Artigo em inglês: “Hawaiian Legends of Old Honolulu” – Site: https://www.sacred-texts.com/pac/hloh/hloh00.htm
Coletado e traduzido do Havaiano para o Inglês por W. D. Westervelt – Boston, G.H. Ellis Press [1915].
Tradução livre Projeto OREM®
Prefácio
As lendas de um povo interessam ao erudito, ao pensador e ao poeta.
As lendas nos contam as lutas, os triunfos e as peregrinações do povo, de seus pensamentos, de suas aspirações; em suma, elas nos dão uma história crepuscular da raça.
Como o geólogo encontra nas rochas os registros obscuros dos primórdios da vida em nosso planeta, os primeiros prenúncios das poderosas florestas que desde então cobriram as terras e das inúmeras formas de vida animal que finalmente culminaram no homem, assim de fato o historiador descobre nas lendas de um povo os vestígios obscuros de sua origem e desenvolvimento até que ela apareça na luz mais forte dos dias posteriores.
Assim é com as lendas dos Havaianos, ou da Raça Polinésia. Nós os vemos, muito indistintamente, partindo de algum lugar distante na Ásia, finalmente alcançando o Oceano Pacífico e então gradualmente se espalhando por suas ilhas até dominarem uma grande parte de sua extensão.
Ao reunir esta coleção de lendas Havaianas, o autor deste artigo concedeu um grande favor a todos os residentes do Havaí e aos visitantes de suas costas que podem se interessar por seus habitantes originais, outrora um povo extremamente numeroso, mas agora apenas um remanescente espalhado. Para aquela raça nativa, esse artigo será ao mesmo tempo uma alegria e uma tristeza; ao coração do haole1, que viveu entre eles, conheceu-os intimamente por trinta anos ou mais (como o escritor desse prefácio) e aprendeu a amá-los, essa coleção de lendas do velho Honolulu traz um caloroso ‘Aloha!’
[1 Haole é um termo Havaiano para indivíduos que não são nativos Havaianos ou Polinésios. No Havaí, pode significar qualquer estrangeiro ou qualquer outra coisa introduzida nas Ilhas Havaianas de origem estrangeira. Fonte: Wikipédia.]
Geo. H. Barton, Diretor, Professor da Escola de Ciência, Boston, Mass. 4-Junho-1915.
Introdução
Os antigos Havaianos não eram inventivos. Eles não estudaram novos métodos de construção de casas ou agricultura. Eles não buscaram novas ferramentas ou novas armas. Eles podiam viver confortavelmente como os seus ancestrais viviam. Mas eles eram imaginativos e, portanto, contavam muitas histórias maravilhosas de deuses, goblins2 e homens. Algumas dessas histórias tinham séculos de idade e eram muito parecidas com lendas contadas no Taiti, Samoa, Fiji, Nova Zelândia e muitas outras ilhas do Oceano Pacífico. A maioria delas, é claro, estava limitada à localidade de onde vieram. As lendas de Honolulu pertencem quase inteiramente a essa classe, embora um estudante da mitologia Polinésia encontre muitos traços de ligações com a mitologia de Ilhas distantes.
[2 Goblins são criaturas geralmente verdes que se assemelham a duendes. Fazem parte do folclore Nórdico, nas lendas eles vivem fazendo brincadeiras de mau gosto. Podem ser equiparadas aos trasgos e tardos do folclore Português. As novas traduções Brasileiras dos livros de O Senhor dos Anéis de J. R. R. Tolkien, desde 2018, passaram a usar a palavra “gobelim”, ao invés da palavra original Goblin. Fonte Wikipédia]
As Lendas da Velha Honolulu foram compiladas a partir de histórias contadas pelos antigos Havaianos. Algumas delas vieram de pessoas ainda vivas, mas muitas foram encontradas nos arquivos de artigos publicados de 1850 a 1870.
O primeiro alfabeto para os Havaianos foi preparado em 1821. Os Havaianos foram ensinados a ler e escrever as suas histórias e histórias antigas o mais rápido possível. Este foi o resultado do trabalho dos missionários Americanos. Alguns dos missionários, notadamente o Sr. Dibble, enviaram os seus alunos para escrever e preservar as velhas lendas e tradições. Entre trinta e quarenta anos após a primeira lição do alfabeto, os Havaianos estavam escrevendo artigos para jornais publicados regularmente em sua própria língua – como Ka Hae Hawaii (The Hawaiian Flag), Ke Kuokoa (The Independent), Ka Hoku Pakipika (The Hawaiian Flag), Ke Kuokoa (The Independent), Ka Hoku Pakipika (The Star of the Pacific). Esses foram seguidos por muitos artigos até o presente, editados exclusivamente por Havaianos.
A pesquisa cuidadosa através desses papéis traz muitas histórias do passado para as mãos dos estudantes. É principalmente dessa maneira que essas lendas da Velha Honolulu foram reunidas. Este é o resultado de vários anos de trabalho de anotações e compilação.
Essas lendas pertencem, é claro, ao povo de Honolulu e serão principalmente interessantes para eles e para aqueles que estão familiarizados com a cidade e a Ilha de Oahu. Espera-se que os amantes do folclore de todo o mundo também gostem de comparar esses contos com os de outras terras.
Às vezes, essas velhas histórias foram retocadas e acrescentadas pelo contador de histórias Havaiano que teve contato com a literatura estrangeira e o leitor pode traçar a influência das ideias modernas; mas isso não ocorre com frequência.
A lenda do ‘Chefe Devorador de Homens’ é a que mais se aproxima dos tempos históricos. O canibalismo não era um costume entre os antigos Havaianos. Esses são, sem dúvida, casos esporádicos, contados em lendas.
Essas lendas foram impressas nos seguintes jornais e revistas: The Friend, The Paradise of the Pacific, The Mid-Pacific, Thrum’s Hawaiian Annual, Historical Society Reports, The Advertiser e Star Bulletin, publicados em Honolulu. O Autor.
Pronúncia
Uma sílaba em Havaiano pode consistir em uma única vogal, ou uma consoante unida a uma vogal ou no máximo uma consoante e duas vogais, nunca mais de uma consoante. O acento de cinco sextos das palavras está na penúltima e alguns nomes próprios acentuam a primeira sílaba.
Em Havaiano cada sílaba termina em uma vogal e nenhuma sílaba pode ter mais de três letras, geralmente não mais de duas e um grande número de sílabas consiste em letras únicas – vogais. Assim, os sons das vogais predominam muito sobre a consoante. A linguagem pode, portanto, parecer monótona para quem não conhece a sua força.
Em Havaiano há uma grande falta de termos genéricos, como é o caso de todas as línguas não cultivadas. Nenhum povo usa termos genéricos até que comecem a raciocinar e a linguagem mostra que eles eram melhores guerreiros e poetas do que filósofos e estadistas. A sua linguagem, no entanto, é rica em nomes e epítetos específicos.
A regra geral, então, é que o acento caia na penúltima; mas há muitas exceções e algumas palavras que levaram o mesmo aos olhos assumem significados inteiramente diferentes por diferentes tons, acentos ou inflexões.
O estudo desses kaaos ou lendas demonstraria que os Havaianos possuíam uma linguagem não apenas adaptada às suas necessidades anteriores, mas capaz de ser usada na introdução das artes da sociedade civilizada e especialmente da moral pura, da lei e da religião da Bíblia.
I – A MIGRAÇÃO DOS HAVAIANOS
A fonte da nascente do Mississippi foi descoberta e redescoberta. A origem da raça Polinésia tem sido objeto de descoberta e redescoberta. A teoria mais antiga da origem Malaia, conforme apresentada nas enciclopédias anteriores, é agora reconhecida como insustentável.
Os Malaios seguiram os Polinésios e não os precederam. O estudo comparativo das lendas Polinésias leva quase irresistivelmente à conclusão de que os Polinésios eram Arianos, vindos pelo menos da Índia para a Malásia e possivelmente vindos da Arábia, como Fornander3do Havaí tão seriamente argumenta. Aceita-se agora que os Polinésios não se originaram de ascendência Malaia e que ocuparam por um período indefinido a região ao redor do Estreito de Sunda, de Java às Ilhas Molucas e também que a maior parte dos Polinésios foram expulsos dessa região e espalhados pelo Pacífico no início da Era Cristã.
[3 Escritor Abraham Fornander(?)]
As lendas que se agrupam em torno de Wakea ajudaram muito a esclarecer algumas coisas sobre a disposição dos Polinésios. Ao peneirar as lendas do Hawaii-loa, nós aprendemos como o grande viajante se torna um dos primeiros vikings do Pacífico. A sua casa finalmente é Gilolo das Ilhas Molucas. A partir das lendas, nós conhecemos Wakea (possivelmente significando ‘meio-dia’ ou ‘a hora branca’) e sua esposa Papa (terra), o mais lembrado de todos os ancestrais da raça Polinésia. Os seus nomes são encontrados nas lendas dos grupos de ilhas mais proeminentes e os lugares mais altos são concedidos a eles entre os semideuses e às vezes entre as principais divindades.
Os seus feitos pertencem aos tempos mais antigos – a criação ou descoberta das várias Ilhas do mundo do Pacífico. Aqueles que adoravam Wakea e Papa4 são encontrados em localidades tão amplamente separadas que deve ser considerado impossível até mesmo para um semideus ter tantos lares. Atea, ou Wakea, era um dos deuses mais altos das Ilhas Marquesas. Aqui o seu nome significa ‘luz’.
[4 Papa é a mãe Terra, esposa do deus do céu, Wakea, que com forma de pássaro gigante, pôs um ovo do que nasceu a ilha de Havái. Wakea e Papa viveram depois como o primeiro homem e a primeira mulher (Adão e Eva?). Fonte Wikipédia.]
Os Marquesanos evidentemente olham para trás de toda a sua história atual e localizam Atea na antiga pátria. Vatea nas Ilhas da Sociedade, Wakea no Havaí e Nova Zelândia, Makea, Vakea e Akea são variações fonéticas de um nome quando escrito pelos estudantes que fizeram uma forma escrita para palavras repetidas de geração em geração apenas de boca em boca. Mesmo sob o nome de ‘Wakea’, esse antigo chefe é conhecido nas Ilhas mais amplamente separadas.
A única explicação razoável para essa referência generalizada a Wakea é que ele era um ancestral comum a todos os Polinésios dispersos. Parece que deve ter havido um período em que Wakea era rei ou chefe de um povo unido. Ele deve ter sido de grande habilidade e provavelmente foi o grande rei dos Polinésios Unidos. Se esse fosse o fato, naturalmente resultaria que a sua memória seria levada para onde quer que a raça dispersa pudesse ir.
Nos mitos e lendas das Ilhas Hervey, Vatea está localizado perto do início de sua existência nacional. Em primeiro lugar, os Ilhéus de Hervey posicionam Te-ake-ia-roe (A raiz de toda a existência). Então veio sobre o mundo antigo Te Vaerua (A respiração, ou A vida). Então veio o tempo do deus – Te Manawa roa (Há muito tempo). Em seguida, as suas lendas de criação localizam Vari, uma mulher cujo nome significa ‘o começo’, um nome curiosamente semelhante à palavra hebraica ‘bara’, ‘criar’, como em Gen. i.1. Os seus filhos foram arrancados de seus seios e receberam lares na antiga Terra das Brumas, com a qual, sem nenhuma preparação ou introdução, Hawaiki5 é confundida em uma parte da lenda.
[5 Hawaiki: Uma lendária ilha do Pacífico de onde os Maoris migraram para a Nova Zelândia de canoa]
Tem sido sugerido que essa Hawaiki é Savaii das Ilhas Samoa, de onde as Ilhas Hervey podem ter tido a sua origem em uma migração da Idade Média. Um dos filhos de Vari morava em ‘uma ilha tabu sagrada’ e se tornou o deus dos peixes. Outro procurou um lar ‘onde as penas dos papagaios vermelhos fossem reunidas’ – as penas reais para as vestes dos altos chefes. Outro tornou-se o deus do eco e viveu nas ‘rochas cinzentas ocas’. Outro como o deus dos ventos foi longe ‘no oceano profundo’. Outra, uma menina, encontrou um lar, ‘a terra silenciosa’, com a sua mãe. Wakea, ou Vatea, o mais velho dessa família, permaneceu em Ava-iki (Havaí), o lar ancestral – ‘a brilhante terra de Vatea’. Aqui ele se casou com Papa.
Essa Ava-iki foi para os Herveyitas das gerações posteriores o fogo do submundo vulcânico. Quando as longas viagens marítimas cessaram após alguns séculos, os Ilhéus perceberam que Ava-iki estava intimamente ligada à sua história. Eles tinham apenas uma ideia nebulosa de terras distantes e eles sabiam de terremotos e cavernas de lava e incêndios vulcânicos – então eles localizaram Ava-iki como o mundo secreto sob as suas Ilhas. Esse submundo com inconsistência lendária estava localizado na superfície do oceano, quando se tornou necessário que as suas Ilhas fossem descobertas pelos descendentes de Vatea.
De acordo com as lendas de Hervey, Vatea era o pai de Lono e Kanaloa, dois dos grandes deuses dos Polinésios. Eles eram gêmeos. Lono teve três filhos, a quem mandou embora. Eles navegaram por muitos céus e de Ava-iki saíram do oceano profundo duas das Ilhas Hervey. Os nativos do grupo Hervey supunham que o horizonte ao redor de seu grupo encerrava o mundo. Além dessa linha do mundo haviam céus e céus. Um viajante ousado, navegando pela linha do céu, sairia deste mundo para um mundo desconhecido ou um céu delimitado por novos horizontes. Estranhos ‘irromperam’ do céu, às vezes fazendo uso do caminho do sol. Assim, cerca de vinte e cinco gerações atrás, Raa (possivelmente Laa, o Havaiano) quebrou as barras do horizonte e estabeleceu uma linha de reis em Raiatea. Assim também, quando o capitão Cook chegou às Ilhas Hervey, os nativos disseram: ‘De onde vem essa coisa estranha? Ela subiu [subiu à força] da terra rala, o lar de Wakea’. Ele havia perfurado os céus ocidentais de onde os seus ancestrais vieram.
Quando os filhos de Lono inesperadamente viram uma partícula de terra distante sobre o mar, gritaram que ali era um lugar criado para eles por seus ancestrais deificados. À medida que se aproximavam, ‘puxaram’ as Ilhas até se tornarem altas montanhas que se erguem das águas profundas. Nessas montanhas eles encontraram as cavernas de lava e abismos profundos que eles sempre disseram que se estendiam sob os mares até Ava-iki. Eles fizeram de suas cavernas uma passagem para os espíritos para o lar das fadas dos mortos e, portanto, em certos abismos lançavam os corpos dos mortos, para que o espírito pudesse encontrar mais facilmente o caminho para o submundo.
Vatea era um descendente de ‘há muito tempo’, de acordo com a lenda de Hervey. Wakea do Havaí era filho de Kahiko, ‘o antigo’. A casa de Wakea está mais definida nas lendas Havaianas do que nas de Hervey. Ele morava em O-Lolo-i-mehani, ou The Red Lolo [O Lolo Vermelho], um nome confiantemente referido por Fornander em ‘The Polynesian Race’ para Gilolo, a principal Ilha das Molucas. O Lolo Vermelho, como sugerido por Fornander, não se referiria apenas à ação vulcânica e seus detritos em decomposição, mas designaria apropriadamente a maior e mais importante Ilha do grupo. O fogo que irrompeu de muitos vulcões na região do Estreito de Sunda foi ‘real’ para os espectadores, que sentiram que o poder divino estava presente nas misteriosas chamas vermelhas. Assim, todas as tribos Polinésias investiram na cor vermelha com uma dignidade especial, como marca de realeza e preeminência. Estava nas bandeiras permitidas apenas aos chefes quando os seus barcos navegavam para visitar terras distantes. Era a cor dos mantos de guerra dos principais guerreiros.
Nos últimos dias da monarquia do Havaí, o carmesim mais rico era a única cor permitida no estofamento da grande sala do trono. Gilolo pode dignamente ter o nome ‘The Red Lolo’ na história Havaiana. Aqui o Hawaii-loa, o primeiro dos Vikings Polinésios, tinha a sua casa. Aqui morava a Cacique Oupe, uma princesa Polinésia. Em O-Lolo, Wakea casou-se com a neta de Oupe, cujo nome era Papa. Ela é quase tão conhecida nas lendas quanto o seu marido. Dizia-se que Papa era uma descendente tabu de Hawaii-loa e, portanto, superior em classificação a Wakea. Papa é descrita como ‘muito justa e quase branca’. O seu nome significa ‘terra’ e o nome de Wakea pode significar ‘meio-dia’. Isso, com as muitas experiências pelas quais ambos passaram, lançaria as bases para um mito do sol muito bonito, mas nós não podemos evitar o aspecto humano das lendas e dar a ambos uma posição mais digna de ancestrais de um povo disperso.
Kahiko, o antigo, é registrado como tendo tido três filhos, dos quais descendem os chefes, os sacerdotes e as pessoas comuns – os lavradores – quase uma divisão de Sem, Cão e Jafé [filhos de Noé, na Bíblia]. Outras lendas, no entanto, dão a Kahiko apenas dois filhos, o mais velho, Wakea, com poder tanto como chefe quanto como sacerdote. Todas as lendas se unem para fazer de Wakea o chefe da classe dos chefes. Isso explicaria muito prontamente o alto lugar ocupado por Wakea em toda a Polinésia e também o zeloso apego aos registros genealógicos mantidos pelas famílias reais do Pacífico.
Wakea e Papa são atribuídos como os criadores de muitos reinos insulares do Pacífico. Às vezes, o crédito é dado em parte a um deus-pescador travesso, Maui, que dá nome a uma das ilhas Havaianas. Uma das lendas Havaianas remonta à criação ou descoberta do Havaí e atribui a criação do mundo a Wakea e Papa. Os dois estavam vivendo juntos em ‘Po’ – ‘escuridão’ ou ‘caos’. Papa trouxe à existência uma cuia com tigela e tampa, com a polpa e as sementes dentro. Wakea lançou a cobertura e ela se tornou o paraíso. Da polpa e das sementes ele fez o céu, o sol, a lua e as estrelas. Do suco da polpa ele fez a chuva. A cuia ele moldou na terra e no mar.
Outras lendas limitam os trabalhos criativos de Wakea ao grupo Havaiano. Com a ajuda de Papa, ele estabeleceu uma parte das Ilhas; então a discórdia entrou na família real e uma separação foi decidida. O costume Havaiano sempre foi que o chefe ou a chefe exerçam o direito de se divorciar e contrair os laços matrimoniais. Diz-se que Wakea se divorciou de Papa cuspindo em seu rosto, de acordo com um antigo costume. Wakea selecionou uma chefe chamada Hina, de quem a Ilha Molokai (a ilha dos leprosos) recebeu o nome de ‘Molokai-hina’ – o antigo nome da Ilha. Molokai também era uma Ilha perto de Gilolo, no grupo das Molucas e pode ser o lugar de onde Wakea conseguiu a sua noiva. Papa escolheu como seu novo marido um chefe chamado Lua.
O antigo nome de Oahu (a Ilha sobre a qual Honolulu está localizada) era ‘Oahu-a-lua’ (O Oahu de Lua). Uma das Ilhas Celebes tem um nome para um de seus distritos muito semelhante a Oahu – ‘Ouadju’. Papa parece ter ficado parcialmente enlouquecida pelo divórcio dela. Ela se casa com muitos maridos. Ela viaja de um lado para o outro entre Ilhas distantes. Em uma antiga Ilha, Tahiti, ela tem filhos de quem os Taitianos afirmam descender. Nas Celebes, ela e o seu povo passam fome e ela é compelida a mandar comida para O-Lolo. Na lenda da Nova Zelândia, ela se torna a esposa de Langi (Hawaiian Lani, ou céu), uma união de ‘terra’ e ‘céu’.
Eles têm seis filhos. Quatro deles são os principais deuses do antigo Havaí: Kane, ‘luz’; Ku, ‘o construtor’; Lono, ‘som’; e Kanaloa. Duas das crianças não são nomeadas nos anais Havaianos, a menos que aquela, Tawhirri, deva ser representada em Kahili, o alto estandarte usado durante séculos como insígnia de famílias de chefes muito altos. O outro nome, ‘Haumia’, pode ser Haumea, um segundo nome dado a Papa nas lendas. Os Maoris da Nova Zelândia deificam todos esses seis filhos de Lani e Papa.
Kane era o ‘pai das florestas’. Ele era muito forte. Nos tempos antigos, o céu não era separado da terra. Ele ergueu os céus e empurrou a terra – e assim abriu espaço para que todas as coisas crescessem. Foi enquanto o céu repousava todo o seu peso sobre a terra que as folhas começaram a viver, mas eram planas e finas porque não havia chance de se tornarem roliças e cheias como a fruta que veio depois. Aqui está a base para outro mito do sol do Pacífico, onde pode-se dizer que a luz veio e separando as trevas da terra trouxe vida ao mundo. A luz poderia muito bem ser ‘o pai das florestas’. O segundo filho foi Tawhirri, ‘o pai dos ventos e das tempestades’. Uma parte de seu nome era “matea“, que possivelmente poderia se referir a Wakea. Ele morava nos céus com seu pai Lani.
O terceiro filho foi Lono, que era ‘o pai de todos os alimentos cultivados’.
O quarto era Haumia, ‘o pai da comida não cultivada’ – comida que crescia selvagem nas florestas ou entre as ervas ou no meio dos musgos do mar comestíveis.
O quinto filho foi Kanaloa, ‘o pai de todos os répteis e peixes’, inicialmente morando no Hawaiki na terra com todos os seus descendentes.
O sexto filho foi Ku ‘com o rosto vermelho’, ‘o pai de homens ferozes ou cruéis’. Ku era facilmente irritado e depois de um tempo travou uma guerra contra os seus irmãos e os seus seguidores. Houve grande destruição, mas Ku não conseguiu a vitória sozinho. Ele foi obrigado a chamar Tawhirri, ‘o pai dos ventos e das tempestades’. Homens ferozes e tempestades ferozes dificultavam a fuga do restante da família.
O ‘pai das florestas’ se curvou para a terra sob a terrível força de furacões e tornados. Os ‘pais dos alimentos’ enterraram-se profundamente no solo para escapar da destruição nas mãos da humanidade cruel e da natureza tempestuosa.
Então veio o amargo conflito entre a família de Kanaloa e os seus inimigos combinados. Os homens cruéis não tinham piedade nos golpes desferidos contra os seus parentes inferiores. Por fim, os peixes fugiram para o mar e procuraram segurança em águas distantes, encontrando lares onde os filhos de Ku não quiseram seguir. Os répteis fugiram para o interior para os recessos secretos das montanhas e florestas. Lá eles mantiveram a sua vida selvagem ao longo dos séculos até os dias atuais, como em Sumatra, Bornéu, Celebes, Filipinas e outras partes da região ao redor do Estreito de Sunda. Eles não são mais amantes do oceano do que no passado. Eles não ‘descem ao mar em navios’. Tampouco amam a chegada da civilização Holandesa, Espanhola ou Americana. Parecem ter uma antipatia hereditária por homens estranhos e cruéis.
Os piratas tornaram-se grandes andarilhos, levando consigo o nome de ‘Kanaloa’ e plantando-o em quase todas as Ilhas do Pacífico para ser adorado como um dos deuses supremos.
Quanto esses problemas domésticos em torno do nome de Papa podem ter tido a ver com uma migração precoce dos Polinésios, nós não sabemos. Pode ser que, enquanto a família estava envolvida na guerra, os Malaios vieram do norte e, com o poder dos tornados, espalharam a família dividida, obrigando a fuga rápida para terras distantes. Entende-se agora que a grande dispersão dos Polinésios veio das incursões dos poderosos Malaios durante o segundo século da Era Cristã. Algumas das lendas Havaianas e Neozelandesas implicam que, por várias gerações, uma parte dos Polinésios permaneceu na antiga casa da família, Hawaiki. Os Neozelandeses entram bastante no relato dos problemas decorrentes da vinda de seus ancestrais do Hawaiki. Eles mencionam batalhas e discórdias domésticas. Eles falam das longas jornadas e esforços cansativos feitos até que os seus ancestrais encontraram o norte da Nova Zelândia, Ke-ao-tea-roa (A grande terra branca). Essa foi retirada do mar para eles por Maui com o seu maravilhoso anzol. Essa história da pesca mágica do desobediente e travesso Maui é comum na Polinésia.
Após a descoberta da Nova Zelândia, os barcos foram enviados de volta ao Hawaiki para induzir grandes companhias de colonos a deixarem a terra da guerra e dos problemas e se estabelecerem em terras ricas que faziam fronteira com as belas baías da Nova Zelândia.
Histórias iguais de descoberta de novas terras e retorno para amigos adornam as lendas de toda a Polinésia. Os descendentes de Wakea eram membros de um clã e apoiavam-se uns aos outros naquela grande migração do século II, bem como nas jornadas mais lembradas dos anos posteriores. Parece ter havido uma migração contínua dos Polinésios. Às vezes, eles foram aparentemente combatidos pela raça preta, como na Austrália; às vezes eles se mantinham por um tempo, mantendo os da raça preta no interior, como em Fiji; e às vezes eles partiam corajosamente em busca de novas terras, como quando navegavam longas distâncias até o Havaí e as Ilhas de Páscoa. Diz-se que as formas mais puras da língua Polinésia, mais harmoniosas entre si, foram levadas pelos filhos de Wakea para as distantes Ilhas da Nova Zelândia, Havaí e Ilha de Páscoa.
II – LUGARES LENDÁRIOS EM HONOLULU
HO-NO-LU-LU é um nome feito pela união das duas palavras ‘Hono’ e ‘lulu’. Alguns dizem que significa ‘Baia Protegida’. Os antigos Havaianos dizem que ‘Hono’ significa ‘abundância’ e ‘lulu’ significa ‘calma’, ou ‘paz’, ou ‘abundância de paz’. O navegador que deu a definição de ‘Porto Justo’ estava fora do caminho, pois o nome não pertence a um porto, mas a um distrito de ‘calma abundante’ ou ‘uma encosta agradável de terra repousante’.
‘Honolulu’ foi provavelmente um nome dado a um distrito muito rico de terras agrícolas perto do que hoje é conhecido como a junção das Ruas Liliha e School, porque o seu chefe era Honolulu, um dos altos chefes da época de Kakuhihewa, segundo as lendas. Kamakau, o historiador Havaiano, descreve este distrito agrícola assim: ‘Honolulu era um distrito pequeno, uma terra agradável olhando para o oeste – uma terra fértil, com riachos e nascentes de água, água abundante para manchas de taro. Névoas que repousavam no interior sopravam suavemente nas flores da árvore hala.’
Kakuhihewa era um rei de Oahu há muito, muito tempo atrás, e era tão conhecido que durante séculos a Ilha de Oahu recebeu o nome dele ‘O Oahu de Kakuhihewa’. Ele dividiu a Ilha entre os seus chefes e oficiais favoritos, que deram os seus nomes aos lugares recebidos por eles do rei. Assim, o que hoje é conhecido como Honolulu era até a época de Kamehameha I, por volta do ano 1800, quase sempre mencionado como Kou, em homenagem ao chefe Kou, que era um ilamuku (marechal), sob o rei Kakuhihewa. Kou parece ter sido um pequeno distrito, ou melhor, um grupo de casas e terrenos de um chefe, vagamente definido como situado entre a Rua do Hotel e o mar e entre a Avenida Nuuanu e a Rua Alakea.
Ke-kai-o-Mamala era o nome da arrebentação que vinha na entrada externa do porto de Kou. Foi nomeado após Mamala, uma chefe que adorava jogar konane (jogo de damas Havaianas), beber awa e surfar. O seu primeiro marido foi o homem-tubarão Ouha, que mais tarde se tornou um deus-tubarão, vivendo como um grande tubarão fora dos recifes de Waikiki e Koko Head. O seu segundo marido foi o chefe Hono-kau-pu, a quem o rei deu a terra a leste de Kou, que depois recebeu o nome de seu chefe. Nessa área de Kou agora chamada Honolulu haviam vários lugares muito interessantes.
Kewalo foi o lugar onde os Kauwa, uma classe muito baixa de servos, foram submersos ao manter as suas cabeças debaixo d’água. O costume era conhecido como ‘Ke-kai-heehee’, ‘kai’ significando ‘mar’ e ‘hee’ significando ‘deslizando’, daí o deslizamento dos servos sob as ondas do mar. Kewalo foi também o ninho da coruja que foi a causa de uma batalha entre as corujas e o rei Kakuhihewa, onde as corujas de Kauai ao Havaí se reuniram e derrotaram as forças do rei.
Em direção às montanhas acima de Kewalo fica a Planície de Makiki, o lugar onde abundavam os ratos, vivendo em um denso crescimento de pequenas árvores e arbustos. Esse era um lugar famoso para caçar ratos com arcos e flechas.
Ula-kua, o lugar onde os ídolos eram feitos, ficava perto dos depósitos de madeira ao pé da atual Rua Richards.
Ka-wai-a-hao (A água pertencente a Hao), o local da famosa antiga igreja nativa, era o local de uma bela fonte de água pertencente a um chefe chamado Hao.
Ke-kau-kukui ficava perto de Ula-kua e era o lugar onde pequenas placas de konane (jogo de damas) eram colocadas. Eram pedras planas com fileiras de buraquinhos nos quais se jogava um jogo com pedras pretas e brancas. Aqui Mamala e Ouha beberam awa e jogaram konane e Kekuanaoa, pai de Kamehameha V., construiu a sua casa.
Kou era provavelmente o lugar mais conhecido para konane em Oahu. Havia uma pedra famosa quase em frente ao local do templo. Aqui os chefes se reuniram para muitos jogos. Propriedades e até vidas foram jogadas livremente. O Edifício Spreckels cobre o local desse conhecido resort de jogos de azar.
Em Hono-kau-pu era um dos lugares notáveis para rolar o disco de pedra de lado chato conhecido como ‘a pedra maika’. Isso não ficava longe das Ruas Richards e Queen, embora o grande lugar ‘Ulu-maika’ para a reunião dos chefes fosse em Kou. Essa era uma trilha dura e lisa, com cerca de quatro metros e meio de largura, estendendo-se da esquina das Ruas Merchant e Fort, agora ocupada pelo Banco do Havaí, ao longo do lado marítimo da Rua Merchant, até o local além da Avenida Nuuanu, conhecido como as antigas fábricas de ferro em Ula-ko-heo. Foi usada pelos mais altos chefes para rolar o disco de pedra conhecido como ‘a pedra maika’. Kamehameha I é registrado como tendo usado essa trilha maika.
Ka-ua-nono-ula (chuva-com-o-arco-íris vermelho) era o lugar nesse distrito para os wai-lua, ou fantasmas, se reunirem para os seus jogos e esportes noturnos. Sob as sombras das árvores, perto das atuais salas da Missão do Conselho Havaiano, na junção das Ruas Alakea e Merchant, esses fantasmas faziam da noite uma fonte de pavor para todas as pessoas. Outro lugar em Honolulu para a reunião de fantasmas era a esquina da Rua King com a Avenida Nuuanu.
Puu-o-wai-na, ou Punchbowl, era uma ‘colina de sacrifício’ ou ‘oferta’ de acordo com o significado das palavras nativas e não ‘colina do vinho’, como muitas pessoas disseram. Kamakau, um historiador nativo de quase cinquenta anos atrás [hoje mais de 100 anos], diz: ‘Antigamente havia um imu ahi, um forno de fogo, para queimar homens nessa colina. Chefes e pessoas comuns eram queimados como sacrifícios naquele lugar notável. Homens eram trazidos para sacrifício de Kauai, Oahu e Maui, mas não do Havaí. As pessoas poderiam ser queimadas nesse lugar por violar os tabus dos chefes divinos dos tabus.’
‘A grande pedra no topo de Colina Punchbowl era o lugar para queimar homens.’
Parte de um canto ardente sobre Punchbowl diz o seguinte:
‘Ó o furioso fogo tabu de Keaka,
Ó o alto fogo ascendente do sacrifício!
Fogo tabu, cinzas espalhadas.
Fogo tabu, espalhando calor.‘
O Vale Nuuanu está cheio de lugares lendários interessantes. O mais interessante, no entanto, é o pequeno vale feito por um esporão de montanha abrindo caminho do sopé de Kalihi para o vale maior e com o nome “Waolani“, o lar selvagem dos deuses e agora a casa do Country Club de Honolulu. Essa região pertencia ao povo Eepa. Esses eram quase os mesmos gnomos malformados, deformados ou feridos dos contos de fadas Europeus. Nesse belo vale que se abria no Vale Nuuanu estava o heiau Waolani construído para Ka-hanai-a-ke-Akua (O chefe criado pelos deuses), muito antes dos dias de Kakuhihewa.
Foi dito que os dois cuidadores divinos deste chefe eram Kahano e Newa e que Kahano era o deus que se deitava no oceano, estendendo as mãos até que um descansasse em Kahiki (Taiti ou alguma outra terra estrangeira) e o outro descansasse em Oahu. Sobre os seus braços, como uma grande ponte, caminhavam os Menehunes, ou povo das fadas, até Oahu. Eles vieram para serem servos desse jovem chefe que estava sob os cuidados dos deuses. Eles construíram tanques de peixes e templos. Eles moravam no Vale Manoa e em Punchbowl Hill. Ku-leo-nui (Ku-com-voz-alta) era o seu mestre. Ele poderia ligar para eles a qualquer noite. A sua voz foi ouvida por toda a Ilha. Eles vinham de uma vez e quase invariavelmente terminavam cada tarefa antes que os raios do sol nascente os levassem para os seus refúgios escondidos na floresta ou no deserto.
Waolani heiau foi o lugar onde a famosa concha musical ‘Kiha-pu’ teve a sua primeira casa – de onde foi roubada por Kapuni e levada para a sua casa histórica no Vale Waipio, Havaí. Abaixo de Waolani Heights, os Menehunes construíram o templo Ka-he-iki para as ‘crianças nutridas pelos deuses’ e aqui vivia o sacerdote e profeta que fundou o clã de sacerdotes chamado ‘Mo-o-kahuna’, um dos clãs mais sagrados dos antigos Havaianos. Não muito longe desse templo foi o cenário da dramática súplica de uma coruja por seus ovos quando levada de Kewalo por um homem que havia encontrado o seu ninho. Faz parte da história da batalha das corujas e do rei.
Mais perto das margens do córrego Nuuanu estava a grande Árvore de Fruta-Pão na qual uma mulher empurrou o seu marido por poder mágico quando ele estava prestes a ser morto e oferecido como sacrifício aos deuses. Essa árvore tornou-se um dos deuses de madeira mais poderosos dos Havaianos, sendo preservada, diz-se, até os tempos de Kamehameha I.
No sopé do Vale Nuuanu está Pu-iwa, um lugar ao lado do córrego Nuuanu. Aqui um pai, Maikoha, disse a suas filhas para enterrar o seu corpo, para que dele pudesse brotar a árvore wauke5, usada para fazer kapa desde então. Deste lugar, diz a lenda, a árvore-wauke se espalhou por todas as ilhas.
[5 Amoreira-do-papel, Broussonetia papyrifera]
No leito do Nuuanu está a pedra lendária chamada ‘A Canoa do Dragão’. Isso fica entre os pedregulhos no córrego, não muito longe das antigas instalações da Igreja Kaumakapili.
No Vale Nuuanu ocorreu o acirrado conflito entre Kawelo, o homem forte de Kauai, auxiliado por dois amigos e um bando de ladrões. Nessa batalha, as árvores arrancadas figuravam como poderosos porretes de guerra.
Esses são lugares lendários que fazem fronteira com Kou, a antiga Honolulu. Além desses, há muitos outros pontos de grande interesse, como Waikiki e o Vale Manoa, mas eles ficam além dos limites de Kou e da antiga Honolulu. Em Kou em si estava o famoso Templo Pakaka. Esse templo ficava no lado oeste do sopé da Rua Fort muito depois que o forte foi construído a partir do qual a rua foi nomeada. Ficava logo abaixo do forte. Pakaka era propriedade de Kinau, mãe de Kamehameha V. Isso era um heiau, ou templo, construído antes da época de Kakuhihewa. Nesse templo, a escola dos sacerdotes de Oahu teve a sua sede durante séculos. As paredes do templo eram adornadas com cabeças de homens oferecidos em sacrifício.
Enormes quantidades de pedra foram usadas na construção de todos esses heiaus, muitas vezes passadas à mão de pedreiras a grandes distâncias, de modo que o trabalho de construção consumia muito tempo e energia.
De acordo com as últimas investigações, havia cento e oito heiaus na Ilha de Oahu, algumas evidências ainda podem ser rastreadas, mostrando a influência de longo alcance de reis e sacerdotes sobre esses povos primitivos.
III – O DEUS DO TEMPLO PAKAKA
PAKAKA5 era um heiau, ou templo. Existem várias lendas ligadas a este heiau. Uma das mais interessantes é aquela que conta como surgiu o deus do templo.
A história do deus desse templo é uma história de viagens e vicissitudes. Olopana partiu de Waipio, Havaí, para as Ilhas de mares distantes. Em algum lugar em todo aquele grande número de Ilhas que foram agrupadas sob o nome geral ‘Kahiki’, Olopana encontrou um lar. Aqui a sua filha Mu-lei-ula (Mu-com-a-guirlanda-vermelha) estava tendo grandes problemas para estar perto do parto. Por alguma razão Haumea, um dos divinos ancestrais Polinésios, parou por um tempo para visitar o povo daquela terra. Quando os amigos temiam que Mu-lei-ula morresse, Haumea veio ajudar, dizendo: ‘Na nossa terra a mãe vive. A mãe e o filho vivem.’ As pessoas diziam: ‘Se você nos der ajuda, como nós podemos pagar ou dar uma recompensa?’
[Nota: Haumea, Deusa Havaiana dos nascimentos e da fertilidade e poderosa feiticeira]
[5 Infantaria da Rua Fort perto de madeireiras.]
Haumea disse: ‘Há uma bela árvore com duas flores estranhas, mas gloriosas, que eu gosto muito. É ‘a árvore de folhas mutáveis’ com duas flores, uma espécie cantando agudamente e a outra cantando de vez em quando. Por essa árvore eu salvarei a vida da filha do chefe e de sua filha.’
Alegremente a menina doente e os amigos dela prometeram dar essa bela árvore para Haumea. Era uma árvore muito amada pela princesa.
Haumea começou as orações e encantamentos que acompanhavam o seu tratamento da doente e a chefe rapidamente ficou mais forte. Isso aconteceu tão rápido e facilmente que ela se arrependeu do presente da árvore com as lindas flores e gritou: ‘Eu não darei a árvore’.
Imediatamente ela começou a perder as forças e chamou Haumea que ela daria a árvore se ela pudesse ser perdoada e curada. No entanto, quando a força veio a ela mais uma vez sentiu pena de sua árvore, recusou-se a deixá-la ir. Novamente os encantamentos foram interrompidos e a ajuda divina retirada.
Olopana em agonia gritou para a sua filha: ‘Desista de sua árvore. De que servirá as suas flores se você morrer?’ Então Haumea, com os mais poderosos encantamentos, deu-lhe a força final e mãe e filha viveram e ficaram bem e fortes.
Haumea pegou a árvore e viajou pelos mares distantes até a distante Havaí. Naquela Ilha maior ela não encontrou lugar para plantar a árvore. Ela atravessou para a ilha de Maui e chegou aos ‘quatro rios’. Lá ela encontrou o awa dos deuses e o preparou para beber, mas precisava de água fresca para misturar com isso.
Ela colocou a sua árvore no chão em Puu-kume perto do córrego Wai-hee e desceu atrás da água. Quando ela voltou, a árvore estava enraizada. Enquanto ela olhava, começou a levantar-se e a lançar ramos. Ela construiu um muro de pedra ao redor dela, para protegê-la dos ventos. Quando floresceu, Haumea retornou ao seu lar divino em Nuumealani, 6a terra de névoas e sombras onde os deuses moravam.
[6 Veja ‘Home of the Ancestors’, Parte II., em ‘Legends of Ghosts and Ghost-Gods’]
Pouco a pouco, um homem pegou o seu machado de pedra e saiu para cortar uma árvore, talvez para fazer um deus. Ele viu uma nova árvore, curta e bonita e depois de horas de trabalho cortou-a. A noite estava chegando, então ele a deixou assim que ela caiu e foi para casa.
Naquela noite, uma tempestade feroz e poderosa desceu das montanhas. Vermelho-sangue eram as correntes de água que desciam para os vales. Durante vinte noites e vinte dias a chuva furiosa castigou a terra acima e ao redor de Wai-hee. O rio era mais do que uma torrente impetuosa. Isso ergueu colinas e cavou ravinas. Isso arremessou as suas ondas poderosas contra a parede dentro da qual a árvore estava. Isso esmagou a parede, espalhou as pedras e derrubou a árvore em uma das ravinas profundas. Os galhos foram quebrados e levados com o tronco da árvore para o oceano.
Durante seis meses as ondas arremessaram esse fardo de um lugar para outro e finalmente lançaram o maior galho no recife perto da praia de Kailua, na Ilha do Havaí. As pessoas viram algo muito maravilhoso. Onde este galho estava encalhado na água, peixes de vários tipos se reuniam pulando ao redor dele. Os chefes levaram este maravilhoso ramo para o interior e fizeram o deus Makalei, que foi um deus do Havaí por gerações.
Outro galho ficou em posse de alguns dos chefes de Maui e foi usado como vara para pendurar fardos. Ele tornou-se um deus para os chefes de Maui, com o nome Ku-ke-olo-ewa.
O corpo da árvore rolou para frente e para trás ao longo da praia perto das quatro águas e foi envolto no lixo do mar.
Um chefe e a esposa dele ainda não haviam encontrado um deus para o lar deles. Em um sonho, eles foram instruídos a obter um deus. Durante três dias eles consultaram sacerdotes, repetiram orações e encantamentos e ofereceram sacrifícios aos grandes deuses, enquanto procuravam madeira para cortar o seu deus. Na terceira noite os presságios os levaram até a praia e eles viram esse tronco de árvore rolando para frente e para trás. Uma névoa tênue estava jogando sobre ele ao luar. Eles pegaram aquela árvore, cortaram o seu deus e o chamaram de Ku-hoo-nee-nuu. Eles construíram um heiau, ou templo, para esse deus e o chamaram de heiau Waihau e o fizeram tabu7, ou um lugar sagrado ao qual os sacerdotes e os altos chefes eram admitidos livremente.
[7 Tapu, tabu ou kapu é um conceito tradicional Polinésio que denota que algo é santo ou sagrado, com “restrição espiritual” ou “proibição implícita”; que envolve regras e proibições. A palavra em Português “tabu” deriva desse significado, trazido à Europa após a visita do capitão James Cook, em 1777, a Tonga. O conceito existe em muitas sociedades, incluindo a de Fiji, Maori, Samoa, Rapanui, Taitiana, Havaiana e as culturas de Tonga, na maioria dos casos, utilizando uma palavra reconhecidamente semelhante. Fonte: Wikipédia]
A mana, ou poder divino, desse deus era muito grande e era um deus notável do Havaí a Kauai. Favor e prosperidade repousavam sobre esse chefe que havia encontrado a árvore, feito dela um deus e construído um templo para isso.
O rei que morava na Ilha de Oahu ouviu falar dessa árvore e enviou servos para a Ilha de Maui para descobrir se os relatos eram verdadeiros ou não. Se fosse verdade, eles deveriam trazer esse deus para Oahu.
Eles encontraram o deus e disseram ao chefe que o rei queria estabelecê-lo em Kou8 e construiria um templo para ele lá. O chefe prontamente desistiu de seu deus e o deus foi levado para o seu novo lar.
Assim, o templo, ou heiau, foi construído em Kou e o deus Ku-hoo-nee-nuu foi colocado nele. Este templo era Pakaka, o templo mais notável da Ilha de Oahu, enquanto o seu deus, o tronco da árvore de uma terra estrangeira, tornou-se o deus dos chefes de Oahu.
[8 Antiga Honolulu]
IV – A LENDA DA ÁRVORE FRUTA-PÃO
A maravilhosa árvore da fruta-pão9 era uma grande árvore que crescia na margem leste do riacho ondulante de Puehuehu.10 Era uma árvore tabu, separada para o chefe supremo de Kou e os chefes de Honolulu descansarem enquanto iam se banhar na célebre piscina de mergulho Wai-kaha-lulu. Aquela árvore se tornou um deus e essa é a história de sua transformação:
[9 Ulu–Artocarpus incisa]
[10 Perto da ponte da Rua Nuuanu.]
Papa e Wakea eram os ancestrais do grande povo disperso que navegava e amava o mar que vivia em todas as Ilhas hoje conhecidas como Polinésia. Eles tinham a sua casa em cada grupo de Ilhas onde os seus descendentes pudessem encontrar espaço para se multiplicarem.
Eles vieram para a Ilha de Oahu e, segundo quase todas as lendas, foram os primeiros moradores. A história da árvore mágica da fruta-pão, no entanto, diz que Papa partiu de Kahiki (uma terra distante) com o seu marido Wakea, desembarcando em Oahu e encontrando um lar no planalto da montanha perto do precipício Kilohana.
Papa era uma kupua11 – uma mulher com muitos poderes maravilhosos e milagrosos. Ela também tinha vários nomes. Às vezes ela era chamada de Haumea, mas finalmente deixou o seu poder e um novo nome, Ka-meha-i-kana, na árvore mágica da fruta-pão.
[11 Kupua é outra palavra Havaiana que se refere ao “curador” especializado que trabalha com os poderes da mente e das forças da natureza. Nesse aspecto é muito similar a palavra “Xamã” da língua Tungúsica Siberiana. Fonte: Serge Kahili King]
Papa era uma mulher bonita, cuja pele brilhava como marfim escuro polido através das flores, trepadeiras e folhas que eram as únicas roupas que ela conhecia. Onde ela e seu marido se estabeleceram, encontraram um país frutífero – com bananas, cana-de-açúcar e taro [inhame]. Eles construíram uma casa no cume da montanha e se banqueteavam com a abundância de alimentos ao seu redor. Aqui eles descansavam bem protegidos quando as chuvas caíam ou o sol quente brilhava.
Papa dia a dia olhava para o litoral que se estende em quilômetros de beleza maravilhosa abaixo dos precipícios da cordilheira do norte da Ilha de Oahu. Poças claras e profundas, bem cheias dos mais delicados peixes, repousavam tranquilamente entre as projeções cobertas de musgo do recife de coral limítrofe. O murmúrio inquieto das ondas da arrebentação batendo dentro e fora das linhas quebradas do recife a chamou, então, pegando algumas folhas compridas da árvore hala, ela fez uma cesta leve e correu para o mar. Em pouco tempo ela havia coletado musgo do mar e capturado todos os caranguejos que desejava levar para casa.
Ela se virou para a cordilheira e carregou a sua carga para Hoakola, onde havia uma fonte de água linda, clara, fria e fresca. Ela colocou o seu musgo e os caranguejos para lavá-los.
Ela olhou para cima e na encosta da montanha discerniu algo estranho. Ela viu o seu marido nas mãos de homens que o haviam capturado e amarrado e o obrigavam a caminhar pelo lado oposto da cordilheira. O seu coração saltou de medo e angústia. Ela esqueceu os caranguejos e o musgo e subiu correndo o caminho íngreme até a sua casa. O musgo se enraizou na primavera, mas os caranguejos escaparam para o mar.
No lado das montanhas de Honolulu havia muitos chefes e o povo deles, vivendo entre os quais estava Lele-hoo-mao, o governante, cujos campos eram frequentemente saqueados por Papa e o marido dela. Foram os seus servos que, enquanto vasculhavam a área rural ao redor desses campos, encontraram e capturaram Wakea. Eles o estavam obrigando ir para o templo Pakaka[12] para ser oferecido em sacrifício. Eles gritavam: ‘Nós encontramos o malfeitor e o amarramos’.
[12 O templo Pakaka através de suas centenas de anos de existência recebeu de tempos em tempos sacrifícios humanos]
Papa jogou ao redor dela algumas das vinhas que ela havia feito uma saia e correu pelas colinas até a beira do Vale de Nuuanu.
Espiando o vale, ela viu o seu marido e os seus captores e, cautelosamente, ela desceu.
Ela encontrou um homem à beira do córrego Puehuehu, que lhe disse: ‘Um homem está sendo levado pois deve ser assado em um forno hoje. O fogo está queimando no vale abaixo.’
Papa disse: ‘Dê-me água para beber’.
O homem disse: ‘Eu não tenho nenhuma.’
Então Papa pegou uma pedra e a esmagou no chão. Ela irrompeu em uma poça de água. Ela bebeu e correu para a árvore de fruta-pão em Nini, onde alcançou o seu marido e os homens que o guardavam. Ele estava vivo, as suas mãos amarradas atrás dele e as suas roupas de folhas arrancadas de seu corpo. Lamentando e chorando que ela deveria beijá-lo, ela correu para ele e começou a empurrá-lo e puxá-lo, girando-o ao redor e ao redor.
De repente, a grande árvore de fruta-pão se abriu e ela saltou com ele através da porta para o coração da árvore. A abertura fechou em um instante.
Papa, por seu poder milagroso, abriu a árvore do outro lado. Eles passaram e subiram rapidamente a encosta da montanha até a sua casa, que ficava perto da cabeceira do Vale Kalihi.
Enquanto eles corriam, Papa jogou fora o pa-u de videira, ou saia. A videira tornou-se a bela glória da manhã, delicada em flor e poderosa em qualidades medicinais. Os homens atônitos haviam perdido o seu cativo. De acordo com o antigo provérbio Havaiano, ‘A cerca deles estava em torno do campo do nada’. Eles empurraram contra a árvore, mas a abertura estava bem fechada. Eles correram sob os galhos de folhas pesadas e não encontraram nada. Eles acreditavam que a grande árvore mantinha os seus cativos em seu poder mágico.
Rapidamente correu o mensageiro para o seu alto chefe, Lele-hoo-mao, para contar-lhe sobre o problema na árvore de fruta-pão tabu em Nini e que o sacrifício pelo qual o forno estava sendo aquecido foi perdido.
Os chefes se consultaram e decidiram cortar aquela árvore e tirar o cativo de seu esconderijo. Eles enviaram cortadores de árvores com os seus machados de pedra.
O líder dos cortadores de árvores atingiu a árvore com o seu machado de pedra. Uma lasca saltou da árvore, atingiu-o e ele caiu morto.
Outro pegou o machado. Novamente lascas voaram e o operário caiu morto.
Então todos os cortadores golpearam e cortaram a árvore.
Sempre que uma lasca atingia alguém, ele morria e a seiva da árvore escorria e era respingada sob os golpes dos machados de pedra. Sempre que uma gota tocava um trabalhador ou um espectador, ele caía morto.
As pessoas ficaram cheias de medo e clamaram ao seu sacerdote por ajuda.
Wohi, o sacerdote, aproximou-se da árvore, curvou-se diante dela e permaneceu em silêncio por muito tempo. Então ele levantou a cabeça e disse: ‘Não foi uma mulher que entrou naquela árvore. Foi Papa de Kahiki. Ela é uma deusa e tem uma infinidade de corpos. Se nós a tratarmos bem, nós não seremos destruídos.”
Wohi ordenou ao povo que oferecesse sacrifícios ao pé da árvore. Isso foi feito com orações e encantamentos. Um porco preto, uma awa preta e um peixe vermelho foram oferecidos à Papa. Então Wohi ordenou aos lenhadores que se esfregassem abundantemente com óleo de coco e fossem sem medo para o trabalho. Lascas os atingiram e a seiva da árvore foi espalhada sobre eles, mas eles trabalharam ilesos até que a grande árvore caiu.
Dessa árvore mágica de fruta-pão foi feita uma grande deusa. Papa lhe deu um de seus nomes, Ka-meha-i-kana, e a dotou de poder para que fosse notada de Kauai ao Havaí. Tornou-se uma das grandes deusas de Oahu, mas foi levada para Maui, onde Kamehameha a garantiu como a sua deusa para ajudar a estabelecer o seu domínio sobre todas as Ilhas.
A dádiva divina peculiar que deveria residir nessa imagem feita da maravilhosa árvore de fruta-pão era a capacidade de ajudar os adoradores a conquistar terras e poder de outras pessoas e empregar sabiamente os melhores meios de estabelecer firmemente o seu próprio governo, protegendo e preservando o reino.
Papa morava acima do Vale Kalihi e olhava para as planícies de Honolulu e Ewa cobertas de plantas bem regadas que davam alimento ou sombra para as pessoas que se multiplicavam.
Diz-se que depois de um tempo ela teve uma filha, Kapo, que também tinha kupua, ou poder mágico. Kapo tinha muitos nomes, como Kapo-ula-kinau e Laka. Ela era uma deusa alta tabu das antigas hulas Havaianas, ou danças. Ela também tinha o poder de assumir muitos corpos à vontade e poderia aparecer em qualquer forma, desde o mo-o, ou lagarto, até um ser humano.
Nota: Kapo é o nome de um lugar e de uma pedra maravilhosa com uma ‘frente como a frente de uma casa e as costas como o rabo de um peixe’. As lendas de sessenta anos atrás [na época da edição do artigo] dizem que Kapo ainda estava naquele lugar como um dos guardiões do Vale Kalihi.
Kapo nasceu dos olhos de Haumea, ou Papa.
Papa desviou o olhar de Kapo e de sua cabeça nasceu um pali abrupto, ou precipício, muitas vezes coberto de névoa; esse era Ka-moho-alii. Então nasceu Pele. Foi ela quem teve grandes batalhas com Kamapuaa, o homem-porco, que quase destruiu o vulcão Kilauea. Foi Ka-moho-alii quem esfregou gravetos e reacendeu os fogos vulcânicos para a sua irmã Pele, levando Kamapuaa pelas laterais do Kilauea para o oceano.
Esses três, de acordo com as lendas de Honolulu, eram os filhos mais bem-nascidos de Papa e Wakea.
Descendo o córrego Kalihi, abaixo da casa de Papa, havia duas pedras às quais os Havaianos deram poder eepa, ou gnomo. Se algum viajante passar por essas pedras em seu caminho para o local de descanso de Papa, esse viajante para junto a essas pedras, recolhe folhas e faz colares de flores, ou guirlandas e as coloca sobre essas pedras, para que não haja problemas em todas as andanças do dia.
Às vezes, pessoas travessas mergulham galhos das árvores-lehua na água e borrifam as rochas eepa; então ai do viajante, pois as chuvas penetrantes devem cair. Daí vem o provérbio pertencente aos moradores do Vale de Kalihi: ‘Aqui está a chuva de ponta afiada Kalihi’ (‘Ka ua poo lipilipi o Kalihi’).
Imagem studio-kealaula-ezZ9GSyc3bU-unsplash.jpg – 17 de agosto de 2022; árvore fruta-pão. Uma foto de Hawaiian ʻUlu (breadfruit), taken from Kauaʻi, Hawaiʻi.
…continua Parte II…
A chuva de bênçãos derrama-se sobre mim, nesse exato momento.
A Prece atinge o seu foco e levanta voo.
Eu sinto muito.
Por favor, perdoa-me.
Eu te amo.
Eu sou grato(a).