T-23.II.2)
Aqueles de vocês que conhecem Platão reconheceriam nisso o argumento dos sofistas com o qual Sócrates sempre foi confrontado: que a verdade é relativa, não absoluta. Sócrates dizia que a verdade é absoluta. A verdade é o que é – você não pode dizer que são coisas diferentes para pessoas diferentes. Bem, é isso que as pessoas tentam fazer com o Curso também. Dizem que ele é capaz de significar coisas diferentes para pessoas diferentes e que existem interpretações diferentes e igualmente válidas.
Novamente, esse é um exemplo notável da primeira lei do caos, que afirma que existe uma hierarquia de ilusões e que a verdade é relativa. O Curso é simples porque é inequívoco: diz o que diz. Ele não declara uma coisa e depois a qualifica com ‘mas você poderia possivelmente declarar outra coisa’.
‘Só é simples aquilo que é facilmente compreendido e para tanto é evidente que precisa ser claro.’ (T-17.VI.1:3)
Jesus está falando aqui especificamente sobre o propósito do Espírito Santo, no entanto, é muito fácil generalizar isso para o seu Curso como um todo. Ele pensa que o seu Curso é muito claro e de fácil entendimento. A razão pela qual praticamente ninguém concorda com ele não é que não seja claro e facilmente compreensível, mas que seja muito claro e facilmente compreensível. Você não quer entender o que ele está dizendo. Uma vez que o seu medo e a sua culpa tenham diminuído o suficiente, você entenderá o que ele diz e ficará surpreso por nunca ter sabido disso antes. As palavras usadas aqui não são difíceis. Os conceitos são extraordinariamente difíceis porque representam o oposto exato dos conceitos do mundo. Nesse sentido, o Curso é difícil, mas não porque o que ele diz seja difícil. É difícil porque nós não queremos reconhecer o que ele diz. É um Curso muito simples e claro e significa exatamente o que ele diz.
Jesus está dizendo a mesma coisa sobre o propósito do Espírito Santo. Para o Espírito Santo, tudo nesse mundo tem o mesmo propósito – todas as situações que parecem existir e que parecem nos confrontar todos os dias. O propósito que Ele lhes dá é fazer com que nós percebamos – por meio da prática do perdão – que nós não estamos aqui, o que significa que nós perdoamos o que não está lá fora.
Perdoamos o nosso irmão pelo que ele não fez.
Isso não significa que em um nível comportamental ele não tenha feito algo. Isso significa que ele nem mesmo está presente em um nível comportamental. Isso significa que tudo o que nós pensamos que nós vemos do lado de fora é uma projeção do que está dentro. É por isso que ele é tão simples. O ego criou esse mundo para atacar, matar e nos manter separados. O Espírito Santo pega o mesmo mundo e o usa como espelho, de modo que através do mecanismo do milagre nós possamos olhar naquele espelho e reconhecer que o que é refletido de volta para nós nada mais é do que o sistema de pensamento em nossas mentes. Esse é o único propósito do Espírito Santo para o mundo.
Agora nós somos treinados por meio de nosso estudo e prática do Curso para observarmos que o que parece estar do lado de fora é um reflexo direto ou uma sombra do que está dentro. Portanto, agora eu sei o que está dentro da minha mente. Melhor ainda, agora eu sei que eu tenho uma mente! Se eu realmente entendo que não há nada e ninguém lá fora e que tudo o que vejo é uma sombra do que está dentro de mim, isso deve significar que há algo dentro de mim. Esse é o começo do fim do ego.
Esse é o propósito do milagre: fazer com que nós sejamos conscientes de que nós temos uma mente, o que significa que nós nos tornamos conscientes, ao invés de sem mentes.
Esse é o valor do mundo. O nosso propósito não é fazer coisas lá fora, no mundo, nos unir a outras pessoas ou salvar outras pessoas. O nosso objetivo é perceber que não existem outras pessoas – que o que parece estar do lado de fora está na verdade dentro. Quando você realmente for capaz de curar [to heal] a sua mente, o amor em sua mente se expressará por si mesmo dentro do sonho em que outras pessoas acreditam em você e em que elas são. Você é capaz então de se descobrir muito ativo no mundo e fazendo coisas muito amorosas no mundo. Mas elas serão verdadeiramente amorosas, porque não se basearão em tomar partido. Elas não serão baseadas em vítimas e vitimizadores, nem em fragmentar ainda mais a Filiação. Elas serão baseadas no amor que vem de uma visão que vê todos como um só.
Mais uma vez, o que Jesus está dizendo nessas passagens não significa que você não faça coisas no mundo. Ao invés disso, significa que o que você faz no mundo é irrelevante. O que é relevante é o que você faz em sua mente. Então, esse amor virá através de você automaticamente e você é capaz de se descobrir fazendo e dizendo muitas coisas amorosas no mundo, no entanto, não terá nenhum investimento nelas. Você saberá que a realidade é esse lugar de amor em sua mente que você agora uniu a Jesus ou ao Espírito Santo.
Novamente, é isso que faz com que esse Curso seja tão simples e é isso que faz com que o propósito do Espírito Santo seja tão simples. Tudo no mundo vem a ser uma sala de aula; e se nós deixarmos Jesus ser o nosso professor, ele nos mostrará que o que nós percebemos do lado de fora é um espelho do que está dentro, o que significa que agora eu percebo um interior, uma mente. O próximo passo é perceber que a mente tem uma escolha e, a partir daí, automaticamente eu faço outras escolhas amorosas.
‘A colocação da meta do Espírito Santo é geral. Agora Ele irá trabalhar contigo para fazer com que ela seja específica, pois a aplicação é específica [a frase ‘pois a aplicação é específica’ não está na primeira edição].’ (T-17.VI.1:4-5)
Por ‘geral’ Jesus quer dizer abstrata – em outras palavras, é universal, está em nossas mentes, não é específico. A palavra ‘aplicação’ significa que nós fazemos algo em um nível comportamental: nós aplicamos em nossa vida cotidiana; usar essas circunstâncias e relacionamentos de nossas vidas como um laboratório. Isso significa passar do princípio geral da Expiação, que diz que a separação nunca aconteceu e não há nada nem ninguém fora de nós, para a aplicação em situações específicas. Você – a pessoa com quem eu estou morando ou com quem eu trabalho – não está fora de mim. Você e eu não estamos separados. Nós temos que praticar em situações específicas, nas circunstâncias de nossas vidas pessoais.
Nós devemos aplicar o princípio abstrato ou geral em situações específicas. É disso que trata todo o Curso. É disso que trata todo o currículo.
‘Existem algumas orientações muito específicas [as sete regras para decisões] que Ele provê para qualquer situação, mas lembra-te que [tu] ainda não reconheces que a sua aplicação é universal.’ (T-17.VI.1:6)
Declarações como essa deixam claro mais uma vez que Jesus concebe isso como um processo. Em ‘tu ainda não reconheces’ obviamente implica que há um crescimento pelo qual ainda nós não passamos, passos que ainda nós não demos. Ainda nós pensamos que há coisas específicas que nós devemos fazer nesse mundo, relacionamentos específicos que nós devemos perdoar; e, portanto, porque nós pensamos em termos de especificidades, ele nos dará orientações específicas. Nós acabaremos percebendo que todas elas fazem parte de uma lição e, então, generalizaremos. Mas ainda nós não chegamos lá.
‘Por conseguinte, é essencial a essa altura usá-las separadamente em cada situação até que possas enxergar com maior segurança além de cada uma delas, em uma compreensão muito mais ampla do que a que possuis agora.’ (T-17.VI.1:7)
Essa passagem ocorre aproximadamente no meio do Texto – então ele está dizendo que nós ainda temos um longo caminho a percorrer. Então nós chegamos ao Capítulo 30 e ele diz a mesma coisa. Então nós chegamos ao final do Livro de Exercícios e ele diz:
‘Esse curso é um começo, não um fim.’ (LE-ep.1:1)
Esse é um estudo de longo prazo que nós estamos fazendo e devemos ter desconfiança de nós mesmos ou de outros estudantes que dizem que já fizeram tudo nesse Curso e proclamam como é fácil e maravilhoso: ‘Eu entrego tudo ao O Espírito Santo e todos os meus problemas estão resolvidos, todas as minhas perguntas foram respondidas.’ Eles perderam o ponto principal disso e não olharam cuidadosamente para essas passagens. Os seus olhos pulam sobre elas porque o seu ego diz a seu cérebro para não olhar para essas passagens – elas são muito perturbadoras – e então o cérebro envia essa mensagem para os seus olhos.
É por isso que nós somos capazes de chegar ao final de um parágrafo e esquecer cada palavra que nós lemos; ou nós somos capazes de pensar que nós lemos Seções como essas dezenas de vezes e então nós as ouvimos e nós dizemos: ‘Meu Deus, eu nunca vi isso antes’. Essa Seção, bem como as ‘Regras para decisões’, são escritas de forma muito clara – as frases não são complicadas. Quase sempre você sabe a que os pronomes se referem, enquanto em muitos outros lugares você necessita adivinhar. A escrita aqui é simples e clara, mas porque você não quer ver, você não verá.
O que essa passagem está dizendo é que até que nós estejamos prontos para generalizar esses princípios para tudo, em primeiro lugar nós temos que praticar especificamente. As mesmas instruções são encontradas no Livro de Exercícios. Na verdade, na Introdução à Revisão VI [página 410, versão FIP – 2ª Edição], ele diz que se você realmente tivesse feito uma lição, você teria feito todas elas. Mas até que você generalize, você tem que praticar cada lição separadamente:
‘Cada [lição] contém todo o currículo se for compreendida, praticada, aceita e aplicada a todos os acontecimentos aparentes durante o dia. Uma é suficiente. Mas, nela, não pode haver exceções. E assim precisamos usá-las todas e deixa-las fundirem-se em uma só, à medida em que cada uma contribui para o todo que estamos aprendendo.’ (LE-pI.rVI.2:2-5) [adaptações minhas]
É por isso que existem 365 lições, não uma lição. Cada lição é exatamente igual a todas as outras, se for realmente entendida. Todas elas contêm a mesma mensagem de ensino. Mas porque nós temos tanto medo dessa universalidade, o que nós fazemos, ao invés disso, é fragmentar. Nós aplicamos um ensinamento em uma situação e nós decidimos que nós não estamos prontos para aplicá-lo em outra. Ou nós perdoamos essa pessoa, mas não aquela pessoa. Ou nós pedimos ajuda a Jesus nessa situação, no entanto, nós dizemos que somos capazes de cuidar disso por conta própria. O que nós temos que perceber é que elas são todas iguais e, até que nós percebamos que são todas iguais, nós devemos praticar com cada uma separadamente.”
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..…Continua Parte III…..
“Um milagre é uma correção. Ele não cria e realmente não muda nada. Apenas olha para a devastação e lembra à mente que o que ela vê é falso. Desfaz o erro, mas não tenta ir além da percepção, nem superar a função do perdão. Assim, permanece nos limites do tempo.” (LE.II.13)