Artigo: “A Friedman Doctrine – The Social Responsibility of Business Is to Increase Its Profits”
Autor: Milton Friedman – Estatístico e Economista vencedor do prêmio Nobel em Ciências Econômicas em 1976.
13 de setembro de 1970
Crédito … Arquivos do The New York Times
Sobre o Arquivo
Essa é uma versão digitalizada de um artigo do arquivo impresso do The New York Times, antes do início da publicação on-line em 1996. Para preservar esses artigos como apareceram originalmente, o The New York Times não os altera, edita ou atualiza.
Ocasionalmente, o processo de digitalização introduz erros de transcrição ou outros problemas; nós continuamos trabalhando para melhorar essas versões arquivadas.
Uma Doutrina de Friedman – A Responsabilidade Social dos Negócios É Aumentar os Seus Lucros
Tradução livre Projeto OREM®
“QUANDO eu ouço empresários falarem eloquentemente sobre as ‘responsabilidades sociais das empresas num sistema de livre iniciativa (free-enterprise)’, eu me lembro da frase maravilhosa sobre o Francês que descobriu, aos 70 anos, que tinha falado em prosa durante toda a sua vida. Os empresários acreditam que eles estão defendendo a livre iniciativa quando declaram que as empresas não estão preocupadas ‘apenas’ com o lucro, mas também com a promoção de fins ‘sociais’ desejáveis; que as empresas têm uma ‘consciência social’ e levam a sério as suas responsabilidades de proporcionar emprego, eliminar a discriminação, evitar a poluição e quaisquer outras palavras que possam ser as palavras de ordem da colheita contemporânea de reformadores. Na verdade, elas estão – ou estariam se elas ou qualquer outra pessoa os levasse a sério – pregando o socialismo puro e não adulterado. Os empresários que falam dessa forma são fantoches involuntários das forças intelectuais que têm minado a base de uma sociedade livre nas últimas décadas.
[Obs: O que é livre-iniciativa (free-enterprise)? A livre iniciativa, ou mercado livre, refere-se a uma economia onde o mercado determina preços, produtos e serviços e não o governo. As empresas e os serviços estão livres do controle governamental. Alternativamente, a livre iniciativa poderia referir-se a um sistema ideológico ou jurídico em que as atividades comerciais são reguladas principalmente através de medidas privadas. Fonte: Investopedia site: https://www.investopedia.com/.]
As discussões sobre as ‘responsabilidades sociais das empresas’ são notáveis pela sua frouxidão analítica e falta de rigor. O que significa dizer que ‘empresas’ têm responsabilidades? Somente as pessoas podem ter responsabilidades. Uma empresa é uma pessoa artificial e, nesse sentido, pode ter responsabilidades artificiais, mas não se pode dizer que a ‘empresa’ como um todo tenha responsabilidades, mesmo nesse sentido vago. O primeiro passo para a clareza no exame da doutrina da responsabilidade social das empresas é perguntar precisamente o que ela implica para quem.
Presumivelmente, os indivíduos responsáveis são empresários, o que significa proprietários individuais ou executivos corporativos. A maior parte da discussão sobre responsabilidade social é dirigida às empresas, por isso, no que se segue, eu negligenciarei principalmente o proprietário individual e falarei dos executivos das empresas.
Num sistema de livre iniciativa e propriedade privada, um executivo corporativo é um funcionário dos proprietários do negócio. Ele tem responsabilidade direta perante os seus empregadores. Essa responsabilidade é conduzir o negócio de acordo com os seus desejos, que geralmente será ganhar tanto dinheiro quanto possível, ao mesmo tempo que se conforma com as regras básicas da sociedade, tanto as consagradas na lei como as consagradas nos costumes éticos.
É claro que, em alguns casos, os seus empregadores podem ter um objetivo diferente. Um grupo de pessoas pode estabelecer uma corporação com um propósito caridoso (eleemossinário) – por exemplo, um hospital ou uma escola. O administrador de tal empresa não terá como objetivo o lucro monetário, mas a prestação de determinados serviços.
“Essa responsabilidade é conduzir o negócio de acordo com os seus desejos, que geralmente será ganhar tanto dinheiro quanto possível, ao mesmo tempo que se conforma com as regras básicas da sociedade, tanto as consagradas na lei como as consagradas nos costumes éticos.”
Em qualquer dos casos, o ponto-chave é que, na competência dele como um executivo corporativo, o gerente é o representante dos indivíduos que possuem a corporação ou estabelece a instituição de caridade (eleemosinária) e a responsabilidade principal dele é para com eles.
Escusado será dizer que isso não significa que seja fácil avaliar o quão bem ele está desempenhando a sua tarefa. No entanto, pelo menos o critério de desempenho é simples e as pessoas entre as quais existe um acordo contratual voluntário estão claramente definidas.
É claro que o executivo corporativo também é uma pessoa no direito próprio dele. Como pessoa, ele pode ter muitas outras responsabilidades que ele reconhece ou assume voluntariamente – para com a sua família, a sua consciência, os seus sentimentos de caridade, a sua igreja, os seus clubes, a sua cidade, o seu país. Ele pode se sentir impelido por essas responsabilidades a dedicar parte dos seus rendimentos a causas que ele considera dignas, a se recusar a trabalhar para determinadas corporações e até mesmo a abandonar o seu emprego, por exemplo, para ingressar nas forças armadas do seu país. Se nós desejarmos, nós podemos nos referir a algumas dessas responsabilidades como ‘responsabilidades sociais.’ Entretanto, nesses aspectos ele está atuando como um responsável e não como um representante; ele está gastando o seu próprio dinheiro, ou tempo ou energia e não o dinheiro de seus empregadores ou o tempo ou energia que ele tem contratado para dedicar aos seus propósitos. Se essas são ‘responsabilidades sociais,’ elas são responsabilidades sociais de indivíduos, não de empresas.
O que significa dizer que o executivo corporativo tem uma ‘responsabilidade social’ na sua competência como empresário? Se essa afirmação não for pura retórica, isso tem que significar que ele está agindo de uma forma que não é do interesse dos seus empregadores. Por exemplo, que ele está se recusando a aumentar o preço do produto a fim de contribuir para o objetivo social de prevenir a inflação, mesmo que um aumento de preço seja do melhor interesse da empresa. Ou que ele está fazendo despesas na redução da poluição além do valor que seja do melhor interesse da corporação ou que seja exigido por lei, a fim de contribuir para o objetivo social de melhorar o meio ambiente. Ou que, à custa dos lucros empresariais, ele está contratando desempregados ‘de longa duração’ em vez de trabalhadores disponíveis mais qualificados, para contribuir para o objetivo social de redução da pobreza.
Em cada um desses casos, o executivo corporativo estaria gastando o dinheiro de outra pessoa para um interesse social geral. Na medida em que as suas ações de acordo com a sua ‘responsabilidade social’ reduzem os retornos para os acionistas, ele está gastando o dinheiro deles. Na medida em que as suas ações aumentam o preço para os clientes, ele está gastando o dinheiro dos clientes. Na medida em que as suas ações diminuem os salários de alguns funcionários, ele está gastando o dinheiro deles.
Os acionistas, ou os clientes ou os funcionários poderiam gastar separadamente o próprio dinheiro deles na ação específica, se assim eles o desejassem fazer. O executivo está exercendo uma ‘responsabilidade social’ distinta, ao invés de servir como representante dos acionistas, ou dos clientes ou dos funcionários, apenas se ele gasta o dinheiro de uma forma diferente da que eles o teriam gasto.
Mas se ele faz isso, ele está na verdade, impondo impostos, por um lado e decidindo como as receitas fiscais serão gastas, por outro.
Esse processo levanta questões políticas sobre dois níveis: princípio e consequências. Ao nível do princípio político, a imposição de impostos e o gasto das receitas fiscais são funções governamentais. Nós estabelecemos elaboradas disposições constitucionais, parlamentares e judiciais para controlar essas funções, para garantir que os impostos sejam cobrados, tanto quanto possível, de acordo com as preferências e desejos do público – afinal, ‘tributação sem representação’ foi um dos gritos de guerra da Revolução Americana. Nós temos um sistema de pesos e contrapesos para separar a função legislativa de impor impostos e decretar despesas da função executiva de cobrar impostos e administrar programas de despesas e da função judicial de mediar disputas e interpretar a lei.
Aqui o empresário – auto selecionado ou nomeado direta ou indiretamente pelos acionistas – deve ser simultaneamente legislador, executivo e jurista. Ele deve decidir quem tributar, quanto e com que finalidade e ele deve gastar os rendimentos – tudo isso guiado apenas por exortações gerais a partir do alto para conter a inflação, melhorar o ambiente, combater a pobreza e assim por diante.
Toda a justificativa para permitir que o executivo corporativo seja selecionado pelos acionistas é que o executivo é um representante que atende aos interesses de seu mandante. Essa justificativa desaparece quando o executivo corporativo impõe impostos e gasta os rendimentos para fins ‘sociais’. Ele vem a ser, na verdade, um funcionário público, embora permaneça nominalmente um funcionário da empresa privada.
Por razões de princípio político, é intolerável que tais funcionários públicos – na medida em que as suas ações em nome da responsabilidade social sejam reais e não apenas uma fachada – sejam selecionados como são agora. Se eles pretendem ser funcionários públicos, então eles têm que ser selecionados através de um processo político. Se eles quiserem impor impostos e fazer despesas para promover objetivos ‘sociais’, então tem que ser criada um maquinário político para orientar a avaliação dos impostos e determinar através de um processo político os objetivos a atingir.
Essa é a razão básica pela qual a doutrina da ‘responsabilidade social’ envolve a aceitação da visão socialista de que os mecanismos políticos e não os mecanismos de mercado, são a forma apropriada para determinar a alocação de recursos escassos para utilizações alternativas.
Com base nas consequências, o executivo corporativo é capaz de cumprir, de fato, as suas alegadas ‘responsabilidades sociais’? Por um lado, suponhamos que ele conseguisse gastar o dinheiro dos acionistas, dos clientes ou dos funcionários. Como ele saberá como gastá-lo? Dizem-lhe que ele tem que contribuir para o combate à inflação. Como ele saberá quais ações de sua vontade contribuirão para esse fim? Ele é presumivelmente um especialista na administração de sua empresa – na produção de um produto, na venda ou no financiamento. No entanto, nada sobre a sua seleção faz dele um especialista em inflação. Manter o preço do seu produto baixo reduzirá a pressão inflacionista? Ou, ao deixar mais poder de compra nas mãos dos seus clientes, simplesmente desviá-lo-á para outro lugar? Ou, forçando-o a produzir menos por causa do preço mais baixo, isso simplesmente contribuirá para a escassez? Mesmo que ele pudesse responder a essas perguntas, quanta despesa ele teria justificativa em impor aos seus acionistas, clientes e funcionários para esse propósito social? Qual é a sua parcela apropriada e qual é a parcela apropriada dos outros?
E, quer ele queira ou não, ele é capaz de gastar o dinheiro dos seus acionistas, clientes ou funcionários? Os acionistas não irão demiti-lo? (Tanto aqueles atuais como aqueles que assumem o controle quando as suas ações em nome da responsabilidade social reduziram os lucros da empresa e o preço das suas ações.) Os seus clientes e os seus funcionários podem abandoná-lo por outros produtores e funcionários menos escrupulosos no exercício das suas responsabilidades sociais.
Essa faceta da doutrina da ‘responsabilidade social’ ganha destaque quando a doutrina é usada para justificar a contenção (briga, luta) salarial por parte dos sindicatos. O conflito de interesses é explícito e evidente quando se pede aos dirigentes sindicais que subordinam os interesses dos seus membros a algum propósito social mais geral. Se os dirigentes sindicais tentarem combater as restrições salariais, a consequência será provavelmente greves selvagens, revoltas comuns e a emergência de fortes concorrentes pelos seus empregos. Nós temos, portanto, o fenómeno irônico de que os líderes sindicais – pelo menos nos EUA – se opuseram à interferência do Governo no mercado de forma muito mais consistente e corajosa do que os líderes empresariais.
A dificuldade de exercer a ‘responsabilidade social’ ilustra, claro, a grande virtude da empresa privada competitiva – força as pessoas a serem responsáveis pelas suas próprias ações e faz com que seja difícil para elas ‘explorarem’ outras pessoas para fins egoístas ou altruístas. Elas são capazes de fazer o bem – entretanto, apenas às suas próprias custas.
Muitos leitores que têm acompanhado o argumento até aqui podem ficar tentados a protestar que é muito bom falar que o governo tem a responsabilidade de impor impostos e determinar despesas para fins ‘sociais’, como controlar a poluição ou treinar o desempregado de longa duração, mas que os problemas são demasiado urgentes para esperar pelo lento curso dos processos políticos, que o exercício da responsabilidade social por parte dos empresários é uma forma mais rápida e segura de resolver os problemas prementes atuais.
Independentemente da questão dos fatos – eu partilho o ceticismo de Adam Smith sobre os benefícios que podem ser esperados a partir ‘daqueles que afetaram o comércio para o bem público’ – esse argumento tem que ser rejeitado por razões de princípio. O que isso significa é uma afirmação de que aqueles que são a favor dos impostos e despesas em questão não conseguiram persuadir a maioria dos seus concidadãos a terem a mesma opinião e que procuram alcançar através de procedimentos antidemocráticos o que não conseguem alcançar através de procedimentos democráticos. Numa sociedade livre, é difícil para as pessoas ‘boas’ fazerem o ‘bem’, entretanto, esse é um pequeno preço a pagar para fazer com que seja difícil para as pessoas ‘más’ fazerem o ‘mal’, especialmente porque o bem de um homem é o mal de outro.
Eu TENHO, por simplicidade, concentrado no caso especial do executivo corporativo, exceto apenas pela breve digressão sobre os sindicatos. No entanto, precisamente o mesmo argumento se aplica ao fenomeno mais recente de apelar aos acionistas para que exijam que as empresas exerçam responsabilidade social (a recente cruzada da GM, por exemplo). Na maioria desses casos, o que está efetivamente envolvido é que alguns acionistas tentam fazer com que outros acionistas (ou clientes ou empregados) contribuam contra a sua vontade para causas ‘sociais’ favorecidas pelos ativistas. Na medida em que eles conseguem, eles estão novamente impondo impostos e gastando os rendimentos.
A situação do proprietário individual é um pouco diferente. Se ele age no sentido de reduzir os retornos da sua empresa, a fim de exercer a sua ‘responsabilidade social’, ele está gastando o seu próprio dinheiro e não o de outra pessoa. Se ele deseja gastar o seu dinheiro nesses fins, esse é o direito dele e eu não sou capaz de ver que há qualquer objeção a que ele o faça. No processo, ele, também, pode impor custos aos funcionários e aos clientes. No entanto, como é muito menos provável que ele tenha poder monopolista do que uma grande empresa ou sindicato, quaisquer desses efeitos secundários tenderão a ser menores.
É claro que, na prática, a doutrina da responsabilidade social é frequentemente um disfarce para ações que são justificadas por outros motivos, em vez de uma razão para essas ações.
Para ilustrar, pode muito bem ser do interesse a longo prazo de uma empresa que é um grande empregador numa pequena comunidade dedicar recursos para fornecer comodidades a essa comunidade ou para melhorar o seu governo. Isso pode fazer com que seja mais fácil atrair empregos desejáveis, isso pode reduzir a massa salarial ou diminuir as perdas decorrentes de furtos e sabotagens ou ter outros efeitos benéficos. Ou pode ser que, dadas as leis sobre a dedutibilidade das contribuições de caridade (filantropia) corporativa, os acionistas possam contribuir mais para instituições de caridade (filantropia) que favorecem, fazendo com que a empresa faça a doação do que fazendo eles próprios, uma vez que podem, dessa forma, contribuir com uma quantia que caso contrário, teriam sido pagos como impostos corporativos.
“É claro que, na prática, a doutrina da responsabilidade social é frequentemente um disfarce para ações que são justificadas por outros motivos, em vez de uma razão para essas ações.“
Em cada um desses casos – e em muitos casos semelhantes –, existe uma forte tentação de racionalizar essas ações como um exercício de ‘responsabilidade social.’ No atual clima de opinião, com a sua aversão generalizada ao ‘capitalismo’, aos ‘lucros’, à ‘corporação sem alma’ e assim por diante, essa é uma forma de uma empresa gerar boa vontade como subproduto de despesas que são inteiramente justificadas em seu próprio interesse.
Seria incoerente da minha parte apelar aos executivos das empresas para que se abstenham dessa fachada hipócrita porque prejudica os fundamentos de uma sociedade livre. Isso seria convidá-los a exercer ‘responsabilidade social’! Se as nossas instituições e as atitudes do público fizerem com que seja do seu próprio interesse encobrir as suas ações dessa forma, não poderão provocar muita indignação para as denunciar. Ao mesmo tempo, pode expressar admiração por aqueles que são proprietários individuais ou proprietários de empresas de capital fechado ou acionistas de empresas de capital mais amplo que desdenham táticas como a abordagem à fraude.
QUER SEJA censurável ou não, o uso do manto da responsabilidade social e o disparate dito em seu nome por empresários influentes e prestigiados, de fato, prejudicam claramente os fundamentos de uma sociedade livre. Eu tenho estado impressionado repetidas vezes com o caráter esquizofrênico de muitos empresários. Eles são capazes de ser extremamente clarividentes e lúcidos em questões internas aos seus negócios. Eles são incrivelmente míopes e confusos em assuntos que estão fora dos seus negócios, no entanto, que afetam a possível sobrevivência dos negócios em geral. Essa miopia é exemplificada de forma impressionante nos apelos de muitos empresários por diretrizes ou controles salariais e de preços ou políticas de rendimentos. Não há nada que se possa fazer mais num breve período para destruir um sistema de mercado e substituí-lo por um sistema controlado centralmente do que um controle governamental eficaz de preços e salários.
A miopia também é exemplificada nos discursos de empresários sobre responsabilidade social. Isso pode lhes render elogios no curto prazo. No entanto, ajuda a reforçar a visão já demasiado prevalecente de que a busca pelos lucros é perversa e imoral e tem que ser refreada e controlada por forças externas. Uma vez adotada essa visão, as forças externas que restringem o mercado não serão as consciências sociais, por mais desenvolvidas que sejam, dos executivos que pontificam; isso será o punho de ferro dos burocratas do Governo. Aqui, tal como acontece com os controles de preços e salários, os homens de negócios parecem-me revelar um impulso suicida.
O princípio político subjacente ao mecanismo de mercado é a unanimidade. Num mercado livre ideal baseado na propriedade privada, nenhum indivíduo pode coagir qualquer outro, toda a cooperação é voluntária, todas as partes dessa cooperação se beneficiam ou elas não necessitam participar. Não existem valores ‘sociais’, nem responsabilidades ‘sociais’ em qualquer sentido que não sejam os valores e responsabilidades partilhados dos indivíduos. A sociedade é uma coleção de indivíduos e dos vários grupos que eles formam voluntariamente.
“O princípio político subjacente ao mecanismo de mercado é a unanimidade.“
O princípio político subjacente ao mecanismo político é a conformidade. O indivíduo tem que servir interesses sociais mais gerais – quer esses sejam determinados pela igreja, por um ditador ou por uma maioria. O indivíduo pode ter um voto e uma palavra a dizer sobre o que deve ser feito, mas se ele for rejeitado, ele tem que se conformar. É apropriado que alguns exijam que outros contribuam para um propósito social geral, quer eles queiram ou não.
“O princípio político subjacente ao mecanismo político é a conformidade.“
Infelizmente, a unanimidade nem sempre é viável. Há alguns aspectos em que a conformidade parece inevitável, por isso eu não vejo como se é possível se evitar completamente a utilização do mecanismo político.
No entanto, a doutrina da ‘responsabilidade social’ levada a sério alargaria o âmbito do mecanismo político a todas as atividades humanas. Isso não difere em filosofia a partir da doutrina mais explicitamente coletivista. Isso difere apenas por professar acreditar que os fins coletivistas podem ser alcançados sem meios coletivistas. É por isso que, no meu livro ‘Capitalismo e Liberdade’, eu a tenho chamado de uma ‘doutrina fundamentalmente subversiva’ numa sociedade livre e tenho dito que em tal sociedade, ‘há uma e apenas uma responsabilidade social das empresas – utilizar os seus recursos e envolver-se em atividades destinadas a aumentar os seus lucros, desde que se mantenha dentro das regras do jogo, o que quer dizer, envolver-se em concorrência aberta e livre, sem engano ou fraude.’”
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Do livro “A Companion to Ethics”, editado por Peter Singer, Blackwell Publishers, no capítulo 31 “Business ethics”, escrito por Robert C. Solomon, nós extraímos alguns trechos que se referem ao sistema de pensamento de Milton Friedman, sobre a Ética Empresarial, para o nosso conhecimento e entendimento.
Tradução livre Projeto OREM®
A Ética Nos Negócios
Autor: Robert C. Solomon
6. A empresa na sociedade: a ideia de responsabilidade social
O conceito central na maior parte da ética empresarial mais recente é a ideia de responsabilidade social. É também um conceito que tem irritado muitos dos entusiastas do mercado livre tradicional e tem promovido alguns argumentos incorretos ou enganosos. O mais famoso será talvez a diatribe [do Grego: crítica severa e mordaz] do prémio Nobel da Economia Milton Friedman, no New York Times (13 de Setembro de 1970), intitulada ‘A responsabilidade social dos negócios é aumentar os seus lucros’.
Nesse artigo, Friedman chamava aos homens de negócios que defendiam a ideia de responsabilidade social da empresa ‘fantoches involuntários das forças intelectuais que estão a minar as bases de uma sociedade livre’ e acusava-os de ‘pregar um socialismo puro e duro’.
O argumento de Friedman consiste essencialmente em afirmar que os gestores de uma empresa são empregados dos acionistas e, enquanto tais, eles têm uma ‘responsabilidade fiduciária’ de maximizar os seus lucros. Dar dinheiro para caridade ou outras causas sociais (exceto enquanto atividades de relações públicas visando aumentar os negócios) e envolver-se em projetos comunitários (que não aumentem os negócios da empresa) é equivalente a roubar os acionistas.
Mais ainda, não há qualquer razão para supor que uma empresa ou os seus funcionários têm alguma competência ou conhecimento especial no âmbito das políticas públicas, logo, quando se envolvem em atividades comunitárias (enquanto gestores da empresa, não enquanto cidadãos privados agindo em seu próprio nome), estão não só ultrapassando as suas competências, como também violando as suas obrigações.
Algumas das falácias presentes nesse raciocínio têm a ver com a perspectiva redutora do comércio como se estivesse orientado para o lucro e com o retrato unidimensional e muito pouco lisonjeiro do acionista que foi mencionado anteriormente; outras (‘socialismo puro e duro’ e ‘roubar’) são simplesmente excessos retóricos.
O argumento da ‘competência’ (também defendido por Peter Drucker no seu influente livro sobre gestão, Management) só faz sentido para casos em que as empresas levem a cabo projetos de engenharia social que estejam de fato para além das suas capacidades; mas será que é preciso competências especiais ou conhecimentos profundos para ter preocupações acerca do emprego discriminatório, ou das práticas de promoção dentro da empresa, ou dos efeitos devastadores dos lixos industriais sobre a paisagem envolvente?
“O argumento de Friedman consiste essencialmente em afirmar que os gestores de uma empresa são empregados dos acionistas e, enquanto tais, eles têm uma ‘responsabilidade fiduciária’ de maximizar os seus lucros. Dar dinheiro para caridade ou outras causas sociais (exceto enquanto atividades de relações públicas visando aumentar os negócios) e envolver-se em projetos comunitários (que não aumentem os negócios da empresa) é equivalente a roubar os acionistas.“
A resposta geral a argumentos do tipo do de Friedman que recentemente veio a ser popular na ética empresarial pode ser sintetizada num modesto jogo de palavras: ao invés do ‘acionista’ (stockholder), os beneficiários das responsabilidades sociais da empresa são as partes interessadas (stakeholders), de que os acionistas são apenas uma subclasse.
Os stakeholders de uma empresa são todos os que são afetados e que têm direitos e expectativas legítimos em relação às atividades da empresa, o que inclui os funcionários, os consumidores e os fornecedores, assim como a comunidade entorno e a sociedade no seu conjunto. A vantagem desse conceito é que ele permite expandir muito o enfoque das preocupações empresariais sem perder de vista as virtudes e capacidades particulares da própria empresa.
Considerada desse modo, a responsabilidade social não é um fardo adicional sobre a empresa, mas uma parte integrante das suas preocupações essenciais, servir as necessidades e ser justo não apenas para com os seus investidores ou proprietários, mas também para com aqueles que trabalham, compram, vendem, vivem perto ou são de qualquer outro modo afetados pelas atividades que são exigidas e recompensados pelo sistema de mercado livre.
Imagem microsoft-365-oUbzU87d1Gc-unsplash.jpg – 31 de agosto de 2023
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