Trechos do documento preliminar de trabalho de uma Conferência da Universidade de Santa Clara (EUA), denominado “Bridging the Gap Between Spirituality and Business” (tradução livre: “Construindo Ponte Sobre a Brecha Entre Espiritualidade e Negócio), para o nosso conhecimento e entendimento sobre as Organizações Baseadas em Espiritualidade (OBE) e o cenário de ambiente de trabalho (AT) onde essas Empresas atuam.
Debate de Santa Clara – Conferência entre 9 e 11 de março de 2001
Editor Andre’ L. Delbecq – E mail: [email protected]
©Leavey School of Business
Tradução livre Projeto OREM®
—–continuação da Parte VI—–
Seção Sete
A Hindu Perspective on Spirituality and Management
Arvind Sharma – McGill University
Uma Perspectiva Hindu sobre Espiritualidade e Gestão
SEÇÃO I
“Pode-se começar esclarecendo o título, que poderia muito bem ser: Uma Perspectiva Hindu sobre Religião e Gestão. É claro que se poderia argumentar que existem boas razões prudenciais para preferir a palavra ‘espiritualidade’ a ‘religião’.
Numa investigação recente sobre as atitudes de várias centenas de gestores, apenas 30% tinham uma visão positiva da religião e da espiritualidade. Mais da metade, 60%, tinha uma visão positiva da espiritualidade e uma visão negativa da religião.(iii)
No caso do Hinduísmo, contudo, embora se apliquem preocupações prudenciais, outras razões também entram em jogo. Poderia ser plausivelmente argumentado que o Hinduísmo é melhor descrito como uma ‘espiritualidade’ ou ‘sabedoria’(iv) ao invés de religião no sentido Ocidental, uma tendência que já é aparente nas tentativas de descrevê-lo como um ‘estado de espírito’,(v) e até mesmo a ‘mente da Índia’.(vi)
O título, portanto, por mais apropriado que seja, é particularmente apropriado no caso do Hinduísmo.(vii) Assim, ao invés de por que espiritualidade, a primeira questão que temos que abordar é: O que é Espiritualidade?
O que é espiritualidade
Pode-se usar a seguinte equação como ponto de partida de nossa exploração:
espiritualidade = visão de mundo + caminho(viii)
Tem sido observado em conexão com essa equação que ela ‘não diz nada específico sobre a visão de mundo ou sobre o caminho.’(ix)
Esse ponto permite introduzir uma consideração particularmente relevante para o Hinduísmo, que reforça a sua identificação com a espiritualidade, nomeadamente, que dentro dela é plenamente reconhecida uma pluralidade de pontos de vista e caminhos.(x)
Assim, no contexto do Hinduísmo, a equação pode ser reafirmada como:
espiritualidade = visões de mundo + caminhos.
É digno de nota que tal equação, que normalmente se aplica no contexto da religião comparada, se aplica ao próprio Hinduísmo, justificando assim o ditado acadêmico de que ‘o Hinduísmo é para a Índia o que a religião comparada é para o mundo.’ (O leitor pode achar dois outros ditados semelhantes úteis: ‘O Hinduísmo é para a religião o que a democracia é para a política’ e ‘O Hinduísmo é para a Índia o que uma religião universal seria para o mundo’).
Duas outras observações feitas no contexto da espiritualidade conforme definido acima, quando levantadas, também parecem particularmente relevantes no contexto do Hinduísmo:
1) ‘Embora uma visão de mundo possa ser intelectualmente complexa e profunda, ela não é meramente teórica’(xi) e
2) ‘… o significado de qualquer prática varia de acordo com a visão de mundo em que ocorre.’(xii)
A primeira observação aplica-se à filosofia Indiana (e Hindu) de tal forma que serve, pelo menos na opinião de alguns , para distingui-la da filosofia Ocidental.(xiii) O ponto a ser destacado aqui é que, embora o filosofar no Ocidente possa ser confinado ao nível intelectual e nunca ir além dele, o filosofar Hindu insiste na presença de um programa empírico para realizar os seus resultados.
A segunda observação é às vezes ilustrada com o exemplo do Yoga: ‘Por exemplo, embora os movimentos corporais de um determinado exercício no Hatha Yoga possam ser os mesmos, o significado desse exercício dentro da estrutura da Meditação Transcendental de Maharishi Mahesh Yogi é diferente do Hatha Yoga praticado no contexto de um Cristianismo Evangélico.’(xiv)
Isso se aplica à prática do Yoga em geral dentro do Hinduísmo, onde cada um dos seis sistemas ortodoxos o emprega, mas em uma estrutura metafísica de significado diferente.
Quase-Espiritualidades
Nenhuma discussão sobre espiritualidade pode estar completa sem uma discussão sobre substitutos espirituais. Assim, foi apontado que ‘a riqueza e o sucesso são substitutos espirituais. É improvável que aqueles que os colocam em primeiro lugar os chamem de espiritualidade deles, no entanto, eles funcionam como uma. Eles são quase-espiritualidade.’(xv)
Essa visão, quando colocada no contexto do Hinduísmo, é produtiva de ideias sobre a espiritualidade Hindu. O Hinduísmo identifica quatro objetivos legítimos da atividade humana: Dharma, Artha, Kama e Moksa.
Dharma refere-se às atividades humanas voltadas para a retidão, Artha refere-se àquelas voltadas para a aquisição de riqueza, poder e sucesso, Kama àquelas voltadas para o desfrute dos prazeres dos sentidos (incluindo o seu sabor mais refinado na arte e na literatura, etc.), Moksa consiste em atividades direcionadas ao que no contexto Ocidental é melhor descrito como ‘salvação’ e no contexto Hindu como emancipação do ciclo de existência condicionada contínua chamado Samsara.
Ao contrário de algumas outras religiões, o Hinduísmo não considera a busca pela riqueza e pelo sucesso como um mal; no entanto, ele considera que é um mal se isso vier a ser uma preocupação tão predominante que leve a um comportamento imoral para protegê-los. Isso, no entanto, constitui uma restrição moral à busca de riqueza e sucesso e não uma restrição espiritual.
A tentativa do presente projeto de casar gestão e espiritualidade, embora não esteja fora do âmbito da axiologia Hindu, raramente foi debatido como tal dentro do Hinduísmo até tempos relativamente recentes.(xvi)
Em outras palavras, no Hinduísmo clássico isso é a relação de Artha com a moralidade, que é explorado com mais detalhes do que a sua relação com a espiritualidade. Os termos de referência dessa conferência, ao justaporem gestão e espiritualidade (ao invés de moralidade), convidam o Hinduísmo moderno a abrir novos terrenos.
Elementos de uma Espiritualidade Adequada
Uma vez levantada a questão da quase-espiritualidade, a discussão sobre a espiritualidade segue para a dos elementos de uma espiritualidade adequada. O seguinte conjunto de quatro critérios é útil nesse contexto:
1. A espiritualidade tem que estar enraizada numa tradição específica;
2. Ela tem que ser útil para o indivíduo;
3. Ela tem que permitir que essa pessoa se relacione com outras pessoas de forma responsável;
4. Ela tem que permitir o florescimento de outras culturas e espiritualidades.(xvii)
A importância do enraizamento pode ser avaliada a partir da seguinte declaração de Simone Weil:
Estar enraizado é talvez a necessidade mais importante e menos reconhecida da alma humana. Isso é uma das mais difíceis de definir. Um ser humano tem raízes em virtude de sua participação real, ativa e natural na vida de uma comunidade. Todo ser humano necessita ter múltiplas raízes. É necessário que ele se aproxime de toda a sua vida moral, intelectual e espiritual por meio do ambiente do qual faz parte natural.(xviii)
O sucesso de Gandhi como um líder tem sido atribuído ao seu enraizamento no Hinduísmo, por exemplo. O segundo e terceiro critérios são mais ou menos autoexplicativos e o quarto é cada vez mais relevante no mundo cada vez mais plural em que nós vivemos.
Os resultados da aplicação desses critérios a fenômenos específicos são esclarecedores nos domínios de Artha e de Dharma ou dos negócios e da religião. Assim, a livre iniciativa global e o sistema empresarial moderno falham no terceiro critério e o fundamentalismo religioso e as espiritualidades da Nova Era ficam aquém em termos do quarto e primeiro critérios, respectivamente.
É ilustrativo que a espiritualidade transcende tanto um foco exclusivo em termos de Artha! e um foco exclusivo ou difuso em termos de Dharma.
Liderança
Como então mover a gestão de um foco exclusivo em Artha para uma apreciação de um Dharma mais amplo sem vir a ser demasiado aquisitivo (como no caso da livre iniciativa, do sistema empresarial moderno, do consumismo); muito coercitivo (fundamentalismo) e muito permissivo (Nova Era).
Isso é agravado pelo fato de os resultados alcançados por tal liderança serem qualitativos e não quantitativos e esse problema de quantificação pode aproximar-se de ser um problema de credibilidade.(xix)
A resposta está na integridade, em ‘achar a própria voz e conectá-la às próprias ações.’(xx)
Achar a própria voz é achar o próprio chamado. Isso, no entanto, envolve realmente ouvir três vozes: a nossa própria voz, a voz da comunidade e a voz de Deus. Quando o ser [eu, self] ouve essas três vozes na autenticidade delas, então o processo pode ser chamado de autoapropriação, esse processo de abertura para si mesmo, para a comunidade e para o cosmos ou para Deus.
O conceito de Svadharma no Bhagavad-Gita chega perto de testemunhar esse insight.
Esse texto também fornece a ideia de que essas três podem estar em desacordo e podem ter de ser reconciliadas, por vezes até através de uma entrega a Deus ou de uma ‘ação racional’ decisiva.
O chamado do Svadharma no nível individual pode ser comparado ao Daimon.(xxi) Entretanto, o ser [eu, self], tendo achado a si mesmo, tem que agora mover-se em direção à comunidade através da ação, o que o Bhagavad-Gita chama de Karma Yoga.
Nesse processo, o crisma de alguém entra em jogo – como a habilidade de Arjuna na guerra. O pessoal e o profissional fundem-se, assim como o pessoal e o comunitário, conforme captado na declaração do Padre Stephen Doyle.
‘Só eu sou capaz de fazer isso, mas eu não sou capaz de fazer isso sozinho.’(xxii)
SEÇÃO II
Poderíamos começar essa seção dizendo, correndo o risco de algum exagero ou mesmo de considerável exagero, que existem tantos Hinduísmos quanto existem Hindus. Em outras palavras, o Hinduísmo é uma tradição pluralista e individualista, que permite muitas vozes.
O que o Hinduísmo traz para a mesa sobre a questão da espiritualidade e da gestão dependeria então, num grau notável, de quem está sentado à mesa. Um Hindu, entretanto, aceita tais diferenças com tranquilidade, optando por vê-las como ‘variações’.
Da minha perspectiva como um Hindu, eu gostaria de oferecer duas perspectivas:
(1) que nós deveríamos, no contexto, distinguir entre moralidade e espiritualidade e
(2) como nós nos concentramos aqui na espiritualidade, ela é a doutrina do Karma Yoga que pode ser identificada como uma contribuição Hindu para a discussão.
Entretanto, deixem-me abordar o primeiro ponto antes de abordar o segundo, pois a distinção entre moralidade e espiritualidade pode não ser óbvia e, quando formulada, pode gerar ansiedade moral.
Deixe-me começar por esclarecer que eu não sou adverso à incorporação de considerações morais nos processos de gestão. Pelo contrário, eu diria que os insights morais poderiam ser muito úteis na tomada de decisões gerenciais.
Consideremos apenas dois desses insights por um momento:
(1) há o suficiente no mundo para as necessidades de todos, no entanto, não o suficiente para a ganância de todos e
(2) a liberdade humana significa a liberdade de fazer o que se considera ser a coisa certa, ao invés de o que se quer que alguém queira.
Eu penso que todos nós concordaremos que ambas as declarações são úteis para nós, gestores. O que eu desejo afirmar é que, embora possam estar enraizados numa visão espiritual, os insights em si são morais e não espirituais. Eles nos dizem qual é a coisa certa a fazer em relação aos outros, o que é muito bom.
Entretanto, o foco do nosso estudo é a espiritualidade em relação à gestão. E se nós considerarmos que a espiritualidade se preocupa principalmente com as nossas relações com o ‘espírito’ ou Deus ou a realidade última e a moralidade com os nossos semelhantes, seres humanos e criaturas, então a distinção vem a ser aparente.
A questão central muda agora de como a nossa relação com os outros seres humanos se relaciona com a gestão – que tem a ver com a moralidade, para a forma como a nossa relação com a realidade última se relaciona com a gestão – que tem a ver com a espiritualidade.
Eu não estou argumentando que as duas dimensões não possam se sobrepor e possam até estar interligadas; eu gostaria, no entanto, de sustentar que elas são analiticamente distinguíveis. A distinção entre elas, em qualquer caso, é traçada de forma bastante clara no Hinduísmo e no Budismo.
Por exemplo, durante as suas últimas horas, os seus discípulos fizeram precisamente essa pergunta ao grande místico Tibetano Milapera (século XII), nomeadamente: deveriam eles dedicar tempo a fazer o bem aos outros ou buscar o Nirvana? Isso é o que ele disse:
‘Se não houver o menor interesse próprio associado a tais deveres, isso é permitido. Mas tal desapego é realmente raro; e as obras executadas para o bem dos outros raramente têm sucesso, se não forem totalmente isentas de interesse próprio. Mesmo sem buscar beneficiar os outros, é com dificuldade que as obras realizadas, mesmo no interesse próprio, têm sucesso. É como se um homem que se afoga impotentemente tentasse salvar outro homem na mesma situação. Não se deve ser excessivamente ansioso e precipitado em iniciar servir aos outros antes de reconhecer a Verdade em sua plenitude; fazê-lo seria como um cego guiando outro cego. Enquanto o firmamento durar, não haverá fim de seres sencientes para servir; e para todas as pessoas vem a oportunidade de tal serviço. Até que a oportunidade chegue, eu exorto cada um de vocês a ter apenas uma resolução, ou seja, atingir o estado de Buda para o bem de todos os seres vivos.(xxiii)’
Embora nós tenhamos traçado a distinção entre a ‘moral’ e o ‘espiritual’ para simplificar a nossa tarefa, a sua primeira consequência é, num certo sentido, complicá-la! Pois fica assim destacado o problema central da relação com a espiritualidade (aqui definida como aquela que nos relaciona com a realidade última) e a gestão.
A meta da espiritualidade é nos aproximar da realidade última e não fazer com que sejamos melhores gestores, então como ela poderia ter alguma relevância para a gestão, que gere a realidade mundana?
A resposta a essa questão está implícita na tradição Cristã e explícita na tradição Hindu. É isso: a realidade última também tem que ser universal para ela ser última. Portanto, os insights sobre o assunto devem ser universalizáveis e, nesse caso, devem incluir toda a vida ou ação dentro de suas entranhas.
É essa universalidade que permite estabelecer um vínculo entre espiritualidade e gestão. Ouve-se um eco disso na declaração sublimemente despreocupada de Agostinho:
‘Ame a Deus e faça o que você quiser’.
Ou, mais prosaicamente, poderíamos dizer:
‘Na tradição Cristã, a tomada de decisões e o discernimento são atividades espirituais per se, independentemente de onde estejam. sendo exercidos.’(xxiv)
A perspectiva Hindu é semelhante, embora talvez formalmente mais desenvolvida. Comecemos imaginando que um aspirante a gerente se aproximou de um guru Hindu de mãos postas e lhe fez a seguinte pergunta: ‘Eu sou um gerente, entretanto, eu desejo levar uma vida espiritual. Eu devo deixar o meu emprego?’
Se o guru Hindu for um defensor do caminho de ação do Karma Yoga, é provável que ele diga ao gerente: ‘Não. De modo algum. Não é o que é feito, entretanto, como isso é feito que faz toda a diferença, então execute as suas ações com o espírito certo e continue a ser um gerente. Na verdade, se você executar ações com o espírito certo, você virá a ser um gerente melhor.’
SEÇÃO III
Como decodificar essa linguagem do Guru?
O Bhagavad Gita vem em nosso auxílio. Nesse texto, Krishna aconselha Arjuna que o modo como você faz às vezes é muito mais importante do que o que você faz.
Observe que as nossas decisões morais giram em torno do eixo: a ação que eu estou realizando é certa ou errada?
A tomada de decisão espiritual, no entanto, gira em torno de um eixo diferente: eu estou apegado à ação que eu estou realizando (seja boa ou má) ou eu estou desapegado dela?
Visto que a pessoa cumpre o seu dever sem um sentimento de apego às recompensas que obtém ao cumpri-lo, a mensagem de Krishna é frequentemente resumida em termos práticos como: cumpra o seu dever.
Se a ideia de dever for assim separada daquela das suas consequências, pode parecer que não haverá meios de determinar o seu conteúdo em qualquer contexto particular da vida e que, portanto, o ensinamento do Gita, embora possa nos dizer como agir, ele falha completamente para nos guiar sobre quais ações nós devemos fazer.
Mas realmente não existe tal falta de orientação no ensino; segundo ela, os deveres que uma pessoa tem para cumprir são determinados pelo lugar que ela ocupa na sociedade.
Esse é outro princípio importante enunciado no Gita, viz. que o próprio dever (sva-dharma), mesmo que ele nunca seja tão baixo, é superior ao de outra pessoa. A importância desse princípio é elevar a qualidade moral das ações acima do seu conteúdo. O que realmente importa é o motivo que inspira o seu agir – como as ações são realizadas e não o que elas são.
‘Deus se importa’, alguém tem afirmado, ‘mais com o advérbio do que com o verbo.’ Assim, o trabalho no qual Arjuna se dedica como resultado dos ensinamentos de Sri Krishna é estupendo em sua magnitude, sendo nada menos do que consertar o mundo que está saindo dos trilhos. As ações que pessoas comuns como nós mesmos têm de realizar não têm comparação com isso.
Enquanto um, por exemplo, seria uma estimativa histórica de grande valor, o outro não estaria em lugar nenhum. No entanto, no que diz respeito ao seu valor moral, os dois não diferem nem um pouco.
Esse cumprimento desapegado dos deveres, quaisquer que eles sejam, é chamado de karma-yoga.(xxv)
Essa posição é susceptível de dois graves mal-entendidos. Esses têm que ser identificados e removidos.
(1) Quando é afirmado que a mudança axial a partir da moral para o espiritual envolve uma mudança de ações boas ou más para ações apegadas ou desapegadas, pode-se chegar à conclusão de que os atos maus são agora permitidos se não estivermos apegados a eles.
Isso soa como uma conclusão lógica à primeira vista. No entanto, se considerarmos o fato de que os maus atos que nós cometemos surgem do nosso apego a nós próprios, isso é, do egoísmo ou do egocentrismo e que o desapego implica precisamente a ausência de tal apego, então o que parecia ser uma dedução lógica vem a ser agora um non-sequitur! Ou, dito de outra forma: tal conclusão é uma possibilidade lógica ou teórica, entretanto, uma impossibilidade psicológica e prática.
(2) A doutrina do Karma Yoga enfatiza que a pessoa deve apenas cumprir os seus deveres e não desistir dos seus deveres pelos deveres dos outros, por mais atraentes que sejam. Tem sido argumentado que essa doutrina tem sido usada para justificar a imobilidade ocupacional. Essa pode ter sido por vezes a sua consequência histórica, entretanto, não é a sua consequência lógica.
É útil nesse caso considerar o conselho que Milapera dá aos seus discípulos. Se eles são atraídos para ajudar os outros, que é o dever principal dos chefes de família, então eles não deveriam ter vindo a ser monges para alcançar o nirvana.
Mas os seus discípulos vieram a ser monges para alcançar o nirvana e não têm que estar distraídos pelo apelo moral ainda maior de ajudar os outros, porque não é o dever deles. Se eles realmente quiserem fazer isso, eles deveriam deixar de ser monges e virem a ser filantropos.
A doutrina envolvida aqui é sutil e já é capaz de ser identificada no Dhammapada (XII 166). Em outras palavras, o Karma Yoga pressupõe que o caminho de ação que nós estamos seguindo não foi escolhido arbitrariamente ou caprichosamente, mas está de acordo com as nossas habilidades e o nosso temperamento.
A essência do Karma Yoga consiste em cumprir os deveres mais por um sentimento de dedicação interior do que pelas recompensas externas que eles possam trazer. Note que nós não somos indiferentes ao sucesso ou ao fracasso do nosso esforço – pelo contrário, não estamos apegados ao resultado.
“Em outras palavras, o Karma Yoga pressupõe que o caminho de ação que nós estamos seguindo não foi escolhido arbitrariamente ou caprichosamente, mas está de acordo com as nossas habilidades e o nosso temperamento.“
SEÇÃO IV
Voltemos a nossa atenção para os elementos de um processo integrado de tomada de decisão. Quatro desses elementos podem ser facilmente identificados:
1) entrar no processo de decisão com uma disposição interior reflexiva;
2) paciência na descoberta da questão decisória;
3) realizar o árduo e demorado trabalho de coleta de informações e
4) reflexão e oração.(xxvi)
Se a ação é realizada no espírito do Karma Yoga, então a psique fica predisposta a funcionar de acordo com um processo integrado de tomada de decisão do tipo descrito anteriormente.
A atitude de realizar o trabalho com espírito de dedicação e não de ganância promove uma disposição interior reflexiva; uma preocupação com o processo e não com o produto encoraja o tipo de paciência que pode levar à descoberta da natureza subjacente da questão de decisão; uma vez que o Karma Yoga é definido alternativamente como o yoga da ‘excelência’ e da ‘equanimidade’ – essas qualidades gêmeas promovem uma meticulosa recolha de dados, enquanto a exortação a considerar o trabalho como adoração, para que o que se faz venha a ser adoração, como foi apontado, não pode deixar de promover uma atitude de reflexão e de oração.
CONCLUSÃO
A partir de uma perspectiva Hindu, a doutrina do Karma Yoga exposta no Bhagavad Gita pode ter muito a oferecer para promover uma convergência fértil entre espiritualidade e gestão.
Referências
(iii) Gerald Cavanagh, S.J. et al., “Spirituality and Business Leadership: Merging Streams”, Conference Paper, Bridging the Gap: Spirituality and Business Leadership, p. 16.
(iv) Louis Renou, ed., Hinduism (New York: George Braziller, 1962), Introduction, passim
(v) Troy Wilson Organ, The Hindu Quest for the Perfection of Man, (Athens, Ohio: Ohio University, 1970), Chapter I, passim.
(vi) Ronald B. Inden, Imagining India (Bloomington: Indiana University Press, 2000), p. 85.
(vii) The reader may wonder about caste at this point, see A. Sharma, ed., Fragments of Infinity (Dorset: Prism Press, 1991), pp. 4-5.
(viii) Gerald Cavanagh, S.J. et al., op. cit., p. 3.
(ix) Ibid.
(x) Arvind Sharma, Ramakrishna and Vivekananda: New Perspectives (New Delhi: Sterling Publishers, 1989); Claude Alan Stark, God of All, (Cape Cod, Mass.: Claude Stark Inc., 1974); Lisa Lassell Hallstrom, Mother of Bliss, (New York: Oxford University Press, 1999).
(xi) Gerald Cavanagh, S.J. et al., op. cit, p. 4.
(xii) Ibid, p. 5.
(xiii) M. Hiriyanna, The Essentials of Indian Philosophy, (London: Allen & Unwin, 1949) pp. 50 – 51; William Halbfass, India and Europe: An Essay in Understanding, (Albany: New York, SUNY Press, 1988), pp. 251- 255.
(xiv) Gerald Cavanagh, S.J. et al., op. cit., p. 5.
(xv) Gerald Cavanagh, S.J. et al., op. cit., p. 7.
(xvi) See Swami Bodhananda, The Gita and Management (New Delhi: Sambodh Foundation, 1996); G.R. Krishna, ed, Indian Ethos For Modern Management (New Delhi: U P S P D 1999). I am grateful to Prof. C. Gopinath for these references.
(xvii) Gerald Cavanagh, S.J. et al., op. cit., p. 17. Adapted.
(xviii) Cited in A. Parel, Grandhi! Hind Swaraj and Other Writings (Cambridge: University of Cambridge Press, 1997), p. 1xii.
(xix) Gerald Cavanagh, S.J. et al., op. cit., p. 30, note 26.
(xx) Gerald Cavanagh, S.J. et al., op. cit., p. 12.
(xxi) Joseph W. Weiss et al, “Vocational Calling, New Careers and Spirituality,” Conference Paper, op. cit., p.9.
(xxii) Ibid, p. 14.
(xxiii) Edward Conze, “Buddhism: The Mahμyμna,” in R.C. Zaehner, ed., The Concise Encyclopedia of Living Faiths, (Boston: Beqacon Press, 1967), pp. 300 – 301.
(xxiv) André L. Delbecq, et al., “Discernment and Strategic Decision Making,” in Conference Paper, Bridging the Gap: Spirituality and Business, p. 3.
(xxv) M. Hiriyanna, op. cit., pp. 54- 55.
(xxvi) Andre L. Delbecq, op. cit., p. 11-19.
Imagem vizag-explore-OyDpA6NO93E-unsplash.jpg – 4 de fevereiro de 2024
Imagem Godavari railway bridge, Railway Bridge, Andhra Pradesh, India
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Final de “Construindo Ponte Sobre a Brecha Entre Espiritualidade e Negócio”
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