Série de artigos A Ética Budista nos Negócios.

Nós estamos destacando trechos do livro “Buddhist Economics” [“Economia Budista”] de autoria de Phra Brahmagunabhorn (P. A. Payutto), visando o conhecimento e o entendimento sobre o sistema de pensamento (ética, princípios e valores), o sistema organizacional (ambiente de trabalho, de relacionamentos e de políticas) e o sistema de tomada de decisões (propósitos, resultados e metas) de uma Organização Baseada na Espiritualidade (OBE), sendo esse tipo de Organização uma tendência global irreversível para as pequenas, as médias e as grandes Empresas, em quaisquer mercados de atuação, que visam a agregação de valor para todos os envolvidos nos negócios, assim como a sua própria perenidade.

Fonte:

Livro: Buddhist Economics

Autor: Phra Brahmagunabhorn (P. A. Payutto)

Traduzido por J.B. Dhammavijaya

ISBN 974-575-219-3

© 2016 Wat Nyanavesakavan

Edição em Tailandês publicada pela primeira vez em: 1988

Edição em Inglês publicada pela primeira vez em: 1992 (pela Buddhadhamma Foundation)

Edição original revisada em Inglês publicada pela primeira vez em: 2016

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Economia Budista

Parte II

Autor: Phra Brahmagunabhorn (P. A. Payutto)

Tradução livre Projeto OREM® (PO)

Anumodanā(*)

[(*)Observação: Anumodanā é uma bela expressão de alegria e apreço na cultura Budista, reforçando a ideia de que nós somos capazes de encontrar felicidade nos sucessos e nas boas ações dos outros. Fonte: Biblioteca da Sabedoria.]

Origem desse Livro

“A versão Tailandesa de Buddhist Economics (Economia Budista) (เศรษฐศาสตรร์แนวพพุทธ) foi originalmente uma Palestra do Dhamma proferida na auspiciosa ocasião da celebração do 72º aniversário do Prof. Dr. Puey Ungpakorn na Universidade Thammasat, em 9 de março de 1988. A Fundação Komol Keemthong solicitou permissão para imprimi-la como livro pela primeira vez em meados daquele mesmo ano.

Posteriormente, um bhikkhu Inglês, usando o pseudônimo J.B. Dhammavijaya, traduziu o texto para o Inglês sob o título Buddhist Economics (Economia Budista) e ofereceu essa tradução ao autor original. A Fundação Buddhadhamma solicitou permissão para publicar essa versão em Inglês para distribuição em 1992. Havia, portanto, duas versões: uma em Tailandês e uma em Inglês. Em 1994, o Comitê de Identidade Nacional solicitou a impressão de uma edição bilíngue desse texto.

Na mesma época, o Sr. Bruce Evans, da Austrália e o Sr. Jourdan Arenson, dos Estados Unidos, expressaram o desejo de que o livro Economia Budista incorporasse ensinamentos sobre economia contidos em alguns dos meus outros livros. Portanto, solicitaram permissão para expandir esse livro, traduzindo em conjunto cinco seções de quatro livros separados e compilando-os em um texto integrado.

Esse material extra veio dos seguintes livros: o texto original Tailandês de Economia Budista; duas seções do Buddhadhamma; e A Way Out of the Economic Bind on Thai Society (ทางออกจากระบบเศรษฐกกิจททท ครอบงงา สสังคมไทย). Outro material veio de uma palestra que eu escrevi enquanto estive na Universidade de Harvard como palestrante convidado e que eu apresentei em uma conferência acadêmica na Universidade da Califórnia, Berkeley, em 1981, sob o tema geral ‘Fundamentos da Ética Social Budista’. As editoras Americanas solicitaram a publicação dessa palestra como introdução no livro ‘Ética, Riqueza e Salvação’ (University of South Carolina Press, 1990).

Esse novo trabalho, preparado e compilado por essas duas pessoas, tornou-se a segunda edição em Inglês do livro ‘Economia Budista’, com o subtítulo ‘Um Caminho do Meio para o Mercado’. A Fundação Buddhadhamma solicitou novamente permissão para imprimi-lo e distribuí-lo, em 1994.

Existem, portanto, duas edições em Inglês de Economia Budista. A primeira contém o mesmo material da edição original em Tailandês; a segunda contém material adicional.

Posteriormente, a editora Fischer Media, na Alemanha, nos enviou um livro em Alemão publicado em 1999, intitulado ‘Buddhische Ökonomie’, traduzido pelo Dr. Mirko Frýba. Nós descobrimos que eles traduziram esse texto da segunda edição em Inglês de Economia Budista. A editora não havia pedido permissão; provavelmente presumiu que o autor original não possuía os direitos autorais; portanto, seria aceitável publicar primeiro e depois informar o autor. (É verdade que eu não sou possessivo, ou seja, eu não recebo remuneração, mas é importante manter a integridade e a precisão nesses assuntos.) Posteriormente, eles enviaram um documento comprovando que esse livro havia sido um best-seller, embora ainda nós não tenhamos como comprovar essa afirmação.

Em 2000, foram feitas algumas mudanças importantes na versão Tailandesa de Economia Budista, que foi revisada e complementada. A sétima edição desse texto foi reformatada e continha um apêndice: ‘Princípios Gerais da Economia Budista — Economia do Caminho do Meio’. Como uma consequência, a versão Tailandesa era maior que a primeira edição em Inglês, mas não tinha nada a ver com a segunda versão em Inglês.

Em 2003, a Ag Mass Media Company solicitou a publicação da versão Tailandesa completa e atualizada de Economia Budista como parte do livro Tailandês maior intitulado ‘Dispelling Discord: Buddhist Jurisprudence, Political Science, and Economics’ (สลายความขสัดแยย้ง: นกิตกิศาสตรร์แนวพพุทธ-รสัฐศาสตรร์แนวพพุทธ เศรษฐศาสตรร์แนวพพุทธ). Esse texto pode assim ser considerado a 8ª impressão de Economia Budista. Nessa última impressão (9ª impressão; 2005) foram feitas pequenas revisões e acréscimos, especialmente no apêndice.

Em suma, o livro Economia Budista, tanto a versão Tailandesa quanto a Inglesa, possui muitas edições, com extensão e conteúdo variados.

Observe que esse livro que você agora tem em mãos contém revisões feitas à versão Tailandesa em 2000 e 2005, enquanto a versão em Inglês é idêntica à primeira edição em Inglês traduzida por J.B. Dhammavijaya em 1992.(*)

Phra Brahmagunabhorn (P. A. Payutto) – 14 de fevereiro de 2005

(*) Observe que o apêndice da versão em Inglês foi traduzido por Robin Moore em 2015.

Prefácio do Tradutor

“Hoje em dia, as técnicas de meditação Budista são bem conhecidas no Ocidente e as percepções Budistas sobre a condição humana, pelo menos nos círculos acadêmicos, exercem uma influência crescente. Infelizmente, a imagem popular do Budismo é frequentemente excessivamente austera e muitas pessoas ainda o consideram um ensinamento de negação ou fuga das preocupações mundanas para um reino privado e hermético de bem-aventurança. No entanto, se nós nos dermos ao trabalho de recorrer às palavras do próprio Buda, nós encontraremos um ensinamento completo e rico que abrange todos os aspectos da vida humana, com muitos conselhos práticos sobre como viver com integridade, sabedoria e paz em meio a um mundo confuso. Talvez seja hora de tal ensinamento ser mais amplamente disseminado.

Nesse pequeno volume, Tan Jow Khun Phra Debvedi (Bhikkhu Payutto) oferece uma perspectiva Budista sobre o tema da economia. Embora não pretenda apresentar uma teoria econômica Budista completamente abrangente, ele fornece muitas ferramentas para reflexão, maneiras de encarar a questão econômica com base em uma apreciação ponderada de como as coisas são, de como nós somos. Eu espero que, ao disponibilizar essa obra em Inglês, ela possa contribuir, pelo menos em pequena escala, para a resolução do que tem sido chamado de atual ‘impasse da economia’ e despertar os leitores para a ampla relevância contemporânea das verdades atemporais que o Buda descobriu e compartilhou conosco.

Dhammavijaya Bangkok – maio de 1992”

—–Continuação da Parte I—–

Apêndice:

Princípios Gerais da Economia Budista (Economia do Caminho do Meio)(*)

(*) Esse apêndice foi traduzido por Robin Moore em 2015.

1. Consumo Consciente (Wise Consumption)

Consumo é o ponto de partida de todo o processo econômico, pois a produção, o comércio e a distribuição derivam originalmente do consumo.

Ao mesmo tempo, o consumo também é a meta e o ponto final de toda atividade econômica, pois a produção, o comércio e a distribuição são realizados e cumpridos pelo ato de consumir.

Como beneficiários dos efeitos positivos e negativos da atividade econômica, os consumidores devem reconhecer que têm alguma liberdade de escolha sobre o que eles consomem, para que eles possam realmente se beneficiar a partir do consumo. Esse consumo livre ou independente depende do consumo consciente.

O consumo consciente permite ao consumidor discernir os vários fatores em jogo na economia e leva à moderação do consumo e ao equilíbrio geral da atividade econômica, beneficiando todos os membros da sociedade.

Um exemplo simples de consumo consciente está relacionado ao ato de comer. Aqui, ao comer, o consumidor de alimento reconhece que ele ou ela é:

1. Um membro da sociedade:

As necessidades e os desejos das pessoas são induzidos e influenciados pela sociedade, por exemplo, pelos valores sociais. Alguém pode simplesmente comer para exibir o seu status, para estar na moda ou para se divertir.

2. Uma parte da natureza:

As necessidades das pessoas são determinadas por causas e condições naturais. As pessoas necessitam comer para sustentar a vida, manter um corpo forte e saudável, estar livres de doenças, viver com conforto e ter os atributos físicos necessários para viver uma vida virtuosa e produtiva.

O consumo consciente permite ao consumidor discernir os vários fatores em jogo na economia e leva à moderação do consumo e ao equilíbrio geral da atividade econômica, beneficiando todos os membros da sociedade.

Se as pessoas reconhecerem que a verdadeira necessidade de consumir alimentos compreende as necessidades naturais mencionadas na segunda cláusula acima, elas comerão com o objetivo de manter um corpo forte e saudável e de viver uma vida boa, ou seja, para uma boa qualidade de vida.

Tais pessoas, via de regra, atenderão às demandas e exigências do corpo para alcançar uma boa qualidade de vida. A satisfação das necessidades e desejos da sociedade será secundária e somente será atendida após cuidadosa consideração.

Isso é chamado de consumo consciente, permitindo que o consumidor se beneficie de bens e mercadorias e os aprecie adequadamente.

Aplicando a linguagem da economia, o consumo não é meramente o uso de bens e mercadorias e a satisfação de desejos por uma vaga sensação de satisfação, mas sim o uso de bens e a satisfação de desejos para obter verdadeiro contentamento, reconhecendo que se obtém uma boa qualidade de vida, ou seja, obtém-se as vantagens e os objetivos genuínos do consumo, por exemplo, em relação à alimentação descrita acima.

O consumo consciente está, portanto, no coração de uma economia equilibrada ou justa, pois gera moderação e contentamento em relação à quantidade e aos tipos de objetos consumidos, satisfazendo as necessidades das pessoas e permitindo-lhes atingir os verdadeiros objetivos de consumir e desfrutar das coisas.

Além disso, o consumo consciente atua como critério para controlar a produção e regular outros aspectos da economia.

Além disso, retifica valores sociais equivocados, como a tendência à extravagância e ao luxo e reduz a opressão social e a destruição do meio ambiente, levando ao desperdício de recursos naturais e à geração de níveis de poluição além da capacidade da sociedade de lidar com isso.

Ao contrário, o consumo imprudente implica a falta de reflexão e consciência no nível da realidade (awareness) sobre os verdadeiros objetivos do consumo de bens e mercadorias. Por exemplo, uma pessoa pode consumir coisas simplesmente para satisfazer desejos ditados pela sociedade, como, por exemplo, tentando parecer elegante ou exibindo o seu status social. Além de não atingir os verdadeiros objetivos do consumo, tal comportamento leva à extravagância e ao desperdício, à opressão de outras pessoas e à destruição do meio ambiente.

O consumo não consciente leva a um grande desperdício de recursos e prejudica a qualidade de vida das pessoas, que é o verdadeiro propósito do consumo. Por exemplo, alguém pode comer uma refeição extravagante e gastar US$ 300, entretanto, a riqueza da comida pode causar doenças ao corpo, prejudicando a saúde e o bem-estar. Um consumidor consciente, por outro lado, pode gastar apenas US$ 3, mas ainda assim consumir alimentos saudáveis ​​e, então, atingir o verdadeiro objetivo da alimentação.

Hoje em dia, o modelo de negócios de maximização do lucro é amplamente difundido e tem se tornado parte da globalização; como resultado, a produção econômica tem aumentado drasticamente.

Normalmente, os produtores agem para servir os consumidores ou para satisfazer as necessidades dos consumidores e os consumidores determinam o ato de produção.

Entretanto, as circunstâncias têm mudado. Os produtores agora têm poder sobre os consumidores, a ponto de regular o consumo. O consumo agora atua para satisfazer os desejos comerciais dos produtores. Os produtores estimulam os desejos dos consumidores e geram novas tendências populares, que muitas vezes não são vantajosas para o consumidor e são prejudiciais tanto para a sociedade quanto para o meio ambiente.

Produtores com senso de obrigação moral usarão a criatividade deles para produzir novas mercadorias que ofereçam aos consumidores melhores opções e que realmente atendam às suas necessidades. Isso é especialmente verdadeiro no que diz respeito àquilo que amplia os horizontes intelectuais das pessoas ou expande o seu grau de conhecimento e apoia o desenvolvimento dos seres humanos e o progresso da sociedade.

Tal ação responsável está em conformidade com o princípio de uma ‘economia solidária’, segundo o qual a economia é solidária ou propícia dentro de um ‘modo de condicionalidade’ (paccayākāra): um sistema saudável de interdependência e inter-relacionamento, abrangendo indivíduos, a sociedade e o meio ambiente natural e aprimorando a civilização humana.

O problema reside numa forma de produção que vê os consumidores como presas e busca apenas aumentar o lucro e o ganho pessoal, incitando vários tipos de indulgência e paixão, gerando um turbilhão de consumo ganancioso. Tal atividade destrói a qualidade de vida das pessoas e prejudica o bem-estar delas.

Esses efeitos prejudiciais também ocorrem porque os consumidores carecem de uma forma de autodesenvolvimento ou não acompanham o progresso genuíno em sua sociedade. Pelo menos, eles não são consumidores astutos e eles são incapazes de competir com a inteligência dos produtores.

Nos países em desenvolvimento, se a porcentagem de consumidores conscientes não aumentar significativamente, os cidadãos desses países serão desviados pelos sistemas econômicos predominantes nos países desenvolvidos que controlam a produção e cairão na armadilha da escravidão à ânsia pessoal. Eles não terão a força para se recuperar desse estado de fraqueza ou resistir ao poder do assim chamado progresso.

Embora tal economia possa estar em um estado de crescimento pessimista, ela só pode ser considerada ‘boa’ a partir de uma perspectiva numérica enganosa. Os números ou estatísticas ocultam qualquer corrupção ou degeneração inerente à economia, permitindo que a fraqueza e a decadência se mantenham e fazendo com que cada vez seja mais difícil retificar a situação.

Por essa razão, é imperativo promover o desenvolvimento dos consumidores, para que eles se mantenham a par dos produtores e do fluxo de negócios. Nesse caso, os produtores simplesmente apresentam novas mercadorias e assumem o papel apropriado de servir aos consumidores. Os consumidores aplicam o conhecimento discriminativo (vicāraṇa-ñāṇa) ao escolher mercadorias, permitindo que os verdadeiros benefícios do consumo sejam alcançados e eles mantêm a liberdade deles, agindo para determinar a atividade econômica e cumprindo o verdadeiro propósito da vida humana.

O consumo consciente equivale ao consumo equilibrado e ótimo. Ele está no coração do que pode ser chamado de economia ótima, economia de suficiência ou economia do caminho do meio. Pode-se dizer que é a economia daqueles que são espiritualmente desenvolvidos e verdadeiramente civilizados.

Em outras palavras, o consumo consciente é o ponto de partida e a essência de uma economia Budista, pois está no centro da atividade econômica e determina todo o processo econômico, incluindo a produção e a publicidade. Além disso, sustenta tudo o que é bom e construtivo na economia.

Em suma, o consumo consciente é a essência do modo de vida correto (sammā-ājīva), um dos fatores do Nobre Caminho Óctuplo, ou seja, de uma vida virtuosa.

Especialmente no que diz respeito ao consumo consciente, uma economia do caminho do meio tem que estar relacionada ao desenvolvimento espiritual humano e também a outros princípios pertinentes à economia Budista.

o consumo consciente é a essência do modo de vida correto (sammā-ājīva), um dos fatores do Nobre Caminho Óctuplo, ou seja, de uma vida virtuosa.

2. Liberdade a partir de Autolesão e a partir da Opressão de Outros

O termo ‘eu’ (‘ser’, ‘self’) aqui se refere a cada indivíduo humano, tanto no sentido de: 1) um organismo vivo que compreende uma parte da natureza, quanto de 2) um membro da sociedade. O termo ‘outros’ se refere a: 1) o conjunto de indivíduos humanos, ou seja, as outras pessoas que compõem a comunidade ou sociedade de alguém e 2) a ecologia de alguém, ou seja, o meio ambiente ou o planeta inteiro.

Para começar, as pessoas devem se abster de autolesão. Mas, como membros da sociedade e parte do ambiente natural, para que vivam felizes e à vontade, também elas necessitam desempenhar um papel positivo e solidário externamente. Elas têm que ter cuidado para não danificar ou lesar o ambiente social e natural em que vivem, pois qualquer problema ou perturbação externa pode afetar diretamente o próprio bem-estar pessoal delas.

Não muito tempo atrás (antes de 1970), é justo dizer que a economia como disciplina acadêmica quase não dava atenção a questões relativas ao meio ambiente, porque elas eram consideradas fora do escopo do foco de estudo dessa disciplina.

Logo depois, porém, os economistas foram obrigados a dar uma guinada de quase 180 graus. Eles começaram a dar grande importância à saúde do meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável, pois as atividades econômicas das décadas anteriores eram vistas como as principais culpadas pela criação de problemas ambientais para o mundo, tanto para as sociedades humanas quanto para o meio ambiente.

A economia não deveria ter que esperar por uma crise como essa para prestar atenção a tais problemas, pois esses vários fatores estão interligados. As atividades econômicas desempenham um papel importante no mundo de maneiras que os próprios economistas podem ainda não estar cientes. Por exemplo, a economia tem um efeito direto no bem-estar das pessoas que vai além do escopo restrito da riqueza material ou do bem-estar material.

Os problemas ambientais, por exemplo, funcionam como um lembrete de que a economia tem que cooperar em um papel de apoio para promover uma existência saudável para os indivíduos, a sociedade e o meio ambiente.

Observe que a expressão ‘liberdade de autolesão’ não se refere apenas a evitar o empobrecimento e a garantir que se tenha uma quantidade adequada dos quatro requisitos para viver com tranquilidade.(*) Refere-se também a abster-se de atividades econômicas que sejam prejudiciais a si mesmo de outras maneiras, mesmo que sejam realizadas involuntariamente ou sem consciência no nível da realidade (unawareness), por exemplo: consumindo coisas com falta de circunspecção ou com falta de moderação.

(*) Os quatro requisitos: comida, abrigo, vestuário e medicamentos.

Por exemplo, o caso mencionado anteriormente de alguém que gasta muito dinheiro em uma refeição suntuosa para satisfazer as suas papilas gustativas ou exibir o seu status social. A comida rica, no entanto, não atende às necessidades do corpo; ao invés disso, ela tem efeitos nocivos a curto e longo prazo, prejudicando a sua saúde. Isso é chamado de ‘autolesão’.

Estar livre da autolesão implica um consumo consciente, atendendo às necessidades do corpo e promovendo a boa saúde.

Há outro fator importante relacionado a esse tema da autolesão. Ele está relacionado à natureza humana e a viver uma vida digna, que é a verdadeira meta das atividades econômicas. A saber, os seres humanos possuem a característica única de serem ensináveis ​​ou treináveis e eles alcançam a excelência precisamente por meio desse treinamento e educação espiritual.

Estar livre da autolesão implica um consumo consciente, atendendo às necessidades do corpo e promovendo a boa saúde.

O treinamento espiritual traz inúmeros benefícios, incluindo: a fala e a conduta corporal tornam-se cada vez mais refinadas e virtuosas; a pessoa se torna mais proficiente e bem-sucedida em diversas tarefas; a pessoa desenvolve diversas faculdades espirituais; a mente se torna mais potente, estável e feliz; a pessoa adquire sabedoria e discernimento; a pessoa contribui para a sua herança cultural e a sua civilização em questões relativas a realizações acadêmicas e filosóficas; e a pessoa reconhece a verdadeira paz e liberação.

os seres humanos possuem a característica única de serem ensináveis ​​ou treináveis e eles alcançam a excelência precisamente por meio desse treinamento e educação espiritual.

O uso adequado dos quatro requisitos por uma pessoa é capaz de ajudar a promover as potencialidades espirituais listadas acima.

No entanto, se as pessoas se privam deliberadamente dos requisitos necessários ou os consomem de forma delusória, entregando-se ao prazer material e abandonando a oportunidade de desenvolver o seu próprio potencial espiritual, isso por si só pode ser chamado de ‘autolesão’.

No mundo de hoje, existem inúmeras pessoas com abundância de bens materiais, no entanto, ao invés de usar essas coisas para aprimorar o seu potencial espiritual e alcançar estados mentais superiores, muitas delas se intoxicam com uma vida de luxo e se tornam descuidadas, desperdiçando o seu potencial de vida da maneira mais lamentável.

É por essas razões que um sistema econômico viável, além de exigir que as pessoas se abstenham de prejudicar umas às outras, também inclui a ausência de autolesão.

3. Economia como Suporte

Nessa era, o desenvolvimento econômico e o sucesso têm sido medidos principalmente pelo crescimento econômico, ou seja, o foco tem sido na abundância e prosperidade materiais ou em objetos de consumo.

Finalmente, por volta de 1987, houve um reconhecimento claro e generalizado de vários problemas, a ponto de as Nações Unidas fazerem uma declaração formal afirmando que o desenvolvimento econômico vigente era insustentável.

As pessoas começaram a reconhecer que a principal causa desse desenvolvimento insustentável era uma falha e um desequilíbrio no próprio sistema econômico, que se recusava a levar em conta os efeitos prejudiciais ao meio ambiente e não estava integrado ao desenvolvimento dos seres humanos.

Apesar desse reconhecimento das deficiências do sistema, uma reforma genuína e a correção dessas falhas ainda não ocorreram. O desenvolvimento econômico desequilibrado e isolado, com ênfase na abundância e na riqueza, tem continuado inabalável. Os conceitos de ‘desenvolvimento sustentável’, ‘desenvolvimento equilibrado’ ou ‘desenvolvimento integrado’ são simplesmente discutidos em conversas educadas, sem serem efetivamente implementados.

A razão pela qual esse problema ainda não foi corrigido é porque os princípios ou critérios para a sua solução não são suficientemente claros e porque as pessoas não têm confiança e convicção nas soluções propostas. Essas razões, no entanto, não chegam ao coração da questão.

A verdadeira razão pela qual o problema persiste é porque as soluções vão contra a disposição arraigada das pessoas ou conflitam com os seus desejos.

A forma anterior de desenvolvimento econômico tem habituado as pessoas a considerar a riqueza material, ou o chamado ‘progresso econômico’, como a meta da vida e a missão da sociedade. Muitas pessoas, portanto, depositam as suas esperanças de felicidade na aquisição da maior quantidade possível de objetos de consumo gratificantes.

Em suma, uma crença ou paradigma de pensamento fundamental das pessoas na era atual é que a abundância material é o objetivo final da atividade econômica.

É preciso reconhecer que a produção econômica e os objetos de consumo são importantes para a sobrevivência da vida humana. Mas esse não é o seu único propósito; eles têm um significado que vai além da mera sobrevivência.

Se a economia estiver em dificuldades e as pessoas forem privadas dos quatro requisitos, isso interferirá ou impedirá o desenvolvimento intelectual e da sabedoria, que é essencial à cultura e à civilização e que constitui a maior bênção da vida humana.

A produtividade econômica ou a abundância de bens materiais não são o objetivo da vida humana. Ao invés disso, a atividade econômica e os bens materiais atuam como um suporte para as pessoas, permitindo-lhes viver e sobreviver e auxiliando-as a criar e realizar a mais alta bondade e excelência obtidas por meio do potencial humano.

Esse princípio é sintetizado na história do Buda fornecendo alimento ao vaqueiro faminto para que ele tivesse força e tranquilidade para ouvir o Dhamma e crescer em virtude espiritual.

Se as pessoas veem a atividade econômica como a meta da vida, elas confiam a sua esperança e a sua felicidade às coisas materiais e se deixam levar pela busca por tais coisas. As suas vidas e a sociedade ficam presas à indulgência sensual e o assédio e a opressão mútuos no mundo aumentam. O dinheiro transborda, mas a iniquidade floresce.

É uma vergonha quando as pessoas se atolam nesse nível e não conseguem desenvolver o seu potencial humano, abandonando a oportunidade de avançar na excelência espiritual. Ao invés disso, elas desperdiçam o seu potencial em vão e se envolvem em uma forma inferior de desenvolvimento.

Isso é semelhante às palavras de King Mandhātu, que disse que, para uma pessoa gananciosa, apesar de viver uma longa velhice, nenhuma quantidade de bens materiais saciará os seus desejos; nunca haverá o suficiente.

(Em um assunto relacionado, Thomas Robert Malthus afirmou que, com o aumento populacional, o número de objetos de consumo não aumenta o suficiente para satisfazer as necessidades e os desejos das pessoas.) Para que a disciplina da economia seja relevante na promoção da civilização humana, ela tem que reconhecer o papel de apoio que a atividade econômica e a prosperidade material são capazes de desempenhar para permitir o desenvolvimento do potencial intelectual e espiritual humano. Isso levará ao verdadeiro crescimento e prosperidade, condizentes com a bênção de uma vida humana e dará origem a uma cultura e civilização prósperas e nobres. Os economistas podem tentar abafar tais afirmações de acordo com a doutrina da era da especialização, alegando que essas responsabilidades excedem a competência ou estão fora do escopo da economia. A única responsabilidade da economia é se preocupar em fornecer bens materiais adequados para satisfazer as necessidades e os desejos humanos por meios industriais ou comerciais.

No entanto, essa objeção e dissociação são insustentáveis, porque todos os aspectos da atividade econômica estão relacionados às visões de mundo e às perspectivas de vida das pessoas. Além disso, tal dissociação e especialização já estão ultrapassadas, como se é capaz de constatar pela recente inclusão de questões ambientais no campo da economia. Reconhecendo a importância do ecossistema e dos fatores ambientais externos, é inevitável que a economia se interesse mais pela vida humana e se integre mais às ciências sociais e humanas. Assim como o consumo, como meta final percebida das atividades econômicas, tem se tornado a origem de problemas em relação ao meio ambiente natural, o consumo, como ponto final para a satisfação das verdadeiras necessidades das pessoas e a geração de contentamento, é a origem da genuína criatividade e prosperidade humanas.

Há cerca de sessenta anos, um economista Tailandês escreveu em um de seus livros que, da perspectiva da economia, uma imagem de Buda e um barril de esterco têm o mesmo valor ou têm o mesmo mérito.

Eu não estou citando essa passagem para criticar esse economista. É apenas um exemplo do ponto de vista e da perspectiva da época em que a especialização acadêmica estava em ascensão. Desse ponto de vista, a economia é uma ciência isenta de valores.

Aqui, nós não necessitamos nos aprofundar na questão de se tal ponto de vista de fato contém valores pessoais inerentes. Na era moderna, essa especialização acadêmica e a visão do meio ambiente como composta apenas pelo mundo material estão obsoletas ou ultrapassadas. A academia moderna agora leva em consideração o inter-relacionamento e a integração das disciplinas acadêmicas.

Para que a disciplina econômica seja eficaz, alinhada aos seus próprios objetivos e em harmonia com a era moderna, não é mais útil nem necessário que ela se declare isenta de valor. A sua principal responsabilidade é ajudar a analisar como os princípios isentos de valor podem ser integrados aos princípios relativos ao valor.

Isso não significa que os economistas tenham que estudar todas as outras disciplinas até que as fronteiras se tornem tênues. A economia deve permanecer um ramo distinto do conhecimento, com a sua própria forma de estudos especializados.

O que isso significa é que a economia tem que discernir corretamente a sua conexão e relação com outros campos do conhecimento, com o alvo de promover coletivamente a disposição e o bem-estar das pessoas, permitindo-lhes viver em uma sociedade pacífica e em um mundo agradável e habitável.

Se, devido a uma economia próspera, as pessoas possuem bens materiais abundantes, mas elas são fascinadas por essas coisas, permitem que o potencial humano delas se desperdice e se tornam mais depravadas, a prosperidade delas carece de mérito. As pessoas, então, obtêm bens materiais para esbanjar a humanidade delas. Se tal situação ocorrer, a economia não escapará de ser chamada mais uma vez de ‘ciência sombria’, em um sentido ainda mais profundo do que o originalmente pretendido.

Se, no entanto, a economia incentivar uma gestão da economia de maneira a apoiar o verdadeiro desenvolvimento humano:

A. Ela não se atolará na tentativa de gerar prosperidade econômica para satisfazer apenas alguns indivíduos ou grupos de indivíduos.

B. Ela visará estabelecer uma economia de suficiência, permitindo que as pessoas criem uma vida pessoal, uma sociedade e um mundo virtuosos e pacíficos.

Uma economia tão solidária não é uma forma de Liberalismo imerso no Consumismo e na indulgência sensual, nem uma forma de Socialismo em que as pessoas são forçadas a se conformar a um estado de igualitarismo rígido. Ao invés disso, é um estado de suficiência que atende às necessidades da maioria das pessoas, que se desenvolvem dentro de uma civilização próspera e florescente.

Se a disciplina econômica for capaz de enxergar a economia dessa forma de inter-relacionamento e apoio, ela desempenhará um papel fundamental no desenvolvimento da civilização humana. Ela cumprirá a sua função verdadeira e adequada e merecerá o título do termo Tailandês settha-sat (เศรษฐศาสตรร์; das palavras Sânscritas ṡreshṭha e ṡāstra), literalmente: ‘ciência excelente’.

4. Harmonia com a Natureza Humana

Uma motivação ou estado de espírito que exerce forte influência sobre a economia é a ganância ou cobiça (lobha).

Há economistas que afirmam que a ganância é uma parte natural da natureza humana e, portanto, não há mal nenhum em que as pessoas se envolvam na economia com esse estado de espírito.

Alguns até dizem que a ganância deve ser promovida, pois levará as pessoas a serem mais industriosas, intensificará a competição e criará uma economia mais vigorosa, por exemplo, aumentando a produção e o rendimento.

É verdade que a ganância faz parte da natureza humana. A afirmação acima, no entanto, é falha; ela carece de análise lógica e é apenas uma consideração unilateral. Ela revela um entendimento inadequado da natureza humana. Ela é uma hipótese e conjectura opinativa, resultante de estudos e pesquisas incompletos. Ela é um ponto fraco que, se presente, faz com que seja extremamente difícil para a economia resolver verdadeiramente os dilemas humanos.

Aqui estão algumas observações sobre as falhas da afirmação categórica de que ‘a ganância faz parte da natureza humana’:

A) Embora a ganância seja de fato parte da natureza humana, ela é apenas um aspecto dela. Os seres humanos possuem muitas outras qualidades, incluindo muitas que são diametralmente opostas à ganância, como por exemplo: bondade, compaixão, generosidade e autossacrifício.

B) Algumas pessoas consideram a ganância humana idêntica à ganância inerente a outros animais, como elefantes, cavalos, vacas, cães, ratos, porcos, gatos, etc., mas isso não é verdade. A ganância em (outros) animais é instintiva. Quando o desejo básico de viver, comer, reproduzir-se, etc., é satisfeito, o assunto está encerrado.

A ganância nos humanos, no entanto, é agravada pela capacidade de pensar, aumentando assim tanto em quantidade quanto em intensidade. Por exemplo, a ganância é capaz de aumentar enormemente a hostilidade; a ganância de uma pessoa é capaz de levá-la a exterminar um milhão de outras e criar um caos incalculável no mundo.

Para saciar a ganância, as pessoas podem usar subterfúgios elaborados e duplicidades não encontradas em outros animais. Se não for administrada corretamente, a ganância é capaz, portanto, de criar problemas tremendos.

C) Como mencionado anteriormente, alguns economistas afirmam que a ganância é boa porque faz com que as pessoas sejam mais industriosas e trabalhadoras. Isso é tolice, no entanto, supor que essa seja a visão predominante da maioria dos economistas.

Muitos economistas eminentes, incluindo economistas tradicionais, reconhecem que a ganância é ruim.

John Maynard Keynes, por exemplo, considerava a ganância ruim, mas afirmava que as pessoas têm que confiar e utilizar a ganância por um futuro previsível (‘pelo menos por 100 anos’). Ele considerava necessário que as pessoas tivessem ganância — o desejo por dinheiro e riqueza — até que a economia crescesse o suficiente para atender às necessidades básicas das pessoas e fosse capaz de eliminar completamente a pobreza.

‘Por pelo menos mais cem anos, nós temos que fingir para nós mesmos e para todos que o justo é imundo e o imundo é justo; pois o imundo é útil e o justo não é. Avareza, usura e precaução têm que ser os nossos deuses por mais um pouco.”(*)

(*) Ensaios em Persuasion [Persuasão], Cap. 5, ‘The Future’ [‘O Futuro’] (1931).

(Algumas pessoas têm respondido a esse comentário, dizendo que, usando o sistema econômico atual, mesmo que se esperasse 500 anos, ou que a força da economia se multiplicasse 500 vezes, a pobreza ainda não seria eliminada.)

Os próximos dois fatores são de suma importância, a saber:

D) Economistas que promovem a ganância não entendem verdadeiramente a natureza e as implicações da ganância. O entendimento geral do desejo é vago e mal definido, e eles não reconhecem que existem diferentes tipos de desejo. Basicamente, existem dois tipos de desejo, que são revelados nos seguintes exemplos:

– Glória varre e esfrega a casa porque deseja uma casa limpa.

– Keith, por outro lado, varre e esfrega porque lhe prometeram um bolo como uma recompensa.

– Um acadêmico escreve um livro ou realiza uma pesquisa em sua área de estudo específica porque deseja compartilhar conhecimento com outras pessoas, ajudando-as a resolver problemas ou promovendo o desenvolvimento social.

– Outro acadêmico escreve um livro ou realiza uma pesquisa porque deseja uma promoção no emprego ou uma recompensa monetária.

Observe as diferenças entre esses dois tipos de desejo:

1. O primeiro tipo de desejo é o desejo de produzir ou gerar algo e busca o resultado direto de uma ação específica.

Esse desejo é uma causa direta para a ação, ou seja, é um desejo pela ação e um desejo pelos frutos da ação. (Aqui, a ação positiva está implícita: agir para gerar resultados positivos ou agir bem. Pode-se chamar isso de ‘aspiração criativa’ ou ‘busca pelo desenvolvimento’.)

2. O segundo tipo de desejo é o desejo de obter um objeto, para o qual ainda não se é elegível, a fim de possuí-lo ou consumi-lo. Além disso, existem pré-condições ou estipulações de que se tem que fazer alguma coisa diferente (ou seja, um ato separado e não diretamente relacionado ao objeto) para obter o objeto desejado.

Esse tipo de desejo não é uma causa direta para a ação. Ao invés disso, leva a pessoa a buscar uma maneira de obter o objeto, sujeito à pré-condição específica de ser compelida a agir para obter alguma coisa. A pessoa age apenas porque tal ação é uma pré-condição. Não se deseja o resultado direto da ação (por exemplo, limpeza); ao invés disso, deseja-se algum tipo de recompensa (por exemplo, um bolo).

O desejo designado como ‘ganância’ (lobha) é precisamente esse segundo tipo de desejo, ou seja, o desejo de obter.

O segundo tipo de desejo, em Páli, recebe o nome de chanda, traduzido como ‘desejo de agir’. Isso se refere ao desejo de agir para obter resultados positivos. Também pode ser traduzido como ‘desejo de criar’ e até mesmo como ‘desejo de conhecimento’.(*)

(*) Nesse ponto, nós não discutiremos o assunto relacionado de necessidade ou ‘carência’ (‘need’).

Como a ganância ou a cobiça é simplesmente o desejo de obter, as pessoas gananciosas não desejam agir e não aspiram ao resultado direto de uma ação. Elas só agem quando são obrigadas a agir para obter um objeto desejado. Se elas pudessem obter esse objeto sem nenhum esforço, isso seria o ideal.

Quando elas são forçadas a agir, elas o fazem de má vontade e contra a vontade, com dificuldades e falta de entusiasmo. Como uma consequência, tem-se que estabelecer um sistema de controle e regulação, frequentemente complexo e corrupto.

Se possível, essas pessoas evitarão trabalhar para conseguir o que desejam; elas buscarão maneiras de obtê-lo sem nenhum esforço. Tal desejo é, portanto, a raiz de várias formas de comportamento imoral e males sociais.

O desejo, em suas diversas formas, desempenha um papel significativo na vida das pessoas e atua como uma força motriz na economia. Se os economistas desejam que as atividades econômicas realmente beneficiem os indivíduos e a sociedade, eles têm que desenvolver um entendimento mais profundo sobre o desejo e aprender a aproveitá-lo. Isso está relacionado ao próximo fator:

E) A perspectiva Ocidental sobre a natureza é vê-la como fixa ou estática. A economia contemporânea, em geral, tem evoluído a partir dessa maneira de pensar. Portanto, ela vê o desejo como uniforme e invariável e busca obstinadamente satisfazer esse tipo de desejo percebido como constante e uniforme.

A natureza humana, no entanto, está aberta a mudanças.

Esse é um ponto crucial. Os seres humanos são únicos no sentido de que nós somos capazes de ser treinados; nós somos receptivos ao desenvolvimento e ao cultivo espiritual. É responsabilidade de cada indivíduo participar desse autodesenvolvimento e é dever da sociedade promovê-lo.

A educação, o treinamento e o cultivo espiritual estão no coração dos esforços das pessoas para viver uma vida boa e criar uma sociedade pacífica. É o atributo expresso que permite que as pessoas sejam nobres e excepcionais e criem uma cultura e civilização prósperas e florescentes.

E, nesse contexto, o desejo, que tem influência direta na atividade econômica, é capaz de ser transformado e cultivado. Isso se aplica às duas formas de desejo mencionadas acima.

Tal transformação do desejo provoca uma mudança de comportamento, incluindo o comportamento econômico. Além disso, induz mudanças em muitos outros níveis, incluindo o desenvolvimento e o aumento da felicidade.

Esse aprimoramento e desenvolvimento das qualidades espirituais é precisamente o desenvolvimento da virtude humana e anda de mãos dadas com uma economia de condicionalidade mútua e com o desenvolvimento humano genuíno.

Vejamos o exemplo do trabalho. Se nós desenvolvemos o desejo e geramos entusiasmo pelo trabalho, ou se nós somos capazes de transformar o desejo egoísta (lobha) em desejo saudável (chanda), todo o significado do trabalho e as nossas atitudes em relação ao trabalho também serão transformados.

Desejo de Obter (lobha)Desejo de Agir (chanda)
O trabalho é uma pré-condição para a obtenção de um objeto desejado.O trabalho produz resultados desejados.
Trabalha-se com relutância, esperando o momento de buscar prazer.Trabalha-se com uma sensação de felicidade, facilmente acessível, inerente à tarefa em questão.
Trabalha-se por um sentimento de dificuldade e infortúnio, ganhando dinheiro para comprar prazer (curso indireto).Trabalha-se com alegria; o dinheiro que se ganha apenas aumenta a felicidade (curso direto).
O trabalho é uma forma de compensação e reembolso dentro de um sistema com fins lucrativos.O trabalho é um ato de criatividade e resolve dificuldades pessoais e sociais.

Embora esse assunto não tenha sido discutido aqui em detalhes, o que foi mencionado até agora é suficiente para servir de indicador de como administradores econômicos e funcionários governamentais devem gerir a economia, reconhecendo e admitindo que, em qualquer momento, as pessoas na sociedade existem em diferentes níveis de desenvolvimento. Nem todas as pessoas são iguais. Todos nós diferimos em termos de desejos, comportamento, disposição, inteligência e capacidade para ser felizes. Por essa razão, líderes sociais e administradores devem:

1) Regular a economia, promovendo diversos apoios e serviços adequados a pessoas de diferentes níveis de desenvolvimento, atendendo às suas necessidades de uma maneira a não causar danos nem comprometer a disposição e a verdade.

2) Incentivar todas as pessoas na sociedade a progredirem para níveis mais elevados de desenvolvimento espiritual. Dessa maneira, as pessoas não ficarão estagnadas nem regredirão.

Isso implica que tais líderes e administradores sociais também entenderão que, a qualquer momento, as pessoas que se encontram em níveis mais elevados de desenvolvimento espiritual serão menos numerosas do que aquelas que se encontram em níveis mais baixos.

Tomemos como exemplo a área do desejo. Os líderes sociais devem reconhecer que existe apenas uma pequena porcentagem de pessoas na sociedade que aspiram ao entendimento e à inovação, que têm uma forte vontade de realizar ações saudáveis ​​e que se deleitam na busca por conhecimento e sabedoria.

Embora tais pessoas sejam poucas em número, elas exercem uma forte influência, desenvolvendo-se, promovendo a melhoria social e o avanço da civilização.

A maioria das pessoas, no entanto, é menos desenvolvida em virtude e carece de aspiração e entusiasmo pelo trabalho e engajamento ativo. Elas têm a ganância como uma forte força motriz e buscam principalmente o prazer da sensualidade. Isso as fazem com que sejam inclinadas a evitar o esforço e o trabalho; elas preferem obter os seus objetos desejados sem qualquer esforço.

Tomemos como exemplo a área do desejo. Os líderes sociais devem reconhecer que existe apenas uma pequena porcentagem de pessoas na sociedade que aspiram ao entendimento e à inovação, que têm uma forte vontade de realizar ações saudáveis ​​e que se deleitam na busca por conhecimento e sabedoria.

Com esse entendimento, líderes astutos estabelecerão sistemas e atenderão aos cidadãos da sociedade em consonância com a verdade dessa mencionada diversidade e disparidade entre as pessoas, para o benefício de todos:

-1. Há muitas pessoas, senão a maioria, que se relacionam com as coisas com ganância. Elas querem adquirir coisas, mas não necessariamente querem trabalhar para obtê-las. Buscam maneiras de obtê-las usando diferentes métodos:

A. Por meio de orações e súplicas, aguardando bênçãos divinas.

B. Esperando por um golpe de sorte, digamos, por meio de jogos de azar.

C. Por mendigar ou pedir, esperando por esmolas e ajuda de outros.

D. Por meio de comportamento imoral, tentando obter coisas por meio de engano, duplicidade, fraude ou roubo.

E. Por usar a força, opressão e exploração para tirar coisas dos outros.

F. Por lidar estilos de vida extravagantes e luxuosos, imersos no consumismo.

Os líderes sociais devem responder a essas pessoas gananciosas e cobiçosas das seguintes maneiras:

A. Estabelecendo um sistema de termos e estipulações (um sistema condicional), exigindo que as pessoas realizem algum tipo de trabalho antes de receberem dinheiro.

B. Estabelecendo medidas complementares, por exemplo:

• Estabelecer um sistema de inspeção, regulamentação e punição para aqueles indivíduos que transgridem as regras e acordos estabelecidos no sistema condicional.

• Esforçar-se seriamente para erradicar a corrupção e proteger-se contra a intimidação, a coerção e o assédio.

• Eliminar os lugares de vício, os lugares de fraude e duplicidade e os lugares de tentação, que induzem as pessoas a buscar lucro sem a necessidade de trabalhar.

• Desenvolver diversas estratégias e métodos para encorajar as pessoas a se afastarem da indolência e da negligência.

Os dois métodos a seguir são essenciais para o sucesso de tal sistema condicional:

1. As regras, leis e regulamentos têm que ser válidos; eles têm que ser aplicados de forma decisiva e resoluta para serem verdadeiramente eficazes.

2. Os termos e estipulações têm que ser estabelecidos com habilidade, a fim de regular e repelir a ganância. Assim, eles serão tão construtivos e favoráveis ​​quanto possível. Por exemplo, a ganância será compensada por um incentivo à realização de trabalho; quanto mais gananciosa for uma pessoa, maior será o incentivo para realizar o trabalho — um dos principais objetivos do sistema condicional.

-2. Embora o número de indivíduos dotados de uma vontade dedicada de agir, com um anseio e aspiração por conhecimento e sabedoria, possa ser pequeno, eles atuam como uma força para a construção e o desenvolvimento da sociedade.

O líder deve buscar, estar atento e promover tais indivíduos com seriedade e sinceridade.

-3. Como mencionado anteriormente, um aspecto da natureza humana é que nós somos treináveis. A maioria das pessoas é dotada de uma mistura de potencial positivo e negativo. Isso é especialmente verdadeiro em relação ao desejo, ou seja, as pessoas nutrem tanto a ganância (lobha) quanto o desejo saudável (chanda), o que tem forte influência na economia.

Se as pessoas têm entusiasmo pela ação (chanda), elas cultivarão o amor pelo trabalho, o temperamento de ‘produtor’, a coragem e a autodisciplina.

Se as pessoas têm muita ganância (lobha), no entanto, a sociedade enfrentará os problemas dos valores consumistas, da extravagância, da corrupção, da indisciplina, da superficialidade e da deterioração geral.

Se as pessoas são predominantemente gananciosas e as regras e regulamentos da sociedade, ou o sistema condicional, são impotentes e ineficazes, a sociedade será muito fraca e instável.

Por essa razão, o Estado, ou os líderes sociais, devem proporcionar oportunidades de educação e treinamento espiritual ao público em geral. As pessoas aprenderão, assim, diferentes técnicas para lidar com o desejo, por exemplo, usar a ganância como catalisador para o desejo saudável, ou reduzir a ganância e fortalecer a vontade de agir. O mais importante é promover e aprimorar esse desejo saudável — essa aspiração por conhecimento — e criar um sistema condicional que seja potente e eficaz, gerando verdadeiro desenvolvimento nos indivíduos e na sociedade.

Existem outros aspectos da dinâmica da natureza humana em relação ao treinamento espiritual. Por exemplo, quando as pessoas carecem de desenvolvimento espiritual, a felicidade delas depende em grande parte do consumo de bens materiais. Mas, quando elas passam por treinamento espiritual, a dependência delas sobre bens materiais para alcançar a felicidade diminui e elas experienciam uma maior sensação de liberdade. A gestão social necessita prosseguir em harmonia com essa verdade da natureza humana.

Outro aspecto da natureza humana é que, em geral, quando as pessoas não são oprimidas pelo sofrimento ou ameaçadas pelo perigo, vivendo confortavelmente, elas têm a propensão à preguiça, à negligência e à indulgência.

Portanto, é dever dos líderes sociais estabelecer medidas para estabelecer as pessoas em diligência e atenção (appamāda), que é o principal fator para prevenir o declínio social e criar a verdadeira prosperidade.

Esses são apenas alguns exemplos simples de como a gestão social necessita estar em conformidade com a verdade da natureza humana.

5. Integração com a Unidade da Natureza

Esse tema da integração com a unidade da natureza abrange uma ampla gama de materiais e tem sido abordado em algumas das passagens anteriores desse livro. Aqui, eu tentarei apresentar um esboço desse assunto.

Essencialmente, o Budismo defende a visão de que todas as coisas existem e procedem dentro de um sistema natural inter-relacionado.

Mesmo as questões subjetivas dentro do domínio da mente, como o pensamento e a imaginação e as questões relativas às atividades sociais, que nos círculos acadêmicos atuais não são necessariamente consideradas aspectos da natureza ou da ciência pura e, portanto, são distinguidas como ramos separados de estudo, como as humanidades e a sociologia, são vistas no Budismo como fenômenos naturais, apenas em outro nível de complexidade.

É imperativo que se reconheça e se obtenha maior clareza como tais fatores psicológicos e sociais existem como causas e condições inter-relacionadas e estão ligados a outros aspectos da natureza dentro de um sistema unificado.

Se houver falta de insight dessa verdade, o conhecimento acadêmico humano se dividirá em disciplinas especializadas separadas e cada uma dessas disciplinas acabará sendo deficiente e insuficiente. Isso pode ser observado em alguns ramos da ciência que estudam apenas os aspectos físicos da natureza, sem levar em conta os fatores relacionados. Como uma consequência, o entendimento do mundo físico às vezes é inadequado e obscuro.

A partir do que foi dito até agora, pode-se resumir a economia Budista como holística, integrada a outras disciplinas acadêmicas e atividades humanas.

O elo que revela que os indivíduos humanos e a sociedade humana são parte de um sistema natural interconectado reside nas próprias pessoas, ou seja:

Os seres humanos são um aspecto da natureza, embora eles possuam atributos únicos.

A partir do que foi dito até agora, pode-se resumir a economia Budista como holística, integrada a outras disciplinas acadêmicas e atividades humanas.

Existem muitos desses atributos únicos, entretanto, os mais importantes são a intenção (cetanā) e a inteligência (paññā; em alguns casos, ou em certos níveis, essa palavra abrange ‘sabedoria’, ‘intuição’ e até mesmo o conhecimento do despertar — bodhiñāa —, mas todas essas são facetas da inteligência). Todos esses atributos únicos são aspectos da natureza.

O mundo dos seres humanos, ou a sociedade humana, é gerado a partir desses atributos únicos, que existem em um relacionamento causal com outros fatores inerentes ao sistema natural interconectado como um todo.

Para que os diversos ramos do conhecimento sejam integrados e realmente resolvam os inúmeros problemas das pessoas e para que o esforço criativo humano alcance a sua meta, as pessoas têm que em primeiro lugar entender os seus próprios atributos únicos e reconhecer como eles se encaixam no conjunto interconectado de condições (paccayākāra) inerentes à natureza.

A atividade econômica é uma parte ou componente desse sistema condicional holístico.

A economia, como uma disciplina, necessita discernir a condicionalidade da atividade econômica dentro desse sistema interconectado em dois níveis ou pertencentes a dois domínios:

1. O inter-relacionamento entre a economia e outras atividades e assuntos sociais humanos, por exemplo, valores populares, tradições, ética, estado da saúde pública, política e educação. (Até agora, o estudo da política tem recebido muita atenção, mas muitos outros aspectos da atividade humana têm sido negligenciados.) Dessa forma, a atividade econômica será assimilada a um estado de vida cada vez mais alegre e livre.

2. O inter-relacionamento entre a economia e os três principais fatores pertinentes à existência humana: a vida individual de uma pessoa, a sociedade e o meio ambiente natural. Em outras palavras, a economia necessita promover vidas saudáveis ​​e felizes para os indivíduos em uma sociedade pacífica, cercada por um ambiente agradável e revigorante. Isso levará a um progresso e desenvolvimento verdadeiros e duradouros.

É imperativo que a economia ajude a integrar e coordenar os vários fatores nesses sistemas inter-relacionados para alcançar o equilíbrio e o verdadeiro sucesso. Essa é a principal premissa e máxima do que se chama de economia do caminho do meio.

Existem outros princípios importantes relacionados à economia do caminho do meio, por exemplo, a harmonia e a integração entre o desenvolvimento social aberto e o desenvolvimento pessoal ou individual fechado, porém, esses assuntos têm que ser deixados para outra ocasião.

Nota: esse apêndice é escrito como uma sinopse; portanto, não foi dada ênfase à apresentação de material de origem baseada na escritura (scriptural).

Memorando sobre Direitos Autorais de Tradução

Essa declaração serve, doravante, como guia para futuros tradutores. Como todos os meus livros são considerados presentes do Dhamma para o bem-estar e a felicidade das pessoas e já são isentos de royalties, quando alguém, ao constatar os seus méritos, deseja, com boa intenção, traduzi-los para publicação, seja do Inglês para o Tailandês, seja do Tailandês para o Inglês ou qualquer outro idioma, isso é considerado uma contribuição à promulgação do Dhamma e à promoção do bem público.

Aqueles que trabalham em projetos de tradução têm que, necessariamente, aplicar os seus conhecimentos e habilidades em seus empreendimentos, dedicando grande esforço e tempo. Se as traduções deles forem produzidas com atenção e forem credíveis e confiáveis e como eu não aceito royalties pelos meus textos originais, os respectivos direitos autorais dessas traduções devem ser reconhecidos como pertencentes aos tradutores, como proprietários dos textos traduzidos. Os próprios tradutores devem ser responsáveis ​​por suas próprias traduções e também fica a seu critério, conforme considerem adequado, conceder permissão a qualquer parte interessada para fazer qualquer uso de suas traduções, seja publicando-as para distribuição gratuita como presentes do Dhamma ou publicando-as para venda, nesse país e no exterior.

Nesse sentido, recomenda-se aos tradutores que cooperem, como um gesto de cortesia, para deixar as coisas claras, a fim de evitar mal-entendidos de que eu aceito remunerações ou quaisquer outros benefícios. Solicita-se também que me notifiquem, como autor original, sempre que tal publicação ocorrer. Se possível, aproximadamente dez cópias de cada trabalho publicado devem ser entregues a mim como evidência da publicação e para fins de manutenção de registros.

Além disso, os tradutores podem demonstrar ainda mais a sua generosidade comprometendo-se a fazer um ou todos os seguintes:

a) permitir que eu, o autor original, ou Wat Nyanavesakavan publique as traduções para distribuição gratuita como presentes do Dhamma;

b) permitir que eu conceda permissão a qualquer parte interessada para publicar as traduções exclusivamente no caso de publicação para distribuição gratuita como presentes (dádivas) do Dhamma;

c) permitir que eu ou Wat Nyanavesakavan conceda permissão a qualquer parte interessada para publicar as traduções exclusivamente no caso de publicação para distribuição gratuita como presentes (dádivas) do Dhamma.

Phra Brahmagunabhorn (P. A. Payutto) 7 de novembro de 2009

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Imagem: markus-winkler-TlAoQl4C-zM-unsplash 15.05.2025

Bangkok, Thailand

Publicada em 25 de setembro de 2022

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A Espiritualidade nas Empresas trata-se de uma Filosofia cujos Princípios são capazes de ajudar tanto as Pessoas quanto as Organizações.

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Autor

Graduação: Engenharia Operacional Química. Graduação: Engenharia de Segurança do Trabalho. Pós-Graduação: Marketing - PUC/RS. Pós-Graduação: Administração de Materiais, Negociações e Compras - FGV/SP. Blog Projeto OREM® - Oficina de Reprogramação Emocional e Mental - O Blog aborda quatro sistemas de pensamento sobre Espiritualidade Não-Dualista, através de 4 categorias, visando estudos e pesquisas complementares, assim como práticas efetivas sobre o tema: OREM1) Ho’oponopono - Psicofilosofia Huna. OREM2) A Profecia Celestina. OREM3) Um Curso em Milagres. OREM4) A Organização Baseada na Espiritualidade (OBE) - Espiritualidade no Ambiente de Trabalho (EAT). Pesquisador Independente sobre Espiritualidade Não-Dualista como uma proposta inovadora de filosofia de vida para os padrões Ocidentais de pensamentos, comportamentos e tomadas de decisões (pessoais, empresariais, governamentais). Certificação: “The Self I-Dentity Through Ho’oponopono® - SITH® - Business Ho’oponopono” - 2022.

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