Série de artigos – A Ética Budista nos Negócios.
Nós estamos destacando trechos do artigo “The Application Of Buddhist Ethics To Thai Society” [“A Aplicação Da Ética Budista Na Sociedade Tailandesa”], de autoria de Preecha Changkhwanyuen, visando o conhecimento e o entendimento sobre o sistema de pensamento (ética, princípios e valores), o sistema organizacional (ambiente de trabalho, de relacionamentos e de políticas) e o sistema de tomada de decisões (propósitos, resultados e metas) de uma Organização Baseada na Espiritualidade (OBE), sendo esse tipo de Organização uma tendência global irreversível para as pequenas, as médias e as grandes Empresas, em quaisquer mercados de atuação, que visam a agregação de valor para todos os envolvidos nos negócios, assim como a sua própria perenidade.
Fonte:
The Chulalongkorn Journal of Buddhist Studies – An Academic Journal Devoted to the Academic Study of Buddhism [The Chulalongkorn Journal of Buddhist Studies – Um Periódico Acadêmico Dedicado ao Estudo Acadêmico do Budismo].
Publicado por Center for Buddhist Studies [Centro para Estudos Budista] – Universidade Chulalongkorn, Tailândia.
Conselho Consultivo
- Phra Dhammakosacharn
- Wit Wisadavet
- Sunthorn Na-rangsi
- Preecha Changkhwanyuen
- Mark Tamthai
- Donald K. Swearer
Editor
Somparn Promta – [email protected]
Site: THE APPLICATION OF BUDDHIST ETHICS TO THAI SOCIETY | The Chulalongkorn Journal of Buddhist Studies
Tradução livre Projeto OREM® (PO)
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THE CHULALONGKORN JOURNAL OF BUDDHIST STUDIES
An Academic Journal Devoted to the Academic Study of Buddhism
Published by Center for Buddhist Studies
Chulalongkorn University
Volume 1-3
[2002-2004]
EDITED BY
Somparn Promta
Department of Philosophy
And Center for Buddhist Studies
Chulalongkorn University
Bangkok, Thailand
SUMÁRIO
- From the Editor [I] – Somparn Promta
- Theravāda Buddhist Ethics [1] – Wit Wisadavet
- A Concept of Rights in Buddhism [17] – Somparn Promta
- Business and Buddhist Ethics [39] – Subhavadee Numkanisorn
- Administration of the Thai Sangha [59] – Sunthorn Na-rangsi
- The Application of Buddhist Ethics to Thai Society [75] – Preecha Changkhwanyuen
- Buddhist Perspectives on Health and Healing [93] – Wichit Paonil and Luechai Sringernyuang
- Consumerism, Prostitution, and Buddhist Ethics [107] – Phra Somsak Duangsisen
- Dhammic Socialism: Political Thought of Buddhadāsa Bhikkhu [115] – Preecha Changkhwanyuen
- How Should We Understand the Dhamma [139] – Buddhadāsa Bhikkhu and M.R. Kukrit Pramoj
- The Buddhist Philosophy of Education [159] – Wit Wisadavet
- Buddhadāsa Bhikkhu and Dhammic Socialism [189] – Tavivat Puntarigvivat
- Going Forth in Thai Society [209] – Chamnong Adiwathanasiddhi
- Political Beliefs of the Thai Sangha [219] – Pholsak Jirakraisiri
- Buddhism and Human Genetic Research [233] – Somparn Promta
- Buddhist Analysis of Capitalism [247] – Preecha Changkhwanyuen
- Boonnoon’s Critique of Thai Sangha [261] – Pagorn Singsuriya
- Buddhist Economics and the Asoke Buddhist Community [271] – Suwida Sangsehanat
Do Editor
Convite para se Juntar ao Mundo dos Estudos Budistas
“O Chulalongkorn Journal of Buddhist Studies é um humilde periódico dedicado principalmente a publicar artigos sobre o estudo acadêmico do Budismo. Como nós entendemos, pode haver vários entendimentos em relação ao termo ‘estudos Budistas’. No entanto, o nosso entendimento dessa palavra parece seguir o que foi dito pelo próprio Buda. O Budismo nos ensina a explorar o que deve ser considerado como os valores da vida. Normalmente, a visão Budista sobre o valor da vida está intimamente relacionada a uma coisa chamada ‘verdade’. Nós pensamos que o objetivo básico do estudo do Budismo é a verdade, ou um caminhar perto da verdade. A verdade, em nossa visão, é alguma coisa que é capaz de nos dar pelo menos duas coisas, a saber, sabedoria e felicidade. Portanto, embora esse periódico seja acadêmico, nós esperamos que o que for encontrado nele possa promover a verdade, como dito acima.
A internet tem o potencial de nos fazer superar algumas limitações dadas a nós por condições naturais e não naturais. No passado, publicar um livro ou algum tipo de escrito nunca poderia ser independente da comercialidade. Exatamente, o propósito básico da publicação de livros é unir duas pessoas: o escritor e o leitor. Isso não é diferente do propósito de produzir quaisquer bens em que duas pessoas, a saber, a pessoa que produz e a pessoa que consome, estão interligadas. A internet nos dá uma chance para o leitor e o escritor se encontrarem sem a terceira pessoa que no passado tinha o papel principal em decidir se, nesse caso, ela permitiria ou não que essas duas pessoas se encontrassem. O periódico online é barato e é capaz de ser livre da influência da comercialidade. Em textos Budistas, às vezes uma parábola das velas é dada pelo Buda para ilustrar como o Budismo concebe uma coisa chamada caridade. Como nós sabemos, um dos grandes ensinamentos do Budismo é um ensinamento sobre doação. Nós sabemos disso por meio de uma palavra Páli ‘dāna’. A doação na perspectiva Budista é feita para fornecer pelo menos duas coisas para o doador: felicidade e sabedoria. Quando nós damos; isso é como acender uma vela no escuro. Quando os nossos amigos vêm à nossa casa e pedem permissão para acender as velas deles com a nossa vela; isso é um grande prazer para nós em permitir que os nossos amigos obtenham o que eles necessitam. Quando nós decidimos lançar esse periódico, a imagem das velas ditas acima apareceu em nossa mente.
Todos os escritos nesse periódico são totalmente doados gratuitamente para o leitor. Como nós pensamos que ninguém no mundo é capaz de ser visto como o doador ou o tomador sozinho, o que nós temos feito em nome do editor e do escritor e outra pessoa relacionada é visto por nós como um tipo de ação feita por amigo para o amigo. Mesmo para o leitor que sente que ele prefere ler a escrever, apenas ler é o suficiente para nos fazer sentir que nós temos alguma coisa dada por nosso leitor. Méritos nos ensinamentos Budistas são realizados sob esse entendimento da amizade entre homem e homem e entre homem e outros seres sencientes. Chegando a esse ponto, o editor gostaria de aproveitar essa oportunidade para convidar os estudiosos do Budismo a partir de qualquer parte do mundo para se juntarem ao periódico. Há algumas informações primárias sobre o periódico a serem declaradas como segue. Primeiramente, como nós sentimos que o nosso periódico deve ser amigável e natural, a maneira do periódico é projetada para servir a esse propósito tanto quanto possível. Em qualquer periódico em Inglês, nós pensamos que um dos muitos padrões exigidos é o idioma. Parece que para atender a esse requisito, o nosso periódico deve ter o editor de idioma responsável por esse assunto. No entanto, nós decidimos evitar o uso do editor de idioma pela principal razão de que nós queremos que o nosso periódico seja natural. O Inglês agora é usado por um grande número de pessoas no mundo que não usam o Inglês como primeira língua. Até mesmo o editor desse periódico é aquele que tem aprendido Inglês como segunda língua e não usa o Inglês na vida diária. Se nós aceitamos a verdade de que para amigos as ações erradas não são importantes, nós esperamos que os nossos amigos que usam o Inglês como língua nativa tenham paciência para ver o Inglês em outros estilos, mesmo no estilo errado de acordo com os seus padrões.
Para aqueles que desejam se juntar a nós, por favor enviem os artigos ou quaisquer formas de escritos acadêmicos sobre o Budismo para o editor por meio do endereço de e-mail fornecido. Nós temos vários estudiosos Budistas para ler os manuscritos antes da publicação. No entanto, o processo de revisão por pares é feito sob entendimentos amigáveis, como dito anteriormente. Nós não esperamos uma coisa normalmente chamada de padrões acadêmicos se essa coisa significa ‘o que você deve fazer é como escrever uma tese para um mestrado ou doutorado’. O que nós esperamos é que o artigo tenha algum ponto para fazer o leitor entender melhor o Budismo. Nós temos tentado o máximo possível fazer o formato do periódico artístico e bonito. Todos os artigos publicados são formatados em formato PDF e organizados de forma que o leitor seja capaz de imprimi-los pessoalmente e ter um belo volume. No futuro, nós esperamos que o número de volumes aumente; e por essa razão nós temos projetado todas as coisas para fazer o periódico, quando impresso para uso pessoal, formar um conjunto de livros com design artístico e bonito. Além do periódico, outra coisa que nós temos concebido em nossa mente é se for possível publicar e-books sobre o estudo acadêmico do Budismo, nós faremos isso. E certamente, espera-se que esses e-books sejam de distribuição gratuita, assim como o periódico.
Nós fazemos o nosso trabalho de coração.
Somparn Promta
Centro de Estudos Budistas e Departamento de Filosofia
Chulalongkorn Unibersity Bangkok, Thailand.”
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A APLICAÇÃO DA ÉTICA BUDISTA NA SOCIEDADE TAILANDESA
Por Preecha Changkhwanyuen
“Nessa abordagem de aplicação da ética Budista na sociedade Tailandesa, eu gostaria de dividir os problemas sociais em quatro tipos principais: problemas do sistema social; problemas do sistema político; problemas do sistema econômico; e problemas do sistema educacional. A discussão se concentrará nas abordagens a serem adotadas. Quanto à logística real de se isso é capaz de ser feito, como isso é capaz de ser feito e até que ponto isso é capaz de ser feito, essas são questões que Sociólogos, Cientistas Políticos, Economistas e Educadores estariam muito mais bem equipados para ver do que o autor e para realmente colocar essas ideias em prática, dados mais detalhados e um estudo mais aprofundado serão necessários. O autor não garante que essa abordagem seja verdadeiramente correta e boa, no entanto ele de fato afirma que essas são na verdade as suas crenças e que elas parecem ser boas nesse momento.
Os quatro problemas em discussão enfatizarão diferentes áreas de conflito que têm surgido na sociedade: a discussão dos problemas do sistema social abordará o conflito entre Materialismo e Espiritualismo; a discussão dos problemas do sistema político abordará o conflito entre Democracia e Comunismo; a discussão dos problemas do sistema econômico abordará o conflito entre a solução de problemas econômicos no sistema e a solução individual; a discussão dos problemas do sistema educacional abordará se o uso da filosofia do Pragmatismo na Tailândia conflita ou não com o Budismo. Em todos os quatro problemas, eu mostrarei qual curso de ação seria apropriado para a Tailândia à luz da ética Budista.
1. Problemas do sistema social
Quase todos os problemas da sociedade Tailandesa têm surgido do crescimento da ciência, pois isso levou ao uso da tecnologia. Por elas se sentirem inicialmente mais confortáveis, as pessoas valorizam os bens materiais e o conhecimento que lhes permite construir ou usar mais bens materiais e elas adotam prontamente ramos Ocidentais de conhecimento que auxiliam exclusivamente o desenvolvimento material. Esses ramos de conhecimento são a ciência e as ciências sociais, ambas surgindo em uma época em que o Ocidente não se interessava por valores e tinha uma ideia inflada do valor da ciência. A aceitação total dessa cultura pela Tailândia causou uma série de consequências prejudiciais. A ideia de que a felicidade resulta de possuir muitos objetos materiais para atender aos desejos dos sentidos nos levou a sustentar que a riqueza é boa porque permite que alguém obtenha as coisas que deseja. Como a riqueza é uma coisa boa, nós temos que tentar enriquecer de qualquer maneira que nós sejamos capazes. O bem e o mal não interessam aos Materialistas. Portanto, não importa quão errado o método possa ser, contanto que as leis do país não o punam e ele [o método] leve à riqueza, ele é bom. Pessoas ricas são honradas e recebem status, enquanto pessoas honestas, porém pobres, ou aquelas que têm a chance de enriquecer por certos meios, mas não o fazem porque aqueles meios são desonestos, são rotuladas de ‘estúpidas’ e não são elogiadas. Práticas desonestas em vários círculos e a criação de grupos partidários têm surgido. Aqueles que não têm a chance [de enriquecer] por não terem um grupo próprio lutam por qualquer caminho que eles sejam capazes e eventualmente aqueles que carecem de qualquer outro tipo de conhecimento ou habilidade veem a ser criminosos — não por causa de qualquer ameaça de fome, mas por causa do desejo de viver como os ricos e ter riqueza material. Portanto, os criminosos não cometem crimes para se manterem vivos, mas para obter prazeres materiais.
Tentações sensuais, como casas noturnas, têm sido abertas em profusão. A publicidade convida as pessoas a se entregarem a essas coisas, tudo com a bênção e aprovação do governo. A campanha do governo para incentivar as pessoas a serem parcimoniosas não tem chances de sucesso, pois nós sabemos que, mesmo nos tempos antigos, sem a atração da publicidade e sem esses prazeres mundanos ostensivos, as pessoas em todos os países lutavam da mesma forma por esse tipo de felicidade e investiam o dinheiro delas em tais coisas, causando problemas familiares e sociais. Hoje em dia, nós temos a publicidade para incentivar as pessoas, alimentando as degradações delas. Além disso, não há apoio para pesquisas dedicadas aos ensinamentos éticos. A pesquisa concentra-se inteiramente em bens materiais. Como nós podemos culpar as pessoas por não serem parcimoniosas quando o Estado permite que um ambiente tão desfavorável à parcimônia continue? Esse artigo não pretende discutir o assunto em detalhes, mas simplesmente apontar brevemente os principais problemas sociais que surgiram e o que o Budismo tem a dizer sobre eles.
Além disso, não há apoio para pesquisas dedicadas aos ensinamentos éticos. A pesquisa concentra-se inteiramente em bens materiais.
Eu vejo que existem dois problemas principais na sociedade: o problema de pessoas e recursos e o problema de pessoas e pessoas. Na Sociologia, esses problemas são analisados mais detalhadamente, por exemplo, em problemas com o meio ambiente, locais em declínio, sociedades urbanas, sociedades rurais, sistema familiar, classes sociais, saúde, educação, mudança social, direito, linguagem e problemas subsidiários como suicídio, grupos minoritários e crianças em situação de rua. Esses problemas surgem devido à incapacidade de abordar os dois principais problemas, como agora eu analisarei e mostrarei brevemente.
1.1. Pessoas e recursos
Todas as pessoas, ao longo dos tempos, que desejam a felicidade mundana necessitarão de duas coisas: riqueza e poder. Quando elas são pobres ou carentes, elas buscam o suficiente para viver. Uma vez que elas têm o suficiente para viver, elas acumulam para o futuro. Uma vez que elas acumulam o suficiente para si mesmas, elas acumulam para os seus filhos, netos e parentes e elas têm que acumular muita coisa. Para acumular muita coisa e proteger o que elas têm acumulado, elas necessitam de poder, portanto, elas também têm que acumular poder. Para ter poder, elas têm que ter o apoio de outras pessoas, o que significa que elas têm que acumular mais riqueza para os servos e séquitos delas. Aqueles com grande riqueza têm grandes séquitos e muita honra, porque essas coisas são exaltadas em suas próprias sociedades, mas também elas incorrem em muitos gastos, o que significa que elas têm que continuar acumulando indefinidamente.
O poder conquistado pode ser preservado por meio de riquezas, isso é verdade, mas pode haver outros que também têm acumulado riquezas e poder. Isso leva à apropriação de status e à exibição de poder. Em tempos em que a população humana ainda era pequena e os territórios dos vários países ainda não se estendiam por toda a Terra, esses dois problemas não eram particularmente difíceis: aqueles que estavam preocupados com a falta de recursos podiam ir procurá-los, mudando constantemente os seus locais de subsistência; aqueles que estavam preocupados com a sua falta de poder podiam se mudar para outros lugares. Hoje em dia, no entanto, todos os países têm grandes populações e todas as terras são tituladas. Os países não querem mais pessoas de outros países. As pessoas dentro desses países têm áreas limitadas para subsistência e não são capazes de se mover tão facilmente, então elas têm que resolver os seus problemas dentro das limitações dessas situações. Assim, o problema das pessoas e dos recursos tornou-se mais importante e agora afeta todas as pessoas na sociedade de três maneiras principais: tamanho da população, qualidade da população e disponibilidade e uso de recursos.
1.1.1. O problema do tamanho da população
As pessoas têm desejos por todos tipos de necessidades e outras coisas. Quando o número de pessoas aumenta em uma unidade, essas coisas também têm que aumentar pelo menos o suficiente para o sustento dessa pessoa. E como as pessoas não vivem apenas por um ou dois dias, mas por muitas décadas, as coisas necessárias para sustentar a vida de uma pessoa aumentam em uma quantidade impressionante. Pessoas nascem a cada minuto. Há 20 ou 30 anos, havia pouco mais de 10 milhões de pessoas na Tailândia. Ao redor de nossas casas havia jardins e campos. Arroz e peixe eram abundantes e os preços eram baixos. Embora a renda das pessoas não fosse tão alta quanto hoje, as pessoas viviam melhor do que elas vivem agora. As pessoas nascidas há 20 ou 30 anos ainda estão vivas, em sua maioria e continuarão vivas por talvez mais 20 ou 30 anos. Nessa época, a privação será muito maior do que é agora, porque a população terá aumentado mais do que nos últimos 20 ou 30 anos. Se a população continuar crescendo nesse ritmo, a ciência não terá poder para ajudar.
O crescimento populacional tem levado a uma série de problemas subsequentes. Se as pessoas se entregassem ao prazer sensual, a população continuaria a aumentar. Se um homem se casasse com dez mulheres, poderia ter dez filhos no primeiro ano. Se cada homem tivesse um grande número de esposas como esse, em um ano dez homens poderiam gerar cem filhos; ou seja, a população aumentaria dez vezes. O Buda ensinou que as pessoas não devem se perder em desejos sensuais. Se alguém for incapaz de eliminá-los completamente, então deve pelo menos obedecer ao terceiro preceito, que permite apenas uma esposa. Assim, no máximo, uma pessoa normalmente seria capaz de ter apenas um filho ou menos por ano. Esse preceito pode, portanto, ser usado para diminuir efetivamente a taxa de crescimento populacional. Na época do Buda, não havia meios contraceptivos tão eficientes quanto os usados hoje em dia. Se a contracepção for usada em conjunto com o terceiro preceito, a taxa de crescimento populacional diminuirá ainda mais, reduzindo assim os problemas decorrentes da superpopulação. Grandes populações não têm qualquer utilidade na situação atual, exceto para fornecer mão de obra para o aumento da matança e do derramamento de sangue. Quanto à subsistência, um número maior de pessoas não significa mais mãos para ajudar no trabalho como acontecia no passado, porque os lugares ou cargos de trabalho não aumentam mais com o aumento da população. O crescimento populacional apenas aumentará a quantidade e a intensidade da disputa pelos meios de subsistência.
Além da alimentação, as pessoas também têm que utilizar os quatro suportes restantes (paccaya), que são (1) saúde — elas têm que produzir medicamentos, equipamentos médicos, médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, hospitais e outros materiais médicos; (2) elas têm que encontrar locais para morar, levando aos problemas da expansão urbana como resultado da maior demanda por moradias. Com a expansão das cidades, surgem o tráfego, o descarte de resíduos e os sistemas de comunicação, exigindo grandes gastos em sua construção e projeto, bem como no treinamento de pessoal para construí-los e projetá-los. Um sistema educacional complexo tem que ser estabelecido, um maior número de livros didáticos e mais escolas e universidades construídas. Há também problemas educacionais, tais como currículos, métodos e equipamentos de instrução e padrões de ensino. Quando a economia está fraca, surgem disparidades entre os centros urbanos e as áreas rurais, levando à migração para as cidades, o que, por sua vez, leva a problemas como favelas, criminalidade, crianças sem-teto, delinquentes juvenis, desempregados e mendigos, por exemplo. A expansão urbana, tanto em termos de moradias quanto de meios de subsistência, leva ao problema de ambientes poluídos e envenenados. A vida apertada cria a necessidade de locais de relaxamento e há outros problemas numerosos demais para serem mencionados.
O problema mais importante para a sociedade reside, portanto, no tamanho da população e o objetivo do Budismo é que a população aumente o mínimo possível. Quando o crescimento populacional é pequeno, os problemas são poucos e são capazes de serem facilmente corrigidos e corrigidos a tempo. O Budismo não proíbe a prevenção da natalidade. Ele não proíbe, por exemplo, a masturbação/satisfação autônoma dos desejos, exceto para monges, entretanto, ele proíbe tirar a vida de alguém uma vez concebido, como no aborto. Os méritos e deméritos disso poderiam ser discutidos longamente, no entanto, aqui eu apenas gostaria de salientar que o Budismo não proíbe a contracepção, porque o terceiro preceito praticamente a apoia. O fato de o Budismo não proibir [a atividade sexual] categoricamente não se deve ao fato de considerar a atividade sexual algo bom, mas sim porque reconhece que seres não iluminados não são capazes de desistir dela. O Budismo apoia a contracepção, mas não a matança.
1.1.2 O problema de qualidade da população
A Tailândia é agora semelhante a outros países: ela reconhece que a grande população tem se tornado um problema quase intransponível, que fará com que as pessoas vivam em tamanha dificuldade e sofrimento que não encontrarão felicidade, mas tendo que dedicar a vida inteira a trabalhar o dia todo por um salário que mal dá para sobreviver. As pessoas tendem a pensar que pessoas de boa qualidade ajudarão a resolver o problema e serão mais capazes de fazer com que o país seja próspero do que um grande número de pessoas de qualidade inferior. Hoje em dia, na Tailândia, a palavra ‘boa qualidade’ tende a significar proficiência em ciências puras, ciências sociais e tecnologia. A proficiência em humanidades não é amplamente aceita como um tipo de boa qualidade, pois acredita-se que tal conhecimento não pode ser usado para resolver os problemas de escassez material da sociedade. Embora se fale em ‘treinamento de caráter’, trata-se apenas de um treinamento para que as pessoas se expressem como a sociedade deseja, não um verdadeiro treinamento da mente para a virtude.
Assim, nós temos muitas pessoas que são boas em falar, mas cujas bocas e mentes não estão em concordância. Quanto à educação, que busca treinar as pessoas para que sejam hábeis em se apegar ao físico, como os Cientistas o fazem e estuda a ética apenas nominalmente, o objetivo não é realmente treinar as pessoas com afinco, como o Budismo o faz, ou um treinamento de atenção plena e sabedoria. No ensino superior, em particular, pode-se dizer que não há ensino de conduta em absoluto. O ensino superior visa especificamente a aprendizagem profissional e tenta, na medida do possível, dispensar disciplinas que não se conformam com os seus ramos de conhecimento. Assim, nós produzimos Engenheiros, Arquitetos, Advogados, Contadores, Economistas, Administradores, Cientistas, Médicos e Químicos que são meros profissionais, que ganham a vida exclusivamente com a matéria que estudaram e que têm um conhecimento muito limitado e são incapazes de entender a importância de outros ramos do conhecimento. Eles enxergam apenas a importância de sua própria área de conhecimento e, assim, tornam-se [pessoas] de mente estreita (tacanhos). Uma vez que eles se tornam tacanhos, eles exaltam a si mesmos e menosprezam os outros, menosprezando outros ramos do conhecimento, mesmo que não os conheçam, ou os conheçam apenas tanto quanto um estudante do ensino fundamental. Essas são as pessoas que nós chamamos de ‘pessoas de qualidade’ na sociedade Tailandesa atual.
Quando essas pessoas de boa qualidade, de acordo com a visão do Estado, exaltam a si mesmas, menosprezam os outros e desprezam umas às outras — mesmo aquelas que também têm educação superior —, pode-se ter certeza de que elas desprezarão pessoas com menos educação do que elas mesmas. Assim, essas ‘pessoas de boa qualidade’ não são capazes de resolver os problemas do povo porque, em primeiro lugar, resolvê-los requer conhecimento de muitas áreas diferentes. Com conhecimento limitado, elas não conseguem perceber qual área do conhecimento é necessária para resolver os problemas e a cooperação interdisciplinar é improvável. Em segundo lugar, a visão depreciativa delas das pessoas as cega para a importância de seus problemas. Assim, as pessoas não têm a quem recorrer e facilmente veem a ser presa fácil de outras partes.
O Budismo não se opõe ao desenvolvimento das habilidades vocacionais por ser necessário para as pessoas que vivem em sociedade, mas também não o considera a coisa mais importante na vida. O que realmente tem valor é a qualidade de ser um bom ser humano. Independentemente da profissão de alguém, todos os ramos do conhecimento podem ser usados para o bem ou para o mal. A forma como o conhecimento é utilizado depende do tipo de pessoa que o utiliza. Uma pessoa boa o utilizará de maneira positiva, enquanto uma pessoa má o utilizará de maneira negativa. Assim, se não houver treinamento para tornar as pessoas boas, nós teremos Engenheiros, Arquitetos, Cientistas e Advogados em busca de seus próprios interesses. A maioria dos seres humanos é naturalmente inclinada a favorecer a felicidade sensual. Se elas não forem suficientemente treinadas, elas cometerão atos desonestos para obter o dinheiro necessário para encontrá-la, entretanto, se elas considerarem a bondade um bem valioso e forem bem treinadas antes de saírem para ganhar a vida, haverá bons profissionais com verdadeiro benefício para a sociedade.
1.1.3 A quantidade de recursos e a utilização deles
A quantidade de recursos no mundo é limitada e a maioria deles leva muito tempo e processos muito complexos para se formar. Assim, os recursos surgem mais lentamente do que são utilizados. Quanto mais rápido a população cresce, mais rápido os recursos se esgotam. Além do fator de crescimento populacional, os recursos também se esgotam devido ao consumo excessivo, usando-os para coisas que não são necessárias. Pessoas em sociedades urbanas usam mais recursos do que aquelas que vivem em comunidades rurais; sociedades industriais usam mais recursos do que sociedades agrícolas. Alguns recursos, como o petróleo, são usados e reabastecidos apenas com grande dificuldade ou com custos muito elevados. Alguns, tais como produtos agrícolas, são capazes de ser reabastecidos rapidamente. O número de pessoas está aumentando rapidamente e essas pessoas não sabem como fazer uso econômico dos recursos. Assim, no espaço de alguns séculos, nós temos esgotado grande parte dos recursos mundiais e agora nós estamos começando a reconhecer que certos recursos, como o petróleo, que antes era abundante, em breve estarão esgotados— não apenas para necessidades básicas, mas principalmente para bens que geram desperdício. Recursos têm sido usados para travar guerras e produzir armas de destruição. Portanto, o avanço científico não ajudou a aumentar a quantidade de recursos para os seres humanos na mesma velocidade com que os seres humanos os utilizavam. Se os seres humanos vivessem de acordo com os ensinamentos Budistas, o avanço científico os ajudaria sem levar à ameaça de esgotamento de recursos ou privação futura.
Como nós não somos capazes de resolver esse problema aumentando os recursos, nós temos que tentar resolvê-lo desacelerando o crescimento populacional o máximo possível, a fim de equilibrar o uso de recursos e a população. De acordo com o Budismo, além de não permitir que a população cresça rapidamente, também é necessário treinar as pessoas para terem vidas mais simples, de modo que o uso de recursos dela seja reduzido, para serem diligentes no trabalho para aumentar a produção sempre que possível e para usar apenas a quantidade necessária para a sobrevivência dos recursos difíceis ou impossíveis de substituir. O princípio Budista de vida ensina, portanto, o uso econômico dos recursos. Duas qualidades fundamentais a serem lembradas ao usar recursos são a atenção plena (sati) e a sabedoria (pańńa). Ou seja, tem que haver prudência no uso dos recursos para que os efeitos nocivos, como poluição e mudanças climáticas destrutivas, não surjam. Os recursos têm que ser usados com real entendimento para que eles sejam usados economicamente, ou seja, na menor quantidade possível para o resultado desejado.
Até agora, na sociedade Tailandesa, nós temos usado os recursos sem atenção plena ou sabedoria, visando apenas usá-los: derrubando árvores, por exemplo, até que as florestas sejam destruídas e a chuva não caia, ou quando cai, inunda e torna o solo salobro, como no nordeste da Tailândia. Sem floresta, a chuva lava a camada superficial do solo, resultando em solo salino. Não há circunspecção [observação PO: qualidade de quem observa com cuidado todos os âmbitos de uma questão, de uma situação, de um fato.] porque as pessoas não pensam nos efeitos nocivos, não consideram os resultados a longo prazo e não reconhecem que destruir a floresta equivale a destruir o país e o povo de toda a nação. Esse tipo de destruição tem surgido porque a ganância bloqueia completamente a sabedoria, de modo que as pessoas não conseguem ver o valor da floresta. Esse é apenas um exemplo, mas existem inúmeros outros exemplos de uso de recursos sem circunspecção ou entendimento, cujos detalhes podem ser obtidos de organizações governamentais e privadas. Assim, fica claro que, em termos de estilo de vida e uso de recursos, a Tailândia, embora seja um país Budista, tem falhado em praticar de acordo com os princípios Budistas.
1.2 Pessoas e povos
Historicamente falando, nós não somos capazes de saber por que as pessoas passaram a viver juntas. Teorias históricas, antropológicas e filosóficas têm sido apresentadas sobre esse ponto, mas nenhuma conclusão tem sido encontrada até o momento. Embora o Budismo aborde essa ideia no Aggańńa Sutta, ele não se propõe a abordar o assunto como tal, mas apenas discute as razões pelas quais as pessoas se unem para formar nações, a fim de explicar como a divisão das pessoas em castas tem que ser baseada no Dhamma e que o governante tem que ser dotado de uma quantidade particularmente generosa de virtudes, não apenas de grande poder ou riqueza.
A formação de comunidades tem levado a vários problemas. Uma questão que leva a muitas outras é a de como viver juntos. As diferentes respostas a essa pergunta levaram a diferentes sistemas familiares, econômicos e governamentais, que por sua vez são o que define as diferentes instituições que surgem dentro desses sistemas. Essas instituições são capazes de beneficiar ou prejudicar o indivíduo em termos de renda, saúde, justiça, caráter ou aprendizado.
Hoje em dia, muitas pessoas acreditam que os vários problemas que têm surgido na sociedade são resultado da nossa incapacidade de responder à questão de como viver em conjunto: isso é, nós ainda não temos encontrado o sistema adequado e, uma vez que nós o tenhamos encontrado, nós seremos capazes de viver juntos em paz e harmonia. Esse tipo de crença surge a partir da hipótese científica de que as pessoas estão inteiramente sob a influência do meio ambiente. No entanto, nós podemos ver que, na realidade, as pessoas são capazes de pensar de forma contrária ao que outras pessoas lhes ensinam, mesmo que ninguém lhes tenha ensinado essa ideia contrária. A experiência humana não envolve apenas educação. Experiências na natureza podem levar as pessoas a interpretar as coisas de forma diferente do que os seus professores lhes ensinaram. Se as pessoas não fossem capazes de pensar em nada além do que conheciam e viam e não tivessem pensamento criativo próprio, então não poderia haver inovação, porque inovação é um tipo de pensamento criativo. A capacidade de criar não é a mesma coisa que experiência, embora dependa da experiência.
Sendo assim, independentemente do sistema utilizado, sempre haverá aqueles que concordam com ele e aqueles que discordam. Aqueles que discordam pensarão, falarão ou agirão de maneiras que se opõem ao sistema o máximo que eles forem capazes. Portanto, não há como nós encontrarmos um sistema tão perfeito. Usar um sistema para mudar as pessoas é uma espécie de imposição. Se forçado no nível geral, as pessoas agirão de maneira diferente nos pequenos detalhes. Se as pessoas fossem forçadas a praticar o mesmo no nível dos particulares, nós teríamos que estabelecer uma regra de prática para cada eventualidade. Mas o número de eventualidades diferentes é incontável e, portanto, as regras a serem estabelecidas teriam que ser incontáveis. Se as regras fossem estabelecidas em tal nível, as pessoas não seriam felizes, porque teriam que seguir as ordens da sociedade desde o dia em que nascessem até o dia em que morressem e um sistema tão completo de imposição não poderia ser alterado. Dependeria do uso máximo da força e, nesse caso, um governante poderia facilmente fazer o que quisesse contra a vontade de seus súditos.
Se as pessoas não fossem capazes de pensar em nada além do que conheciam e viam e não tivessem pensamento criativo próprio, então não poderia haver inovação, porque inovação é um tipo de pensamento criativo.
Ao buscar o sistema perfeito, nós devemos considerá-los meros instrumentos de administração, algo que pode ser modificado. Nós não devemos permitir que o sistema tenha tanto poder sobre o povo. As pessoas devem ter a oportunidade de concordar ou se opor ao sistema, porque os governantes são simplesmente seres não iluminados (puthujjana), eles têm impurezas e podem ser ignorantes em certas áreas. Permitir que os governantes tenham muito poder é dar-lhes a oportunidade de seguir impurezas ou ignorância, o que equivale a permitir que pessoas más ou ignorantes governem. Nós podemos ver que os governantes tendem a cometer erros e más ações independentemente, seja em democracias, nas quais o povo tem muita liberdade para criticá-los, ou em países comunistas, nos quais o povo só pode criticá-los dentro da estrutura permitida por esse sistema. Assim, quanto menos críticas forem permitidas, ou quanto mais poder for dado ao governante, maior será a oportunidade para um governante cometer erros e ocultar más ações. Os resultados prejudiciais recaem sobre o povo.
Se os sistemas são uma ferramenta, então eles são feitos para facilitar a realização de nossos objetivos. Ferramentas não têm mente própria, elas seguem as ordens de quem as usa. Se elas alcançam resultados ou não e se os seus resultados são bons ou ruins, depende de quem as usa. Se o usuário é bom, o sistema é usado de uma boa maneira; se o usuário é mau, o sistema é usado de uma má maneira. Os vários valores que um sistema ajuda a produzir são definidos pelas pessoas. Assim, se nós pudéssemos criar pessoas boas sem ter que usar um sistema, o sistema não teria sentido. De fato, é possível criar pessoas boas dessa maneira, como pode ser visto pelo fato de que algumas pessoas não infringem leis e praticam boas ações mesmo sem serem forçadas a fazê-lo pela lei. Leis ou regulamentos devem ser usados meramente como ferramentas para impedir que pessoas que ainda não são boas o suficiente cometam más ações e proteger aqueles que fazem o bem de serem molestados pelos maus. Quanto a treinar pessoas para serem boas, esse deveria ser o dever da educação.
A educação não deve apenas ensinar as pessoas a não infringir a lei, mas também treiná-las para serem melhores do que as leis lhes dizem para ser. Se assim for, os problemas sociais também têm que ser resolvidos no nível individual, não apenas no nível do sistema: se as pessoas não são boas, independentemente do sistema em que elas estejam, elas sempre encontrarão uma maneira de praticar ações ruins e se nós mudássemos o sistema porque ele ainda permite ações ruins, então nós o estaríamos mudando para sempre. Nós tendemos a seguir a ideia dos Cientistas Sociais, que estudam principalmente sistemas, de que as pessoas exploram umas às outras porque o sistema não é bom. É verdade que um sistema ruim é capaz de dar a oportunidade para as pessoas explorarem umas às outras, no entanto, pessoas boas não farão o mal, mesmo quando há uma chance de fazê-lo, como quando um homem encontra dinheiro na rua, o pega e anuncia a sua perda para que o dono possa vir buscá-lo, mesmo que ele pudesse ter ficado com o dinheiro para si e ninguém percebesse a diferença. Se nós analisarmos a questão com sinceridade, nós veremos que as pessoas exploram umas às outras menos por conta do sistema do que por seus próprios esforços premeditados para fazê-lo e buscar maneiras dentro do sistema de explorá-lo.
A educação não deve apenas ensinar as pessoas a não infringir a lei, mas também treiná-las para serem melhores do que as leis lhes dizem para ser.
Eu não estou dizendo que os sistemas não sejam necessários, porém, eu acredito que nós não devemos superestimar o valor deles ou os seus danos, nem superestimar o fator humano, seja para o bem ou para o mal. Nós não devemos pensar que os seres humanos só são capazes de fazer o bem quando forçados por um sistema, ou que todas as pessoas são capazes de fazer o bem inteiramente sem o uso de sistemas. O Budismo aceita tanto a propensão humana natural para fazer o bem e para ser treinado para se tornarem pessoas boas, quanto a importância do sistema como uma ferramenta necessária para a convivência entre as pessoas. Isso pode ser visto no Vinaya dos monges, que é a forma de administrar o Sangha, embora isso não assume a forma institucionalizada ou legal que a administração de Sangha assume atualmente. A análise Budista dos problemas sociais é tal que se apega aos fatos. Ela é um caminho intermediário que permite levar em consideração as ideias de ambos os extremos, diferentemente das escolas extremas, que não conseguem aceitar as ideias do outro lado ou veem apenas as suas falhas, o que leva a um confronto violento antes mesmo de haver uma consideração clara de quem está errado.
Conviver em sociedade significa que as pessoas têm que trabalhar em áreas que se relacionam com a sociedade de maneiras diferentes. Essas diferenças são uma importante causa de discórdia, pois as pessoas tendem a acreditar que são sempre justas com os outros, entretanto, recebem apenas injustiça em troca. Isso é apego a si mesmo, considerando-se o eu (ser, self) como o mais importante e, assim, enxergando apenas a própria bondade. Quando surgem diferenças, segue-se uma disputa pela posição que se acredita dever obter — como pode ser visto pelas pessoas, hoje em dia, que detestam a palavra ‘classe’ e favorecem a palavra ‘equidade’ a ponto de mal considerarem o sentido em que as palavras estão sendo usadas. Elas não consideram, por exemplo, se a equidade mencionada é realmente equidade, ou se a opressão mencionada é realmente opressão.
Suponhamos que nós não usássemos a palavra ‘classe’: existem outras palavras que poderiam ser usadas em seu lugar e essas palavras não são sentidas como tendo um tom tão negativo quanto ‘classe’ e às vezes são até sentidas como muito normais — palavras como ‘empregador’, ‘empregado’, ‘chefe’, ‘equipe’, ‘funcionário’, ‘subordinado’, ‘líder’, ‘seguidor’, ‘trabalho mental’, ‘trabalho físico’. Assim, pode-se dizer que as palavras ‘classe’ e ‘equidade’ são ‘palavras coloridas’ na medida em que nos incitam a ver de forma positiva ou negativa sem considerar de acordo com a razão e os fatos. Nós somos condicionados a ver a palavra ‘classe’ como um mal e quando a palavra é usada para qualificar alguma coisa, nós tendemos a ver isso negativamente. Os Comunistas veem o sistema econômico capitalista como a opressão das classes trabalhadoras pelas classes capitalistas. Os Liberais veem os Comunistas como aqueles que colocam o poder nas mãos do governo, ou seja, dos líderes e membros do partido comunista, para obrigar as pessoas comuns a trabalhar como escravas e enganá-las, fazendo-as pensar que estão fazendo isso pelo país e por sua própria felicidade.
Se nós considerarmos esse ponto à luz dos ensinamentos Budistas, nós veremos que as diferenças entre as pessoas são um fato da natureza que deve ser aceito. Seja em termos de aparência física, inteligência, personalidade ou caráter, as pessoas são diferentes. Sendo assim, as pessoas terão habilidades e talentos diferentes, portanto, as suas tarefas têm que ser divididas de acordo com esses talentos e habilidades. No entanto, independentemente das tarefas que elas desempenham, tem que haver o princípio moral de não menosprezar os outros ou usar o poder injustamente. Todas as tarefas, independentemente da amplitude da área de responsabilidade que elas abrangem, têm igual dignidade, pois dependem umas das outras, como uma máquina: para fazer o seu trabalho corretamente, cada simples peça é importante. O que necessita ser considerado e corrigido nos sistemas é como permitir que as pessoas tenham a oportunidade de fazer o trabalho que se adapta aos seus talentos e habilidades.
A teoria social Budista é funcionalista por natureza: o relacionamento entre as pessoas se dá por meio de suas tarefas. Status e papéis são definidos pelo dever. Pessoas boas, no sentido social, são aquelas que desempenham as suas tarefas de maneira adequada e bem-sucedida; pessoas más são aquelas que não as cumprem. Entretanto, o objetivo social Budista é ser bom tanto como ser humano quanto por ter cumprido o seu dever, não um ou outro. Os deveres sociais descritos nos ensinamentos Budistas são deveres adequados à sociedade Indiana na época do Buda. Na sociedade moderna, eles podem necessitar de alguma adaptação. Por exemplo, o ‘dever de uma esposa’ na época atual, em que as mulheres trabalham exatamente como os homens, não pode ser definido como fazer todo o trabalho doméstico como era na época do Buda, pois isso seria injusto para as mulheres.
O Buda estava ensinando Indianos, então ele baseou os seus ensinamentos na sociedade Indiana. Em uma sociedade diferente, os ensinamentos necessitam ser adaptados, mas isso tem que ser feito com base na razão e na justiça. O sistema social é algo que nós mesmos criamos. Se algo nele não for apropriado, nós somos capazes de mudá-lo. O Buda considerava os indivíduos entidades mutáveis; quão mais mutável é a sociedade, que é composta por diferentes grupos de pessoas. O Buda não acreditava que todas as pessoas no mundo deveriam moldar as suas sociedades de acordo com os seus ensinamentos, no entanto, ele queria dar exemplos de quais diferentes deveres e princípios pessoas de diferentes status sociais deveriam ter. Quando as posições das pessoas na sociedade aumentam, ou a sociedade muda, as pessoas nessa sociedade têm que saber como selecionar os ensinamentos e adaptá-los para se adequarem a essas posições e a essa sociedade.
2. Problemas do sistema político
No passado, a Tailândia era governada por monarquias absolutas, mas como os monarcas respeitavam, em sua maioria, as dez qualidades reais e leis justas para o povo, o povo gozava de muita liberdade. Eu deduzi isso de um estudo das leis usadas durante os reinos de Sukhothai e Ayudhaya. Nesse artigo, eu não apresentarei os argumentos em questão, pois esse não é o meu objetivo, mas apenas exporei a minha hipótese. Posteriormente, embora a Tailândia tivesse governos democráticos, a maioria da população ainda era leal ao rei. Assim, a Tailândia tem tanto uma monarquia quanto um governo democrático eleito, como na Inglaterra. Os Tailandeses entendem e aceitam de todo o coração a instituição da monarquia. Eles não têm suspeitas ou reservas sobre ela. O governo democrático eleito, por outro lado, é novo para os Tailandeses e o povo em geral ainda não o entende nem reconhece o seu valor. O governo tem que tentar criar esse entendimento por meio da educação. Nós temos obtido o sistema democrático juntamente com um sistema de educação científica, mas nós ensinamos menos sobre democracia do que sobre outras disciplinas. Assim, a maioria do povo Tailandês não entende realmente a democracia, mas nós de fato vemos as virtudes do sistema de educação científica, do avanço tecnológico, da indústria e da economia do Liberalismo e assim temos nos tornado cada vez mais fascinados pelo desenvolvimento material. Nós tendemos a investir, vender e buscar mais lucros e temos tentado fazer com que a nossa sociedade seja mais Ocidental e viver como Ocidentais. Nós temos tentado até fazer com que os nossos costumes e cultura sejam mais Ocidentais, considerando isso um sinal de progresso. Nós acreditamos que esse progresso é um resultado da democracia. Na verdade, ainda nós não entendemos a democracia no sentido de conceder liberdade intelectual e liberdade na troca de ideias. Assim, a democracia liberal que tem se enraizado e se desenvolvido na Tailândia é aquela em que apenas o Liberalismo tem crescido, mas não o aspecto Democrático. Ou seja, nós exigimos fazer o que nós desejamos, seja benéfico ou prejudicial, mas há muito pouco pensamento racional e troca de ideias.
Assim, pode-se dizer que nós temos trazido a Democracia apenas na forma ou na estrutura básica, mas nós não temos treinado as pessoas para terem o verdadeiro espírito Democrático. Além disso, nós treinamos as pessoas para se deixarem levar pelo progresso material e permitimos que a liberdade destrua até mesmo o conforto da maioria e a economia de todo o país, por exemplo, permitindo que as pessoas importem extravagantemente uma grande quantidade de mercadorias estrangeiras e permitindo a proliferação de casas noturnas — incutindo nas pessoas o hábito de frequentar tais lugares — e colocando atividades que indiretamente criam problemas para as pessoas, como bancos, casas de penhores e seguros, nas mãos da iniciativa privada. O governo concede essas liberdades, é verdade, entretanto, há apenas um pequeno setor da população que realmente se beneficia delas e para que esse benefício seja maximizado, tem que haver exploração de várias formas. O resultado é que um grupo de pessoas tem a liberdade de enganar ou causar problemas para outro. Embora isso não seja o objetivo do governo, tal política abre a oportunidade para isso e isso é uma fraqueza, criando uma disparidade material que os Comunistas são capazes de atacar e se voluntariar para corrigir. Os Comunistas chamam isso de problema de classe e propõem um Socialismo Democrático para corrigir o fato de os ricos terem mais liberdade do que os pobres. A extravagância pode ser reduzida, mas o mesmo ocorre com as liberdades em outras áreas e o poder do Estado é tão grande que as pessoas têm pouquíssima liberdade para expressar as suas próprias opiniões. O padrão de vida das pessoas não melhora porque o Estado usa os frutos do seu trabalho para produzir armas e apoiar Comunistas em outros países. A Tailândia é uma Democracia Liberal, com os defeitos já mencionados, então há quem queira transformá-la em uma Democracia Comunista. Se eles tiverem sucesso, eles terão que assumir o fardo de invadir outros países, assim como outras nações Comunistas.
Permitir que um grupo de pessoas tenha mais liberdade do que outros, para explorá-los e ter melhores oportunidades em áreas como sustento, assistência médica, educação e segurança, não é um bom governo. Permitir tão pouca liberdade a ponto de o Estado decidir pelo povo em quase todos os assuntos não é o bem-estar do povo.
Todas as democracias, sejam elas Liberais ou Comunistas, são Democracias Materialistas que visam usar a ciência para maximizar a produção. No entanto, aumentar a produção é um tipo de destruição de recursos, portanto, isso não deve ser considerado o objetivo, mas simplesmente um método para fornecer às pessoas o suficiente para viver. Nesse sentido, todas as pessoas devem aderir ao princípio da parcimônia para que todos possam obter o suficiente. A produção requer o uso de recursos naturais, que são propriedade comum. Portanto, a maior parte dos frutos da produção deve pertencer ao lote comum. O Liberalismo permite que certas pessoas tomem esses recursos, que são propriedade comum e os vendam para o seu próprio lucro. O Estado obtém impostos, no entanto, isso não compensa a perda de recursos do país. No sistema Comunista, embora o próprio Estado organize a maior parte da produção, os frutos da produção não recaem sobre as pessoas que os produziram, mas em parte sobre os membros do Partido Comunista e em parte sobre a causa da invasão de outros países. Assim, mais uma vez, as pessoas não recebem os frutos da produção na proporção do trabalho delas.
O Budismo é uma Democracia, mas não uma Democracia Materialista. É uma Democracia Espiritual, cujo objetivo é a paz de espírito e uma vida simples, sem a necessidade de trabalhar tanto. Esse tipo de vida implica uma perspectiva diferente sobre liberdade, equidade, direito, o uso de recursos e tecnologia, como eu explicarei a seguir.
O Budismo é uma Democracia, mas não uma Democracia Materialista. É uma Democracia Espiritual, cujo objetivo é a paz de espírito e uma vida simples, sem a necessidade de trabalhar tanto.
2.1 Liberdade
Em termos de dhamma transcendente (lokuttara), liberdade é um estado em que a mente transcendeu completamente todas as impurezas mentais. Essa é a verdadeira liberdade, na qual não há apego ou escravidão a nada. Liberdade em termos mundanos, que é a liberdade em discussão aqui, é um sentimento de liberdade, liberdade que ainda contém impurezas. Liberdade como é geralmente entendida — liberdade de fazer o que se quer e liberdade de escapar de fazer o que não se quer ou de ser tratado de uma maneira que não se quer ser tratado — é, na verdade, anseio (tanhā) ou querer (wanting). Nós queremos ter o que nós gostamos e não queremos ter o que nós não gostamos. A visão Budista é que a satisfação dos desejos é como as pessoas encontram a felicidade deles, mas [a busca por] essa felicidade não tem fim, portanto, nós temos que estar sempre lutando. Quanto mais nós queremos, mais nós nos sentimos carentes. Uma vez que nós tenhamos obtido o que nós queremos, nós queremos mais e melhor e tanto melhor quanto nós formos capazes de obter tudo isso. Uma vez que tenhamos obtido uma coisa em grande quantidade, nós desejamos outra coisa mais. Nós sempre sentimos que nos falta alguma coisa ou outra. Isso é ser escravizado pelos próprios desejos, trabalhando para servir aos nossos desejos. O desejo vem a ser o nosso chefe e nós somos incapazes de pensar ou fazer qualquer coisa livremente.
A capacidade de dizer ou fazer o que nós queremos dizer ou fazer é meramente um tipo temporário de felicidade. Tendo desejos constantes por isso e aquilo, nós exigimos a liberdade de fazer isso e aquilo, então nós parecemos estar constantemente sem liberdade porque nós estamos constantemente sentindo que nos falta alguma coisa. Assim, se nós tivermos apenas alguns desejos e vontades, haverá pouco sofrimento em buscar o que nos falta. É como estar em um quarto: se nós não sentimos vontade de sair, mesmo que a porta esteja trancada, nós não sentimos vontade de lutar para sair e nós não nos sentimos aprisionados. Nesse sentido, aqueles que têm poucos desejos terão maior liberdade do que aqueles que têm muitos.
A liberdade tem que ter limitações. Na maioria das sociedades, as pessoas não têm a liberdade de infringir a lei. Ou seja, as leis são consideradas o padrão do bem. Infringir a lei é considerado um mal e as pessoas não têm a liberdade de praticar o mal. A maioria dos males na sociedade surge a partir do anseio sensual, do desejo por visões, sabores, cheiros, sons e sensações físicas. O Budismo ensina a ter apenas alguns desejos por essas coisas, eliminando assim uma causa para ações malignas. O Estado deve reduzir significativamente a liberdade em relação a visões, sabores, cheiros, sons e sensações físicas e não permitir tal proliferação dessas coisas como a que existe hoje em dia, porque as pessoas não devem ter a liberdade de se envolver com o que é uma causa para ações malignas.
2.2 Lei
As leis têm a forma de proscrições: proíbem a fala ou a ação que o Estado considera más. Afirma-se que, quando uma pessoa se abstém das coisas proibidas pelo governo, ela será boa, mas, na verdade, as leis não nos ensinam o que fazer para sermos boas pessoas. Pessoas que nunca foram vistas infringindo a lei podem não ser boas pessoas, mas simplesmente pessoas que nunca foram consideradas legalmente erradas. As leis usam a força para manter as pessoas dentro de um limite desejado. Assim, pessoas que seguem a lei não são necessariamente boas pessoas, mas simplesmente pessoas que agem bem por medo: se elas tivessem a chance de burlar a lei, elas poderiam fazê-lo. Assim, as leis apenas fazem com que as pessoas tenham medo de fazer o mal abertamente ou de forma muito extrema. A lei tende a não se interessar por males que não sejam extremos ou que não manifestem resultados imediatos, tais como beber álcool, transgredir e mentir.
O fato de as pessoas, atualmente, infringirem a lei apenas um pouco não se deve ao fato de elas conhecerem as leis ou concordarem com elas. O princípio dos advogados de que a ignorância da lei não é desculpa equivale a postular que todos a conhecem. Essa postulação é meramente uma suposição, não é um dado adquirido e é assumida dessa forma para que as leis sejam eficazes; caso contrário, haveria muitas pessoas afirmando que elas ‘não sabiam’. Mas o fato é que as únicas pessoas que conhecem as leis na Tailândia atualmente são aquelas que estudam direito e aquelas cujo dever envolve usar a lei. A maioria das pessoas não conhece as leis. Embora a postulação tenha um uso prático, ela é falsa. O fato de a maioria das pessoas não infringir a lei, mesmo sem conhecê-la, é porque foram treinadas para fazer o bem por meio de princípios morais transmitidos de geração em geração em nossa sociedade. Portanto, o dever das leis é fortalecer a moralidade, porque a moralidade não tem muito poder para infringir punições e as pessoas são capazes de facilmente transgredi-la. Entretanto, se as pessoas aceitassem a moralidade, elas seriam boas sem precisar ser forçadas. As leis, por outro lado, têm o poder de punir, porém, não de encorajar as pessoas a fazer o bem por conta própria. Portanto, o Estado não deve abandonar a moralidade porque a lei não pode substituí-la. Se o Estado encoraja as pessoas a serem morais, então não seria necessário recorrer tanto à lei, pois as proibições e prescrições da moralidade são mais rigorosas do que as leis. Pessoas que já conseguem seguir os ensinamentos morais não encontrariam dificuldade em cumprir as leis.
Se o Estado encoraja as pessoas a serem morais, então não seria necessário recorrer tanto à lei, pois as proibições e prescrições da moralidade são mais rigorosas do que as leis. Pessoas que já conseguem seguir os ensinamentos morais não encontrariam dificuldade em cumprir as leis.
2.3 Equidade
De acordo com a visão Budista, nós temos que aceitar o fato de que as pessoas não podem ser iguais, independentemente da perspectiva que nós consideremos. Em termos de governo, por exemplo, governantes e governados têm que ter status diferentes e o governo é uma necessidade social. Portanto, tem que haver inequidade em termos de governo. Em termos econômicos, como diferentes pessoas têm diferentes níveis de inteligência e laboriosidade, seria injusto forçá-las a ter o mesmo nível de renda. Por outro lado, não seria justo que aqueles com baixa renda pagassem tantos impostos quanto aqueles com alta renda. Em termos de virtudes, se os criminosos fossem honrados tanto quanto as pessoas honestas, pessoas heróis ou religiosas, o bem e o mal teriam o mesmo valor. Pode haver equidade entre as pessoas em duas frentes: elas são iguais no sentido de que são igualmente protegidas pela lei e são iguais por serem criaturas da mesma espécie.
Em relação a esse último tipo de equidade, quando considerado de acordo com os princípios da biologia, nós descobrimos que, embora as pessoas possam pertencer ao mesmo grupo biológico, elas não são fisicamente iguais. Portanto, nesse sentido, significa basicamente que elas são iguais, pois são igualmente seres humanos. O Buda não via o valor dos seres humanos em seu corpo físico ou aparência, mas em sua conduta. Assim, voltamos à ideia original de que pessoas que se comportam como criminosas não devem ser tratadas da mesma forma que pessoas honestas, mesmo que sejam pessoas da mesma forma. Se interpretássemos o valor dos seres humanos em um sentido mais amplo, nós teríamos que dizer que, como pessoas, eles deveriam ser tratados da mesma forma no nível básico: ou seja, deveria haver pelo menos um padrão pelo qual as pessoas não fossem tratadas como animais ou objetos inanimados. As pessoas não deveriam ser vendidas como mercadorias, por exemplo. No entanto, tal interpretação mostra que as pessoas são iguais no nível mais básico, mas não em níveis mais elevados.
O mesmo se aplica em termos de equidade jurídica: trata-se apenas de uma equidade teórica, pois nem todas as pessoas conhecem a lei. Aqueles que conhecem melhor as leis são mais protegidos por elas e os ricos têm mais chances de se beneficiar da lei. Entretanto, essas falhas práticas podem ser corrigidas mais facilmente do que [as falhas de] outros tipos de equidade, porque o Estado é capaz de ajudar a manter a justiça oferecendo representação legal gratuita aos pobres ou fornecendo educação jurídica básica à população. Embora seja difícil de colocar em prática, ainda é uma possibilidade. No entanto, a equidade nesse nível não é razão suficiente para afirmar que somente quando as pessoas forem equivalentes em todos os aspectos haverá justiça.
O Buda sustentava que as pessoas eram definitivamente diferentes — não em termos de nascimento, status ou educação, mas em termos de conduta. Portanto, o respeito por uma pessoa deve ser baseado em sua conduta. Esse status em termos de conduta é mais valioso do que conhecimento, habilidade ou riqueza; portanto, nós não devemos avaliar as pessoas em termos de sua riqueza. De fato, o Budismo considera a conduta mais valiosa do que riqueza, posição e elogios, no entanto, na sociedade esses são símbolos de status. Para pessoas que não se apegam a essas coisas, elas são simplesmente símbolos dados a elas por outros. O método Budista consiste em honrar por meio de ‘anumodanā’: apreciar a bondade da conduta de uma pessoa. Considerado sob essa ótica, nós vemos que a sociedade Budista busca honrar as pessoas boas, mostrar que ações boas e más têm valores diferentes e honrar as pessoas em termos de suas boas ações. Mas não as honra com coisas de valor econômico, como riqueza e dinheiro, ou de valor social, como poder e posição. Coisas de valor econômico devem ser recompensadas a pessoas que são diligentes em ganhar a vida, enquanto coisas de valor social devem ser recompensadas a pessoas que governam pacificamente.
Mas, independentemente de nós considerarmos em termos de conduta, economia ou sociedade, as pessoas não devem ser equivalentes, pois tal equidade seria injusta. Da mesma forma, julgar as pessoas apenas com base em uma dessas considerações, como em termos econômicos ou sociais e recompensar todos os tipos de ações com riqueza ou posição social, também é injusto. Nós devemos considerar que tipo de bondade é a ação e recompensá-la adequadamente. Por exemplo, um soldado que luta bravamente deve ser recompensado com uma medalha por bravura, não com um aumento salarial. A posição acadêmica de um professor não deve ser usada para avaliar um salário. Os salários devem ser tais que sejam uma provisão para ganhar a vida e aumentados de acordo com o número de anos que uma pessoa ocupa uma posição e trabalha honestamente: ou seja, considerando quão honestamente alguém tem cumprido o seu dever, tomando o número de anos na posição como o padrão geral. A posição social será controlada e não será permitida uma grande diferença por meio de salários determinados pelo Estado, enquanto talentos e habilidades são considerados pontos de honra.
Aqueles com outras profissões têm que pagar impostos a uma taxa na qual não lhes sobre tanto a ponto de levarem vidas extravagantes, para que a porta não seja aberta ao surgimento de muitas commodities extravagantes. Se nós considerarmos sob essa luz, nós vemos que a iniquidade não levará a tanta disparidade a ponto de surgir a exploração. Mas se as pessoas não conseguem viver dessa maneira porque elas se acostumaram à extravagância sensual, então pelo menos nós deveríamos reduzir gradualmente as extravagâncias, uma a uma e assim, eventualmente, viver como Budistas. Tal vida seria aquela em que nós poderíamos ser felizes, porém, até agora nós não tivemos a oportunidade de experienciá-la.
2.4 Ciência e tecnologia
Os avanços científicos e tecnológicos têm permitido que as pessoas vivam com muito mais conforto. O conhecimento científico e tecnológico é uma verdade natural, não sendo bom ou mau em si mesmo. Se ele produz bons ou maus resultados depende de quem o utiliza. Esses tipos de conhecimento têm sido usados para beneficiar os seres humanos e para destruí-los. O conhecimento às vezes tem sido usado de maneiras destrutivas como resultado da ignorância, como no uso de pesticidas ou na ingestão de medicamentos sem pleno conhecimento de suas qualidades, porém, mais perigoso é o uso da ciência para fabricar armas capazes de destruir pessoas e o meio ambiente em grande número. Além disso, o conhecimento científico é um conhecimento de coisas materiais. Ele é capaz de ser usado para transformar recursos naturais em formas que satisfaçam os desejos humanos, no entanto, os desejos humanos não têm fim. Assim, quanto mais capazes nós somos em transformar os recursos naturais, mais nós os consumimos avidamente, com o resultado de que eles logo desaparecerão.
O conhecimento científico e tecnológico traz felicidade, no entanto, não há como os seres humanos ficarem satisfeitos com a felicidade que recebem. Portanto, a busca pela felicidade apenas por meio do conhecimento científico não é capaz de fazer com que os seres humanos sejam felizes. Para que as pessoas sejam felizes, elas têm que saber ‘o suficiente’, como se contentar com uma vida simples. Se os seres humanos tivessem desejos tão simples, o conhecimento científico já disponível seria suficiente para lhes proporcionar uma felicidade quase perfeita. Assim, o Estado deve implementar políticas pelas quais as pessoas vivam de forma simples e usar o conhecimento científico e tecnológico como meio de proporcionar conforto físico às pessoas, para que elas não precisem suportar trabalho pesado indevido e tenham tempo de lazer suficiente para refletir sobre religião [espiritualidade] e encontrar paz de espírito. Se o Estado não restringir as pessoas a estilos de vida simples, elas serão forçadas a trabalhar duro por vidas extravagantes e se afastarão ainda mais da religião [espiritualidade].
Em resumo, uma sociedade governada por uma Democracia Espiritual Budista seria aquela que teria um modo de vida muito simples. As pessoas desempenhariam os seus deveres com um entendimento da importância da convivência, sem esperar recompensas materiais excessivas. Elas teriam conforto material como resultado do conhecimento científico e tecnológico e adeririam firmemente aos princípios do Budismo e sempre se esforçariam para se conduzir bem. O Estado teria o dever de zelar pela concórdia e defesa internas para que o país pudesse proceder de acordo com essas políticas. As leis do Estado teriam que apoiar tal modo de vida. Atividades ou negócios que tendam ao mal, de acordo com os princípios Budistas, devem, sempre que possível, ser controlados e onde não for possível controlá-los, então têm que ser buscadas maneiras de reduzi-los e encorajar as pessoas a reconhecerem os seus erros. O Estado teria o dever não apenas de governar, mas de governar as pessoas para que sejam boas, porque somente a bondade é capaz de fazer com que elas sejam realmente felizes.
3. Problemas do sistema econômico
Quando as pessoas em uma sociedade são pobres, o sistema econômico é de extrema importância, pois é ele que ajudará a aliviar a pobreza. Hoje em dia, a população tem aumentado, os recursos têm diminuído, o custo de vida tem aumentado e as pessoas se sentem mais pobres. Elas têm que trabalhar duro, porém, a sua renda mal dá para sobreviver. Essa é uma situação que as pessoas não desejam e elas esperam por um sistema econômico que resolverá o problema. Quando havia menos pessoas e mais recursos, o sistema Capitalista era compatível com o caráter das pessoas, pois ele dava a todos a oportunidade de enriquecer, desde que eles tivessem inteligência e dedicação. Os povos do mundo Ocidental, que adotaram esse sistema em primeiro lugar, tendo reduzido os seus próprios recursos, partiram em busca de colônias das quais eles pudessem extrair recursos.
Mas hoje em dia a situação tem mudado. Não importa quão industriosas ou inteligentes as pessoas sejam, é difícil enriquecer. Aqueles que são capazes de enriquecer são aqueles que já acumularam os seu capital no passado. Existem poucas famílias ricas e a maioria das pessoas é pobre e tem que usar o trabalho delas em troca da subsistência diária. À medida que o número de pessoas aumenta, torna-se cada vez mais difícil encontrar trabalho, o que nos leva ao desemprego. Algumas pessoas têm que ganhar a vida de forma desonesta. Como o sistema Capitalista apresenta esses problemas, tem ocorrido tentativas de introduzir diferentes sistemas, como o Social-Democrata e o Comunista, para resolver problemas econômicos, buscando maneiras de distribuir renda de forma que a disparidade entre ricos e pobres não seja tão extrema.
Se nós aceitamos a verdade de que a população mundial é grande e os recursos estão diminuindo constantemente, nós não podemos aumentar a produção sem destruir esses recursos. Os vários sistemas que nós usamos para resolver o problema só são capazes de fazê-lo temporariamente e o uso de recursos deles não é apenas para consumo. Por exemplo, em países Comunistas, o próprio Estado é o Capitalista, mas ao invés de distribuir a produção para toda a população, para que as pessoas sejam capazes de viver com conforto, o Estado se envolve em guerras e a guerra, seja por justiça ou por qualquer outra causa, sempre requer o uso de enormes quantidades de capital. Assim, o método Comunista não é uma solução de problemas para trazer o bem-estar da população, mas sim uma reorganização da economia para que o Estado tenha dinheiro suficiente para ir à guerra.
Quando a população aumenta e os recursos diminuem, nós não somos capazes de aumentar os recursos para atender a população. Portanto, a solução não reside apenas no sistema econômico. Nenhum sistema econômico é capaz de resolver esse problema se nós não reduzirmos a população e encorajarmos as pessoas a viverem de forma menos extravagante, reduzindo assim a taxa de consumo de recursos em dois graus. Se o Estado implementar tal política, é possível resolver problemas econômicos, no entanto, nós não temos que medir riqueza ou pobreza em termos da quantidade de bens materiais que as pessoas têm.
O Budismo resolve problemas econômicos reduzindo a taxa de crescimento populacional usando, por exemplo, o terceiro preceito, que reduz a extravagância, não permitindo que as pessoas se deixem iludir por visões, sabores, cheiros, sons e sensações físicas e levando uma vida simples, entendendo as necessidades da vida como os quatro suportes: comida, abrigo, roupas e medicamentos. Além de um modo de vida simples, o Budismo também ensina as pessoas a serem trabalhadoras, pacientes e frugais. Não há como pessoas que viveram dessa maneira serem pobres, porque riqueza ou pobreza são sentimentos. Se nós estamos sempre querendo uma coisa ou outra, então sempre nós sentimos que nos falta algo: se nós não queremos nada, nós sentimos que temos o suficiente. Assim, se nós queremos apenas um pouco, a nosso sentimento de falta será pequeno; ou seja, nós não nos sentimos pobres. As pessoas mais gananciosas são as que se sentem mais pobres, mas as pessoas que não são gananciosas, mesmo que elas não tenham muito dinheiro, elas não se sentem incomodadas, elas não se sentem pobres.
O dever econômico do Estado não é aumentar a renda nacional. Se os ricos são muito ricos e os pobres são muito pobres, a renda média nacional pode ser alta. [O Estado] tem que, ao invés disso, encontrar maneiras de garantir que todas as pessoas tenham o suficiente e elogiar aqueles que são trabalhadores e honestos, não aqueles que são ricos. O sistema econômico é um método para controlar a atividade econômica, de modo que a exploração do trabalho não ocorra. Pessoas industriosas têm que ter a oportunidade de trabalhar e quanto mais elas trabalham, maior é o salário delas. O Estado tem que garantir a justiça econômica e não usar um sistema econômico que cuide dos interesses dos ricos enquanto as pessoas sofrem, preocupando-se, por exemplo, mais com os interesses dos comerciantes do que com os interesses dos produtores, ou mais com companhias de seguros ou casas de penhores do que com o sofrimento das pessoas em decorrência das atividades desses negócios. No entanto, o Estado não deve tomar para si tanto do suor e do trabalho de pessoas industriosas que se esforçam para se estabelecer, a ponto de essas pessoas se tornarem pobres. Pessoas industriosas devem ter uma posição melhor do que as preguiçosas, mas elas não devem ser tão ricas a ponto de gerar muita disparidade. A justiça econômica não tem que ser a uniformidade econômica, mas sim a adequação à capacidade e à atividade. O Estado tem a responsabilidade de dar a todas as pessoas a oportunidade de usar a sua inteligência e atividade. Nesse sentido, o sistema atuará como um meio para atingir o objetivo, que é a recompensa econômica de acordo com as capacidades de cada um.
4. Problemas com o sistema educacional
A educação na Tailândia tem sido fortemente influenciada pela filosofia do Pragmatismo. Isso pode ocorrer porque os educadores Tailandeses têm recebido a sua formação nos Estados Unidos, um país que, em geral, favorece essa filosofia. Assim, nós temos adotado o princípio educacional de que educação é vida. Esse princípio visa que o estudante resolva os seus próprios problemas, apresentando-lhes problemas da vida real para que desenvolvam a capacidade de resolvê-los por si mesmos no futuro. Portanto, educação e vida não podem ser separadas. Por essa razão, na implementação prática desse princípio, coisas que não podem ser usadas para resolver problemas da vida cotidiana não devem ser estudadas. O currículo tem que ser constantemente modernizado e, como a sociedade está em constante mudança e os problemas também estão mudando, a solução de problemas não pode ser alcançada por meio de ideias ou valores de outra sociedade ou época. A implementação desses princípios amplos tem levado a uma interpretação Progressista, um tipo radical de interpretação que não está em consonância com a filosofia do Pragmatismo. Os Progressistas interpretam os princípios educacionais do Pragmatismo como significando que todos os valores ou soluções antigos têm que ser descartados e os estudantes têm que buscar novos valores por conta própria. É verdade que essa abordagem incentiva as pessoas a buscarem maneiras novas e inovadoras de pensar, mas não estudar o antigo significa que elas têm que perder tempo inventando por si mesmas o que já foi pensado por outros e não enxergar os defeitos e atributos das ideias antigas. Além disso, para escolher apenas as partes do [currículo] original que podem ser usadas para resolver problemas do presente, quem faz a escolha tem que ter um bom conhecimento desse currículo original para saber quais partes devem ser escolhidas. [Eles dizem para] descartar o antigo ou escolher apenas as partes que podem ser usadas para resolver problemas do presente, mas na prática não é possível escolher entre o antigo. Assim, nós vemos muitos casos de pessoas hoje em dia que dizem ter novas ideias quando, na verdade, elas estão repetindo as ideias antigas, sem o conhecimento tanto dos próprios pensadores quanto daqueles que as recebem. Se esses pensadores realmente têm boas ideias, é uma pena vê-los perdendo tempo reformulando as antigas.
Não é necessário interpretar o Pragmatismo na educação de forma Progressista, o que é irracionalmente radical e, de modo geral, a filosofia do Pragmatismo não se apega a tais ideias, visto que o Pragmatismo é apenas um método filosófico. Ou seja, ele pode aceitar qualquer sistema filosófico que seja capaz de ser colocado em prática. Mesmo as religiões, se elas são capazes de ser usadas para resolver problemas, elas são aceitáveis para o Pragmatismo e reconhecidas como formas válidas de resolvê-los. As ideias dos Progressistas que interpretam o Pragmatismo de forma completamente intransigente, juntamente com a educação científica, têm levado os Progressistas a adotarem a interpretação radical de que o Pragmatismo aceita apenas verdades científicas e, portanto, é necessário abandonar todas as ideias espirituais, por serem antigas, ultrapassadas e anticientíficas. Esse tipo de ideia não é Pragmatismo verdadeiro. Os Pragmatistas são conciliadores e têm a mente aberta na aceitação de ideias. Independentemente do sistema, a cooperação pode ocorrer se ambos os lados se abrirem às ideias e críticas um do outro.
Esse tipo de abertura fez com que o Pragmatismo simpatizasse e encorajasse a Democracia e ser Democrático é considerado um dos objetivos importantes da educação. O fato de o Pragmatismo aceitar todas as filosofias que são capazes de serem usadas para resolver problemas demonstra que não se opõe ao estudo da religião ou ao ‘conhecimento antigo’, mas incentiva o estudo em uma base ampla, exceto pelo fato de enfatizar que a educação será mais útil à vida quando estudar os problemas que dizem respeito à vida; isso é, estudar as coisas antigas de maneira prática. Tudo o que estiver apenas um pouco conectado aos problemas, embora isso possa estar nos textos, não necessita ser enfatizado. Isso não significa que nós não devamos preservar esse conhecimento, porque nós nunca somos capazes de ter certeza de que nós não necessitaremos dele em algum momento no futuro. O Pragmatismo é uma filosofia que ama o aprendizado, ama a ação aprendida, ama a cooperação e o entendimento. Ele não possui a característica de Radicalismo que os Progressistas tentam lhe dar, com a sua interpretação extrema e de fato parece se aventurar no Ecletismo, que seleciona e coleta as melhores partes de outras filosofias.
Observando essas duas interpretações do Pragmatismo, nós vemos que a interpretação Progressista não incentiva as pessoas a adquirirem conhecimento verdadeiro, mas, ao invés disso, as torna tacanhas, o que não é característico de um Erudito e de um Democrata. Esse último tipo de interpretação parece estar mais em consonância com os objetivos do Pragmatismo e ser mais útil à educação. Se o Pragmatismo for interpretado dessa forma, não entrará em conflito com a filosofia Budista, pois essa também aceita a aplicação do conhecimento para a solução dos problemas da vida, com a diferença de que o Budismo ensina sobre a felicidade e o sofrimento humanos e não sobre coisas materiais. No entanto, quando o conhecimento de coisas materiais ajuda as pessoas na sociedade a serem felizes, o Budismo não afirma que tal conhecimento não valha a pena ser estudado, apenas que não deve ser considerado a única coisa importante, pois, se as pessoas se iludirem com coisas materiais, elas receberão sofrimento e não felicidade.
A busca pelo conhecimento através do uso da própria reflexão racional é o importante princípio claramente delineado no Kesaputta ou Kālāma Sutta. Ouvir as ideias dos outros e buscar conclusões através da razão, características da Democracia, eram coisas que o Buda ensinava em sua época. A diferença entre os ensinamentos dele e o Pragmatismo é que o Pragmatismo propõe métodos para usar o conhecimento, mas não propõe o conhecimento em si, pois os Pragmatistas defendiam que o conhecimento deveria ser obtido de outras fontes, como as ciências. O Budismo também ensina o conhecimento que deve ser colocado em prática. Assim, se nós propuséssemos um princípio Budista de educação ao invés de um Pragmatista, nós obteríamos pessoas que poderiam ser consideradas verdadeiros estudiosos ou sábios — não apenas pessoas com conhecimento profissional, mas boas pessoas. Ser uma boa pessoa tem uma influência importante no uso do conhecimento. Nós somos capazes de ver que hoje em dia muitas pessoas cultas usam o conhecimento delas para promover os seus próprios interesses pessoais, usam a inteligência delas para destruir os outros a fim de obter riqueza, posição e honra e usam a inteligência delas para contornar leis que são prejudiciais aos seus interesses e buscam maneiras de usá-las para o próprio benefício delas. Se esse for o caso, quanto mais inteligentes as pessoas são, maior o perigo que elas representam para o país se não houver bondade para constrangê-las. Quando as pessoas são inteligentes, não importa quais leis existam, se elas quiserem contorná-las, elas o farão.
Não é possível criar uma lei que ninguém possa quebrar, mas nós podemos criar pessoas que não pretendam contornar as leis e usar leis adequadas para a justiça e o benefício do país. Ao criar tais pessoas, a bondade é um fator importante para decidir se uma pessoa tem aprendizado ou não. Se as pessoas têm apenas conhecimento, mas não boa conduta, elas não devem ser chamadas de cultas. No entanto, o Estado tem que definir claramente o que é essa boa conduta. Na sociedade Tailandesa, não há padrões melhores do que os ensinamentos do Budismo para definir quais ensinamentos devem ser incluídos no currículo, entre os que tratam da conduta mundana e os que os membros eruditos da sociedade devem praticar. Se [um estudante] apresentar falhas nesses aspectos, as suas notas de conduta devem ser reduzidas. Essas notas têm que ser consideradas fatores importantes para decidir se um estudante conclui os seus estudos ou não. Se as notas de conduta forem severamente reduzidas, ele não deve ser autorizado a se formar, porque as pessoas que usarão o conhecimento delas em benefício do país têm que ser pessoas boas, não más.
Não é possível criar uma lei que ninguém possa quebrar, mas nós podemos criar pessoas que não pretendam contornar as leis e usar leis adequadas para a justiça e o benefício do país. Ao criar tais pessoas, a bondade é um fator importante para decidir se uma pessoa tem aprendizado ou não. Se as pessoas têm apenas conhecimento, mas não boa conduta, elas não devem ser chamadas de cultas.
O próximo problema é que, atualmente, muitos dos professores que nós temos são pessoas más: há professores que são desonestos, que abusam sexualmente de seus estudantes, que se embriagam e se tornam violentos e que têm muitos outros tipos de má conduta. A razão para isso é que hoje em dia nós aceitamos professores sem considerar a conduta deles. Isso faz com que os estudantes os vejam como nada melhores do que eles próprios e, assim, sejam encorajados a fazer todo tipo de maldade, com o professor incapaz de dizer qualquer coisa, ou, se o fizer, os estudantes não prestam atenção. Os professores são impotentes para punir os estudantes. O Estado, por sua vez, não está interessado em controlar de fato a conduta de professores e estudantes. Se os professores agem dessa maneira, dar-lhes o poder de cortar as notas dos estudantes baseado na conduta será uma abertura para que professores mal-intencionados cometam ainda mais erros, como colocar uma arma nas mãos de um bandido. Portanto, os professores têm que ter uma conduta boa e impecável. Professores que tem apresentado falhas na conduta deles têm que ser severamente punidos e removidos de seus cargos. Por outro lado, ao fazer isso, o Estado tem que estipular claramente as diretrizes para a conduta dos professores.
O Budismo acredita que os professores têm que ser exemplos, eles têm que ter corações bondosos e compassivos e ter um desejo sincero pelo bem-estar dos estudantes. Quando os professores são assim, eles serão como segundos pais para os estudantes, pessoas dignas de reverência (pūjanīyapuggala). Os professores que cometem erros hoje em dia querem que os seus estudantes continuem a tratá-los como pūjanīyapuggala, mesmo que não tenham abandonado os seus maus hábitos. No entanto, os estudantes não podem reverenciá-los. Portanto, o Estado tem que ser rigoroso na busca por bons professores desde o início, sem medo de perder professores que cometem má conduta e fiquem sem professores. O Estado deve considerar que não ter professores é melhor do que ter professores ruins, para que as crianças não sejam arruinadas por maus ensinamentos ou exemplos. As chances de as crianças se tornarem más por conta própria ainda são menores do que se tornarem más por causa de maus professores. Ao apoiar maus professores, o Estado está intencionalmente criando pessoas más dentro do Estado.
Percebe-se que os princípios da educação aqui enunciados são compatíveis, tanto em termos do objetivo de formar pessoas boas com a aprendizagem na sociedade, quanto do currículo que enfatiza o conhecimento acadêmico e a bondade em conjunto. A pessoa importante é o professor, que é o exemplo de alguém bom, culto e de boa conduta. Esses princípios são capazes de serem concretizados quando os membros do governo entendem do assunto e os apoiam sinceramente, considerando o futuro do país mais importante do que os seus próprios [interesses]. Se as pessoas receberem uma educação que lhes permita obter conhecimento e bondade, a sociedade não ficará confusa.
O incentivo não apenas à educação formal, ou seja, à educação oficial do Estado, mas também à educação informal, é importante. O Estado tem que controlar o ambiente para não se opor às virtudes ensinadas na educação formal, não apenas ensinando os estudantes a ver os defeitos dos vícios (apdyaniukha) contudo, incentivando a proliferação de casas noturnas por todo o lugar. A mídia de massa também tem que desempenhar um papel na educação, não apenas no entretenimento. Os profissionais da mídia têm que assumir alguma responsabilidade em transmitir conhecimento corretamente, por exemplo, não apresentando notícias que não sejam infundadas, ou pelo menos conhecendo a língua Tailandesa o suficiente para não usá-la de forma equivocada, como vemos com tanta frequência hoje em dia; caso contrário, eles estarão contradizendo a política educacional. A mídia de massa alcança um grande número de pessoas. Espalhar alguma coisa errada para a maioria das pessoas equivale a obstruir a educação.
Se o governo considera os erros que aparecem na mídia de massa como insignificantes, isso equivale a permitir que [a mídia] destrua a qualidade das pessoas e prejudique o país. Se nós não podemos usar a mídia de massa para a educação, pelo menos nós não devemos permitir que ela seja usada de forma a obstruir o desenvolvimento da educação. Essas reflexões sobre a educação baseada em ideias Budistas podem parecer mais rigorosas do que as praticadas atualmente, mas isso se deve ao fato de a prática atual ser muito frouxa e negligente. A educação, de acordo com as ideias aqui propostas, não é uma educação excessivamente rigorosa, mas sim uma educação séria, pois a educação do país não é apenas um jogo.
A aplicação da filosofia Budista na sociedade Tailandesa, conforme descrita aqui, é a visão pessoal do autor, que deseja apresentar uma abordagem sobre como a aplicação da filosofia Budista à sociedade Tailandesa pode realmente ocorrer. Se ela é capaz de ser aplicada de outras maneiras ou não e como é capaz de ser implementada, são questões que os interessados podem abordar para estudo e pesquisa adicionais. O autor apenas tem sugerido uma abordagem, no entanto, espera que ela seja útil para o estudo daqueles que tentam aplicar a filosofia Budista à sociedade Tailandesa no futuro.
[Traduzido da versão Tailandesa por Bruce Evans]
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Imagem: pexels-zaonar-nyaninda-547935324-30161763 25.04.2025
Bangkok, Thailand – Foto de Zaonar Nyaninda
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A Espiritualidade nas Empresas trata-se de uma Filosofia cujos Princípios são capazes de ajudar tanto as Pessoas quanto as Organizações.
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