O que significa Confusão de Níveis?

Para responder a essa questão de suma importância para o perfeito entendimento e a efetiva prática do sistema de pensamento de Um Curso em Milagres, nós buscamos inspiração nos ensinamentos do professor de Deus Robert Perry, didático divulgador do Curso, em artigo disponível em Inglês no site https://circleofa.org/library/what-is-level-confusion-2/, que estamos transcrevendo em tradução livre.

Tradução livre Projeto OREM®

O autor enfatiza que os seus estudantes ficam confusos sobre a confusão de níveis desde que o Curso foi publicado e afirma que todos nós ficamos confusos também. Segundo o autor, para realmente entender o Curso, nós temos que voltar às Anotações Originais da escriba Helen Schucman, especialmente as suas Anotações sobre os princípios dos milagres, onde na verdade esse tema é o foco principal de três deles.

“Nessas anotações, nós podemos ver que a confusão de níveis em si mesma é um princípio bastante amplo. É qualquer instância em que você pega os atributos de um nível e os atribui a outro nível. Isso é capaz de tomar várias formas.

No entanto, existe uma forma mais rotineira que ela assume, que é confundir o nível espiritual [mente] com o nível físico [corpo]. Isso significa conceder atributos ao nível físico que pertencem adequadamente ao nível espiritual.

Isso significa, por exemplo, pensar que o corpo e não a mente é ‘o altar da verdade’. Isso significa pensar que o sexo, ao invés da união com Deus, traz verdadeira ‘proximidade’ e ‘amor’. Significa pensar que a identidade de uma pessoa está no corpo e não na mente.

Em outras palavras, o significado de ‘confusão de níveis’ é ver os atributos do nível espiritual – verdade, a nossa identidade, amor, proximidade e felicidade – como residindo, ao invés disso, no físico.

Agora, esse conceito aparentemente misterioso vem a ser extremamente relevante e prático, pois esse tipo de confusão caracteriza as nossas vidas.”

Como diz o autor, nós vivemos em um estado constante de ver a realidade, a identidade e a felicidade como residindo no físico e não no espiritual. Essa confusão é tão profunda que parece que seria necessário um milagre para nos endireitar e isso é pura verdade.

Na verdade, esse é em grande medida o propósito dos milagres:

Um milagre reorganiza a ordem de percepção e coloca os níveis em sua verdadeira perspectiva.

Dr. Kenneth Wapnick esclarece que o Curso aborda dois níveis de experiência: o estado de Céu (Nível I) – e o estado de mente e corpo (Nível II). [vide gráfico]

“Uma vez que nós estamos identificados no nível inferior da crença de que nós somos corpos no mundo (Nível II), nós realmente necessitamos explorar a diferença entre a nossa experiência aparente como corpos e como nós retornamos à consciência no nível da realidade [awareness] de que nós somos realmente tomadores de decisões em nossa mente (círculo azul no gráfico), constantemente escolhendo entre o ego como o nosso guia ou o Espírito Santo.

O Curso diz que nós necessitamos perceber que tudo o que nós fazemos e pensamos como corpos (e cérebros) no mundo é apenas um reflexo de um de dois pensamentos (ou seja, a escolha de separação ou a de Expiação), ou um de dois professores (o ego ou o Espírito Santo) em nossa mente. (1)

Quando nós entendemos totalmente essa escolha e deixamos o ego ir, então Deus dá o ‘Último Passo‘ e nos leva de volta à nossa consciência no nível da realidade [awareness] de nosso Ser Verdadeiro no Céu (Nível I do gráfico).

O Curso diz:

“Milagres rearranjam a percepção e colocam todos os níveis em perspectiva verdadeira. Isso é cura [heal] porque a doença vem da confusão de níveis.” (T-1.I.23:1-2)

“Ficar com medo parece ser involuntário; algo além do teu próprio controle. Entretanto, eu já disse que só os atos construtivos devem ser involuntários. Meu controle pode se encarregar de todas as coisas que não têm importância, enquanto minha orientação pode dirigir tudo o que tem, se tu escolheres assim. O medo não pode ser controlado por mim, mas pode ser autocontrolado. O medo me impede de te dar o meu controle. A presença do medo mostra que fizeste com que pensamentos corporais subissem ao nível da mente. Isso os remove do meu controle e faz com que te sintas pessoalmente responsável por eles. Essa é uma confusão óbvia de níveis.” (T-2.VI.1:1-8)

“Eu não fomento a confusão de níveis, mas tu tens que escolher corrigi-la. Não desculparias um comportamento insano da tua parte dizendo que não pudeste evitá-lo. Por que serias condescendente com pensamentos insanos? Há uma confusão aqui que farias bem em olhar com clareza. Tu podes acreditar que és responsável pelo que fazes, mas não pelo que pensas. A verdade é que és responsável pelo que pensas, porque é só nesse nível que podes exercitar a escolha. O que fazes vem do que pensas. Tu não podes separar-te da verdade ‘dando’ autonomia ao comportamento. Isso é automaticamente controlado por mim, tão logo coloques o que pensas sob a minha orientação. Sempre que sentes medo, é um sinal seguro de que permitiste que a tua mente criasse de forma equivocada e não me permitiste guia-la.” (T-2.VI.2:1-10) (3)

“Nada pode prevalecer contra um Filho de Deus que entrega seu espírito nas Mãos de seu Pai. Ao fazer isso, a mente desperta do seu sono e lembra-se do seu Criador. Todo o senso de separação desaparece. O Filho de Deus é parte da Santíssima Trindade, mas a própria Trindade é uma. Não há confusão dentro dos Seus Níveis porque Eles são uma só Mente e uma só Vontade. Esse propósito único cria a perfeita integração e estabelece a paz de Deus. Entretanto, essa visão só pode ser percebida pelos que são verdadeiramente inocentes. Porque seus corações são puros, os inocentes defendem a percepção verdadeira ao invés de defenderem-se contra ela. Compreendendo a lição da Expiação, eles não têm o desejo de atacar e, portanto, vêem verdadeiramente. É esse o significado da Bíblia quando diz ‘quando Ele se manifestar (ou for percebido) seremos semelhantes a Ele, porque haveremos de vê-Lo como Ele é’.” (T-3.II.5:1-10)”

Dr. Kenneth Wapnick ainda nos esclarece em seu artigo “The Levels of Teaching – Level confusion: mind or body?” (tradução livre “Os Níveis de Ensino – Confusão de níveis: mente ou corpo?”), originalmente publicado em Lighthouse Newsletter, em junho de 1998, o que é denominado no Curso como “confusão de níveis” entre mente e corpo, que nós estamos transcrevendo a seguir em tradução livre.

O artigo completo em Inglês pode ser acessado através do site: https://centerforacourseinmiracles.org/the-levels-of-teaching

Confusão de Níveis: Mente ou Corpo?

O autor inicia o seu artigo declarando que, por muitos anos, os estudantes da Foundation for A Course in Miracles https://facim.org/ (tradução livre: Fundação para Um Curso em Milagres) se acostumaram a ouvir sobre confusão de níveis ao estudar o Curso.

Esse erro comum confunde os ensinamentos metafísicos do Curso (Nível I) com a parte do Curso que trata apenas do sonho ilusório de separação (Nível II).

O Nível I (o estado de Céu) reflete a não dualidade absoluta da teologia e filosofia de Jesus, sem qualquer compromisso aceito entre essas duas polaridades verdade/ilusão ou realidade/sonho.

O Nível II (o estado de mente e o estado de corpo) reflete a dualidade e contrasta os sonhos de pesadelo da mentalidade errada do sistema de pensamento de separação do ego, pecado, culpa e medo, com os sonhos felizes da mentalidade certa da correção do Espírito Santo, que consiste no milagre, perdão e cura [healing].

A confusão surge especificamente quando os estudantes atribuem erroneamente as características de um nível ao outro.

Assim, por exemplo, pode-se tentar justificar várias formas de comportamento antissocial com a afirmação metafísica de que o corpo é simplesmente uma ilusão e, portanto, não importa o que você faça com ele ou para ele; ou, imaginar o Deus incorpóreo e acósmico como um Pai benevolente e atencioso que magicamente intervém no mundo em nome de Seus filhos.”

Nessa primeira parte do artigo, o autor discute um tipo diferente de confusão de níveis, que é um erro frequentemente cometido pelos estudantes do Curso – dentro do sistema de pensamento ilusório da mente dividida – de confundir mente e corpo.

“Essa confusão, que o ego fomenta, é a responsável, em última instância, por todas as doenças. Na verdade, é a soma e a substância da estratégia brilhantemente concebida do ego de proteger a sua existência na mente, causando confusão no Filho de Deus sobre a sua identidade.

A consumação da defesa do ego é o Filho se esquecer de que ele tem uma mente, que então nunca poderá mudar escolhendo o Espírito Santo. A sua total atenção, portanto, enraizou-se em sua existência física como uma criatura no mundo material.

Além disso, inerentes a essa experiência de viver em um mundo como um corpo [vide gráfico] estão os problemas e as soluções a esse nível. Estão os vários relacionamentos especiais com o corpo, como doença, sexualidade, dinheiro e, na verdade, todas as decisões e preocupações que são parte integrante da vida no mundo.

Na verdade, o único propósito de todos esses problemas e a busca por soluções a esse nível é o desvio, o que perpetua a confusão sobre onde o problema realmente está e, portanto, mantém oculto o problema real da decisão errada do Filho na mente.

Esse propósito do ego é expresso de forma simples e direta na lição 79 do Livro de Exercícios:

Um problema não pode ser resolvido se não souberes do que se trata. Mesmo que, na realidade, já esteja resolvido, ainda terás o problema, pois não vais reconhecer que já foi resolvido. Essa é a situação do mundo. O problema da separação, que é realmente o único problema, já foi resolvido. No entanto, a solução não é reconhecida porque o problema não é reconhecido.

Todas as pessoas nesse mundo parecem ter os seus próprios problemas especiais. No entanto, todos são o mesmo e têm que ser reconhecidos como um só, se é que se há de aceitar a única solução que resolve todos eles. Quem pode ver que um problema já foi resolvido se pensa que o problema é outro? Mesmo que lhe seja dada a resposta, ele não consegue ver a sua relevância.

Essa é a posição na qual tu te achas agora. Tens a resposta, mas ainda não tens certeza de qual é o problema. Uma longa série de problemas diversos parece confrontar-te e assim que um deles é resolvido surge outro e mais outro. Parecem não ter fim. Não há um momento em que te sintas completamente livre de problemas e em paz.

A tentação de considerar os problemas como se fossem muitos é a tentação de manter o problema da separação sem solução. O mundo parece apresentar-te um grande número de problemas, cada um exigindo uma resposta diferente. Essa percepção te coloca numa posição em que o teu modo de resolver problemas tem que ser inadequado e o fracasso é inevitável.

Ninguém poderia resolver todos os problemas que o mundo parece conter. Parecem estar em tantos níveis, ter formas tão diversas e conteúdo tão variado, que eles te confrontam com uma situação impossível. Ao considerá-los, o desalento e a depressão são inevitáveis. Alguns surgem de modo inesperado, justamente quando achas que tinhas resolvido os anteriores. Outros permanecem sem solução sob uma nuvem de negação e erguem-se para assombrar-te de vez em quando, apenas para esconderem-se mais uma vez, mas ainda sem solução.

Toda essa complexidade nada mais é do que uma tentativa desesperada de não reconhecer o problema e, assim, não deixar que seja resolvido. Se pudesses reconhecer que o teu único problema é a separação, independente da forma que tome, aceitarias a resposta, pois verias a sua relevância. Ao perceber a constância subjacente em todos os problemas que parecem confrontar-te, compreenderias que tens o meio para resolver todos eles. E usarias esse meio, porque reconhecerias o problema.” (LE-pI.79:1-6)

A dinâmica da projeção é o que permite ao ego ‘escapar’ com esse subterfúgio. Esse é o dispositivo através do qual o ego remove da mente o problema de ter escolhido a culpa como realidade e faz com que o Filho acredite que essa culpa está realmente no corpo – o seu (na forma de doença) ou de outra pessoa (na forma de ataque):

“Os pensamentos têm início na mente de quem pensa, de onde alcançam o que está fora… Entretanto, a percepção não pode escapar das leis básicas da mente. Tu percebes a partir da tua mente e projetas as tuas percepções para fora.” (T-6.II.9:1,4-5)

“O uso que o ego faz da projeção tem que ser inteiramente compreendido antes que a associação inevitável que se faz entre projeção e raiva possa ser finalmente desfeita. O ego sempre tenta preservar o conflito. Ele é muito engenhoso em inventar formas que pareçam diminuir o conflito, porque não quer que aches o conflito tão intolerável a ponto de vires a insistir em desistir dele. O ego tenta, então, persuadir-te de que ele pode libertar-te do conflito, contanto que não desistas dele e te libertes. Usando a sua própria versão distorcida das leis de Deus, o ego usa o poder da mente apenas para derrotar o propósito real da mente. Projeta o conflito da tua mente para outras mentes em uma tentativa de persuadir-te de que tu te liberaste do problema.” (T-7.VIII.2:1-6)

A cura [healing] ocorre por meio do milagre, que desfaz a projeção do ego simplesmente revertendo o processo, redirecionando assim a atenção do Filho para o nível adequadoa mente em vez do corpo – onde se encontra o problema e a resposta. [vide gráfico]

Além disso, uma vez que o Filho de Deus está confuso, tendo se esquecido de sua mente e focado apenas no corpo, é impossível para ele mudar de ideia, o que, é claro, é o propósito do ego ao inventar o mundo, o corpo e todos os problemas inerentes a viver aqui. E assim a existência individual do ego, por mais ilusória que seja, é protegida e preservada como uma crença na mente do Filho.

Esse importante tema da confusão de níveis da mente e corpo é apresentado por Jesus nas primeiras páginas do Texto. É claro que esse tema vai ao cerne de seus ensinamentos, refletindo a sua mensagem a todos nós que vagamos tão cegamente nessa confusão.

Nos cinquenta princípios dos milagres que abrem o Texto de Um Curso em Milagres e então novamente no Capítulo 2, Jesus claramente delineia a natureza mutuamente exclusiva dos níveis da mente e do corpo e adverte os seus estudantes para não confundi-los. Ao mesmo tempo, ele destaca as dimensões do milagre ou cura [healing] (a mente) e da doença (o corpo):

Milagres transcendem o corpo. São passagens súbitas para a invisibilidade, distante do nível corporal. É por isso que curam…

Milagres rearranjam a percepção e colocam todos os níveis em perspectiva verdadeira. Isso é cura [healing] porque a doença vem da confusão de níveis.

Por reconhecerem o espírito, os milagres ajustam os níveis da percepção e os mostram em alinhamento adequado. Isso coloca o espírito no centro, onde ele pode comunicar-se diretamente.” (T-1.I.17, 23, 30)

O poder do milagre para ajustar níveis induz à percepção certa para a cura [healing]. Até que isso tenha ocorrido, a cura [healing] não pode ser compreendida.” (T-2.V.A.15(5):1-2)

E assim o foco do milagre é deslocar a nossa atenção de fora de nossas mentes (para o corpo onde o ego o dirigiu) de volta para a mente onde a decisão do Filho de se separar produziu o problema da doença (ou qualquer outra forma de projeção de culpa). É o amor do espírito refletido na mente certa que é a fonte da capacidade de cura [healing] do milagre.”

O autor destaca que a próxima passagem enfoca ainda mais especificamente o erro do Filho de confundir os níveis da mente e do corpo e a sua crença de que o corpo pode causar dor, de fato, que o corpo pode fazer qualquer coisa. É a crença de que o corpo pode fazer algo que Jesus compara com mágica, a tática do ego para confundir o Filho referente aonde realmente estão o problema e a solução:

Um passo importante no plano da Expiação é desfazer o erro em todos os níveis. A doença, ou “a mentalidade que não está certa”, é o resultado da confusão de níveis porque sempre acarreta a crença em que o que está fora de lugar em um nível pode afetar de maneira adversa um outro. Nós nos referimos aos milagres como o meio de corrigir a confusão de níveis, pois todos os equívocos têm que ser corrigidos no nível em que ocorrem. Só a mente é capaz de errar. O corpo pode agir de forma errada apenas quando está respondendo a um pensamento equivocado. O corpo não pode criar e a crença em que possa, um erro fundamental, produz todos os sintomas físicos. A enfermidade física representa uma crença na mágica. Toda a distorção que deu origem à mágica baseia-se na crença segundo a qual existe uma capacidade criativa na matéria que a mente não pode controlar. Esse erro pode tomar duas formas: pode-se acreditar que a mente pode criar de forma equivocada no corpo ou que o corpo pode criar de forma equivocada na mente. Quando fica compreendido que a mente, o único nível da criação, não pode criar além de si mesma, nenhum desses dois tipos de confusão precisa ocorrer.” (T-2.IV.2:1-10)

“Pensamento equivocado, por definição do Curso, deve ser ilusório e, portanto, esses pensamentos do ego não podem realmente existir na realidade. Esse tema da inexistência inerente da divisão mente e corpo é elaborado na seguinte passagem:

Antes que os trabalhadores de milagres estejam prontos para empreender sua função nesse mundo, é essencial que compreendam inteiramente o medo da liberação. De outro modo podem inadvertidamente fomentar a crença em que liberação é aprisionamento, uma crença que já prevalece muito. Essa percepção equivocada surge, por sua vez, da crença em que o dano pode ser limitado ao corpo. Isso acontece em função do medo sub-reptício de que a mente pode ferir a si mesma. Nenhum desses erros é significativo porque as criações equivocadas da mente na realidade não existem. Esse reconhecimento é um instrumento de proteção muito melhor do que qualquer forma de confusão de níveis, porque introduz a correção no nível do erro. É essencial lembrar que só a mente pode criar e que a correção pertence ao nível do pensamento. Ampliando uma declaração anterior, o espírito já é perfeito e, portanto, não requer correção. O corpo não existe, exceto como instrumento de aprendizado para a mente. Esse instrumento de aprendizado não está sujeito a erros próprios porque não pode criar. É óbvio, então, que induzir a mente a desistir de suas criações equivocadas é a única aplicação da capacidade criativa que é verdadeiramente significativa.” (T-2.V.1:1-11) (2)

Deve-se concluir, portanto, que esses pensamentos de forma criativa porém equivocada, como pensamentos que não existem, não podem ser curados [healed]. O que precisa de cura [healing], no entanto, é a parte da mente do Filho que toma decisões que havia escolhido erroneamente em primeiro lugar. A aceitação dessa verdade é a aceitação da Expiação e, portanto, a base de toda cura [healing].

Novamente, esse é o papel de cura [healing] do milagre, que restaura à consciência no nível da realidade [awareness] do Filho o poder de sua mente de primeiro ter escolhido erroneamente, para que agora possa finalmente fazer a escolha correta do Espírito Santo como o seu Mestre. [vide gráfico]

Portanto, o milagre desfaria o cerne da estratégia do ego ao desfazer a confusão do níveis do Filho de acreditar que o seu problema estava no corpo, ao invés de na decisão de sua mente de se afastar da verdade de sua Identidade como espírito.

E assim, a fim de manter o Filho de Deus sem mente no nível da realidade em sua consciência [awareness] [do Filho], o ego se esforça continuamente para convencê-lo de que o pecado de manter a sua individualidade destruindo a Unicidade do Céu não está localizado em sua mente, mas sim no corpo – o corpo de outra pessoa! Em outras palavras, o problema do pecado é encontrado no nível do corpo e, portanto, a solução para ele também tem que ser encontrada lá.

As passagens citadas acima enfocam quase exclusivamente doenças ou sintomas físicos, no entanto, a questão permanece a mesma, quer nós estejamos falando sobre raiva, sexo, problemas financeiros, comida ou qualquer outra forma de especialismo.

Em todas as nossas preocupações – nós que nos identificamos com o corpo – o ego abençoa a nossa confusão de níveis, pois isso, mais uma vez, garante que nós permaneçamos sem mente.

Enquanto isso, o problema real – a decisão de nossa mente de se separar – é mantido a salvo de ser desfeito e de ser curado [healed].

É o propósito do milagre, repetindo esse importante tema mais uma vez, retornar o problema ao seu devido lugar na mente, corrigindo assim a confusão de níveis que de fato veio a ser o problema.

Usando a analogia do sonho, Jesus explica a função do milagre:

O milagre estabelece que tu estás sonhando um sonho e que o seu conteúdo não é verdadeiro. Esse é um passo crucial para se lidar com ilusões. Ninguém tem medo delas quando percebe que as inventou. O medo mantinha-se em seu lugar porque ele não havia visto que era o autor do sonho e não uma de suas figuras. Ele dá a si mesmo as consequências que sonha ter dado a seu irmão. E é apenas isso o que o sonho juntou e ofereceu a ele, para mostrar-lhe que os seus desejos foram realizados. Assim ele teme o próprio ataque, mas o vê nas mãos de outrem. Como vítima, sofre em função dos efeitos do ataque, mas não do que o causou. Ele não foi o autor do próprio ataque e é inocente em relação ao que causou. O milagre nada faz senão mostrar-lhe que ele não fez nada. O que ele teme é uma causa sem as consequências que fariam dela uma causa. E, portanto, isso nunca existiu.” (T-28.II.7:1-12)

Assim, uma vez que os véus da negação (os véus do esquecimento) foram levantados pelo milagre, o problema da culpa – o nosso único problema – foi desfeito. Nós nos unimos a Jesus para em primeiro lugar olhar para a verdadeira natureza do sonho do corpo e, depois, para a causa real – a escolha equivocada do tomador de decisões – e assim as nossas mentes são curadas [healed].

O mesmo ponto é enfatizado por Jesus em uma mensagem que foi originalmente dirigida à sua escriba, Helen Schucman. Helen vinha reclamando com Jesus, no início do processo do ditado, sobre algo específico de que ela temia, pedindo-lhe que intercedesse por ela e removesse o objeto de seu medo.

A sua resposta, declarada em duas passagens separadas, deixa claro por que ele não consegue remover o medo dela e reflete diretamente o seu ensinamento anterior a ela (e a todos nós) sobre não confundir os níveis da mente e do corpo. Essa correção permitiria que ela visse o problema real – a crença na separação – onde ele realmente está:

A correção do medo é tua responsabilidade. Quando pedes a liberação do medo, estás deduzindo que não é. Deverias pedir, ao invés disso, ajuda nas condições que trouxeram o medo. Essas condições sempre acarretam uma disponibilidade para estar separado… Podes ainda reclamar do medo, mas apesar disso persistes em amedrontar a ti mesmo. Eu já indiquei que não podes pedir a mim que te libere do medo. Eu sei que o medo não existe, mas tu não sabes. Se eu interviesse entre os teus pensamentos e os seus resultados, estaria adulterando uma lei básica de causa e efeito, a lei mais fundamental que existe. Dificilmente eu poderia te ajudar se depreciasse o poder do teu próprio pensamento. Isso estaria em oposição direta ao propósito deste curso. É muito mais útil lembrar-te de que não vigias os teus pensamentos com suficiente cuidado.” (T-2.VI.4:1-4; VII.1:1-7)

Ter em mente as exortações de Jesus a seu primeiro estudante e a todos nós que seguimos os seus passos, evitará sérios mal-entendidos da mensagem básica de seu Curso, sem mencionar as aplicações dessa mensagem em nossa vida cotidiana.

Mais importante, nos ajudará a maximizar a ajuda que Jesus pode nos dar, não insistindo que a sua verdade se junte à nossa ilusão, mas sim que nós nos unamos a ele (a verdade) para desfazer ‘as condições (ilusórias) que ocasionaram o medo (ou qualquer problema).’

A principal implicação dessa cautela está na simplicidade de vida promovida por uma verdadeira compreensão de Um Curso em Milagres: ‘Um problema, uma solução’ (LE-pI.80.1:5); ou como nós lemos no capítulo final do Texto, também originalmente destinado a Helen como uma resposta à sua insistência de que esse Curso era muito difícil de aprender:

Como é simples a salvação! Tudo o que ela diz é que o que nunca foi verdadeiro não é verdadeiro agora e nunca o será. O impossível não ocorreu e não pode ter efeitos. E isso é tudo. Pode ser difícil aprender isso para qualquer pessoa que queira que isso seja verdadeiro? Só a falta de disponibilidade para aprender poderia tornar difícil essa lição tão fácil. Qual a dificuldade de se ver que o que é falso não pode ser verdadeiro, e que o que é verdadeiro não pode ser falso? Tu não podes mais dizer que não percebes diferenças entre o falso e o verdadeiro. Foi dito a ti exatamente como distinguir um do outro e exatamente o que fazer caso fiques confuso. Então, por que persistes em não aprender coisas tão simples?” (T-31.I.1)

Um Curso em Milagres é simples tanto na teoria quanto na prática porque – com base em sua metafísica subjacente de não dualidade – não há nada inerentemente salvífico em qualquer atividade mundana, independentemente da aparente natureza espiritual de sua forma. E colocar ênfase em qualquer coisa aqui é simplesmente expressar a estratégia do ego de confusão de níveis.

Os estudantes não devem se enganar sobre a sutileza da engenhosidade e inteligência do ego em fazer as suas próprias diretrizes soarem como as do Espírito Santo; ambos os traços, aliás, sendo formas antropomórficas de expressar os nossos próprios medos pessoais de perder as nossas identidades individuais como seres físicos e psicológicos.”

Infelizmente, nós somos capazes de observar muitos desses exemplos de confusão de níveis na breve história do Curso. O autor discute esses erros em seu livro “A Mensagem de um Curso em Milagres” e aponta alguns nesse artigo:

“1) Identificando-se com os seus corpos, os estudantes inevitavelmente projetarão a crença da mente sobre os seus seres separados, transformando o Espírito Santo ou Jesus em seres humanos separados também.

Jesus antecipou esse erro ao explicar aos seus estudantes:

‘Não podes sequer pensar em Deus sem um corpo ou alguma forma que pensas reconhecer’ (T-18.VIII.1:7)

E, portanto, grande parte do Curso é escrito como se o nosso Mestre Interior fosse um membro do homo sapiens, embora mais sábio e benigno do que o resto de nós.

Jesus nos alerta para essa forma de escrita em muitos lugares, como veremos no erro nº 3 na Parte II desse artigo, alertando assim os seus estudantes para não confundirem os níveis de forma (corpo, efeito) e conteúdo (mente, causa). [vide gráfico]

Perto do final em Esclarecimento de Termos, por exemplo, ele faz essa declaração surpreendente sobre o Espírito Santo:

A Sua Voz é a Voz por Deus e, portanto, tomou forma. Essa forma não é a Sua realidade, que somente Deus conhece junto com Cristo, Seu Filho real, Que é parte Dele… Pois no [sonhos de despeito do ego] lugar dela o hino a Deus é ouvido por pouco tempo. E então a Voz terá desaparecido, para não mais tomar forma, porém para regressar à eterna Ausência de Forma de Deus.” (ET.6.1:4-5; 5:7-8)

2) Identificando-se com os seus corpos, os estudantes foram tentados a praticar a confusão do níveis do ego ao interpretar os ensinamentos de Jesus sobre relacionamentos como significando que o problema de relacionamentos especiais existe entre duas pessoas separadas (ou corpos) e, portanto, a solução do relacionamento santo também ocorre entre essas duas pessoas (ou corpos) separados. No entanto, como pode ser isso, quando Jesus se esforçou tanto para nos instruir a não confundir a mente e o corpo, como nós já vimos:

…todos os equívocos têm que ser corrigidos no nível em que ocorrem. Só a mente é capaz de errar. O corpo pode agir de forma errada apenas quando está respondendo a um pensamento equivocado.” (T-2.IV.2:3-5)

Tal confusão deve inevitavelmente levar à percepção equivocada de que, porque o problema está no relacionamento entre os parceiros especiais, ao invés de entre o tomador de decisões da mente e o ego, a solução do perdão deve vir entre os corpos desses mesmos dois parceiros, ao invés de o tomador de decisões estar mudando de ideia e escolhendo Jesus como o seu professor.

O resultado final disso é o reforço de nossa crença de que o corpo é real e é a nossa identidade, ao invés de servir como um meio para nos ajudar a alcançar o ideal do Curso de aprender verdadeiramente que nós não somos os nossos corpos.

Imagem anthony-tori-9qYKMbBCFjc-unsplash-1.jpg

..…Continua Parte II…..

“Um milagre é uma correção. Ele não cria e realmente não muda nada. Apenas olha para a devastação e lembra à mente que o que ela vê é falso. Desfaz o erro, mas não tenta ir além da percepção, nem superar a função do perdão. Assim, permanece nos limites do tempo.”( LE.II.13)

Nada real pode ser ameaçado.
Nada irreal existe.
Nisso está a paz de Deus.
T.In.2:2-4
Autor

Graduação: Engenharia Operacional Química. Graduação: Engenharia de Segurança do Trabalho. Pós-Graduação: Marketing - PUC/RS. Pós-Graduação: Administração de Materiais, Negociações e Compras - FGV/SP. Blog Projeto OREM® - Oficina de Reprogramação Emocional e Mental - O Blog aborda quatro sistemas de pensamento sobre Espiritualidade Não-Dualista, através de 4 categorias, visando estudos e pesquisas complementares, assim como práticas efetivas sobre o tema: OREM1) Ho’oponopono - Psicofilosofia Huna. OREM2) A Profecia Celestina. OREM3) Um Curso em Milagres. OREM4) A Organização Baseada na Espiritualidade (OBE) - Espiritualidade no Ambiente de Trabalho (EAT). Pesquisador Independente sobre Espiritualidade Não-Dualista como uma proposta inovadora de filosofia de vida para os padrões Ocidentais de pensamentos, comportamentos e tomadas de decisões (pessoais, empresariais, governamentais). Certificação: “The Self I-Dentity Through Ho’oponopono® - SITH® - Business Ho’oponopono” - 2022.

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[…] a leitura dos artigos 34 – Confusão de Níveis em UCEM – Parte I, 35 – Confusão de Níveis em UCEM – Parte II e 36 – Confusão de Níveis em UCEM – Parte […]

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1 ano atrás

[…] [Vide artigo OREM3 número 34 – Confusão de Níveis em UCEM – Parte I https://orem.blog.br/um-curso-em-milagres/34-confusao-de-niveis-em-ucem-parte-i/%5D […]

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