Estamos revisitando o importante tema dos “relacionamentos” segundo o sistema de pensamento de Um Curso em Milagres, com foco no que o Curso chama de “verdadeiro relacionamento santo”.
Para tal reflexão, buscamos inspiração em 2 artigos que transcrevemos trechos em tradução livre a seguir.
O primeiro artigo é denominado “The Holy Relationship: The Source of Your Salvation [“O Relacionamento Santo: A Fonte de Sua Salvação”], do professor Greg Mackie.
O artigo completo em inglês poderá ser acessado no site Circle of Atonement, no link
O artigo completo em inglês poderá ser acessado no site Circle of Atonement, https://circleofa.org/library/holy-relationship/
O Relacionamento Santo: A Fonte de Sua Salvação
“Os estudantes de Um Curso em Milagres são universalmente atraídos pela ideia de relacionamentos santos. Parece uma perspectiva tão empolgante – quem não gostaria de ter um relacionamento assim? O próprio Curso fala de relacionamentos santos nos termos mais brilhantes, repetidamente exaltando-os com versos como:
Neste mundo, o Filho de Deus se aproxima o máximo possível de si mesmo em um relacionamento santo. (T-20.V.1:1)
Claramente, o Curso considera os relacionamentos santos como cruciais para o seu caminho.
Ainda assim, por mais desejáveis que relacionamentos santos possam ser aos nossos olhos e aos olhos do Curso, eles são, ao mesmo tempo, quase universalmente incompreendidos pelos estudantes do Curso.
Nesse artigo, então, eu gostaria de esclarecer um pouco da confusão. O que é um relacionamento santo? Como isso se desenvolve? Por que os relacionamentos santos são um aspecto tão vital do caminho do Curso para a salvação? E se eles são tão vitais, como exatamente eu posso encontrar um para mim?
Espero que as minhas respostas a essas perguntas ajudem a todos nós a experimentarmos a alegria e o poder dos relacionamentos que o Curso considera como,
O teu relacionamento santo, a fonte de tua salvação … (T-20.VIII.6:9)
O que é um relacionamento santo?
Em suma, um relacionamento santo é um relacionamento no qual duas pessoas foram unidas em um propósito verdadeiramente comum pelo Espírito Santo.
O relacionamento é santo devido àquele propósito e Deus prometeu enviar Seu Espírito a qualquer relacionamento santo. (MP-2.5:4)
Assim, um relacionamento santo não precisa ser um relacionamento romântico, embora pudesse ser; o material do Curso menciona relacionamentos com colegas (como Helen e Bill[*]), relacionamentos professor-estudante, relacionamentos psicoterapeuta-paciente e até mesmo um relacionamento entre duas pessoas que oram juntas.
[*] os escribas do Curso.
Três aspectos da minha concisa definição são importantes.
Primeiro, é um relacionamento no qual duas pessoas (ou mais) se uniram. O relacionamento santo é mútuo, não individual. Esse é um ponto crucial e frequentemente esquecido pelos estudantes do Curso.
Uma visão predominante na comunidade do Curso é que um relacionamento é santo sempre que uma pessoa perdoa ou reconhece a sua unicidade com outra, quer a outra pessoa tenha ou não qualquer envolvimento. Mas, como Robert [Robert Perry, professor avançado de Deus] mostrou em outro lugar, isso simplesmente não corresponde às descrições do Curso sobre o relacionamento santo.
Sem exceção, sempre que o Curso fala sobre relacionamento santo, a mutualidade do relacionamento é diretamente declarada ou implícita. Aqui estão apenas alguns exemplos que mostram isso:
Na arca da paz só entram dois a dois, no entanto, o início de um outro mundo vai com eles. Cada relacionamento santo tem que entrar aqui para aprender a sua função especial no plano do Espírito Santo, agora que compartilha o Seu propósito. (T-20.IV.6:5-6)
Tal é a função de um relacionamento santo: receber juntos e dar como foi recebido. (T-22.IV.7:4)
Vós fizestes juntos um convite ao Espírito Santo para que Ele entrasse no vosso relacionamento. De outro forma, Ele não poderia ter entrado. (T-17.V.11:1-2)
Como poderia ser diferente? O próprio termo ‘relacionamento’, por definição, significa que duas ou mais entidades estão envolvidas; um “relacionamento solitário” é um oxímoro.
Segundo, eles se uniram em um propósito verdadeiramente comum. Isso significa um propósito que pode ser verdadeiramente compartilhado, o que exclui muitos dos propósitos aos quais parecemos ‘nos juntar’. Por exemplo, se nos juntarmos com o propósito de fazer uma fortuna no mercado de ações, nós não estamos realmente compartilhando esse objetivo – eu estou nisso pela minha parte nos dividendos e você pela sua parte. Como diz o Curso,
Os egos de fato se unem em aliança temporária, mas sempre em função do que cada um pode conseguir separadamente. (T-6.V(A).5:9)
O que, então, é um propósito verdadeiramente comum ao qual podemos nos juntar? A única coisa que se qualifica é uma ideia abstrata que pode, em princípio, ser compartilhada não apenas uns com os outros, mas com todos – um propósito que transcende o interesse próprio.
Um grande exemplo é o propósito que Helen e Bill aderiram: criar relacionamentos mais harmoniosos em seu ambiente de trabalho. Esse era claramente um objetivo que todos podiam compartilhar. Claro, a ideia abstrata de que os dois parceiros se juntam pode ser expressa na forma – para Helen e Bill, isso tomou a forma de escrever o Curso – mas a ideia é o conteúdo por trás da união.
Terceiro, eles foram unidos pelo Espírito Santo. Embora nós possamos estar abertos a relacionamentos santos, nós não podemos fabricá-los indo até os nossos amigos e dizendo: ‘Quer ter um relacionamento santo comigo?’ Em vez disso, o relacionamento santo é algo que o Espírito Santo reúne para os Seus propósitos e, enquanto isso possa ser um convite, isso simplesmente não pode ser forçado.
Uma implicação disso é que você não tem um relacionamento santo simplesmente porque você se uniu superficialmente em algum objetivo, mesmo que o objetivo seja um que possa ser verdadeiramente compartilhado.
Os estudantes do Curso às vezes me perguntam se eles têm um relacionamento santo com os outros membros de seu grupo do Curso, uma vez que eles se uniram no objetivo de estudar o Curso juntos. Eu diria que, embora certamente alguns relacionamentos santos possam se formar em tal situação, simplesmente fazer algo juntos não é suficiente.
Relacionamentos santos não são tão mundanos. Eles são relativamente incomuns e quando o Espírito Santo realmente entrou em um relacionamento, é um grande evento.
A progressão do relacionamento santo
Um relacionamento santo, conforme o Curso descreve, passa por um processo de desenvolvimento. Abaixo, apresentarei um esboço dos elementos nesse processo. Devo mencionar que essa progressão não é estritamente sequencial, como se você passasse por um estágio completamente e depois passasse para o próximo. Por exemplo, você pode começar a descobrir um estado mental comum e encontrar uma função especial conjunta (como Helen e Bill fizeram) no início do relacionamento. Como se costuma dizer nos comerciais de remédios: ‘Os seus resultados podem variar’.
1. Duas pessoas se unem em um propósito comum
Isso é o que inicia um relacionamento santo. Duas pessoas deixam de lado os seus objetivos egocêntricos usuais e realmente se unem em um propósito que transcende o interesse próprio. Como isso acontece varia de relacionamento para relacionamento.
Para alguns, como Helen e Bill se unindo na ‘melhor maneira’ deles, pode haver um momento particular que ambos os parceiros podem identificar como o momento de adesão. Para outros, pode ser difícil determinar quando exatamente a união aconteceu ou mesmo saber qual é exatamente o propósito comum, mesmo que ambos os parceiros percebam que algo significativo aconteceu.
Eu penso que em muitos, senão na maioria dos casos, os parceiros passarão por um processo no qual gradualmente compreenderão o propósito ao qual se uniram e isso evoluirá com o tempo. Mas, seja como for, essa união é um evento monumental de mudança de vida que põe em movimento toda uma cadeia de eventos maior do que os parceiros podem sequer imaginar, uma cadeia que os levará até a salvação.
2. O Espírito Santo entra no relacionamento e dá a ele o objetivo da santidade
Essa união convida o Espírito Santo para o relacionamento. É como se a nossa decisão de nos unir abrisse uma porta que está bem fechada e o Espírito Santo rapidamente se apresse para tornar o seu o relacionamento.
Se duas pessoas estão unidas, Ele não pode deixar de estar presente. (P-II.2.6:5)
É a sua entrada que torna esta união muito maior e mais significativa do que parece à primeira vista. Pense em Helen e Bill. Tudo o que eles fizeram foi decidir trabalhar para melhorar o seu ambiente de trabalho. Mas o Espírito Santo viu uma oportunidade em seu breve momento de abertura e aproveitou ao máximo. Ele viu em sua decisão a semente de um objetivo muito maior: o objetivo da santidade, de realizar a santidade uns dos outros e a santidade de toda a Filiação. Ele pegou o objetivo simples deles de encontrar uma maneira melhor e o transformou na Sua maneira melhor.
Esse objetivo de santidade foi o objetivo que colocou em movimento a cadeia de eventos que levou à redação do Curso, um Curso para perceber e estender a santidade. E esse é o objetivo que o Espírito Santo dá a todo relacionamento santo, independentemente de sua forma.
3. Os parceiros podem experimentar um período de desconforto
Essa é uma etapa que pertence especialmente a relacionamentos, como Helen e Bill, que são relacionamentos especiais contenciosos antes que a união ocorra. A ideia aqui (descrita especialmente em T-17.V) é que uma vez que a união ocorra, a estrutura do relacionamento – que é focada em objetivos especiais como ótimo sexo ou dominar o mercado de widgets ou “keeping up with the Joneses” [(?)bordão na língua inglesa que se refere à comparação com o vizinho do lado como um marco para classe social ou acúmulo de bens materiais] – está agora em desacordo com o seu novo objetivo de santidade.
Essa tensão é o que causa o ‘período de desconforto’ (T-20.VII.2:1), uma frase sutil que em alguns relacionamentos poderia ser reformulada como o ‘período do caos‘. A tentação nesse período é abandonar o parceiro de relacionamento santo e buscar os antigos objetivos de especialismo em outro relacionamento. Mas a única solução que realmente trará felicidade é mudar a estrutura do seu relacionamento para corresponder ao seu novo objetivo de santidade.
Mas, embora todo relacionamento santo traga algum desconforto (como qualquer coisa que mude a sua vida de maneira tão dramática), eu não penso que todo relacionamento santo passa necessariamente por essa fase exata de ‘estrutura em desacordo com o objetivo‘.
Ao contrário do relacionamento de Helen e Bill, alguns relacionamentos começam como relacionamentos santos. Visto que esses relacionamentos podem desenvolver uma estrutura que está em grande parte de acordo com o seu propósito santo desde o início, eles podem não experienciar esse passo na mesma proporção que Helen e Bill.
4. Os parceiros embarcam em um processo de perdão
O relacionamento santo em seu âmago é um processo no qual ambos os parceiros gradualmente se perdoam. Nós vemos essa ideia especialmente nas discussões do Texto (que são sobre o relacionamento de Helen e Bill), onde os dois parceiros são constantemente exortados a olhar para além dos corpos e personalidades imperfeitos um do outro e contemplar a face de Cristo brilhando além. Toda a seção ‘Os obstáculos à paz’ (T-19.IV) é um tour por esse processo.
Dada a ênfase no perdão nas discussões do relacionamento santo, alguém me perguntou: todo relacionamento santo começa como um relacionamento especial contencioso com questões importantes de perdão, como Helen e Bill fizeram? Não – como eu disse no último ponto, alguns relacionamentos santos começam como relacionamentos santos. Esses relacionamentos podem muito bem ser relativamente pacíficos e harmoniosos no decorrer dos relacionamentos humanos.
No entanto, do ponto de vista do Curso, mesmo os relacionamentos mais harmoniosos têm um trabalho de perdão a fazer. Todo mundo carrega consigo a falta de perdão; se nós não a tivéssemos, nós estaríamos acordados. Todos nós nos desapontamos de algumas maneiras.
Relacionamentos santos quase sempre trazem coisas para perdoar em algum ponto, porque nós temos um grande investimento emocional neles. Mesmo que não haja ‘grandes’ problemas aparentes, apenas querer que qualquer coisa seja diferente (ver LE-pI.71.2:4) ou ver a outra pessoa como um corpo e uma personalidade – mesmo que você goste desse corpo e personalidade – é na visão do Curso uma mágoa a ser perdoada. Portanto, todo relacionamento santo é um processo no qual as mágoas dos parceiros são gradualmente postas de lado por meio do perdão, revelando o Cristo um no outro.
…todo relacionamento santo é um processo no qual as mágoas dos parceiros são gradualmente postas de lado por meio do perdão, revelando o Cristo um no outro.
5. Os parceiros experimentam um estado da mente que é comum
À medida que o relacionamento santo se desenvolve, os parceiros gradualmente reconhecerão a união de suas mentes; um relacionamento santo é ‘um estado da mente que é comum’ (T-22.III.9:7).
Isso se manifesta de várias maneiras. O Curso fala de como, em um relacionamento santo, ‘o que um pensa, o outro vivenciará com ele’ (T-22.VI.14:2).
Por causa disso, cada um dos parceiros podem estender a cura ao outro: O instante santo de cura ‘virá a ambos, a pedido de qualquer um dos dois’ (T-18.V.6:7).
A implicação disso é óbvia: ‘O que isso pode significar exceto que a tua mente e a de teu irmão são uma só?’ (T-22.VI.14:3).
Como eu disse antes, os parceiros podem muito bem vivenciar isso em algum grau no início do relacionamento. Na verdade, eu penso que é um dos indicadores de que você pode ter um relacionamento santo – todos nós já tivemos a experiência de uma conexão ‘sinistra’ com outra pessoa e, às vezes, essa conexão pode apontar para a união que inicia um relacionamento santo.
De qualquer forma, esse reconhecimento da união de mentes se tornará mais pronunciado à medida que os parceiros se perdoarem mais profundamente e as barreiras entre eles se dissiparem. Eles experimentarão cada vez mais o fato de que são um só, de que as suas mentes estão verdadeiramente unidas. O relacionamento deles se tornará uma demonstração viva e experiencial do fato de que todos nós somos um só.
6. Os parceiros alcançam a meta da santidade
O Espírito Santo plantou a meta da santidade no centro do relacionamento desde o início. Paradoxalmente, Ele também trouxe a realização do objetivo ao curar o relacionamento em um nível profundo. O processo do relacionamento santo é aquele em que a cura do Espírito Santo gradualmente abre o seu caminho para a superfície até que todos os obstáculos tenham se dissipado e o objetivo da santidade seja alcançado plena e conscientemente.
Esse é um estado muito avançado – tão avançado que eu penso que poucos relacionamentos santos alcançam esse objetivo nessa vida. Helen e Bill certamente não. No entanto, mesmo que um relacionamento não alcance todo o caminho para essa meta nessa vida – na verdade, mesmo que os parceiros se separem – a promessa do Curso é que a meta será alcançada eventualmente:
Entretanto, todos aqueles que se encontram algum dia encontrar-se-ão outra vez, pois é destino de todo relacionamento vir a ser santo. (MP-3.4:6)
7. Os parceiros têm uma função especial conjunta na salvação do mundo
O florescimento final do relacionamento santo é:
A extensão do propósito do Espírito Santo para as outras pessoas, a partir do teu relacionamento para trazê-las gentilmente a ele, é o caminho através do qual Ele alinhará os meios e a meta (T-19.IV.1:5).
A santidade do relacionamento brilha para envolver e abençoar a todos:
A razão pode agora conduzir a ti e ao teu irmão à conclusão lógica da vossa união. Ela não pode deixar de estender-se, assim como vós vos estendeste quanto tu e ele vos unistes. (T-22.In.4:5-6)
Através do teu relacionamento santo, renascido e abençoado a cada instante santo que não programaste, milhares subirão ao Céu contigo. … [O seu relacionamento santo] é muito útil para o Espírito Santo, Que tem uma função especial aqui. Ele se tornará o sonho feliz através do qual o Espírito Santo poderá espalhar a alegria a milhares e milhares de pessoas que acreditam que o amor é medo e não felicidade. (T-18.V.3:1, 5:4-5)
Para facilitar essa extensão, o Espírito Santo dá aos parceiros uma função especial conjunta. Assim como cada um de nós como um indivíduo tem uma função especial na salvação, ‘cada relacionamento santo [tem uma] … função especial no plano do Espírito Santo…’ (T-20.IV.6:6).
Isso também, como eu disse antes, é algo que pode começar (e eu penso que provavelmente começará) no início do relacionamento santo, como aconteceu com Helen e Bill escrevendo o Curso.
Mas o padrão geral é que quanto mais perto os dois parceiros chegam de alcançar a meta da santidade em seu relacionamento, mais eles assumem a sua função de estender essa santidade a outros de uma forma dada a eles pelo Espírito Santo.
Cumprir esta função especial é o que completa o processo do relacionamento santo. O que começou como a união de duas pessoas culmina na união de toda a Filiação.
O que começou como a união de duas pessoas culmina na união de toda a Filiação.
O papel vital do relacionamento santo na salvação
Nós podemos ver o quão vital o relacionamento santo é no caminho do Curso simplesmente vendo quanta ênfase o Curso coloca nele. Os capítulos 17 a 22 do Texto são dedicados a ele. Como mencionei, toda a seção ‘Os obstáculos à paz’ (T-19.IV) – talvez a seção mais importante do Texto – é dedicada a ele.
O relacionamento santo é chamado de ‘o mesmo requisito que a salvação faz a qualquer pessoa’. (P-2.II.8:3)
E o relacionamento santo de Helen e Bill foi o próprio local de nascimento do Curso; Um Curso em Milagres foi o fruto de um relacionamento santo na vida real, cumprindo a sua função especial na salvação.
Por que o relacionamento santo é tão importante para o Curso? Por que é ‘a fonte da sua salvação’? Posso pensar em pelo menos três motivos.
Primeiro, o meio da salvação do Curso é o perdão e o relacionamento santo é um processo de perdoar uns aos outros.
Segundo, o Curso visa nos ajudar a passar da separação para a unicidade e o relacionamento santo é uma experiência de unicidade.
Terceiro, a maneira do Curso de completar a nossa cura é a extensão para os outros e o relacionamento santo é tudo sobre extensão – primeiro a extensão dos parceiros um para o outro e então a sua extensão conjunta para os outros enquanto eles cumprem a sua função especial conjunta.
Por todas essas razões e mais, o Curso nunca se cansa de nos dizer que dádiva preciosa e gloriosa é o relacionamento santo. É verdadeiramente o nosso caminho para casa.
Vimos anteriormente a declaração do Curso de que:
Nesse mundo, o Filho de Deus se aproxima o máximo possível de si mesmo em um relacionamento santo. (T-20.V.1:1)
Nas seguintes passagens, nós vemos que o Filho de Deus também se aproxima do Céu em um relacionamento santo:
Ele está só um pouco abaixo do Céu [a pessoa em um relacionamento santo], mas suficientemente próximo para não retornar à terra. Pois esse relacionamento tem a santidade do Céu. A que distância de casa pode estar um relacionamento tão semelhante ao Céu? (T-22.In.3:7-9)
Pois ela se lembra do Céu e agora vê que o Céu afinal veio à terra, fora do qual o domínio do ego a manteve por tanto tempo. O Céu veio porque achou um lar no teu relacionamento na terra. E a terra já não pode conter o que foi dado ao Céu como algo que lhe é próprio. (T-21.IV.7:5-7)
Relacionamentos santos que realizam plenamente a sua santidade não são nada menos do que o Céu na terra. E quando nós encontramos o Céu na terra, o retorno ao próprio Céu pode estar logo atrás?
Como eu faço para encontrar um relacionamento santo?
Sempre que nós do Círculo [https://circleofa.org/] falamos sobre a importância dos relacionamentos santos, surge a questão de como encontrar um, inevitável e compreensivelmente. Quando nós ouvimos sobre algo tão maravilhoso e essencial para o caminho do Curso, naturalmente nós queremos agarrar isso para nós mesmos. Mas como nós fazemos isso?
A primeira coisa que eu diria é que não se preocupe se você não tiver um relacionamento santo. Isso não o torna um mau estudante do Curso; você pode fazer um grande progresso com o Curso sem um parceiro de relacionamento santo. E você pode ter certeza de que mesmo que não tenha um parceiro agora, você terá um (ou mais) eventualmente.
Como o Curso diz:
Não existem acidentes na salvação. Aqueles que têm que se encontrar, encontrar-se-ão, pois juntos têm o potencial para um relacionamento santo. Estão prontos um para o outro. (MP-3.1:6-8).
Quando chegar a hora de você e seu(s) parceiro(s) de relacionamento(s) santo(s) se encontrar(em), você o fará. Isso está garantido.
Nós não devemos, então, buscar desesperadamente parceiros de relacionamento santos, nem devemos tentar forçar o encaixe dos relacionamentos atuais no molde. Em vez disso, eu recomendaria algumas coisas.
Primeiro, concentre-se em trilhar o caminho do Curso tão diligentemente quanto possível. Enquanto os relacionamentos santos sejam um fenômeno humano universal (embora, é claro, os estudantes que não participam do Curso tenham termos diferentes para eles), se o Curso for o seu caminho, é mais provável que você encontre relacionamentos santos no contexto de trilhar o seu caminho. Há uma grande linha no Manual sobre professores e estudantes (um tipo de relacionamento santo) que diz:
A cada um dos professores de Deus estão destinados determinados estudantes e eles começarão a procurá-lo assim que ele tiver respondido ao Chamado. (MP-2.1:1)
Adaptada aos relacionamentos santos em geral, essa linha poderia ser reformulada: Certos parceiros de relacionamento santo foram designados a você e começarão a procurá-lo assim que você atender ao Chamado. Portanto, responda ao Chamado trilhando o caminho para a salvação que você recebeu.
Segundo, simplesmente esteja aberto à possibilidade de relacionamentos santos entrarem em sua vida. Eu disse acima que eles são reunidos pelo Espírito Santo para os Seus propósitos. Se você estiver aberto aos propósitos Dele para a sua vida e disposto a se unir aos outros, eu penso que aqueles que devem compartilhar esses propósitos com você serão atraídos a você e você a eles.
E mesmo que eu não ache uma boa ideia ir à caça de relacionamentos santos, se você se sentir guiado, pode ser apropriado convidar outra pessoa para compartilhar um objetivo com você, como Bill fez com Helen. Apenas lembre-se de que o Espírito Santo está no comando do processo e que Ele é quem o colocará em par com aqueles a quem você deve se unir em um relacionamento santo. Novamente, isso está garantido.
E quando você finalmente de fato encontrar alguém a quem o Espírito Santo tem designado como um parceiro de relacionamento santo para você, eu penso que você o saberá. Você sentirá que algo ‘grande’ aconteceu.
O relacionamento vai agarrar vocês dois e levá-los em um passeio emocionante pelas corredeiras de águas bravas até o seu objetivo. Parecerá ter vida própria, independente de seus próprios planos e maquinário mental. Terá uma sensação de inevitabilidade. Isso levará a mudanças significativas na vida de vocês. Um relacionamento santo pode ser uma experiência assustadora (por causa das mudanças que provoca) e uma experiência estimulante.
Em conclusão, por experiência própria, eu posso dizer que o relacionamento santo é a coisa mais gratificante que a vida tem a oferecer.
Os relacionamentos são o coração pulsante de nossas vidas e os relacionamentos santos são o coração pulsante do plano de Deus para a salvação.
Portanto, desejo-lhe o melhor ao abrir o seu coração e mente para se juntar a quem o Espírito Santo lhe enviar e embarcar juntos na jornada que é verdadeiramente ‘a fonte da sua salvação‘.”
O segundo artigo é denominado “On Becoming the Touches of Sweet Harmony – The Holy Relationship as Metaphor – Part 1 and Part 2” [“Sobre se Tornar os Realces da Amena Harmonia” – O Relacionamento Santo como Metáfora – Parte 1 e Parte 2”, 1º de junho de 2018, Volume 22 Nº 2 – Junho 2011, de autoria do Dr. Kenneth Wapnick, Ph.D., que transcrevemos trechos em tradução livre para a nossa reflexão.
O artigo completo em inglês poderá ser acessado através do link https://facim.org/becoming-touches-sweet-harmony-holy-relationship-metaphor/.
Parte 1 – 2
Introdução: A metáfora em Um Curso em Milagres
“Nós vivemos em um mundo de símbolos da mente errada e da mente certa e o que eles representam – os pensamentos de ódio e amor respectivamente da mente – só podem ser experienciados indiretamente, pois a nossa identificação com o corpo impede o conhecimento do conteúdo da mente dividida, quanto mais da Mente de Deus.
Inserir a metáfora, a qual nos ajuda a expressar de forma mais poética e penetrante experiências que de outra forma não seriam verdadeiramente compreendidas ou mesmo acessíveis a nós. Dessa forma, assim como Freud usou a linguagem metafórica dos sonhos (e outras experiências humanas) para obter acesso ao inconsciente, Um Curso em Milagres usa símbolos como a via régia (para usar a famosa frase de Freud) para expressar o inexprimível.
Harmonia, usando notação musical em vez de palavras, sempre foi um meio maravilhoso de fazer isso e nesse artigo nós vamos empregar a música como uma metáfora para explorar o relacionamento santo, um tema central no Curso e diretamente relacionado ao seu conceito de perdão.
Mais especificamente, nós discutiremos a performance musical, na qual os instrumentistas colocam a sua arte a serviço do compositor, tornando as suas contribuições individuais secundárias à primazia da própria música. Nós começamos, no entanto, com uma breve discussão sobre o papel do símbolo e da metáfora no Curso.
Eu tenho muitas vezes incentivado os estudantes a lerem Um Curso em Milagres como fariam com uma poesia, por exemplo, um poema épico ou peça de Shakespeare, não como um tratado científico ou texto acadêmico. Em outras palavras, com uma obra-prima literária nós deixamos as palavras (símbolos e metáforas) e os ritmos brincarem com a imaginação, que então desvendariam o significado da obra e o poder de nos inspirarem a sermos mais do que nós acreditamos ser.
E assim, nós não devemos tomar literalmente muito do que lemos no Curso, necessitando, em vez disso, que a sua linguagem poética entre no coração (mente) em vez de meramente estimular o cérebro. Sem essa abordagem, nós permaneceríamos abaixo, no mundo da forma, enquanto o propósito de Jesus em seu curso é elevar-nos acima do campo de batalha dos corpos para o conteúdo da mente de uma paz que está além do intelecto e da compreensão.
Para afirmar isso de outra forma, sem entender o papel da metáfora e do símbolo em Um Curso em Milagres, nós estaríamos propensos a confundir símbolo (corpo) e fonte (mente), como Jesus especificamente nos adverte a não fazer (T-19.IV-C.11:2).
Inevitavelmente, então, a mensagem clara de nosso irmão mais velho de que nós somos mentes e não corpos será interpretada e aplicada equivocadamente.
Em vista disso, nós lemos o seguinte desde a Introdução ao Esclarecimento de Termos:
Esse curso permanece dentro da estrutura do ego, onde ele é necessário. Não se ocupa do que está além de todo erro, porque está planejado somente para estabelecer a direção nesse sentido. Por conseguinte, usa palavras que são simbólicas e não podem expressar o que está além dos símbolos. (ET-In.3:1-3)
Essa necessidade é explicada pela metafísica subjacente do Curso, que ensina que o corpo não existe fora da mente (as ideias não deixam sua fonte). Reafirmando isso, a mente é a causa e o corpo (e o mundo) apenas um efeito. Além disso, como sugerido acima, uma vez que a mente está além do tempo e do espaço, que existem apenas no universo material, as nossas palavras devem ser simbólicas. Como o próprio Curso diz, parafraseando uma passagem famosa da República de Platão (596c-602b):
Não nos esqueçamos, entretanto, de que as palavras não são senão símbolos de símbolos. Estão, assim, duplamente afastadas da realidade. (MP-21.1:9-10)
Isso é ainda mais ampliado pela seguinte declaração que explica por que Um Curso em Milagres usa a linguagem dualística (ou simbólica) do mundo. O ego nos faz acreditar que nós não somos mentes que tomam decisões, mas corpos sem mente que julgam, atacam e então perdoam.
Essa é a condição em que nós pensamos que existimos e, portanto, aquela a que Jesus parece se dirigir:
Tudo isso [perdão e relacionamento santo] leva em consideração o tempo e o espaço como se fossem distintos, pois enquanto pensas que parte de ti é separada, o conceito de uma unicidade unida como um só não tem significado. … No entanto, Ele [o nosso Professor] tem que usar uma linguagem que essa mente possa compreender, na condição na qual ela pensa que está. … [Isso nos leva além das ilusões] para a verdade que está além delas. (T-25.I.7:1, 4-5; destaques do autor)
Consequentemente, a linguagem de Um Curso em Milagres pode ser entendida como a expressão na forma da escolha da mente certa do Filho pela Expiação em vez da separação.
Os seus símbolos e as suas metáforas refletem o que nós não poderíamos entender de outra forma sobre a mente e os seus sistemas de pensamento atemporais e não espaciais de ataque e perdão.
Da mesma forma, esse artigo usa a metáfora como paradigma para compreender e praticar o verdadeiro relacionamento santo, a união da mente com o Espírito Santo. Essa metáfora, novamente, é a execução de música na sala de concertos.
Música como metáfora
Na cena de abertura do Ato V de O Mercador de Veneza, de Shakespeare, o jovem apaixonado Lorenzo está sozinho com Jessica, filha de Shylock e invocando a magia da música enquanto eles se sentam ao luar, o jovem amante diz à sua amada:
Sentemo-nos aqui e consintamos que nos ouvidos nos penetre a música. O tranquilo silêncio e a noite servem para realçar uma amena harmonia.
Essa bela passagem, cara aos amantes da música por séculos, pode ser uma metáfora maravilhosa por si só, na medida em que Um Curso em Milagres está nos guiando para que os nossos relacionamentos santos no mundo sejam realces de uma amena harmonia. Em nenhum lugar essa amena harmonia pode ser melhor vista do que nas melhores orquestras e grupos de câmara do mundo da música, onde as vontades dos indivíduos tornam-se subordinadas à vontade do maestro ou, se assim se pode falar, à vontade da música.
Nos primeiros anos da Fundação em Roscoe, Nova York [https://facim.org/], onde por treze anos nós dirigimos um Centro de Conferências e Retiros, minha esposa Gloria e eu realizamos reuniões que de vez em quando visavam ajudar a equipe a trabalhar melhor em conjunto, vendo-se, efetivamente, como membros de uma orquestra. Depois de uma dessas reuniões, enviamos o seguinte:
A propósito da nossa última reunião de pessoal, nós pensamos que todos considerariam a seguinte descrição do Quarteto de Cordas de Budapeste relevante e interessante. Por favor deixe a ideia expressa aqui de permitir que a sua voz individual sirva ao todo, sem perder a sua dádiva particular, seja o modelo para a sua participação no trabalho da Fundação.
O que se seguiu foi uma descrição ligeiramente resumida desse mestre de todos os quartetos de cordas, extraída de um artigo de Joseph Wechsberg que acompanhou um álbum de discos do Budapest tocando os Quartetos Finais de Beethoven:
Os devotos do quarteto de cordas que pouco se importam com a grandeza e negócios admiram o Budapest String Quartet [Quarteto de Cordas de Budapeste] por seu belo tom, sua perfeita integração, seu gosto impecável, seu fraseado cuidadoso, seu caráter e estilo e, acima de tudo, sua profundidade de interpretação.… O Budapest nunca se contenta apenas em tocar música com uma superfície bem polida; os quatro homens não apenas tocam música, eles fazem isso … O trabalho deles em conjunto é milagroso. Mas embora as quatro vozes instrumentais estejam perfeitamente combinadas, o trabalho individual dos artistas é sempre claramente discernível. …
No ano passado, nós recebemos uma carta de Patrizia Terreno, uma amiga nossa italiana, que descreveu um concerto de quarteto de cordas a que ela acabara de assistir e que, curiosamente, era semelhante ao relato acima sobre o Budapest:
Foi uma alegria vê-los tocar! Eles estavam perfeitamente sintonizados…. Era evidente que eles estavam seguindo uma espécie de melodia interior. Ninguém estava liderando. Ninguém estava seguindo. Os quatro estavam apenas tentando seguir a sua trilha sonora e tocar o melhor juntos. E a trilha sonora estava apenas dando a eles um motivo para serem felizes juntos e compartilhar com o público a maravilha de sua audição interna conjunta.
A questão aqui é que os músicos puderam se colocar a serviço da música, o que deveria ser o propósito de todo compositor de música, ao invés de buscar a glória individual que vem do domínio virtuosístico de seus instrumentos.
Eles foram fiéis à forma e ao conteúdo. Tendo dominado os desafios de seus instrumentos individuais e composições que tocavam (a forma), eles foram capazes de se sintonizar com o ‘silêncio entre as notas‘ (o conteúdo), a frase maravilhosa de Isaac Stern(*) que deve ser bastante familiar aos leitores desse boletim de notícias.
(*)Isaac Stern (1920 – 2001) foi um violinista Ucraniano. Tornou-se célebre por suas gravações e por suas descobertas de novos talentos.
Os corpos deles entraram em piloto automático, por assim dizer, permitindo que a música do coração se expressasse por meio da arte musical de seus corpos. Esses músicos permaneciam fiéis à notação musical, ao mesmo tempo em que ouviam a música interior (o que Wagner chamou de melos[*]) em uma integração perfeita: dentro dos instrumentos diferenciados e diferentes notas tocadas pelos músicos, havia forjado uma unidade de som e alma, forma e conteúdo.
[*]Melos (May-loes): termo usado por Richard Wagner para denotar as progressões vocais em algumas de suas óperas que não possuem a forma ou unidade de melodias regulares. Fonte: https://dictionary.onmusic.org/terms/2140-melos
Da mesma forma, o relacionamento santo pode ser visto como o efeito de pelo menos um dos parceiros demonstrando fidelidade ao propósito da mente disposta para o que é certo para os vários papéis que nós compartilhamos (por exemplo, pai-filho, cônjuges, amigos, empregador-empregado), ao mesmo tempo lembrando da prática do perdão que leva ao objetivo final de se tornar livre do ego. Esse tema de respeitar as necessidades e aspirações individuais (forma), ainda que se misture com o interesse comum de outra pessoa (conteúdo) é a nossa passagem para a próxima seção.
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…continua Parte II…
Um milagre é uma correção. Ele não cria e realmente não muda nada. Apenas olha para a devastação e lembra à mente que o que ela vê é falso. Desfaz o erro, mas não tenta ir além da percepção, nem superar a função do perdão. Assim, permanece nos limites do tempo. LE.II.13
Nada real pode ser ameaçado.
Nada irreal existe.
Nisso está a paz de Deus.
T.In.2:2-4