O objetivo do presente artigo é correlacionar os paralelos e as diferenças entre o sistema de pensamento de Um Curso em Milagres e a filosofia, se assim nós podemos chamar, por trás das Experiências de Quase-Morte (EQMs) relatadas, discutidas, estudadas e divulgadas nas mídias de modo geral e nos centros de pesquisa científica ao longo do tempo.

Para o nosso entendimento e reflexão sobre esse importante tema, nós buscamos inspiração em artigo coescrito por Robert Perry, B.A. (Cranborne, United Kingdom) e Greg Mackie, B.A. (Xalapa, Mexico), denominado “Near-Death Experiences and A Course in Miracles” [Experiências de Quase-Morte e Um Curso em Milagres].

Os autores do artigo são professores, pesquisadores e proeminentes divulgadores do Curso, que estamos transcrevendo em tradução livre a seguir:

O artigo na íntegra em Inglês poderá ser acessado através do site Circle of Atonement no link https://circleofa.org/library/near-death-experiences-course-miracles/.

Tradução livre Projeto OREM® (PO)

“Esse artigo foi publicado no Journal of Near-Death Studies [Jornal de Estudos Quase-Morte], Volume 32, Número 4, verão de 2014.

O Journal of Near-Death Studies é um periódico acadêmico revisado por pares dedicado ao estudo de experiências de quase morte e fenômenos relacionados. É publicado pela International Association for Near-Death Studies [Associação Internacional para Estudos de Quase-Morte].

RESUMO

Kenneth Ring, pesquisador da experiência de quase-morte (EQM) e vários experienciadores, notaram vários paralelos entre a filosofia implícita em muitas EQMs e a filosofia transmitida nos ensinamentos do caminho espiritual contemporâneo de Um Curso em Milagres (o Curso), um livro de 1976 ditado por uma voz interior que afirma ser Jesus.

Uma ligação entre as duas fontes também é sugerida por uma experiência semelhante a uma EQM que a “escriba” do Curso teve anos antes de o Curso ser ditado.

Nesse artigo, nós descrevemos a nossa comparação das duas filosofias sob vários títulos:

  • a natureza de Deus;
  • verdadeira identidade humana;
  • o reino espiritual;
  • a natureza do mundo;
  • o poder do pensamento, escolha, oração e cura [healing];
  • e o propósito da vida na terra.

Em cada categoria, nós encontramos uma série de paralelos específicos e, em algumas, nós também encontramos diferenças ou diferenças aparentes.

As duas filosofias convergem, em nossa opinião, em uma síntese distinta do que chamamos de ‘modelo dualístico/de aprendizado’ – no qual as almas viajam através do tempo em uma jornada educacional divinamente orquestrada que visa alcançar a união com Deus – e um ‘modelo não dualístico/de despertar‘- no qual as mentes despertam da ilusão da existência separada para a realidade da unicidade indiferenciada.

Nós encontramos no Curso uma ênfase consistentemente maior no modelo não dualístico/de despertar, mas tanto as EQMs quanto o Curso compartilham um foco central no amor incondicional.

Se futuros pesquisadores conduzirem análises mais sistemáticas da filosofia (ou filosofias) expressas nas EQMs e confirmarem as nossas descobertas sobre as semelhanças predominantes entre as filosofias expressas nas EQMs e o Curso, nós sugerimos que as associações não podem ser explicadas como um produto da doutrinação cultural.

PALAVRAS-CHAVE: experiência de quase-morte; EQMs; Um Curso em Milagres

Nesse artigo, o nosso propósito é comparar a filosofia que muitas experiências de quase-morte (EQMs) parecem implicar com a filosofia transmitida por meio dos ensinamentos do texto espiritual de Um Curso em Milagres (‘o Curso’ ou ‘UCEM’; Fundação para Paz Interior, 2007).

Como professores de longa data do Curso que também compartilham um interesse pelas EQMs, a nossa observação é que, apesar de algumas diferenças notáveis, que nós estamos documentando a seguir, há vários paralelos entre esses dois conjuntos de informações.

Esses paralelos são especialmente interessantes, dado o fato de que as EQMs e Um Curso em Milagres são essencialmente independentes um do outro: O Curso foi concluído em 1972, antes que as EQMs chegassem à atenção do público em Raymond Moody’s (1975) “Life After Life” [Livro clássico inovador e mais vendido] e desde então o Curso não teve uma influência cultural significativa. Assim, parece improvável que relatos de EQMs tenham influenciado o Curso ou vice-versa.

Em nossa opinião, essa semelhança traz possíveis implicações tanto para o Curso quanto para as EQMs. No mínimo, levanta a questão de onde vem a semelhança.

Como poderia Um Curso em Milagres e muitas EQMs concordar independentemente tanto sobre Deus, as verdadeiras identidades dos humanos, o reino espiritual e o propósito da vida na terra, especialmente quando esses acordos estão fora das expectativas culturais Ocidentais predominantes?

O que é Um Curso em Milagres?

Um Curso em Milagres é um caminho espiritual contemporâneo na forma de um livro. Estruturado como um curso acadêmico, é composto por três volumes encadernados: o Texto, que apresenta a teoria; o Livro de Exercícios, que consiste em um ano de exercícios diários que treinam os estudantes na aplicação da teoria; e o Manual de Professores, que visa auxiliar os professores desse curso.

O Curso foi ‘transcrito’ de 1965 a 1972 por meio de um processo de ‘ditado interno’ – de uma voz que afirmava ser Jesus – por Helen Schucman (1909-1981) com a ajuda de William Thetford (1923-1988), ambos psicólogos no Columbia-Presbyterian Medical Center na cidade de Nova York. (Para mais informações sobre a escrita do Curso, consulte Vahle, 2009; Wapnick, 1999; e Skutch, 2004).

O livro foi publicado originalmente em 1975, o mesmo ano do trabalho seminal de Moody sobre EQMs, “Life After Life”. Desde a sua publicação, o Curso vendeu mais de um milhão de cópias. Geralmente é estudado por estudantes sozinhos ou no contexto de grupos de estudo livremente organizados, muitas vezes com a ajuda de livros escritos sobre o assunto.

No entanto, embora o Curso tenha experienciado breves períodos de relativa popularidade, como o período após a publicação em 1992 do livro best-seller ‘Um Retorno ao Amor’ de Marianne Williamson, baseado no Curso, ele permanece um pequeno fenômeno com pouca influência no público em geral além do movimento da Nova Era e círculos espirituais alternativos.

Ligações (links) entre EQMs e Um Curso em Milagres

Como intérpretes e professores de Um Curso em Milagres, frequentemente nós ouvimos que um determinado livro ou ensino é ‘exatamente como’ o Curso. Historicamente, entretanto, nós temos sido pessimistas, apontando que as semelhanças não são tão grandes quanto as pessoas parecem pensar.

As semelhanças, em nossa visão, são frequentemente baseadas em interpretações populares do Curso, enquanto a nossa própria abordagem tem sido deixar de lado a sabedoria convencional sobre o Curso e tentar descobrir, por meio de estudo e análise cuidadosos, o que ele realmente está ensinando.

No entanto, quando nós começamos a examinar as EQMs, a nossa experiência foi surpreendentemente diferente. Repetidamente, nós encontramos nas EQMs ideias específicas e orientações gerais que nós havíamos descoberto no Curso e que nós apresentamos como correções da sabedoria convencional sobre o Curso.

Como resultado, em nosso ensino, embora ainda nós minimizemos os paralelos entre o Curso e outros ensinamentos, frequentemente nos referimos às EQMs como ilustrações dramáticas de conceitos específicos do Curso.

Comparar a filosofia de Um Curso em Milagres e as EQMs obviamente requer um entendimento de cada um por si só. Com o Curso, explorar e comunicar a sua filosofia tem sido o trabalho de nossa vida, então nós nos sentimos em um terreno firme. Com as EQMs, entretanto, não é tão simples. Não apenas nós somos novos nesse tópico, porém ela é inerentemente mais difícil de abraçar.

Até o momento, não houve nenhum estudo sistemático da filosofia das EQMs e, portanto, não foi estabelecido que haja uma filosofia unificada expressa nelas.

As características paralelas a Um Curso em Milagres são tão predominantes que nos parecem ser parte de uma espécie de ‘corrente principal‘ de EQMs, mas por enquanto essa possibilidade terá de permanecer uma impressão subjetiva que aguarda verificação.

Discussões anteriores de EQMs e Um Curso em Milagres

Uma ligação inicial foi traçada entre as EQMs e UCEM pelo pesquisador Kenneth Ring em seu artigo ‘Resolvendo o Enigma das Experiências de Quase-Morte Assustadoras: Algumas Hipóteses Testáveis ​​e uma Perspectiva Baseada em Um Curso em Milagres’ [‘Solving the Riddle of Frightening Near-Death Experiences: Some Testable Hypotheses and a Perspective Based on A Course in Miracles”] (1994).

Nesse artigo, Ring ofereceu uma explicação baseada no Curso para EQMs estressantes – especificamente, para o que ele chamou de EQMs ‘invertidas’ e EQMs infernais (não para experiências de ‘vazio sem sentido’, que ele considerou não serem EQMs verdadeiras, mas sim reações a anestesia inadequada).

Ele apontou que, na visão do Curso, a única coisa que é fundamentalmente real é o reino do amor puro – o que o Curso chama de ‘Céu’ (o reino de Deus) e o que, de acordo com ele, experienciadores de quase-morte (pessoas que passaram por uma EQM) chamam de ‘a Luz’.

Por outro lado, a nossa autoimagem convencional – o que o Curso chama de ego – é uma construção ilusória enraizada no medo, uma construção cuja existência depende de negar a Luz.

Essa imagem da realidade leva diretamente à explicação de Ring baseada no Curso para EQMs estressantes. Ele postulou que se alguém está fortemente identificado com o seu ego e o seu medo de dissolução, de certo modo o estado emocional do indivíduo tenderá a gerar imagens consoantes com esse medo, o que só fará com que ele se fortaleça. A pessoa, portanto, continuará a se sentir muito ameaçada [pela EQM], pois ela está sendo realmente ameaçada de extinção – como um ego separado…

De acordo com Um Curso em Milagres, então, se resume a isso: Se você ainda está agarrado à sua pequena ilha do faz-de-conta, o seu ego, quando você entrar na morte, você experienciará o seu próprio medo, talvez ao ponto do terror. Se você puder deixar ir, entretanto … você achará a si mesmo alguém com a Luz da Vida Infinita (1994, páginas 15-16).

Na visão de Ring, então, assim como o medo da dissolução do ego pode fazer com que uma EQM ‘se inverta’ e venha a ser estressante, então, deixar ir permite que a experiência ‘converta’ de volta na EQM prazerosa relatada com muito mais frequência.

Quer a visão de Ring explique ou não as EQMs estressantes, é uma extensão lógica do que o Curso ensina. De fato, no Curso há uma referência a uma reação de medo muito semelhante ao se aproximar da ‘luz’ na meditação:

‘Enquanto praticas deste modo, deixas para trás tudo aquilo em que acreditas agora e todos os pensamentos que tens inventado. Propriamente falando, essa é a liberação do inferno. No entanto, percebida através dos olhos do ego, é perda de identidade e uma descida ao inferno.’ (LE-pI.44.5:4-6)

‘Se puderes deixar o teu ego de lado por pouco que seja, não terás nenhuma dificuldade em reconhecer que a sua oposição e os seus medos são sem significado.’ (LE-pI.44.6:1)

Aqui, então, está uma explicação para a resistência à meditação que é muito semelhante à explicação de Ring para EQMs assustadoras: O ego teme a luz porque a luz o ameaça de extinção. Para o ego, então, a ascensão à luz é uma descida ao inferno. Mas se alguém puder abandonar o ego e a sua resistência, que nada mais são do que ilusões sem sentido, a experiência se converterá em alegria que é a sua forma natural.

Em contraste com a tese de Ring, o falecido Dr. Kenneth Wapnick, um proeminente intérprete do Curso, enfatizou o que considerou uma incompatibilidade teológica entre o Curso e as EQMs (Wapnick & Wapnick, 1995).

Em vista do ensino do Curso de que o corpo não é real, Wapnick afirmou que não faz sentido falar em deixar o corpo e então, uma vez fora do corpo, encontrar uma paz que não estava disponível no corpo.

Tanto deixar o corpo quanto encontrar uma paz inacessível enquanto está no corpo, disse ele, significaria que o corpo é real.

‘Como alguém pode deixar o corpo, viajar através de um túnel e saudar uma grande luz, se nunca esteve no corpo em primeiro lugar?’ (Wapnick & Wapnick, 1995, p. 40).

‘Portanto, embora essas experiências possam ser úteis, elas são mais bem compreendidas como sendo subjetivamente ‘projetadas da mente para o corpo e seu mundo de vida, morte e quase morte’ (Wapnick & Wapnick, 1995, p. 41).

Ver as EQMs como reais e como algo a ser buscado comprometeria os objetivos do Curso:

‘Manter experiências de quase-morte a serem idealizadas e buscadas (como foi retratado no popular filme Flatliners [Além da Morte, título do filme no Brasil]) na verdade serve bem à estratégia fundamental do ego de primeiro tornar o corpo real e, em seguida, transformá-lo em uma coisa repulsiva. Isso cria uma situação em que as pessoas desejam se libertar de sua prisão de trevas, ansiando por escapar para a luz incorpórea. E o tempo todo, o sistema de pensamento do ego de separação, de culpa e de especialismo aninha-se confortavelmente na mente, protegido pela crença de que existe de fato um corpo que é real e que realmente existe no mundo físico.’ (Wapnick & Wapnick, 1995, pp. 41-42)

Embora nós reconheçamos que o Curso ensina que o corpo é irreal, nós não pensamos que esse ensino signifique que aceitar as EQMs mais ou menos ao pé da letra está de alguma forma em desacordo com o Curso.

A interpretação de Wapnick aqui é uma aplicação de sua abordagem interpretativa mais ampla [nível metafísico], que nós acreditamos ser altamente problemática. Essa abordagem apresenta o conceito de ‘não dualidade’ – que apenas o espírito puro e indiferenciado é real – como uma espécie de parâmetro de medição para o que o Curso realmente ensina.

Como resultado, uma série de elementos-chave dentro do próprio Curso que parecem incompatíveis com essa não dualidade são automaticamente reinterpretados como ‘metáforas’ que são projetadas para ocultar a verdade das mentes que seriam ameaçadas por ela (Perry, Mackie, & Watson, 2004 , pp. 55-89).

A nossa abordagem interpretativa [dos autores do artigo], em contraste, repousa sobre as muitas declarações no próprio Curso que enfatizam que a sua linguagem é projetada para ser clara e inequívoca, que ‘esse é um curso muito prático e que, de fato, quer dizer exatamente o que diz’ (T-8.IX.8:1) e que valoriza um mínimo de simbolismo porque ‘simbólico’ significa ‘aberto a muitas interpretações diferentes’ (A Course in Miracles – Urtext [Um Curso em Milagres, versão Urtext], 2003, Text, p. 124), que é o oposto de claro [ou inequívoco].

Como resultado, em nossa opinião, a abordagem de Wapnick acaba rotulando como antitética [antagônica] as ideias do Curso que são realmente uma parte importante dele e que são apresentadas por ele [o Curso] como ensinamentos diretos.

Nós pensamos que algo semelhante aconteceu com o tratamento de Wapnick sobre as EQMs. Assim como a sua medida de não dualidade estrita rotulou partes autênticas do Curso como incompatíveis com o Curso, também aquela mesma vareta de medição rotulou as EQMs como incompatíveis com o Curso, enquanto para nós elas parecem ser surpreendentemente compatíveis com ele [o Curso].

Nós vemos essa compatibilidade em uma passagem sobre a morte, de um Suplemento do Curso que Helen Schucman escreveu em 1977 (Foundation for Inner Peace, 2007, Song of Prayer [Canção da Oração]), que menciona com aprovação as mesmas coisas que Wapnick se opôs: deixar o corpo e encontrar paz em um reino fora do corpo.

Falando de como a morte é vivenciada por uma mente verdadeiramente curada [healed], essa passagem fala do corpo como sendo ‘descartado como uma escolha, do mesmo modo como alguém joga fora uma roupa que já não usa mais’ (CO.3.II.1:11). Em seguida, continua dizendo,

‘Nós, então, agradecemos ao corpo por todo o serviço que ele nos prestou. Mas, estamos também agradecidos, pois terminou a necessidade de caminharmos no mundo dos limites e de tentarmos alcançar o Cristo em formas escondidas, visível no máximo em belos vislumbres. Agora nós podemos olhar para Ele sem antolhos, na luz que aprendemos a contemplar outra vez.’ (CO.3.II.2:2-4)

‘Chamamos a isso morte, mas é liberdade… Agora vamos em paz para ares mais livres e um clima mais gentil, onde não é difícil ver que as dádivas que demos foram guardadas para nós. Pois o Cristo está mais claro agora, Sua visão se sustenta mais em nós e a Sua Voz, a Palavra de Deus, é nossa com mais certeza.’ (CO.3.II.3:1, 4-5)

Aqui, então, nós encontramos no próprio material do Curso os próprios elementos aos quais Wapnick se opôs sobre as EQMs: deixar o corpo e ir ‘em paz para ares mais livres e um clima mais gentil’.

Além disso, as referências ao corpo como uma ‘vestimenta‘ que é capaz de ser descartada, a ver a luz ‘sem vendas’ e a ver claramente que ‘as dádivas que demos [a outros] foram salvas para nós’ parecem bastante reminiscentes de elementos específicos da clássica EQM (Zingrone & Alvarado, 2009, pp. 18-21).

Esse tipo de compatibilidade entre o Curso e as EQMs prepara o cenário para o que será visto repetidamente a seguir.

Uma Experiência de Quase-Morte na Vida da Escriba do Curso:

Experiência de Helen Schucman no metrô

Acontece que a própria escriba do Curso, Helen Schucman, teve uma experiência como de quase-morte em 1938, cujas ideias e imagens ecoam no próprio Curso.

Aconteceu no metrô de Nova York. O vagão do metrô de Helen estava cheio de gente barulhenta e cheiros repugnantes; relatando a experiência, ela disse:

‘Eu estava achando toda a situação cada vez mais nojenta e fechei os olhos para não vê-la, sentindo mal-estar no estômago’ (Wapnick, 1999, p. 47).

Foi aí que a experiência começou:

‘E então uma coisa impressionante aconteceu. Foi muito breve … Um relato preciso do que aconteceu é impossível. Como uma aproximação, no entanto, posso dizer que foi como se uma luz ofuscante brilhasse por trás de meus olhos fechados e enchesse a minha mente por completo. Sem abrir os olhos, parecia estar observando uma figura minha como uma criança, caminhando diretamente para a luz. A criança parecia saber exatamente o que estava fazendo. Era como se a situação fosse completamente familiar para ela. Por um momento, ela parou e se ajoelhou, tocando o chão brilhante com cotovelos, pulsos e testa no que parecia um gesto oriental de profunda reverência. Então ela se levantou, caminhou para o lado direito e ajoelhou-se novamente, dessa vez descansando a cabeça como se apoiada em um joelho gigantesco. A sensação de um grande braço a envolveu e ela desapareceu. A luz ficou ainda mais brilhante e eu senti o amor mais indescritivelmente intenso fluindo da luz para mim. Foi tão poderoso que literalmente engasguei e abri os olhos. Eu vi a luz por mais um instante, durante o qual amei a todos no trem com a mesma intensidade incrível. Todos lá eram incrivelmente bonitos e incrivelmente queridos. Então a luz se apagou e a velha imagem de sujeira e feiura voltou.’ (Wapnick, 1999, pp. 47-48)

Posteriormente, Helen descreveu a experiência ao marido, que considerou a experiência inconsequente e sugeriu que ela a esquecesse. Ela assim o fez e, durante anos, não pensou mais nisso. Anos depois, ela começou a escrever o Curso, uma tarefa que ela considerava o propósito de sua vida, uma tarefa dada a ela por Deus.

Essa experiência, é claro, não foi uma EQM, porque Helen não estava perto da morte. No entanto, como os seguintes pontos ilustram, a sua experiência compartilha muitos paralelos com o que as pessoas que passaram por uma EQM (Zingrone & Alvarado, 2009, pp. 18-21):

  • Helen saiu mentalmente de uma situação terrena desagradável e então experienciou um reino superior que ela pensou ser inefável, isto é, impossível de descrever adequadamente.
  • Nesse reino, ela se aproximou de uma luz que ela entendeu ser Deus.
  • Essa luz, embora não fosse uma forma humana, era pessoal e tinha elementos de uma forma humana.
  • Ela se aproximou cada vez mais dessa luz, foi abraçada por ela e, então, totalmente unida a ela.
  • Embora ela não tivesse nenhuma memória consciente de tal experiência ter acontecido antes, a experiência parecia estranhamente familiar para ela.
  • Amor indescritivelmente intenso e poderoso fluía da luz para ela.
  • Ela experienciou uma grande intensidade de emoção.
  • Depois, ela brevemente viu os outros através dos olhos desse amor que ela havia recebido de Deus.
  • Quando mais tarde ela descreveu a experiência para alguém próximo a ela, ele a descartou e, como resultado, ela a tirou [a experiência] da cabeça por anos.
  • Eventualmente, porém, isso ressurgia na forma de uma função espiritual (transcrevendo UCEM), uma função que ela sentiu ser um propósito de vida dado a ela por Deus.
  • As semelhanças entre as características da experiência de Helen e as de muitos relatos de EQM são tão grandes que, se a experiência de Helen tivesse sido acompanhada por uma crise médica, muito provavelmente seria classificada como uma EQM.

Aqui, por exemplo, está o relato da EQM de Cynthia Prueitt, que é semelhante em seu conteúdo específico:

‘A próxima coisa de que eu me lembro foi ser apresentada a uma sala que era completa e brilhantemente branca. Havia um homem sentado em uma cadeira que parecia uma cadeira tipo trono. Vendo esse homem de barba sentado ali, corri até ele. Ele me pegou em seus braços e … Ele apenas começou a me confortar. Ele me deu um tão caloroso, sentimento caloroso de amor e … Eu nunca senti nada parecido. Foi afetuoso, foi amor, foi alegria – eu não queria que acabasse. Foi a sensação mais emocionante que já experienciei, antes ou depois.’ (Lundahl & Widdison, 1997, p. 124)

A experiência de Helen no metrô parecia ser um precursor significativo do Curso. Na verdade, ela afirma em sua autobiografia que ‘várias vezes’ nas semanas logo antes que o Curso começou a vir através dela no outono de 1965, ‘eu senti algo como a experiência do metrô de anos antes, embora com muito menos intensidade’ (Schucman, 2009, p. 39).

Em um nível interno, então, a experiência de Helen no metrô e o próprio Curso parecem intimamente relacionados.

Dada a semelhança de sua experiência no metrô com as EQMs, a relação entre a sua experiência no metrô e o Curso sugere uma conexão próxima entre as EQMs e o Curso.

Portanto, mesmo que não seja possível argumentar que as EQMs e o Curso influenciam um ao outro por meio da cultura, pode haver um tipo de influência da EQM dentro do próprio Um Curso em Milagres.

Curiosamente, há também a possibilidade de um tipo de influência do Curso nas EQMs, pois essas pessoas relatam, ocasionalmente, ter recebido comunicação e até mesmo ensinamentos de Jesus, o autor ostensivo do Curso.

Pessoas que passaram por uma EQM fazem a conexão (link)

Não são apenas pesquisadores como Kenneth Ring e professores do Curso como nós que têm visto uma conexão entre EQMs e Um Curso em Milagres. Às vezes, as próprias pessoas que passaram por uma EQM estabeleceram esse vínculo.

Agora que eu (Perry) menciono regularmente as EQMs em meu ensino do Curso, quando falo publicamente sobre o Curso, as pessoas que passam por uma EQM na audiência frequentemente falam e elas vêem claramente uma sobreposição entre as suas experiências e o Curso.

No entanto, em vez de citar uma ampla gama de pessoas que passaram por uma EQM, nós selecionamos apenas algumas citações de indivíduos que têm alguma visibilidade na comunidade de EQM.

Em 1952, Jayne Smith teve uma EQM durante o parto. Nos 60 anos desde então, ela compartilhou a sua EQM amplamente, incluindo nos programas de televisão The Oprah Winfrey Show e Charlie Rose. Ela serviu no Conselho da IANDS [Associação Internacional para Estudos de Quase-Morte] e foi uma palestrante principal em sua conferência anual. Atualmente, ela fala no Beebe Medical Center em Lewes, Delaware, em reuniões de enfermeiras, grupos de apoio a pacientes e ao público em geral. Aqui está o seu relato da conexão entre sua EQM e o Curso:

‘Em 1952, quando eu tive a minha EQM, eu recebi o que para mim eram fragmentos e peças de conhecimento incríveis. Eu sabia, sem sombra de dúvida, que tudo o que me foi dado era a verdade total, embora eu nunca tivesse sido exposta a essas ideias antes.

Você pode imaginar a minha empolgação e a minha alegria quando, em 1979, descobri Um Curso em Milagres! Essas verdades magníficas, que haviam mudado a minha visão de mundo completamente cerca de 27 anos antes, estavam nas páginas desses três livros que compunham Um Curso em Milagres.

 Lembro-me especialmente de passagens como ‘Eu não sou um corpo. Eu sou livre’ [LE-pI.199.Título] e ‘Ensina só amor, pois é isso que tu és’ [T-6.I.13:2] e, é claro, dezenas e dezenas de referências à nossa impecabilidade, à nossa unicidade com Deus e ao nosso propósito na vida sendo tudo sobre o amor.

Na verdade, é tudo sobre amor. Tudo! O amor é a base do nosso ser, a linha de fundo absoluta de tudo que existe e há passagens no UCEM que fizeram o meu coração praticamente gritar ‘Sim, sim, sim, sim, eu sei disso’.

Disseram-me isso na minha EQM. Minha EQM sempre foi minha Estrela do Norte e nunca houve nada no Curso que entre em conflito com o que a minha EQM me ensinou.

O Curso simplesmente expandiu o meu entendimento dessas verdades. Nunca eu me senti tão em casa em nenhum trabalho escrito. Um Curso em Milagres foi, é e sempre será uma das grandes bênçãos da minha vida.’ (J. Smith, comunicação pessoal, 26 de agosto de 2013)

Barbara Harris Whitfield teve duas EQMs como resultado de complicações de cirurgia nas costas em 1976. Há muito tempo ela atua no campo dos estudos de quase-morte de várias maneiras: como membro do Conselho de Diretores da IANDS e seu Conselho Executivo, como assistente de pesquisa com o psiquiatra Bruce Greyson na University of Connecticut Medical School, como professora no Instituto de Estudos de Álcool e Drogas da Rutgers University e como autora de Spiritual Awakenings: Insights of the Near-Death Experience and Other Doorways to Our Soul (1995 ) e The Natural Soul (2010). Aqui está o relato dela:

‘A minha revisão de vida me mostrou o meu ego e como sair de sua dor. Essa energia (Deus) que estava me segurando me deixou ver através de seus olhos e de seu coração, para que eu entendesse que o meu ego não era eu. Não houve tentativa de denegri-lo, mas de mostrar repetidamente que ele não é real. Eu entendi que a única parte de mim que é real e existirá muito depois de eu morrer – na verdade, é eterna – é minha Alma (a parte de mim que é puro Espírito).

Então, quando o meu marido Charlie e eu estudamos o Curso juntos e quando nós o ensinamos, para mim foi uma continuação do que eu havia aprendido em minha revisão de vida. Ambas as EQMs e o Curso são o que eu chamo de ‘destruidores do ego’.

Na verdade, o Curso tem a descrição mais sofisticada do ego e como sair de sua dor inerente. O Curso também teve a mesma perspectiva de minha EQM sobre o que é real e eterno em mim.

Ambos, eu acredito, estão nos levando ao lugar onde finalmente nós acordamos para o entendimento de que, em nossa essência, nós somos amor incondicional. Amor incondicional é o que eu experienciei em minha EQM e que o Curso tem me ajudado a fazer um ajuste fino, removendo as minhas arestas, para que eu possa continuar a crescer e ser AQUELE.

Um último ponto: quando eu voltei das minhas EQMs, eu sabia que tinha estado com a Inteligência mais incrível de todos os tempos !!! Era uma sabedoria que estava muito além da capacidade humana comum.

E quando eu leio o Curso, eu sinto a mesma Entidade astronomicamente brilhante – chame-a do que quiser. Ambas as EQMs e UCEM são de uma perspectiva muito mais inteligente do que nós, humanos, possuímos.

Eles estão muito além de qualquer coisa que nós, humanos, possamos imaginar. Essa Inteligência é grande – maior do que a minha pequena mente pode entender, entretanto, o meu coração a agarra com gratidão.’ (B. H. Whitfield, comunicação pessoal, 10 de julho de 2013)

Finalmente, nós sabemos de um caso em que o Curso foi apresentado dentro da própria experiência de quase-morte de alguém. Em 2008, o médico Rajiv Parti foi Chefe de Anestesiologia do Heart Hospital em Bakersfield, Califórnia. Durante uma cirurgia para uma infecção grave após uma cirurgia anterior, ele deixou o seu corpo.

Ele logo se encontrou em uma região infernal e percebeu que ele estava nesse ambiente porque ele levava uma vida egocêntrica e materialista.

No entanto, depois de desejar fervorosamente poder viver de maneira diferente, a EQM mudou. Ele diz que foi então conduzido por seu falecido pai através de um túnel, após o qual ele se fundiu com ‘o Ser de Luz’ e foi informado por Ele que ele receberia a vida de volta, mas ‘SÓ para vivê-la de maneira diferente’.

Disseram que ele teria que ‘deixar a anestesiologia e o materialismo para trás’ e vir a ser um curador [healer]. ‘O Ser de Luz’, diz ele, ‘deu-me vislumbres do meu futuro: escrever livros, falar para o público, ajudar muitas pessoas’. Logo após essas instruções para a sua nova vida, a sua EQM concluiu com uma nota enigmática:

‘Enquanto eu aceitava o que o Ser de Luz estava me mostrando, algumas palavras pareceram piscar no Céu acima de mim. Elas diziam ‘Um Curso em Milagres’. Naquela época, tendo nascido em uma família Hindu com o meu senso de religião e espiritualidade sendo dominado por minha própria experiência cultural Hindu, eu não tinha ideia do que essas palavras significavam. [Ele reiterou isso em uma palestra em Sedona, Arizona, dizendo: ‘Lembro-me muito vividamente de que eu não tinha ideia do que elas significavam.’] Desde então, eu descobri que esse é um livro espiritual popularizado por Marianne Williamson em que os temas de amor e o perdão são ensinados com inteligência e amor.

Finalmente, eu me tornei ciente, com cada fibra do meu ser, que a minha vida terrena estava sendo devolvida para que eu pudesse ajudar outras pessoas que sofriam de dor crônica, vício e depressão.

A minha próxima lembrança é de acordar na sala de recuperação.’ (Parti, 2014)

Dado que ver as palavras ‘Um Curso em Milagres’ veio diretamente após as instruções para retornar à vida para ensinar uma mensagem de cura [healing], Parti concluiu que as ideias no Curso são destinadas a serem a base de seu ministério (R. Parti, pessoal comunicação, 5 de outubro de 2013).

E com base em sua EQM e no Curso, ele agora vê a sua mensagem resumida nessas três palavras: ‘Perdoe, Ame, Cure [heal].’ Desde então, ele deixou a sua prática de anestesiologia e mergulhou no estudo do Curso. Ele também tem estado ocupado compartilhando a sua EQM na Conferência IANDS de 2013 e com a IANDS e outros grupos nos Estados Unidos.

Aqui está uma EQM, então, que continha o tema familiar de uma pessoa que passou por uma EQM sendo dito que ele tinha uma missão a cumprir. Nesse caso, a própria EQM aparentemente sinalizou que a base filosófica para aquela missão deveria ser Um Curso em Milagres.

Imagem pexels-jill-wellington-40192.jpg

…..Continua Parte II…,,

“Um milagre é uma correção. Ele não cria e realmente não muda nada. Apenas olha para a devastação e lembra à mente que o que ela vê é falso. Desfaz o erro, mas não tenta ir além da percepção, nem superar a função do perdão. Assim, permanece nos limites do tempo.” (LE.II.13)

Nada real pode ser ameaçado.
Nada irreal existe.
Nisso está a paz de Deus.
(T.In.2:2-4)
Autor

Graduação: Engenharia Operacional Química. Graduação: Engenharia de Segurança do Trabalho. Pós-Graduação: Marketing - PUC/RS. Pós-Graduação: Administração de Materiais, Negociações e Compras - FGV/SP. Blog Projeto OREM® - Oficina de Reprogramação Emocional e Mental - O Blog aborda quatro sistemas de pensamento sobre Espiritualidade Não-Dualista, através de 4 categorias, visando estudos e pesquisas complementares, assim como práticas efetivas sobre o tema: OREM1) Ho’oponopono - Psicofilosofia Huna. OREM2) A Profecia Celestina. OREM3) Um Curso em Milagres. OREM4) A Organização Baseada na Espiritualidade (OBE) - Espiritualidade no Ambiente de Trabalho (EAT). Pesquisador Independente sobre Espiritualidade Não-Dualista como uma proposta inovadora de filosofia de vida para os padrões Ocidentais de pensamentos, comportamentos e tomadas de decisões (pessoais, empresariais, governamentais). Certificação: “The Self I-Dentity Through Ho’oponopono® - SITH® - Business Ho’oponopono” - 2022.

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