Essa série de artigos estará abordando as mensagens do Livro Texto, Capítulo 30 – O NOVO COMEÇO, em sua Seção I. Regras para decisões.
Buscamos inspiração em importante, didático e esclarecedor artigo do Dr. Kenneth Wapnick, Ph.D., sobre trechos de um workshop realizado na Fundação para Um Curso em Milagres (Foundation for A Course in Miracles), em Roscoe, Nova Iorque, que estamos transcrevendo em tradução livre para a nossa reflexão e o nosso entendimento sobre o sistema de pensamento do Curso.
O artigo completo poderá ser acessado, em Inglês, através do site da Fundação, no link https://facim.org/online-learning-aids/excerpt-series/rules-for-decision/.
Introdução – Parte I
Assim começa o Dr. Wapnick:
“É óbvio pelo título do Workshop, ‘Regras para decisões’ que nós passaremos a maior parte do nosso tempo com aquela Seção específica do Capítulo 30 do Texto e que essa Seção de fato será o ponto central do Workshop. Nós veremos várias outras partes do Curso que também tratam do tema daquela Seção.
Como também fica claro pelo título, o tema central que abordaremos é a ideia de escolher ou decidir. Todo o Curso e em particular essa Seção, deixa claro que nós temos apenas duas opções possíveis abertas para nós a qualquer momento: escolher ter o ego como o nosso professor ou o nosso ‘conselheiro’ – o termo usado nessa Seção – ou para escolher Jesus ou o Espírito Santo.
Será passado também um tempo considerável onde nós abordaremos sobre Jesus e o que significa escolhê-lo como o nosso conselheiro ou professor ao invés do ego.
O que eu gostaria de fazer em primeiro lugar, entretanto, é fornecer algum pano de fundo metafísico para toda a ideia de escolher o ego ou o Espírito Santo. Grande parte do que nós falaremos durante esse Workshop não será muito metafísico. Essa é uma seção muito prática e realista em termos de como é a experiência de escolher o ego ou o Espírito Santo.
Mas como acontece com qualquer discussão do Curso que tenha a ver com o específico ou prático – como nos comportamos dentro do sonho ou nesse mundo – se primeiro nós não entendermos a metafísica dominante do Curso, então a aplicação prática não fará sentido.
Assim, nós iremos começar com isso. Eu farei uma versão resumida do que normalmente passo muito mais tempo fazendo.
O Diagrama a seguir descreve o gráfico desenhado no quadro durante o Workshop e que é mencionado com frequência.
Céu
Nós começamos, como sempre o fazemos, no Princípio que é o Céu. Deus e Cristo são os dois seres que habitam no Céu. A principal característica do Céu é que é um estado de Unicidade perfeita, o que significa literalmente que, como o Curso diz,
‘…e em lugar algum o Pai chega ao fim para dar início ao Filho como algo separado de Si Mesmo.’ (LE-pI.132.12:4)
Em outras palavras, não há diferenciação no Céu entre Deus e Cristo. Não há personalidade separada ou consciência no nível da percepção [consciousness] separada em Um que se é capaz de observar em relação ao Outro. Na verdade, no Céu não existem termos como ‘Deus’ ou ‘Cristo’. Esses são termos que nós usamos dentro do sonho, dentro da ilusão, para tentar descrever como é o estado do Céu. No entanto, não há como alguém saber o que é um estado de perfeita unicidade ou perfeita unidade.
Nós estaremos falando muito nesse fim de semana sobre a mente. No Céu, nós estamos falando sobre uma Mente [com M maiúsculo] – o Curso frequentemente fala sobre a Mente de Deus ou a Mente de Cristo. A Mente de Deus e a Mente de Cristo estão totalmente unidas de forma que, mais uma vez, não há nenhum lugar onde a Mente de Deus termina e a Mente de Cristo começa [veja o gráfico].
Esses são termos que só têm significado para nós aqui, porém não teriam significado no Céu. O que isso também significa e é uma ideia importante sobre a qual nós construiremos, é que não há escolha no Céu. Não há decisão no Céu. Não existe livre arbítrio no Céu, porque o livre arbítrio, a decisão ou a escolha refletem o pensamento de que existem alternativas entre as quais você é capaz de escolher.
Agora, se tudo o que existe é a Unicidade perfeita, ou o que nós poderíamos falar como um estado de não dualidade, então não há absolutamente nada que você seja capaz de escolher. Não há como Cristo, o Filho de Deus, escolher ser diferente do que Ele é: uma criação de Deus e totalmente unificada com a Sua Fonte.
De forma que a ideia Judaico-Cristã de que Deus dotou a Sua criação de livre arbítrio, uma vontade que poderia escolher uma realidade ou pensamento ou ser diferente de Deus, é impossível da perspectiva do Curso. O Curso é um sistema puramente não dualístico.
Toda a noção de Deus que você encontra na Bíblia, que obviamente é a pedra angular tanto do Judaísmo quanto do Cristianismo, é a de um Deus dualista. É um Deus que convive com o diabo, um Deus do bem que convive com o mal. É um Deus que se permite que se escolha contra ele, como você encontra na história de Adão e Eva, onde os dois pecadores desobedecem as leis de Deus e optam por comer do fruto proibido.
“O Curso é um sistema puramente não dualístico.“
Isso é impossível no estado do Céu sobre o qual o Curso nos ensina. Novamente, nós estamos falando de um estado perfeitamente não dualista no qual não há escolha alguma, no qual não há decisão. O que isso significa – e essa será uma ideia importante que nós enfatizaremos mais tarde no Workshop – é que todo o conceito de escolha é uma ilusão, todo o conceito de tomar uma decisão é uma ilusão.
Não há nada de real nisso. Isso não significa que não seja um conceito extremamente importante: obviamente é. Entretanto, é muito importante ter em mente que toda a noção de escolher ou tomar uma decisão é inerentemente irreal, porque o único estado de realidade é, para dizer mais uma vez, o da Unicidade perfeita ou da não dualidade [veja o gráfico].
A mente dividida
Agora nós vamos falar brevemente sobre o que o Curso se refere como a ‘ideia diminuta e louca’, que é o pensamento de separação que parecia se infiltrar na mente do Filho de Deus e que na realidade nunca aconteceu:
‘Na eternidade, onde tudo é um, introduziu-se uma ideia diminuta e louca, da qual o Filho de Deus não se lembrou de rir.’ (T-27.VIII.6:2)
Na realidade, isso nunca poderia ter ocorrido porque nunca poderia haver um pensamento em outra coisa senão Deus. Como poderia haver um pensamento de imperfeição, um pensamento de dualidade, um pensamento de separação na Mente da Unicidade perfeita? Isso é impossível e, portanto, nunca aconteceu – mas nós acreditamos que isso aconteceu.
Esse é o início do que o Curso se refere como a mente dividida (sempre aparecendo em letras minúsculas), a mente que resultou da ‘ideia diminuta e louca‘. Essa mente se divide em duas: a parte que nós chamamos de ego e a parte a que nós nos referimos como o Espírito Santo.
Vale mencionar que, em toda essa discussão, nada do que eu digo ou do que o Curso diz a respeito disso deve ser interpretado literalmente – são apenas símbolos. Na verdade, Jesus está nos contando um mito e mitos não são verdadeiros. Os mitos tentam refletir uma realidade, mas por si só não são verdadeiros. São símbolos e como Jesus diz no Manual de Professores:
‘Não nos esqueçamos, entretanto, de que as palavras não são senão símbolos de símbolos. Estão, assim, duplamente afastadas da realidade.’ (MP-21.1:9-10)
Nós estamos falando de palavras que são símbolos de uma ideia ou pensamento, porém o pensamento em si não é real. Essa é a linguagem do mito ou a linguagem da metáfora.
Assim, quando a ‘ideia diminuta e louca‘ parecia surgir na mente do Filho de Deus, também surgiram nessa mesma mente dois modos diferentes de olhar para essa ‘ideia diminuta e louca‘. Um é o que nós chamamos de ego, o outro é o que nós chamamos de Espírito Santo [veja o gráfico].
O modo como o Espírito Santo olha para a ‘ideia diminuta e louca‘ é o que o Curso se refere como o princípio da Expiação – a declaração de que a separação nunca aconteceu. É o modo do Espírito Santo dizer ao Filho de Deus: ‘O que você está olhando ou pensando é simplesmente um sonho tolo. Não deve ser levado a sério, porque como um pensamento como esse poderia ter algum efeito sobre a realidade?’
Há uma frase maravilhosa na Seção chamada ‘O pequeno obstáculo’:
‘Há tanto, tanto tempo atrás, por um intervalo de tempo tão diminuto, que nenhuma nota na canção do Céu se perdeu.’ (T-26.V.5:4)
Em outras palavras, essa ‘ideia diminuta e louca’, esse pensamento de estar separado de Deus não teve nenhum efeito no Céu.
O Espírito Santo então pode ser pensado como a memória da perfeição de Deus, da perfeita Unicidade de Deus e Cristo que o Filho levou consigo para o sonho. E é a memória que liga o Filho a Deus, assim como a memória de um ente querido que morreu nos liga a esse ente querido. Você pensa nessa pessoa que era muito querida para você e começa a sentir a presença dessa pessoa. Você chora; você se sente feliz pelos momentos felizes que você teve; você fica com raiva pelos momentos infelizes que teve e pelas queixas que está segurando, no entanto, é a sua memória dessa pessoa que o liga a essa pessoa, de modo que você sente coisas agora que poderia ter sentido quando a pessoa ainda estava viva.
Assim, a função da memória em nossa experiência cotidiana é nos vincular a algo do passado. Nesse sentido, essa memória de Quem nós somos como Cristo é o elo entre a nossa experiência atual e Quem realmente nós somos no Céu.
Então, novamente, quando aquela ‘ideia diminuta e louca’ surgiu, havia também um pensamento na mente que dizia que o impossível nunca aconteceu – esse pensamento é o que o Curso se refere como o Espírito Santo. Esse é o pensamento que diz que a ‘ideia diminuta e louca‘ é simplesmente isso: um pensamento insignificante que não surtiu efeito algum e é totalmente insano. Quando Jesus usa a palavra ‘louco’ ou ‘loucura’ no Curso, ele sempre a usa como sinônimo de ‘insanidade’.
Do outro lado, entretanto, está o ego e o ego é um pensamento que diz não apenas que a separação aconteceu, mas foi um acontecimento terrível. O Filho de Deus cometeu uma ofensa ultrajante contra o seu Criador e Fonte. Isso é o que a palavra ‘pecado’ significa. Essa é uma ação muito séria pela qual o Filho deveria se sentir culpado; e ele agora deve estar apavorado com a ira de Deus que busca vingança contra o que o Filho fez.
O que o Filho fez de acordo com o ego foi roubar o poder de Deus, roubar a vida de Deus, usurpar o Seu papel como Criador, como Causa Primeira e sobre o corpo morto de Deus agora o ego proclama a si mesmo como o seu próprio criador e fonte. Essa é a versão do pecado original do Curso. Novamente, isso nunca aconteceu na realidade, entretanto, dentro do sonho esse é o ponto essencial. E então o que terminará acontecendo se o Filho escolher o ego é que ele acreditará que ele está separado de Deus. Ele se sentirá oprimido pela culpa pelo que fez e agora acreditará que Deus irá puni-lo.
Essas são as duas opções abertas ao Filho de Deus. O Filho de Deus, que deve fazer uma escolha, será representado no gráfico por um ponto azul – e daremos a ele um nome: o tomador de decisões.
Aqueles de vocês que já estudam o Curso há algum tempo sabem que o termo ‘tomador de decisões’ nunca é usado no Curso nesse contexto. Na verdade, é usado uma vez no Manual, mas em um contexto diferente. É um nome que nós damos àquela parte da mente dividida que tem que escolher entre esses dois sistemas de pensamento.
Repetidamente, Jesus está nos pedindo para fazer outra escolha. Certamente, nessa Seção, ‘Regras para decisões’, esse é um tema principal: que nós temos que decidir, que nós temos que escolher. Na verdade, nós poderíamos dizer, como certamente elaboraremos mais tarde no Workshop, que o ensino central do Curso é que, de fato, nós temos outra escolha. Nós escolhemos por engano e agora nós somos capazes de escolher novamente.
E como você sabe, a última Seção do Curso, aquela bela seção ‘Escolhe outra vez’ (T-31.VIII), reitera isso pela última vez. Assim, a parte de nossas mentes que tem que escolher ou decidir, nós chamamos apenas o tomador de decisões – isso faz com que seja mais fácil nos referirmos a ela. Quando Jesus se refere ao Filho de Deus no Curso, quando ele se dirige ao leitor como ‘você’, esse é o ‘você’ que ele está se referindo – essa parte de nossas mentes que tem que escolher o ego ou o Espírito Santo.
O que aconteceu – e todos nós somos testemunhas do fato de que isso aconteceu – é que, como um Filho, voltamo-nos para o ego e nos afastamos do Espírito Santo. Nós dissemos basicamente que nós não acreditamos na história do Espírito Santo; ao invés disso, nós acreditamos no ego.
Novamente, nós estamos falando mitologicamente, então não é como se nós tivéssemos conversado e dito todas essas ideias – no entanto, na verdade, o que se passou na mente do Filho é que ele gostou de estar por conta própria.
Se ele realmente tivesse ouvido o Espírito Santo e se identificado com o princípio da Expiação, então a separação teria desaparecido no mesmo instante em que parecia ter surgido. Toda individualidade teria desaparecido e o Filho teria desaparecido no Coração de Deus e não teria mais existido como um ser separado.
Dentro do sonho, o Filho agora existe como um ser separado que tem a liberdade (ou a ilusão de liberdade) de escolher se ouvirá a Voz de Deus, já que o Curso se refere ao Espírito Santo, ou se ouvirá a voz do ego. Ele gosta de estar por conta própria. Ele gosta de autonomia. Ele gosta da individualidade com a qual está começando a se identificar e a desfrutar. O termo muito importante que o Curso usa para resumir isso é: ele gosta de seu especialismo.
No Céu ele não é especial. No Céu, ele não existe como uma personalidade separada. Agora, de repente, ele se encontra por conta própria e gosta disso – gosta de ser especial. E ele não está ciente, naquele ponto, do tremendo custo para si mesmo, de se afastar do Espírito Santo e se voltar para o ego.
Na verdade, nós poderíamos dizer que uma das principais coisas que Jesus faz por nós no Curso é que nós entendamos o tremendo preço que nós pagamos por continuar a nos identificar com o nosso especialismo e com o ego. Conforme você trabalha com o Curso por um período de muitos anos, você perceberá, para o seu horror, o preço terrível que tem sido. Se você pensa que está ruim agora, espere dez ou quinze anos até chegar ao cerne disso e perceber com verdadeiro horror o que você realmente fez.
Quando você perceber o que fez durante o sonho, entenderá por que a sua culpa é tão forte. Na realidade, isso não aconteceu de forma alguma, mas enquanto você acreditar que está aqui, enquanto acreditar que é um indivíduo especial, enquanto acreditar que é uma personalidade separada, você acreditará que realmente fez uma monstruosa, coisa monstruosa.
No entanto, logo no início, nós não temos consciência no nível da percepção [consciousness] do que fizemos. Nós pensamos que estamos apenas brincando, nós pensamos que realmente gostamos de nossa liberdade e individualidade recém-achada e então nós escolhemos como um Filho – nesse ponto ainda nós estamos falando sobre um Filho de Deus – nós escolhemos como um Filho em acreditar no ego, o que significa que nós nos identificamos com o ego.
Uma vez que você opta por acreditar no que o ego diz, você não apenas opta por acreditar, você vem a ser isso. Então você vem a ser esse ser pecador, culpado e dominado pelo medo. Esse é o preço que foi pago pelo especialismo e pela ideia de estar fora do Céu e por conta própria.
O mundo e o corpo
Uma vez que o Filho tenha feito isso, o ego percebe que tem um problema potencial em suas mãos, porque o ego sabe que o Filho foi enganado. O problema que o ego enfrenta é: e se o Filho de repente acordar em uma manhã e perceber o que ele fez? Ele irá mudar de ideia. Ele rejeitará o ego e se moverá na direção do Espírito Santo. Ele irá acordar do sonho. O Filho desaparecerá no Coração de Deus. Então: não há mais ego. Não há mais individualidade. Não há mais separação. Não há mais especialismo. Sem mais personalidade. Chega de vida – como o ego julga a vida.
Agora que ele tem o Filho em suas garras, o ego faz mais uma coisa: garante que o Filho nunca mude de ideia. E faz isso por meio de uma estratégia muito inteligente: se o ego é capaz de fazer com que o Filho seja sem mente e fazer com que ele esqueça que tem uma mente, como o Filho é capaz de mudar de ideia? Você não é capaz de mudar algo que não acredita que tenha. Então o que o ego faz é se projetar para fora da mente e – como o Curso diz antes – ‘cria equivocadamente‘ um mundo de separação, que nada mais é do que o reflexo, aparentemente fora, do pensamento que está dentro [veja o gráfico].
O mundo resulta, em outras palavras, de pegar o conteúdo dessa caixa da mente disposta para o que é errado do ego, de pecado, culpa e medo e todos os outros pensamentos que vêm com ela – simplesmente pegar tudo isso de dentro e dizer que agora está fora. Uma vez que esse pensamento de separação se projeta para fora da mente, ele faz o que a separação faz: separa – e separa, separa, fragmenta, divide, subdivide continuamente.
Esse é um processo que parece ocorrer ao longo de bilhões de anos. Na realidade, ocorre em um instante; e na ‘realidade verdadeira’, se é que nós podemos fazer uma distinção tão terrível, isso nunca aconteceu. Uma vez realizado o processo de fragmentação, cada um dos fragmentos aparentes é colocado no que chamamos de corpo. O corpo, se você é capaz de perdoar o trocadilho, é a encarnação do ego. É o pensamento de separação agora dado forma e encerrado dentro de um corpo, que por sua própria natureza se separa de outros corpos e outros objetos. Foi assim que nasceu o mundo de separação.
O que regula o corpo, segundo nos dizem, é o cérebro. O cérebro não é a mente. O cérebro existe fora da mente como um reflexo do pensamento que está dentro da mente; no entanto, ele não é a mente. O que o ego então elabora é fazer com que um véu caia sobre a mente do Filho de Deus e é esse véu, o véu da negação [véu do esquecimento], que faz com que o Filho se esqueça de onde ele veio [veja o gráfico].
Novamente, de onde ele veio é simplesmente de uma projeção de um pensamento na mente. Um dos princípios importantes no Curso é que…
‘Ideias não deixam a sua fonte…’ (T-26.VII.4: 7),
…o que significa que a ideia de um corpo separado nunca deixou a sua fonte, que está na mente. Isso, por sua vez, significa que literalmente não há mundo lá fora. Há uma crença de que existe um mundo lá fora, entretanto, o mundo que nós pensamos estar fora de nós é simplesmente a projeção do que está dentro de nós.
Porém, por causa desse véu que cobre as nossas mentes, nós esquecemos de onde nós viemos. Ideia e fonte foram separadas, causa e efeito foram separados e agora nós acreditamos que nós estamos nesse mundo. Nós temos amnésia total – nós não nos lembramos de onde nós viemos. Portanto, o ego agora teve sucesso porque nos tornou sem mente. E, para repetir, o significado disso é que, se nós não temos uma mente, como nós somos capazes de escolher?
Todas as escolhas que nós pensamos ter estão dentro da ilusão e são todas escolhas feitas. Isso ocorre porque realmente nós não estamos escolhendo nada – nós estamos simplesmente escolhendo uma ilusão ao invés de outra. Eu prefiro essa ilusão ao invés daquela ilusão. Existe esse problema ilusório aqui e, portanto, existe aquela solução ilusória para ele ali. Na realidade, não há nada.
O único problema, como o Curso nos diz repetidamente, é simplesmente que nós nos afastamos do Espírito Santo e nós nos voltamos para o ego. Na verdade, o que nós fizemos foi apostar no cavalo errado. E nós não estamos cientes de que o cavalo de fato caiu morto no portão de largada e não irá a lugar nenhum. Agora, nós passamos todo o nosso tempo tentando reviver esse cavalo morto e fazer com que ele nos leve a algum lugar – e não há como ele fazer isso porque ele não está vivo.
Assim, o que Jesus está fazendo no Curso é nos dizer efetivamente: ‘Você apostou no cavalo errado. Esse cavalo não o levará a lugar nenhum. Aposte em mim – eu o levarei de volta para casa.’ Mas nós somos tão teimosos, tontos e insanos que persistimos em tentar levantar esse cavalo morto. E ele não leva a lugar nenhum. Cada coisa que nós fazemos nesse mundo é como tentar reviver um cavalo morto e fazer com que ele nos leve a algum lugar – e ele não nos levará a lugar nenhum. Ele não é capaz de nos levar para a terra prometida, ele não é capaz de nos levar para casa – ele está morto.
Imagine-se em um cavalo morto. Você o está chicoteando, bajulando, fazendo todo tipo de coisa e ele não o ouve. Não faz absolutamente nada. Isso é o que nós fazemos no mundo. Isso é o que nós fazemos com o corpo. Entretanto, o corpo é um cavalo morto. Nós não sabemos o que estamos fazendo porque nós não sabemos de mais nada. Não é o cavalo que está com as vendas, nós as temos. Tudo o que nós vemos é o que o ego quer que nós vejamos: o que está fora de nós. Não nos permite ver onde está o verdadeiro problema, que está dentro de nós – na mente.
De modo que, novamente, o único problema que nós temos é que nós nos afastamos do Espírito Santo e nós nos voltamos para o ego, o que significa que a única solução para todos os nossos problemas, ou o que nós pensamos ser todos os nossos problemas, é simplesmente voltar a esse ponto de escolha em nossas mentes e fazer outra escolha – escolha contra o ego e agora em direção ao Espírito Santo. Isso é o que o milagre faz. É por isso que o Curso é chamado de Um Curso em Milagres.
“Nós não sabemos o que estamos fazendo porque nós não sabemos de mais nada.”
O que o milagre faz é tirar a nossa atenção do mundo e trazê-la de volta para as nossas mentes para que nós possamos fazer outra escolha.
Sem isso, esta Seção, ‘Regras para decisões‘, não faria sentido. O que o milagre faz é desviar a nossa atenção de nossos problemas ou preocupações no mundo, em nossos próprios corpos ou nos corpos de outras pessoas e nos dizer: ‘Esse não é o problema – o problema está de volta em sua mente. Olhe dentro da sua mente.’ Isso é tudo que o milagre faz.
Como Jesus afirma muito claramente no Curso, o milagre não escolhe por nós. Tudo o que ele faz é nos conscientizar da escolha que nós temos. Isso traz o problema de volta às nossas mentes para que nós possamos fazer outra escolha. Nós somos capazes de finalmente ver o que nós escolhemos, ver o preço que nós pagamos pelo que nós escolhemos e perceber que foi incoerente – olhe para o cavalo e perceba que ele não está vivo. Nesse ponto, a escolha vem a ser significativa porque agora nós somos capazes de escolher novamente. Agora nós percebemos que existe outro cavalo, outro sistema de pensamento. Existe outra presença em nossas mentes que nós somos capazes de escolher. E se nós escolhermos essa presença, então realmente nós encontraremos a paz e o Amor em Deus.
O que o milagre faz é tirar a nossa atenção do mundo e trazê-la de volta para as nossas mentes para que nós possamos fazer outra escolha.
Em suma, então, esse é o pano de fundo para as ‘Regras para decisões’. É realmente uma forma de nos ajudar a aprender que, na verdade, nós temos uma escolha. Isso significa que a esfera de atividade, a esfera de ação não é o corpo, nem o cérebro, nem o mundo, mas a mente. Assim que nós pudermos voltar às nossas mentes e perceber qual é a escolha, a escolha certa será óbvia.
Introdução – Parte II (continuação)
Antes de nós começarmos a nossa análise linha por linha desta Seção, deixe-me primeiro situá-la para você em termos de onde ela se encaixa no Texto. A Seção anterior, que encerra o Capítulo 29, é chamada de “O sonho que perdoa” (T-29.IX), que é uma Seção maravilhosa que compara os sonhos de perdão com os sonhos de julgamento. Os sonhos de perdão obviamente seriam a correção do Espírito Santo para os sonhos de julgamento do ego. O último parágrafo dessa seção fala sobre “um novo começo”, que é quando o Filho de Deus começa a se afastar dos sonhos de julgamento do ego – os sonhos de especialismo, os sonhos de ataque, os sonhos de ódio, etc. e agora começa a se mover em direção aos sonhos de perdão do Espírito Santo.
O que fica muito claro logo na Introdução dessa Seção, é que se trata de um processo. Não é algo que você aprende a fazer subitamente. É por isso que Jesus fala sobre ‘um novo começo’. Aqueles de vocês que já trabalharam com o Curso por um tempo sabem que a visão de tempo de Jesus é decididamente diferente da nossa. Portanto, quando ele diz ‘começo’, não quer dizer necessariamente um dia, uma semana ou um ano. Ele diz na Seção ‘Pois Eles vieram’ (T-26.IX):
‘O que são cem ou mil anos para Eles, ou dezenas de milhares de anos?’ (T-26.IX.4:1)
Quando você fica fora do tempo como ele, o tempo todo é o mesmo. Portanto, falar disso como ‘um novo começo‘ não significa necessariamente que acabou em pouco tempo. Mas certamente significa que é um começo – que você começou a reconhecer quais são os sonhos do ego de julgamento e especialismo. Então você começa a perceber qual foi a recompensa – que o julgamento e o especialismo não lhe trouxeram felicidade, nem trouxeram paz.
Toda a individualidade e especialismo que você acredita ter conquistado e se esforçou por manter não vale a pena, porque não funcionou. O especialismo nunca lhe trará felicidade. Isso nunca irá lhe trazer amor. Isso lhe trará uma sensação boa momentânea, mas nunca duradoura. E os bons sentimentos sempre têm um aspecto negativo: quando você está no alto, você cai e afunda.
A paz de Deus não tem lado oculto – é nivelada, é uniforme, é constante e não sobe e desce. Não é dramática. Não é estimulante. Não é emocionante. Não é apaixonada. Tudo isso fará com que muitas pessoas digam: ‘Quem quer isso! Isso parece muito chato.’ Entretanto, ela durará e ela nunca falhará com você.
Jesus está, portanto, assumindo nesse ponto do currículo – afinal esse é o Capítulo 30 e assim os estudantes já estão nisso há um tempo – que os estudantes pelo menos começaram a reconhecer quais são as duas escolhas, mesmo que ainda não estejam prontos para escolher. Lembre-se de que o milagre não escolhe por você; ele simplesmente estabelece que você realmente tem uma escolha. Agora ele irá nos exortar nessa Seção a escolher com ele em vez de com o ego.
O que é especialmente interessante sobre essa Seção do ponto de vista da forma é que todo o seu estilo é notavelmente diferente das Seções e Capítulos que a precedem e daqueles que o seguem. Isso está escrito em um estilo muito mais simples: ela ainda está em verso em branco [sem rimas], o que faz com que ela seja ainda mais incrível. No entanto, fora isso, ela não está escrita no mesmo alto nível poético como toda essa parte do Texto está.
É quase como se o que Jesus está fazendo nessa Seção prenuncia o que virá mais tarde com o Livro de Exercícios. Lembre-se de que o Livro de Exercícios foi transcrito por Helen depois que o Texto foi concluído. O estilo dessa Seção tem muito mais em comum com as lições do Livro de Exercícios, especialmente as primeiras lições.
Então, em termos de forma, é quase uma anomalia aqui. É quase como um espaço para respirar para o leitor. É muito mais fácil de ler e entender do que muitas outras partes, especialmente os capítulos posteriores – é por isso que essa seção é a favorita de muitos estudantes do Curso. Mas de um ponto de vista temático se encaixa perfeitamente.
Deixe-me mencionar também como um aviso que, embora nessa Seção Jesus fale sobre sete regras para decisões, ele está realmente dando a você uma noção do processo pelo qual você aprende a distinguir entre o que o ego está oferecendo e o que o Espírito Santo está oferecendo. Elas não devem ser tomadas literalmente como passos que todos têm que seguir exatamente. O processo de cada pessoa é diferente – a forma do processo é diferente.
No final do Manual de Professores, Jesus diz que ‘o currículo é altamente individualizado…’ (MP-29.2:6). O conteúdo é o mesmo para todos: a ideia de olhar dentro da própria mente, ver quais são as duas escolhas, olhar para o que a escolha do especialismo do ego trouxe e, finalmente, fazer outra escolha. O conteúdo é o mesmo para todos, mas a maneira como os estudantes o farão é decididamente diferente.
Portanto, tome essas sete regras de decisões realmente como uma diretriz básica para ajudá-lo a perceber como é o processo geral. Isso é semelhante ao que você deve fazer com os estágios de desenvolvimento da confiança que vêm no início do Manual de Professores (MP-4.I-A). Lá Jesus dá seis estágios. Eles também não devem ser entendidos literalmente – que todos têm que passar por esses seis estágios exatamente como eles são dados lá. Eles são fornecidos como uma forma de dar a você uma visão maior do processo geral de superar o ego e alcançar o mundo real, que é o estágio final desses seis estágios.
Nesse sentido, então, não tome essas sete regras como sendo literalmente verdadeiras – que você realmente tem que dizer essas palavras exatamente como Jesus as deu e que você tem que seguir essa sequência exata. O objetivo delas é realmente fornecer a você uma estrutura geral para entender o que acontece quando você faz a escolha errada. Então você é capaz de corrigi-la.
Essa Seção, portanto, é um exemplo maravilhoso do que Jesus quis dizer no final do Capítulo 1 quando chamou o seu curso de:
‘Esse é um curso de treinamento da mente.’ (T-1.VII.4:1)
Essa é uma maneira de ajudá-lo a treinar a sua mente para pensar de acordo com as linhas que ele está estabelecendo e não com as linhas que o ego estabelece. É uma forma de treinar as nossas mentes para não serem enganadas por todos os véus, ilusões e distrações que o ego nos fornece no mundo – nós somos capazes de perfurar tudo isso e voltar para aquele lugar em nossa mente onde a escolha vem a ser significativa.
Isso exige uma quantidade enorme de trabalho. Repetidamente, Jesus diz como o seu proceder é simples – ele, porém, não enfatiza abertamente que é fácil. O que é simples e fácil é que ele diz apenas uma coisa em todo o caminho: o que é verdadeiro é verdadeiro e o que é falso é falso. É isso!
Então, como ele diz no final do Texto:
‘Então, por que persistes em não aprender coisas tão simples?.’ (T-31.I.1:10)
Mas é preciso muita concentração e dedicação para realmente aprender o que isso significa e ser capaz de usar esse princípio toda vez que você ficar com raiva, ficar chateado, cheio de pensamentos de especialismo, pensamentos de vingança, pensamentos de depressão, pensamentos de dor, pensamentos de sofrimento, doença, etc. É preciso muita disciplina e muito trabalho para nós sermos capazes de perceber que os nossos problemas não estão aqui no mundo, mas em nossas mentes. Portanto, novamente, essa seção deixa claro que nós estamos falando sobre um processo.
Nós iremos começar agora examinando a Seção. Nós começaremos com a Introdução.
‘A rapidez com que ela pode ser alcançada depende de uma única coisa: a tua disponibilidade para praticar cada passo. Cada um ajudará um pouco a cada vez que for tentado.’ (T-30.in.1:3-4)
Isso está bem claro. Ele está falando sobre muitos passos, não um passo. Infelizmente, as pessoas costumam pensar que isso é tão fácil – elas pensam que estão a um passo do mundo real, se não no próprio mundo real, simplesmente porque querem estar no mundo real. Eles não estão cientes de sua forte identificação inconsciente com os seus egos e com o especialismo deles, que sempre agem contra a obtenção de um verdadeiro estado de paz. Isso acontece porque eles pulam passagens e Seções como essa.
Jesus está falando sobre a necessidade de praticar cada passo e cada passo realmente significa estar ciente tão frequentemente quanto possível ao longo do dia sobre o que você está escolhendo. No início do Texto, Jesus disse a Helen, embora obviamente isso se destine a todos:
‘Tu és por demais tolerante em relação às divagações da mente e condescendes com passividade às criações equivocadas da tua mente.’ (T-2.VI.4:6)
‘Divagações da mente‘ é a divagação da mente por si mesma através da projeção e terminando em um mundo. Em outras palavras, você se afasta de sua mente. Agora, todos os seus pensamentos estão voltados para o mundo fora de você – e o seu corpo está tão fora de você quanto o corpo de outra pessoa está fora de você. Isso ocorre porque o ‘você’ de que nós estamos falando é a mente.
Lembre-se, o ‘você’ no Curso é sempre o Filho de Deus ou o tomador de decisões dentro da mente.
Assim, o que acontece quando a nossa ‘mente divaga’ é que os nossos pensamentos deixam a sua fonte que está na mente e agora parecem estar fora da mente no mundo. Mas nós esquecemos como eles chegaram lá. Então, nós ficamos chateados com todos os tipos de coisas no mundo.
“Lembre-se, o ‘você’ no Curso é sempre o Filho de Deus ou o tomador de decisões dentro da mente.“
A única razão pela qual nós temos medo é que nós escolhemos o ego. Nós não temos medo porque o nosso corpo está com uma doença fatal, ou porque nós não temos dinheiro suficiente para o pagamento da hipoteca do próximo mês, ou porque uma guerra pode estourar, ou porque um animal selvagem está perambulando por aí. Esse é um exemplo de mente divagando – pensando que nós estamos com medo e chateados, ou desejosos de algo que está fora de nós.
Na realidade, tudo é uma projeção do que está dentro de nós. É por isso que nós necessitamos de treinamento específico e nós temos que praticar: porque nós somos ‘demais tolerantes em relação às divagações da mente’. Nós amamos o nosso especialismo. Nós adoramos ser indulgentes com isso – seja o especialismo que nos faz felizes ou o especialismo que nos faz chorar.
Quando o nosso especialismo nos faz chorar, há uma parte de nós que fica secretamente feliz, porque então nós somos capazes de alegar sermos uma vítima inocente do que a outra pessoa nos fez. Portanto, existe uma parte perversa de nossa mente que adora sofrer, para que nós possamos apontar um dedo acusador para alguém e dizer: ‘Você fez isso comigo.’ Tudo isso é um exemplo de divagação da mente. É por isso que nós temos que praticar, praticar e praticar. É por isso que esse é um Curso muito difícil: porque é tão simples! É intransigente – não faz exceções. Não há absolutamente nada nesse mundo que seja capaz de nos ajudar, assim como não há absolutamente nada nesse mundo que seja capaz de nos ferir. Absolutamente nada: pela simples razão de que não existe mundo!
Um dos objetivos de qualquer professor, assim como é o objetivo de Jesus em seu Curso, é ajudar o estudante a generalizar – aprender exemplos específicos e depois generalizar. Um exemplo simples disso é como todos nós aprendemos a somar, subtrair, multiplicar e dividir. Nós aprendemos certos princípios e depois nós praticamos com exemplos específicos. Quando nós dominamos tudo isso, não havia um número no mundo que nós não pudéssemos manipular por meio de adição, subtração, multiplicação e divisão. Nós não tínhamos mais que praticar com todas as possibilidades do mundo. Nós aprendemos alguns princípios básicos, os praticamos até dominá-los e depois generalizamos, então agora nós somos capazes de adicionar, subtrair, multiplicar e dividir qualquer conjunto de números no mundo.
“Não há absolutamente nada nesse mundo que seja capaz de nos ajudar, assim como não há absolutamente nada nesse mundo que seja capaz de nos ferir. Absolutamente nada: pela simples razão de que não existe mundo!“
É exatamente sobre isso que Jesus está falando – que nós pratiquemos com todas as coisas específicas em nossa vida diária que nos perturbam ou nos preocupam; com todas as coisas que ocorrem em nossos relacionamentos especiais; todas as coisas em nossa vida que são problemas para nós – o nosso trabalho, o nosso corpo etc. E, à medida que nós aprendemos a aplicar os princípios que essa seção nos fornece, nós chegaremos a um ponto em que nós generalizaremos. Então, não haverá absolutamente nada nesse mundo que seja capaz de nos causar dor ou angústia. Esse é o fim do currículo – quando nós dominamos os princípios e os aplicamos o tempo todo.
‘Agora nós buscamos fazer com que sejam hábitos, de tal forma que venhas a tê-los à mão para qualquer necessidade.’ (T-30.in.1:8)
Eles serão tão habituais para nós quanto o sistema de pensamento do ego é para nós agora. Na verdade, é um hábito excessivamente aprendido ficar doente, com raiva ou ansioso, ou ficar chateado com qualquer coisa que ocorra fora de nós. Portanto, o que Jesus quer que nós façamos é ter o mesmo poder da mente que aprendeu todos esses hábitos insanos, aprendendo o seu hábito são de fazer com que nós sejamos cada vez mais observadores de nós mesmos. Isso é o que ele quer dizer quando diz que nós devemos ser muito honestos com ele e não esconder nada.
‘Sê muito honesto contigo mesmo nisso, pois é preciso que não escondamos nada um do outro.’ (T-4.III.8:2)
Nós devemos fazer com que nós sejamos cada vez mais observadores e honestos conosco mesmos, para que nós possamos começar a ver quando nós estamos desequilibrados. Na maioria das vezes nós percebemos isso quando o estrago já está feito. O que nós queremos fazer é voltar mais e mais para aquele ponto de escolha em nossas mentes quando em primeiro lugar nós escolhemos contra o amor, contra a verdade, contra Jesus – porque esse é o começo, a causa do que acabou levando ao efeito (vide o gráfico): estar angustiado, chateado, zangado, deprimido, doente, etc. O tempo entre a causa e o efeito ficará cada vez mais curto à medida que nós progredimos com o Curso. Em uma definição maravilhosa de milagre, Jesus diz a sua função:
‘O milagre é o primeiro passo na devolução à Causa da função de causalidade, não do efeito.’ (T-28.II.9:3)
A mente é a causa; o mundo é o efeito. Sempre que nós temos um problema no mundo, é porque nós esquecemos a causa que está em nossas mentes. O que o milagre faz é devolver à mente (a causa) a sua função de ser o agente causador de tudo o que nós sentimos. Isso é tudo o que o Curso está nos treinando para fazer. Isso é extremamente importante, porque se nós não entendermos isso, nós faremos uma enorme viagem de culpa sobre nós mesmos. Nós pensaremos que estamos falhando nesse Curso porque ainda nós estamos escolhendo os nossos egos.
A função do milagre não é fazer com que nós paremos de escolher os nossos egos. É para que nós tenhamos consciência no nível da percepção [consciousness] de que nós estamos escolhendo o ego.
Mais uma vez, eu não consigo enfatizar isso o suficiente. Isso é o que deixa quase todos os estudantes de Um Curso em Milagres equivocados. Eles então acreditarão que estão escolhendo o Espírito Santo quando não estão fazendo isso de forma alguma – porque eles pensam que escolher o Espírito Santo é o objetivo do Curso. O objetivo do Curso é que você escolha o milagre, o que significa que você finalmente entende o que está escolhendo e, então, aprende a se perdoar por escolher continuamente o seu especialismo. Se você fizer isso, o que você fez de fato foi deixar Jesus olhar para o seu ego com você.
Mais tarde no Workshop, nós vamos elaborar isso quando nós falarmos sobre o significado de Jesus. Mas é isso que o milagre é: voltar para a sua mente e agora com Jesus ou o Espírito Santo ao seu lado, olhando para o seu ego e percebendo que você o escolheu – mesmo que em qualquer momento, mesmo que naquele momento, você pode não querer deixar o ego ir. Você saberá pelo menos o que está fazendo. E assim você irá acabar como um estudante desse curso percebendo o quão absolutamente insano você é – literalmente – por causa de como você escolhe perversamente e continuamente o seu ego e o seu especialismo.
“O objetivo do Curso é que você escolha o milagre, o que significa que você finalmente entende o que está escolhendo e, então, aprende a se perdoar por escolher continuamente o seu especialismo.”
Mas agora pelo menos você sabe que está fazendo isso, o que significa que você não pode culpar ninguém por isso. Você não pode culpar o seu ambiente, você não pode culpar a pessoa que acabou de lhe estuprar, ou desviar o seu dinheiro, ou lhe insultou. Você não pode culpar os seus genes, o seu carma ruim – você não pode culpar nada. Agora você irá entender que se você está chateado agora, é porque você quer estar chateado agora. Você não quer a paz de Deus. Você quer um pedaço da ação do ego. Você quer um pedaço do seu especialismo. Você não quer a paz de Deus. Mas pelo menos agora você sabe o que está fazendo. Esse é o objetivo do Curso. Você concluiu o Curso com sucesso – porque, uma vez que você faça isso, é apenas uma questão de tempo antes de você perceber que não tem mais retorno. Essa etapa aconteceria automaticamente.
Essa é outra maneira de entender o que Jesus quer dizer quando fala sobre ‘um pouco de boa vontade’, a sua boa vontade de praticar cada passo. É a pouca boa vontade de simplesmente saber o que você está fazendo. Você não necessita de muita boa vontade, o que implicaria em sua escolha contra o ego e a escolha por Deus. Simplesmente sabendo o que você está fazendo, você aceitaria total responsabilidade por seu especialismo, por sua infelicidade, por sua dor – seja ela física ou emocional. Você perceberia que ninguém é responsável por isso, exceto você. Então você aprenderia que não é pecaminoso; não é perverso; não é mau: é simplesmente tolo. E se você é capaz de dizer que você é tolo, você está começando a entender o que o Espírito Santo disse a você logo no início: A ideia diminuta e louca não é má; não é perversa; não é pecaminosa: ela é tola.
Este é o sentido da frase que citei antes:
‘Na eternidade, onde tudo é um, introduziu-se uma ideia diminuta e louca, da qual o Filho de Deus não se lembrou de rir.’ (T-27.VIII.6:2)
Nós olhamos para o nosso especialismo, nós olhamos para a nossa escolha de nosso especialismo ao invés do amor de Jesus e sorrimos diante da tolice disso. Mesmo quando nós o estamos abraçando; mesmo quando o estamos defendendo; mesmo enquanto nós nos deleitamos em sua dor, pelo menos nós saberemos o que estamos fazendo e esse é o objetivo do Curso. Isso exige muita prática, porque nós não queremos aceitar responsabilidades – nós queremos culpar a outra pessoa.
“A ideia diminuta e louca não é má; não é perversa; não é pecaminosa: ela é tola.“
Nós somos capazes de até culpar o próprio ego – como se houvesse um ego fora de nós. As pessoas fazem com o Curso exatamente o que os Cristãos têm feito por séculos: ‘O diabo me fez fazer isso.’ As pessoas às vezes dizem: ‘O meu ego me fez fazer isso!’ – como se houvesse uma entidade ego fora de você. Em um ponto do Curso, Jesus se desculpa por falar sobre o ego como se ele fosse uma entidade de algum tipo agindo por conta própria (T-4.VI.1). Ele faz isso por razões pedagógicas, explica ele, para que nós sejamos capazes de exteriorizar o ego e o Espírito Santo e, assim, ser mais capazes de entender que nós temos uma escolha.
Na realidade, o ego é o nosso próprio pensamento – nós estamos escolhendo o ego. Da mesma forma, o Espírito Santo é o nosso próprio pensamento – o pensamento do Amor de Deus que veio conosco no sonho. O Espírito Santo não é um ser separado, ou uma pessoa separada, ou uma entidade separada. O Espírito Santo é realmente o pensamento que é Quem nós somos e De Quem nós nos separamos. Nós pensamos no Espírito Santo como separado porque nós pensamos em nós mesmos como separados – assim como nós pensamos no ego como separado. Na realidade, o ego é o pensamento de ódio e separação e o Espírito Santo é o pensamento de Amor ou o pensamento da Expiação. Ambos estão dentro de nossas mentes. Ambos fazem parte de nossas mentes.
O que é extremamente útil para você trabalhar com esse Curso é se você tivesse pelo menos alguma formação em Psicologia, porque isso irá pelo menos ajudá-lo a ter um entendimento prático e um respeito pelo inconsciente [subconsciente]. Você não necessita ser um grande estudante de Psicologia, no entanto, eu penso que toda a noção de inconsciente [subconsciente] é extremamente importante. O que isso está nos dizendo é que há uma parte de nossas mentes com a qual não estamos em contato que está escolhendo contra o que nós queremos conscientemente.
Na realidade, o ego é o pensamento de ódio e separação e o Espírito Santo é o pensamento de Amor ou o pensamento da Expiação. Ambos estão dentro de nossas mentes. Ambos fazem parte de nossas mentes.
Assim como Freud disse que o objetivo da Psicanálise era fazer com que o inconsciente fosse consciente, Jesus diria a mesma coisa. O objetivo do seu Curso é fazer com que as nossas decisões inconscientes sejam conscientes. E o que faz com que algo seja inconsciente é o medo. O que faz com que algo seja inconsciente é o medo, isso é tudo. Existe algum pensamento que desperta muita ansiedade em mim – traz muita culpa em mim. Portanto, eu não verei, porque ver isso me incomoda muito. Nesse ponto, o nosso medo dita que nós desviemos o olhar e isso é repressão ou negação. O Curso fará com que você reconheça que foi isso o que você fez. Você ainda é capaz de escolher o seu ego, mas agora pelo menos você sabe o que está fazendo e esse é um grande primeiro passo.
“O objetivo do seu Curso é fazer com que as nossas decisões inconscientes sejam conscientes.”
I. Regras para decisões – Parte III
‘Não é sábio deixar-te ficar demasiadamente preocupado com cada passo que dás. O padrão adequado, adotado conscientemente a cada vez que despertas, vai fazer com que avances bem.’ (T-30.I.1:4-5)
O que Jesus está dizendo é: não se preocupe com isso; não analise cada pensamento que você tem a cada minuto do dia. Uma boa regra a ser lembrada ao trabalhar com o Curso e aplicá-lo à sua própria vida é o bom senso e não é bom senso analisar cada movimento que você faz. Se você analisar o que acontece quando você amarra um cadarço pela manhã, nunca irá conseguir amarrar o cadarço. Se você analisar o que acontece enquanto desce um lance de escada, garanto que você não chegará ao último degrau com os pés, porque descer um lance de escada é fisiologicamente muito, muito complicado. Escovar os dentes é muito complicado. Portanto, ele [o Curso] não está dizendo que você tem que analisar cada coisa que você faz.
O que você necessita fazer é vir a ser cada vez mais consciente quando está com raiva, quando está chateado, quando está ansioso, quando é culpado [a emoção ou sentimento prevalecente]. E com o tempo você aprenderá a distinguir entre o que realmente é uma lição importante para você e o que não é uma lição importante para você. Isso é o que ele está dizendo. O que você encontrará nessa Seção, aliás, são alguns conselhos práticos muito claros sobre o que fazer e o que não fazer. Esse é um exemplo disso.
O ‘padrão adequado’ é realmente perceber a escolha que você tem – essa é, novamente, a função do milagre. Jesus está dizendo que assim que você puder, quando você acordar, lembre-se para o que você está aqui. Você não está aqui para ganhar muito dinheiro ou para criar os seus filhos, ou para ser feliz, ou para salvar o mundo por meio de seu trabalho santo, a sua profissão, etc. Você está aqui para aprender que fez a escolha errada e agora pode fazer outra escolha. Esse é o ‘padrão‘ de que ele está falando. Essa é a função do milagre: restaurar para a sua mente, que é a causa, a sua função de ser o agente causador de tudo que você acredita e experiencia. Esse, novamente, é o aspecto de treinamento da mente do Curso. Você está sendo treinado para lembrar o mais rápido possível quando acordar e, então, ao longo do dia, por que está aqui e qual é a sua lição.
O Curso fala muito sobre função. Todo mundo tem funções comportamentais específicas no mundo e não há nada de errado com isso. No entanto, sem que você realmente encontre a sua verdadeira função, a sua função externa cairá nas mãos do ego.
‘A sua verdadeira função é perdoar.’
É isso que Jesus quer dizer sempre que usa o termo ‘função’ no Curso. Ele não está falando absolutamente sobre comportamento. Ele está falando sobre a função que todos nós compartilhamos, que é perceber, novamente, que nós apostamos no cavalo errado, que nós cometemos um erro. Nós escolhemos as mentiras do ego ao invés da verdade do Espírito Santo. A nossa função é perceber isso cada vez que nós somos tentados a fazer com que seja real algum aspecto de nosso mundo ou justificar a nossa experiência de vitimização. Ser vítima é o nome do jogo do ego – é isso que mantém o sistema de pensamento do ego no lugar. Portanto, sempre que você se sentir tentado a se perceber como uma vítima, lembre-se de sua função, que é aprender que ‘Eu não sou vítima do mundo que vejo’ e que ‘Eu nunca estou transtornado pela razão que imagino’, que estão entre as primeiras lições do Livro de Exercícios (Lições 31 e 5 respectivamente). Novamente, esse é o ‘padrão’ de que ele está falando, no qual nós devemos tentar pensar conscientemente.
O que é muito útil quando você tenta fazer isso é ver com que rapidez você esquece. Você pode tomar uma decisão firme aqui mesmo essa noite nesse Workshop e, quando voltar para o seu quarto, dizer: ‘Realmente, eu tentarei me lembrar disso quando acordar de manhã.’ Veja como você esquece rapidamente. Você é capaz de passar cinco minutos, uma hora, cinco horas e, de repente, dizer: ‘Meu Deus, esqueci o que eu ia fazer.’ Não é porque você é uma pessoa má; é porque você é uma pessoa apavorada. Isso ocorre porque o seu ego sabe que, se você começar a fazer isso, estará se afastando de sua identificação com o seu corpo e com o mundo e voltando para a sua mente. Isso, por sua vez, significa que em algum momento você perceberá o que escolheu, o enorme custo em razão do que escolheu, que foi um tolo e agora irá fazer outra escolha. Isso é o que o ego necessita prevenir.
Na medida em que você se identificar com o ser do ego, você se identificará com a estratégia do ego e, assim, terá medo do poder de sua mente. O ego diz: ‘Se você voltar a ter contato com o poder de sua mente, você voltará a ter contato com a parte que roubou de Deus, assassinou Deus e usurpou a Sua função. Você voltará a ter contato com essa incrível, impressionante verdade sobre você: que você matou Deus, destruiu Cristo e sobre os corpos mortos deles construiu a si mesmo.’
Ninguém quer entrar em contato com isso. É por isso que todo mundo tem pavor de sua mente. E é por isso que, por exemplo, muitas disciplinas da Nova Era que o encorajam a entrar em contato com o poder de sua mente irão realmente acabar machucando você. A sua mente é poderosa de fato; entretanto, se você não abrir mão de sua culpa, inevitavelmente usará mal esse poder novamente. Esse não é um Curso que necessita que você entre em contato com o poder de sua mente para mover copos sobre as mesas, para atrair riqueza ou uma pessoa bonita para você, para transformar uma célula cancerosa em uma célula benigna, ou qualquer uma dessas coisas.
Esse Curso quer que você entre em contato com o poder de sua mente que escolheu a culpa para que agora você seja capaz de fazer outra escolha. Esse é o poder da mente de que Jesus está falando. Não é o poder de sua mente efetuar mudanças no mundo ou em você mesmo. Esses tipos de abordagem são capazes de funcionar muito bem; no entanto, não os confunda com Um Curso em Milagres. Nenhum deles desfará a culpa. Nesse sentido, eles não são diferentes de tomar uma aspirina ou outro medicamento. Isso não significa que eles podem não funcionar para aliviar um sintoma, mas não funcionarão para aliviar a culpa.
‘E se achares que a tua resistência é muito forte e que a tua dedicação é pouca, não estás pronto. Não lutes contigo mesmo.’ (T-30.I.1:6-7)
Nós provavelmente deveríamos passar três dias inteiros nessas duas frases. A razão para essas frases e a razão pela qual a segunda frase está sublinhada é que Jesus está nos ensinando que nós não devemos fingir que estamos prontos para algo quando não estamos prontos para isso. Isso é arrogância, não humildade. É muito mais avançado espiritualmente ser capaz de dizer: ‘Eu sei o que estou fazendo e, droga, eu não quero parar. Eu sei que eu quero o meu especialismo. Eu sei que eu quero ser diferente. Eu sei que eu quero culpar outras pessoas. Eu sei que eu quero o que eu quero, quando eu quero e está tudo bem!’
‘Não lutes contigo mesmo.’ Se você luta contra o seu ego, obviamente acredita que o seu ego é real. Isso é o que significa a linha bíblica ‘não resista ao mal’, que é uma linha maravilhosa em termos de Curso.
Quando você resiste ao mal, quando resiste ao ego, você faz com que ele seja real. Obviamente, se você resistir a algo, tem que acreditar que esse algo está presente.
Se você acredita que o ego ou o seu especialismo está presente, então você fez exatamente o que o seu ego deseja. É isso que faz com que esse Curso seja tão diferente como espiritualidade, certamente em termos de mundo Ocidental. Não diz nada sobre tentar mudar o seu ego, ou lutar contra ele, ou ofuscar o seu ego. Diz simplesmente:
‘Olhe para o seu ego e sorria para ele, porque ele não é nada.’
Quando você luta contra isso em si mesmo, está fazendo com que isso seja real. Portanto, quando você esquecer a sua lição diária do Livro de Exercícios ou de como essas regras básicas são muito simples, não se surpreenda. Não fique zangado. Não fique deprimido. Não seja culpado. Simplesmente diga: ‘Ah! Esse é o meu ego em ação. Obviamente, ainda tenho medo do Amor e da paz de Deus.’ Então você está sendo absolutamente honesto. E você terá ganho mil anos simplesmente fazendo isso, porque está aprendendo o processo de recuar e olhar para o seu ego e não julgá-lo, não lutar contra ele, não resistir a ele, não tentar mudá-lo – simplesmente olhando para ele e dizendo: ‘Esse é o meu ego, eu não quero deixá-lo ir e isso não é um pecado.’
Ao praticar isso a cada momento em todos os dias, você está aprendendo a desfazer o erro original, que foi olhar para a ideia diminuta e louca e fazer um grande alarido sobre ela. É por isso que isso é tão importante. É por isso que essa Seção é tão importante, se você lê-la correta e cuidadosamente. O que ele [Jesus ou o Espírito Santo] fará é treiná-lo, no mundo e na esfera de experiência em que você acredita estar, para reviver aquele momento original quando você, como parte daquele único Filho, olhou para ambas as escolhas e escolheu contra o Espírito Santo.
Você olhou para o seu ego e o levou muito, muito a sério. Você fez o ego pensar sério ao invés de tolo. Algumas linhas depois da linha sobre a ‘ideia diminuta e louca da qual o Filho de Deus se lembrou de não rir‘, Jesus diz:
‘É uma piada [é literalmente o que ele diz] pensar que o tempo pode vir a lograr a eternidade, que significa que o tempo não existe.’ (T-27.VIII.6:5)
É uma piada pensar que essa ideia diminuta e louca tem o poder de interferir na eternidade. O que você quer fazer é cultivar, como uma disciplina constante, olhar para o seu ego e não levá-lo a sério. Se você luta contra si mesmo, você está fazendo com que isso seja real. Se você perceber que a sua resistência em escolher Jesus é forte e a sua dedicação a ele e ao seu proceder é fraca, então simplesmente reconheça isso e diga: ‘Eu ainda tenho muito medo do Amor de Deus, mas está tudo bem.’ Essas palavras ‘está tudo bem’ são as mais importantes de todas, porque você não está mais julgando o seu ego como terrível, pecaminoso, mal ou perverso. Você está olhando para o seu ego e dizendo: ‘Isso é o que eu estou escolhendo, mas não tem efeito no amor de Jesus por mim e não tem efeito no Amor do Espírito Santo por mim.’
Isso não tem efeito algum! Só terá efeito se você der um efeito dentro do seu sonho, porque dentro do seu sonho você é capaz de fazer o que quiser. Jesus disse anteriormente no Texto que…
‘Os sonhos são cenas temperamentais da percepção, nos quais literalmente gritas: ‘Quero que seja assim!” (T-18.II.4:1)
Como uma criança pulando para cima e para baixo e gritando: ‘Isso é o que eu quero, mamãe. Dê para mim!’ É disso que tratam os sonhos – sonhos dormindo e sonhos acordados. Então, o que você quer ser capaz de fazer é olhar para o que você está fazendo e dizer: ‘Isso é o que eu estou escolhendo ativamente, mas está tudo bem. Não é nada terrível. Eu estou simplesmente fazendo o que eu quero, porque eu tenho medo do que está além disso: o fim do meu especialismo. E eu estou perfeitamente disposto, nesse momento, a escolher a insanidade, porque eu não quero abrir mão do meu especialismo – mas está tudo bem.’
Essa será a maneira de refletir a escolha original que todos nós não fizemos, mas agora nós somos capazes de fazer novamente: olhar para a ideia diminuta e louca – a ideia de estar separado de Deus – e dizer: ‘Isso não é nada. Isso é um sonho tolo. Isso é uma piada.’ Nós olhamos para esse pensamento, como o Curso diz, com um sorriso gentil. Qualquer que seja esse pensamento dentro de você, não o justifique, não o racionalize, não se sinta culpado por ele, não o julgue. Simplesmente olhe para ele pelo que ele é, mas sorria para ele. É disso que realmente se trata.
Então, pelo menos, você está sendo honesto e aberto consigo mesmo e, portanto, com Jesus. Isso é o que irá economizar milhares de anos. O objetivo é não ficar sem o seu especialismo, a sua culpa, os seus pensamentos de ataque ou a sua doença. O objetivo é estar ciente de que você os escolheu e de que você é capaz de fazer outra escolha quando estiver pronto. Ninguém está parado com uma arma apontada para a sua cabeça exigindo que você faça isso hoje. Se você pensa que Jesus está fazendo isso, você está lendo o livro errado com o autor errado. Não é isso que ele faz. Ele nunca fez isso com Helen. Ele não faz isso com ninguém. Ele simplesmente o lembra gentilmente. Logo no final do Texto, ele diz:
‘Em toda dificuldade, toda aflição e a cada perplexidade, Cristo te chama e gentilmente diz: ‘Meu irmão, escolhe outra vez” (T-31.VIII.3:2)
Ele não faz a escolha por você. Ele simplesmente diz:
‘Você está transtornado porque você está escolhendo contra a paz de Deus e isso está tudo bem. Eu estarei com amor ao seu lado e o lembrarei continuamente até que esteja pronto. Você é o único que tem o direito de decidir sobre a sua disponibilidade: eu não farei isso por você, porque no final não importa. Não violarei o poder de escolha de sua mente.’
Novamente, é isso que está por trás dessas declarações. Elas são extremamente importantes. Se você realmente as entender e aprender com elas, a sua experiência em Jesus será muito mais amorosa, muito mais gentil; e, portanto, você será muito mais amoroso e gentil consigo mesmo. E todas as pessoas ao seu redor ficarão muito gratas, porque você inevitavelmente será mais amoroso e gentil com elas. Você terá experienciado o amor e a gentileza do Céu e esse amor e gentileza virão a ser cada vez mais uma parte de você, que você inevitavelmente compartilhará com todos os outros. Portanto, não lute contra o seu especialismo. É correto dizer que você não está pronto para deixar isso ir. Pelo menos você está ciente de qual é o problema.
‘Mas pensa no tipo de dia que queres e dize a ti mesmo que há um caminho no qual esse dia pode acontecer exatamente assim. Então, tenta mais uma vez ter o dia que queres.’ (T-30.I.1:8-9)
Jesus está simplesmente dizendo:
‘Lembre-se de que você tem uma escolha.’
Quando ele diz que você é capaz de ter o dia que você quiser, ele não está falando sobre um dia em que você ganhe na loteria, ou em que um relacionamento dê certo de repente, ou você consiga a promoção ou o emprego que deseja. O dia que você deseja é um dia de paz ou de conflito; um dia de perdão ou um dia de culpa. Essas são as únicas possibilidades que alguém tem.
Esse Curso é tão simples porque existem apenas duas emoções: medo e amor. Existem apenas duas escolhas: culpa ou perdão, ataque ou paz, o ego ou o Espírito Santo, crucificação ou ressurreição e assim por diante. Todos esses sejam símbolos diferentes para a mesma ideia.
‘Lembre-se de que você tem uma escolha.’
Portanto, o dia que você necessita é um dia em que realmente conhecerá a paz de Deus ou um dia em que terá ansiedade. Quando você guarda as suas queixas contra alguém, você está dizendo: ‘Eu quero um dia em que terei ansiedade, em que terei conflito, em que terei tumulto. E está tudo bem. Eu digo que eu quero um dia de paz, mas obviamente eu não o quero.’ Como você sabe que não quer paz? Porque você está guardando queixas! Você está ansioso por uma reunião que terá hoje. Você está segurando a dor, de modo que não se sente bem. Isso quer dizer que você não quer paz.
Portanto, bater na própria cabeça com Um Curso em Milagres e dizer a si mesmo que deseja paz não ajuda em nada. O que é útil é perceber que qualquer tipo de desconforto – emocional ou físico – vem da escolha de estar com o seu ego ao invés de Jesus, o que é uma escolha de estar em conflito ao invés de em paz e isso está tudo bem.
Muitas vezes me perguntam como eu classificaria experiências como excitações e êxtase. Elas também são do ego? Eu começo perguntando: ‘Tem certeza de que deseja que eu responda a isso?’ porque eu não tenho tanta certeza de que as pessoas realmente querem ouvir a resposta: Sim, alegria, excitação, drama, êxtase e assim por diante, são todos parte do ego. Se você pensar sobre o que é emocionante ou estimulante, empolgante, extático ou mesmo apaixonado, sempre descobrirá que é algo externo. Algo o estimula, o excita ou faz você se sentir maravilhoso – mas é sempre algo fora de você. É por isso que é do ego.
‘Enquanto acreditas que ele [o corpo] pode te dar prazer, também acreditarás que pode te trazer dor.’ (T-19.IV-A.17:11)
Não é porque Deus está punindo você, mas porque se você encontra o seu prazer, paz ou felicidade fora de você, o que você está fazendo? Você está substituindo Deus de novo, o que é uma reconstituição do momento original quando você se separou de Deus e, na verdade, disse: ‘Eu quero algo mais do que tudo. O Céu não é suficiente, eu quero algo mais.‘
É aí que nasce a culpa e de onde virá toda a dor. E assim, sempre que você buscar o prazer fora de você e fazer com que ele seja real para você mesmo, você sentirá culpa e, portanto, dor. Isso não significa que, como um bom estudante de Um Curso em Milagres, você não possa desfrutar das coisas do mundo. Mas quando você leva o mundo a sério e tem algo no mundo que vem a ser a sua salvação – o começo e o fim de toda a sua existência -, você paga um preço.
No entanto, para repetir, isso não significa que você não possa desfrutar das coisas físicas ou emocionais e psicológicas do seu mundo. Apenas perceba que há uma parte de você que está escolhendo isso ao invés da paz de Deus. Se você puder estar ciente disso, não se sentirá culpado. E se você não for culpado, não pagará o preço.
Mais uma vez, só para finalizar com isso agora: quando você percebe que a sua resistência é forte e a sua dedicação é fraca, você está simplesmente dizendo: ‘Eu não estou pronto’. Mas você também quer dizer a si mesmo: ‘Eu sei que o meu especialismo não irá me dar o dia que eu realmente quero. Ele irá me dar o dia que o meu ego deseja, mas não o dia que eu realmente quero, o que significa que eu ainda tenho uma mente dividida. E isso não faz com que eu seja mau, ruim ou pecador, mas significa que eu não irei achar a verdadeira felicidade hoje. E eu não irei achá-la porque eu não quero achá-la. E que está tudo bem.’
Imagem beth-macdonald-P3rS8J1THi4-unsplash.jpg
..…Continua Parte II…..
“Um milagre é uma correção. Ele não cria e realmente não muda nada. Apenas olha para a devastação e lembra à mente que o que ela vê é falso. Desfaz o erro, mas não tenta ir além da percepção, nem superar a função do perdão. Assim, permanece nos limites do tempo.” (LE.II.13)
[…] leitura complementar dos artigos da OREM3: 55 – Regras para decisões em UCEM – Parte I; 56 – Regras para decisões em UCEM – Parte II; 57 – Regras para decisões em […]