“Já que tu acreditas que estás separado, o Céu se apresenta a ti como se fosse separado também. Não que ele o seja na verdade, mas para que o elo que te foi dado para unir-te à verdade possa chegar a ti através de algo que compreendes. Pai, Filho e Espírito Santo são como Um só, assim como todos os teus irmãos se unem como um [só] na verdade. Cristo e Seu Pai nunca foram separados e Cristo habita dentro da tua compreensão, na parte de ti que compartilha a Vontade do Seu Pai. O Espírito Santo liga a outra parte – o diminuto, louco desejo de ser separado, diferente e especial – com o Cristo, para fazer com que a unificação fique clara para o que é realmente um [só]. Nesse mundo, isso não é compreendido, mas pode ser ensinado.” (T-25.I.5:1-6)
The Metaphysics of Separation and Forgiveness – Dr. Kenneth Wapnick
Texto completo em Inglês no site https://facim.org/online-learning-aids/excerpt-series/separation-and-forgiveness/
Trechos do Workshop realizado na Fundação para Um Curso em Milagres – Roscoe NY – Dr. Kenneth Wapnick, Ph.D.
“A Metafísica da Separação e do Perdão” é uma gravação editada do Workshop de um dia conduzido pelo Dr. Kenneth Wapnick no Instituto e Centro de Retiros da Fundação em fevereiro de 1992.
Essa apresentação resume os ensinamentos do Curso, abordando especificamente como o princípio metafísico e o pensamento da separação e o mundo físico são ilusórios e veem a ser a base para o verdadeiro perdão.
Esse princípio também fornece a estrutura para entendimento do papel de Jesus e do Espírito Santo em nosso aprendizado de perdoar. O que se segue são trechos da fita de áudio transcrita.
Mais uma pérola de ensinamento didático e esclarecedor que o Dr. Kenneth Wapnick nos proporciona como base para o conhecimento e o entendimento do sistema de pensamento de Um Curso em Milagres, que estamos transcrevendo para a nossa reflexão.
Tradução livre Projeto OREM®
O que é metafísica? Metafísica é uma palavra com origem no Grego e que significa “o que está para além da física“. É uma área da filosofia que busca o conhecimento da essência das coisas. O fundamento comum de tudo o que existe, a alma, Deus, a finalidade da existência e o ser enquanto ser, por exemplo, são objetos de estudo da metafísica. Algumas das perguntas comumente associadas à filosofia como “o que nós somos?”, “de onde nós viemos?”, “para onde nós vamos?”, são perguntas da metafísica. O termo metafísica foi consagrado por Andrônico de Rodes a partir da classificação e ordenação dos livros Aristotélicos. Os que eram referidos à ciência dos primeiros princípios e primeiras causas não possuíam classificação e, assim, foram colocados depois (“para além”) dos escritos de física.
A metafísica são os estudos da natureza que estão para além de tudo o que é físico, daquilo que não é material. Por esse motivo, hoje em dia, muitas vezes a metafísica é um termo utilizado para se referir ao esoterismo. Já os adjetivos metafísico e metafísica são utilizados pelo senso comum como sinônimo de algo inacessível, que não pode ser entendido.
Ao longo da história, a metafísica assume diversos significados distintos. A ideia surge na filosofia de Platão, se referindo ao seu “mundo das ideias”, à verdade, que daria origem a tudo o que nós conhecemos. Para Aristóteles, a metafísica é, simultaneamente, ontologia e teologia, enquanto se ocupa do ser supremo na hierarquia dos seres. Esse ser supremo seria a causa de tudo aquilo que existe, o primeiro motor imóvel que pôs o universo em movimento. Fonte: Site Significados https://www.significados.com.br/metafisica/.
Quando o verbo numa sentença estiver conjugado na 1ª pessoa, trata-se de uma afirmação do Dr. Kenneth Wapnick. E, assim, dá início o Dr. Kenneth Wapnick ao seu inesquecível e didático workshop:
A Metafísica da Separação e do Perdão – I
“Um Curso em Milagres compartilha muitos dos ensinamentos achados nas espiritualidades e religiões do mundo, tanto as tradicionais quanto algumas da Nova Era.
Por exemplo, o Curso nos ensina que Deus é um Criador amoroso, um Pai amoroso, Que não odeia ou Que não é vingativo. O Curso nos ensina que nós devemos ser amorosos e ter paz ao invés de sermos cheios de julgamento e raiva. O Curso ensina que a vida, morte e ressurreição de Jesus foram expressões de amor ao invés de julgamento, punição e sacrifício. E o Curso ensina, como nós sabemos, que o perdão deve ser nosso foco central.
Esses ensinamentos de fato não fazem com que o Curso seja único. O que faz com que o Curso seja único entre todas as religiões e espiritualidades do mundo, tanto Ocidentais quanto Orientais, é a maneira como ele integra a sua metafísica não dualista com uma psicologia muito prática e sofisticada.
O perdão é o conceito que unifica e integra o ensino metafísico de que o mundo é uma ilusão não criada por Deus – e, portanto, não há nada a perdoar – com diretrizes muito sólidas e práticas de como nós devemos demonstrar e praticar o perdão em nossas vidas diárias.
Um dos principais objetivos desse workshop é apresentar um resumo geral dos ensinamentos do Curso, abordando especificamente como a metafísica de Um Curso em Milagres vem a ser a base para tudo o que ensina sobre o perdão.
A ideia-chave da metafísica é que o mundo é uma ilusão e foi feito como um esconderijo para que Deus nunca nos encontrasse, uma ideia que é capaz de parecer bastante abstrata e removida de nossa experiência, porém, no entanto, novamente, é a base para tudo o que o Curso ensina sobre o perdão.
Focar na metafísica também nos permitirá entender com mais profundidade porque é extremamente importante, ao trabalharmos com o material do Curso, não cair na armadilha de pensar que o Espírito Santo é o nosso ajudante mágico que cuidará de todos os nossos problemas e necessidades, desde os “menores” de conseguir vagas para estacionar, até os “maiores” de nos curar do câncer ou da AIDS, ou de trazer a paz mundial, ou seja o que for.
É um dos ensinamentos essenciais do Curso que o propósito do Espírito Santo ou Jesus é nos lembrar da escolha que nós temos que fazer. E esse entendimento não é possível sem primeiro entender a estrutura metafísica do Curso.
Nós estaremos revisando e resumindo os ensinamentos básicos do Curso para ver como esse importante tema permeia tudo o que o Curso ensina. Eu apresentarei uma estrutura visual básica para os ensinamentos (ver gráfico). Portanto, nós iremos começar do Início – e é claro que a palavra “Início” aqui será escrita com “I” maiúsculo porque nós estamos falando do Céu onde não há tempo – não há começo, nem fim e nem intervalos de tempo.
No Início há Deus e o Seu Filho, ao qual o Curso se refere como Cristo. Talvez a característica mais importante do Céu seja a ideia de que Deus e Cristo são perfeitamente Um Só. É a Unicidade Deles que caracteriza o estado de Céu.
Há uma definição no Texto onde Jesus diz que “o Céu é a consciência no nível da realidade [awareness] da perfeita Unicidade” (T-18.VI.1:6). Quando o Curso diz que Deus e Cristo são um só e que o estado do Céu é unicidade perfeita ou unidade perfeita, Jesus quer dizer isso literalmente.
Deixe-me abordar isso um pouco mais, porque será importante mais tarde, à medida que nós vemos o que o perdão realmente significa. Dizer que Deus e Cristo são perfeitamente um só é dizer que não há consciência no nível da percepção [consciousness] separada em Deus que é capaz de observar a Si Mesmo em relação à Sua criação, assim como não há consciência no nível da percepção [consciousness] separada em Cristo que é capaz de observar a Si Mesmo ou experienciar a Si mesmo em relação ao seu Criador.
Falar de dois seres, Deus e Cristo, é uma formulação com a qual nós nos sentimos confortáveis em um mundo de dualidade, ou um mundo de separação. Novamente, Deus não identificaria a Si Mesmo como Deus o Criador e a Fonte e Cristo não identificaria a Si Mesmo como o Efeito de Deus ou a Sua criação.
Outro termo que poderia ser usado para caracterizar o Céu é que ele é um estado de não-dualidade perfeita. Não existem dois seres que interagem entre si. Uma linha importante no Livro de Exercícios diz:
“… e em lugar algum o Pai chega ao fim para dar início ao Filho como algo separado de Si Mesmo.” (LE-pI.132.12:4)
E há outra passagem na Lição 169 que fala sobre esse estado de unicidade:
“A Unicidade é simplesmente a ideia de que Deus é. E no Que Ele é, Ele abrange todas as coisas. Não há mente que contenha algo que não seja Ele. Dizemos ‘Deus é’ e então deixamos de falar, pois nesse conhecimento as palavras são sem significado. Não há lábios para pronunciá-las e nenhuma parte da mente é distinta o suficiente para sentir que agora está ciente de algo que não seja ela mesma.” (LE-pI.169.5:1-5)
Essa é a mesma ideia – em lugar algum o Pai chega ao fim para dar início ao filho. Não há consciência no nível da percepção [consciousness] separada no Filho que fosse capaz de observar a Si Mesmo em relação ao Seu Criador.
A passagem continua:
“Ela se uniu à sua Fonte. E, como a própria Fonte, meramente é. Não podemos falar, escrever ou mesmo pensar sobre isso de modo algum.” (LE-pI.169.5:6-7, 6:1)
É por isso que nós não vamos gastar muito tempo com isso e porque no Curso Jesus não gasta muito tempo nisso. Obviamente, é impossível para as nossas mentes e os nossos cérebros separados conceber uma realidade na qual não haja absolutamente separação.
Novamente, não há lugar onde Deus termina e o Seu Filho começa. Portanto, o estado de Céu é de perfeita unicidade. Outra maneira de caracterizar isso é dizer que a Mente de Deus e a Mente de Cristo são totalmente uma só. Mais tarde, ficará mais claro por que é tão importante entender que o estado de Céu é unicidade absoluta e unidade perfeita.
O Curso então explica que o impossível pareceu acontecer. Na realidade, isso nunca aconteceu, no entanto, isso pareceu acontecer. Foi então que a ‘ideia diminuta e louca’ (T-27.VIII.6:2) de estar separado de Deus parecia entrar na mente do Filho de Deus.
Nós iremos caracterizar isso por uma pequena linha vertical descendo (veja o gráfico) – essa é a “ideia diminuta e louca”. É a ideia de que o Filho, de alguma forma, agora está separado de Seu Pai – ele tem uma mente, uma vontade, um eu [ser, self] que é separado e independente de Seu Criador. Portanto, ele agora é capaz de observar a si mesmo e experienciar a si mesmo em relação a Deus.
Antes que essa ideia diminuta e louca (da qual o Curso também fala como o início do sonho) parecesse surgir, tal fenômeno era impossível, porque o Filho não tinha uma mente ou um ser distinto ou separado de Seu Criador.
No entanto, assim que o sonho começou – um sonho de separação – o Filho, de repente, começou a observar a si mesmo como alguém separado de seu Pai. E isso deu origem ao que nós podemos chamar de mente dividida (com um ‘m’ minúsculo para distingui-la da Mente de Deus e de Cristo).
Quando o Filho adormece e começa a experienciar a si mesmo como um ser separado, ele tem uma mente que agora parece coexistir com a Mente de Deus ou a Mente de Cristo.
Essa mente tem duas partes, ou aquilo a que o Curso frequentemente se refere como duas vozes que falam por ela. Uma é o que o Curso se refere como ego e a outra é o Espírito Santo. Essas duas vozes podem ser basicamente entendidas como reações à ideia diminuta e louca.
Na realidade, não há duas pessoas fixando residência na mente do Filho. Nós estamos falando no domínio da metáfora ou do mito. Portanto, nós falamos sobre a mente do Filho ter essas duas partes – e em breve nós adicionaremos uma terceira parte – e falar dessas duas partes como se fossem dois seres aparentemente separados – o ego e o Espírito Santo.
No Curso, sempre se fala do ego como um ‘isso’, enquanto o Espírito Santo sempre se fala como uma pessoa, como um ‘Ele‘. Mesmo assim, o ego é descrito em termos antropomórficos – ele trama, busca vingança, parece amar, odeia, engana etc.
Portanto, na mente do Filho existem dois pensamentos ou duas reações à ideia diminuta e louca.
O pensamento do ego é que a ideia diminuta e louca realmente aconteceu. Na verdade, uma maneira de definir o ego é dizer que ele [impessoal, em Inglês ‘it’; limitação da língua Portuguesa] é a crença de que o Filho realmente se separou de seu Criador. Assim, o ego nada mais é do que um pensamento ou uma crença que existe na mente do Filho separado – o pensamento de que a separação realmente ocorreu.
O Espírito Santo, por outro lado, é o pensamento de que a separação nunca aconteceu – que a ‘ideia diminuta e louca’ deve ser entendida literalmente: a ideia é ‘diminuta’ porque ela era inconsequente e não tinha absolutamente nenhum efeito e é ‘louca’ porque é insana.
É insano pensar que uma parte de Deus, uma parte do Todo, uma parte da unidade total fosse capaz de alguma forma de se separar e, de repente, estar fora de tudo – que fosse capaz de haver uma realidade além da totalidade, algo além do infinito, um poder além da onipotência.
Perto do final do Texto, uma seção chamada “O anticristo” (T-29.VIII) discute isso especificamente. Anticristo é outro termo para o ego. O anticristo é o pensamento de que existe um poder além da onipotência, um lugar além do infinito, etc. E assim o Espírito Santo é o pensamento que diz: ‘Isso nunca poderia acontecer.‘
Há também outra maneira de entender Quem ou o Que é o Espírito Santo. Quando o Filho adormeceu e começou o seu sonho, ele carregou no sonho a memória de quem ele realmente é como Filho de Deus, a memória do Amor de Deus.
Essa memória, que agora repousa em sua mente separada dentro do sonho, é o que chamamos de Espírito Santo. E é essa memória que liga o sonho à realidade. Isso é semelhante às memórias em nossa experiência cotidiana – quando nós temos uma memória no presente é um link para algo que aconteceu no passado. Isso é o que a palavra memória significa.
O que quer que tenha acontecido no passado – quer tenha acontecido cinco minutos atrás, ontem ou trinta anos atrás – de repente vem a ser muito real e presente para mim. Se for uma memória desagradável, eu terei raiva, ansiedade, medo ou depressão. Se for uma lembrança agradável, eu experienciarei felicidade e alegria agora, como se o passado estivesse presente.
Essa memória é o que une o passado e o presente.
O Espírito Santo trabalha da mesma maneira. Ele vincula a experiência presente do Filho em acreditar que ele está em um sonho com a sua realidade, que não está realmente no passado em um sentido temporal.
Esse vínculo então o conecta ao Deus de Quem ele nunca realmente deixou. É por isso que o Curso ensina que o Espírito Santo desfez o erro original no instante em que parecia ocorrer, porque quando o Filho adormeceu ele tinha aquela memória consigo. E essa memória é o que lhe prova que ele nunca se separou de Deus, que isso era simplesmente um sonho.
Além desses dois pensamentos na mente do Filho, há uma terceira parte da mente dividida – que nós caracterizaremos por esse pequeno ponto azul (ver gráfico). Essa é a parte da mente que tem que escolher entre esses dois pensamentos ou vozes. Eu chamarei o ponto azul de ‘o tomador de decisões’.
Embora o Curso nunca use o termo nesse contexto, é realmente o que o Curso quer dizer por Filho de Deus, o Filho de Deus em seu estado separado. No Curso, Jesus usa o termo Filho de Deus de duas maneiras: ou para se referir a Cristo e a nossa Identidade como Cristo como espírito, ou para denotar o Filho dentro do sonho.
Embora, novamente, Jesus nunca use o termo tomador de decisões, repetidamente no Curso ele está nos pedindo para escolher novamente – escolher entre o sistema de pensamento do ego e o sistema de pensamento do Espírito Santo, entre a crucificação e a ressurreição, entre uma queixa e um milagre. A parte de nossas mentes para a qual ele está continuamente apelando no Curso, quando se dirige a nós como ‘você’, é essa parte que escolhe. E então eu acabei por dar um nome a ele por conveniência.
Portanto, basicamente, nós estamos falando sobre três partes essenciais da mente separada: (1) a parte da mente que contém o pensamento de que a separação é real; (2) a parte da mente que contém o pensamento de que a separação nunca ocorreu (o que o Curso se refere como o princípio da Expiação); e (3) a parte da mente que tem que decidir qual sistema de pensamento é verdadeiro.
Como o Curso explica repetidamente, o Filho não tem outra escolha – ele precisa escolher entre o ego e o Espírito Santo. Não existem outras alternativas. E ele tem que, de fato, escolher entre um deles. Ele não pode escolher os dois simultaneamente. E ele não pode escolher nenhum deles. Ele tem que escolher o ego ou o Espírito Santo. O tomador de decisões nunca é neutro.
É aqui que a história vem a ser interessante, porque o ego agora se depara com uma ameaça real. E se o Filho de Deus ouvir a Voz do Espírito Santo e reconhecer que tudo isso é um sonho, que nunca realmente aconteceu, que não há separação? O que acontece então? O Filho desperta de seu sonho e o ego está acabado, o sonho está acabado.
Portanto, para se sustentar e manter a sua existência, o ego tem que de alguma forma convencer o Filho de Deus – o tomador de decisões – de que ele precisa escolher o ego ao invés do Espírito Santo.
Se nós fossemos capazes de entender esse ponto e sempre mantê-lo em mente, isso fará com que tudo o mais sobre o qual nós falaremos nesse workshop – e certamente tudo o mais no Curso – seja muito, muito claro. Isso nos ajudará a entender por que nós sempre fazemos as coisas insanas que nós fazemos.
Por exemplo, nós somos capazes de termos sido estudantes desse Curso por dez ou quinze anos e ainda nós iremos manter queixas. Ainda nós optamos por nos esquecer de Jesus e nos identificar com o ego quando as coisas ficam difíceis e continuar a fazer todas as coisas inadequadas que nós fazemos.
Assim, o ego elabora um plano – uma trama em que espera enredar o Filho e convencê-lo de que o Espírito Santo não deve ser confiável, não deve ser acreditado e, certamente, não deve ser identificado.
Para fazer isso, o ego inventa uma história. É uma história totalmente inventada, sem nenhuma semelhança com a realidade, sem qualquer base na realidade. A história do ego baseia-se em três pensamentos básicos: pecado, culpa e medo.
Pecado, culpa e medo
Agora, tenha em mente novamente que o propósito dessa história é convencer o Filho a virar as costas para o Espírito Santo e se identificar com o ego. Enquanto o Filho fizer isso, o ego permanecerá intacto. E lembre-se, o ego é simplesmente um pensamento ou uma crença em um ser que afirma que a separação de Deus é real – que a realidade é o Filho de Deus separado.
Isso, é claro, está em contraste com a ‘história’ do Espírito Santo, que diz que o Ser do Filho é o Ser de Cristo e que nunca deixou o Seu Pai.
Portanto, o propósito da história do ego é fazer com que o Filho acabe não confiando no Espírito Santo e dando as costas a Ele. Então, o ego conta ao Filho essa história:
‘Você fez uma coisa muito ruim ao se separar de seu Criador e de sua Fonte. Aqui estava esse Pai perfeitamente amoroso que era apenas amor e Ele compartilhava esse amor com você totalmente. Ele não negava nada a você – o que era do Pai era do Filho. O Pai era Amor perfeito, então o Filho era Amor perfeito. No entanto, você deu as costas a esse Amor e disse a Deus em termos inequívocos que você queria algo mais do que tudo o que Ele lhe tinha dado. Você disse a Deus que o Amor Dele não era suficiente, que o Céu Dele não era suficiente.’
Nós seríamos capazes de desenhar a história de várias maneiras: o Filho poderia dizer ao Pai que o Céu era enfadonho, que ele queria um pouco de emoção. Ou o Filho poderia estar com ciúme e querer um pouco do que Deus tinha. Todos esses são apenas símbolos ou metáforas diferentes para tentar explicar em termos que nós sejamos capazes de entender, o que parecia acontecer no momento da separação e o que parecia evoluir para todo o sonho desse mundo. Entretanto, o ponto principal é que o ego dá um nome a esse ato e é um nome sujo, um palavrão: pecado.
O ego diz ao Filho: Você fez uma coisa pecaminosa ao seu Pai. Ele era todo amoroso e Ele deu tudo a você. Você tinha tudo – tudo que Ele tinha, você tinha. Você era totalmente um só com ele. No entanto, você deu as costas a Ele e disse: ‘Isso não é suficiente. Eu quero algo mais.’ Isso não foi muito legal da sua parte. Na verdade, isso é pecaminoso. E por causa do seu pecado, você tem que se sentir culpado.
Esse é o começo de toda culpa, que nós poderíamos traduzir livremente como ódio de nós mesmos. Nós acabamos nos odiando por causa do terrível pecado que nós acreditamos ter cometido.
Portanto, a culpa decorre automaticamente do pecado e é, basicamente, o equivalente psicológico do pensamento do pecado. O ego diz ao Filho de Deus: ‘Você pecou contra o seu Pai e merece se sentir culpado por causa do que você fez.’ Isso inevitavelmente leva ao terceiro membro dessa trindade profana. O Filho agora é informado:
‘Por causa do que você fez, porque você roubou do Céu e porque você de fato destruiu Deus ao se autoproclamar Deus dizendo ‘Eu sou autocriado em vez de criado. Eu estou por conta própria e eu sou independente e separado do meu Criador,‘ Deus está muito irado. Quando Ele se recuperou do choque do que você fez – que você havia roubado Dele – Ele percebeu o que havia acontecido. E agora tudo o que Ele quer é vingança.’
O ego então diz ao Filho de Deus:
‘Você conhece aquele Espírito Santo que está presente em sua mente, que parece falar apenas do Amor de Deus e lhe diz que nada aconteceu e que Deus nem sabe que você se foi? Não acredite em uma só palavra do que ele diz. Ele não é confiável, porque Deus O enviou. Ele é o general de Deus, Que Deus enviou à sua mente para prendê-lo, capturá-lo e trazê-lo de volta ao Céu para que você seja punido como merece ser – o que, é claro, significa a sua aniquilação.’
Esse é o começo do medo – de onde vem o ‘medo de Deus’. Aqueles que trabalharam com o Curso por um tempo sabem que o quarto e último obstáculo para a paz é o medo de Deus (T-19.IV.D). Essa é a sua origem. Começa com a ideia de que nós pecamos contra Deus, que q nossa culpa é avassaladora por causa do que nós fizemos e que a nossa culpa exige que sejamos punidos.
O ego avisa: ‘E essa Presença do Amor de Deus em sua mente é o agente punidor de Deus. Na verdade, é por isso que Deus O despachou para o seu sonho – para que ele fosse capaz de capturá-lo e trazê-lo de volta. Se você acreditar em Sua mentira, será seduzido por Ele e sempre se arrependerá!’
Essa é a história do ego. Isso significa que o Amor de Deus, o qual o Espírito Santo representa como a memória do Amor de Deus em nosso sonho, transforma-se em outra coisa – ele se transforma na ira de Deus.
A história do ego muito bem tornou o Deus real inexistente, porque o Amor de Deus agora se transformou em seu oposto – o Amor de Deus agora é visto como cheio de ira e vingança.
E o Filho é o objeto dessa ira. É claro que é daí que vêm todas as terríveis passagens da ‘ira de Deus‘, tanto no Antigo como no Novo Testamento. Elas não têm nada a ver com o Deus amoroso Que nos criou, de Quem nós nunca deixamos. Entretanto, elas têm tudo a ver com a história do ego.
Basicamente, com algumas exceções, é claro, a história e a visão de Deus que nós temos na Bíblia é esse deus do ego. É realmente um deus especial – Deus é bom quando você dá a Ele o que Ele quer, porém, quando você não dá, Ele fica louco e Ele mata. Esse é o deus do ego, que é o que a ira de Deus representa. E é isso que o ego fez do Espírito Santo também.
Portanto, essa é a escolha com a qual o tomador de decisões – o Filho de Deus – é confrontado. Ou ele acredita no Espírito Santo, representando o princípio da Expiação, que lhe diz que nada aconteceu, que o Filho nunca deixou o seu Pai e isso é apenas um sonho tolo. Ou ele acredita na história do ego de que a separação realmente aconteceu – o Filho roubou ‘as joias da família’, ele roubou todo o poder de Deus e Deus está irado e enviou o seu capanga, o Espírito Santo, para encontrar o Filho e trazê-lo de volta. Essa é a história do ego.
Agora, por razões que nunca são capazes de ser explicadas, o Filho de Deus fez a escolha errada. Ele se voltou para o ego e, na verdade, deu as costas ao Espírito Santo.
A Metafísica da Separação e do Perdão – II
Onde nós estamos na história é que o ego inventou a sua história de pecado, culpa e medo, com o propósito específico de manter o Filho de Deus longe do Espírito Santo. Esse é o ponto central a ser entendido, porque essa motivação ajudará a explicar tudo o que acontece a partir desse ponto.
Outro ponto a considerar aqui – ao qual eu voltarei mais tarde – é que o medo do ego não é realmente do Espírito Santo. O ego nada sabe sobre o Espírito Santo. Não há como um pensamento de separação entender um pensamento de unidade. Não há como um pensamento de ciúme, competição, julgamento e ódio – tudo isso do ego – poder entender um pensamento de amor.
O ego está com medo e entende que existe um poder maior do que ele mesmo. Esse poder é o poder de escolher da mente do Filho. O medo real do ego não é do Amor de Deus, porque ele não conhece o Amor de Deus. O seu medo real é do tomador de decisões. O seu verdadeiro medo é que o Filho mude de ideia, afastando-se do ego e voltando-se ao Espírito Santo, ponto em que o ego desapareceria.
É extremamente importante entender que o objetivo do ego não é realmente enterrar o Espírito Santo, mas sim enterrar a mente do Filho, porque a mente realmente é a grande ameaça. A mente do Filho é capaz de escolher contra o ego e escolher o Amor de Deus, o que significa o fim do ego.
Se o ego é capaz de alguma forma fazer com que o Filho seja ‘sem mente‘, então o ego está livre na casa. E ele nunca tem que se preocupar com Deus ou o Espírito Santo, não importa como os conceba. O medo real do ego, novamente, é do poder da mente do Filho em escolher.
Nós veremos agora como o ego leva o seu plano alguns passos adiante para atingir o seu objetivo final – fazer com que o Filho seja ‘sem mente’ (irracionalidade) para que ele nunca mude de ideia e sempre permaneça totalmente identificado com o ego.
Quando o Filho de Deus escolhe o ego e dá as costas ao Espírito Santo, ele não apenas escolhe o sistema de pensamento do ego, ele vem a ser o próprio sistema de pensamento do ego. Isso é extremamente importante.
Quando o Filho de Deus se identifica com o sistema de pensamento do ego de pecado, culpa e medo, ele se identifica como pecador, culpado e medroso. O Livro de Exercícios diz a certa altura:
“Tu pensas que é o lar do mal, da escuridão e do pecado.” (LE-pI.93.1:1)
Todos nós acreditamos nisso porque nós ouvimos a voz do ego. Novamente, não é apenas porque nós acreditamos em um sistema de pensamento de pecado, culpa e medo, nós nos tornamos esse sistema de pensamento – ele vem a ser o nosso ser.
E o ego quer que nós nunca quebremos essa associação e identificação. O Filho só poderia quebrá-lo se dissesse: ‘Sabe, há algo de errado com o que eu escolhi. Eu quero fazer outra escolha.‘ Esse é o medo do ego.
Assim o ego leva o seu plano um passo adiante. Isso já deixou o Filho com medo do Espírito Santo, acreditando que existe um lugar em sua mente que representa a aniquilação e isso aterroriza o seu coração. Esse lugar é onde o Espírito Santo habita.
Então, em virtude de sua história de pecado, culpa e medo – que o Filho acreditou completamente – o ego convenceu o Filho de que a sua mente é agora um campo de batalha [ vide gráfico] onde ele está em guerra com o seu Pai e o Espírito Santo.
Por impulso do ego, assim, o Filho deu as costas ao Espírito Santo e se identificou com o ego (representado pela linha pontilhada vertical no gráfico, separando o ego do Espírito Santo).
Portanto, o Filho agora nem mesmo sabe sobre o Espírito Santo. O Amor de Deus se transformou em seu oposto, com o Filho acreditando que está em guerra com Deus e em perigo mortal.
Há uma passagem muito importante no Manual [de Professores] que fala sobre essa insanidade e a descreve com as palavras:
“Matar ou ser morto.” (MP-17,7: 11)
Esse vem a ser o princípio reinante da mente do Filho de Deus. Se ele permanecer nesse campo de batalha, é ele ou Deus.
E, obviamente, ele não tem muita chance, porque esse é o Deus de quem nós estamos falando, essa ‘fera’ furiosa e insana Que foi ferida por esse nada insignificante que roubou o tesouro de Deus, o Seu poder.
Nós somos capazes de ver a arrogância do sistema de pensamento do ego em acreditar em tudo isso. Entretanto, é isso que o pecado, a culpa e o medo estão nos dizendo – Deus está irado (se comportando de forma destrutiva) e se Ele algum dia alcançar o Filho, o que é inevitável, o Filho estará acabado. Essa é a insanidade do sistema do ego. Tudo isso é descrito em termos mais sofisticados na seção “As Leis do Caos”, no Capítulo 23 do Texto.
O Filho de Deus agora diz ao ego – e basicamente ele não está mais realmente separado do ego – com tremendo terror em seu coração:
‘Socorro! Eu preciso de uma defesa. Preciso de algo que me proteja da ira e da vingança de Deus, que significa a minha morte certa. Preciso de uma defesa contra esse Deus insano que eu sei que está em minha mente, porque a minha culpa me diz que eu tenho que ser punido por pecar contra Ele. Pequei contra Ele porque eu acredito que a separação de Deus é real – ela realmente ocorreu e terá consequências terríveis.’
Enterrado na mente do Filho está o princípio simples da Expiação do Espírito Santo, que diz que nada disso aconteceu. Outra maneira de dizer isso é que a separação é apenas um sonho tolo, sem consequências, sem efeitos – nada aconteceu. Em uma frase adorável no Texto, Jesus diz que ‘nenhuma nota na canção do Céu se perdeu’ (T-26.V.5:4).
É por isso que é uma ‘ideia diminuta e louca’. Deus nem mesmo sabe disso. Nada aconteceu. Mas o pensamento de correção do Espírito Santo ficou enterrado em nossas mentes e, além disso, nós temos o sistema de pensamento do ego de pecado, culpa e medo que inevitavelmente nos leva à necessidade de uma defesa.
O Filho de Deus necessita de algo com que se proteger contra a ira de Deus. E nenhuma defesa funcionará enquanto ele permanecer no campo de batalha. Ele não tem chance.
Portanto, o ego diz a ele: ‘Eu tenho outro plano, que é absolutamente maravilhoso. Ele é à prova de Deus e não há como esse plano falhar: nós iremos deixar o campo de batalha e fazer um esconderijo. Eu lhe garanto que Deus nunca e jamais nos encontrará.’
E então o Filho de Deus, é claro, fica muito feliz e diz: ‘Quando nós partimos? As minhas malas estão prontas. Vamos logo.’ O ego e o Filho novamente se unem, fundindo-se em um só. Eles deixam o campo de batalha por um esconderijo onde Deus nunca os encontrará. O ego diz ao Filho: ‘O Espírito Santo existe apenas em sua mente e, portanto, se deixarmos a mente, nós estaremos livres em casa.’
Psicologicamente o termo que nós usamos para denotar o processo de tirar algo de dentro da mente e colocá-lo fora da mente é projeção. Esse algo é o ego, que nada mais é do que o pensamento de separação fundido com o Filho de Deus. Esse pensamento, esse ser, é colocado fora da mente, invariavelmente dando origem a um mundo de separação.
E essa é a explicação do Curso de como todo o mundo físico passou a existir. Quando Jesus no Curso fala sobre o mundo – o mundo de percepção, o mundo de forma, o mundo de separação – ele está falando sobre todo o universo físico e não apenas o planeta Terra, ou as nossas próprias cidades, ou os nossos corpos. Ele está falando sobre todo o universo – o cosmos e todas as galáxias das quais nem mesmo nós temos consciência no nível da percepção [consciousness]. Tudo isso é o mundo de separação.
Assim o mundo é um esconderijo para o qual o ego, junto com o Filho de Deus, deslocou ou transportou a si mesmo. Como o Curso diz perto do final do Livro de Exercícios, ‘O mundo foi feito como um ataque a Deus. … [era] para ser um lugar em que Deus não pudesse entrar.’ (LE-pII.3.2:1,4 )
Uma vez que o ego faz o mundo para se esconder, ele faz mais duas coisas para a sua realização culminante. Tenha em mente que o propósito do ego é muito, muito simples – ele quer fazer com que o Filho de Deus seja ‘sem mente’ (irracionalidade).
O medo do ego, novamente, é que se o Filho algum dia se lembrar que ele tem uma mente que é capaz de escolher, ele reconheceria que escolheu erroneamente. Ele perceberia que o ego é realmente quem está dizendo a mentira e o Espírito Santo está dizendo a verdade. E então o Filho certamente mudaria de ideia.
Uma vez que o propósito do ego é fazer com que sejamos irracionais para que não possamos mudar as nossas mentes, ele ‘cria’ o mundo no qual nós nos escondemos. E então, como eu acabei de dizer, ele faz mais duas coisas para garantir que o Filho de Deus permaneça para sempre mais – pelo menos dentro do sistema do ego – sem sua mente.
Primeiro, uma vez que o ego projeta a si mesmo da mente – isso é, uma vez que o pensamento de separação é colocado fora da mente, resultando em um mundo de separação – o ego faz com que um véu caia sobre a mente do Filho para que ele esqueça de onde o mundo veio. Nós podemos chamar isso de véu do esquecimento (incapacidade para lembrar), que basicamente é a dinâmica da negação ou repressão.
O Filho de Deus nega o que aconteceu – e ele se esquece. Ele se esquece de que tudo isso começou em sua mente, onde ele tinha duas escolhas – ouvir a voz do ego ou a Voz do Espírito Santo. Ele esquece que escolheu ouvir o ego, seguir tudo o que o ego disse e que acabou no mundo por causa do terror. Ele temia que, se permanecesse em sua mente, Deus o destruiria. Portanto, o véu da negação faz com que o Filho de Deus se esqueça.
Então – e essa é a conquista final, culminante do ego – o ego faz o corpo. O ego diz ao Filho de Deus: ‘A sua casa não é a sua mente. A sua casa é o seu corpo.’ E o ego faz o cérebro, que vem a ser o computador do corpo. (Parece que o cérebro governa o nosso funcionamento no mundo.)
O Filho de Deus se encontra em um corpo, esquece de onde veio, pensa que foi feito por outros corpos, pensa que veio a um mundo que existia antes dele e não tem nenhuma memória de nada sobre o que nós temos falado. Ele não tem nenhuma memória sobre essas duas alternativas em sua mente – o princípio da Expiação do Espírito Santo ou a história do ego de pecado, culpa e medo. Ele não tem ideia de uma escolha.
Tudo o que ele sabe é que está em um corpo. Ele não se lembra de que o corpo em que ele está nada mais é do que uma projeção. Esse é um corpo que acredita no pecado, na culpa e no medo – a experiência básica de todos no mundo.
Nós acreditamos que estamos separados e que somos terríveis pecadores. Nós não necessitamos que a Igreja Católica Romana ou Protestante ou a fé Judaica ou qualquer outra coisa nos diga que nós somos pecadores, porque nós carregamos esse pensamento dentro de nós. Todos nós nos sentimos oprimidos pela culpa e pelo ódio de nós mesmos e todos temos medo de sermos punidos por causa de nossos pecados.
Esses pensamentos e sentimentos não são resultado do que nós pensamos que acontece em nossas vidas aqui. Ao invés disso, nós simplesmente transplantamos o que está na mente do ego para o mundo e para a nossa experiência individual.
É semelhante a sentar-se em um cinema: tudo na tela à nossa frente que parece tão real, com o poder de trazer tantas reações, tanto positivas quanto negativas, nada mais é do que a projeção do que está no filme passando pelo projetor na cabine de projeção. É impossível haver algo no filme que não apareça na tela. E é impossível que haja algo na tela que não venha do filme.
Isso se assemelha exatamente ao que eu estou descrevendo aqui. Como o Curso nos diz repetidamente, não há nada fora de nós. É impossível que qualquer coisa que nós sentimos aqui não venha de nossas próprias mentes. O problema, entretanto, é que de fato nós não somos bem-informados sobre a mente, porque ela parece ter sido bloqueada para sempre de nós pelo véu do esquecimento.
Tudo o que nós sabemos é que nos sentimos terríveis aqui em nossos corpos. Nós passamos anos em análise ou psicoterapia, com o terapeuta nos dizendo que nós somos o produto de todas as coisas terríveis que nos aconteceram quando crianças.
Claro que nós estamos chateados! Veja todas as coisas terríveis que acontecem conosco como adultos. Todas as nossas explicações para a nossa angústia são baseadas no pecado, na culpa e no medo que nós acreditamos ocorrer dentro de nossos corpos ou cérebros. Quando os psicólogos falam sobre a mente, eles não estão falando sobre ela. Eles estão falando sobre o cérebro.
O Curso está nos dizendo que nós não estamos chateados por causa do que está acontecendo com o corpo. Nós estamos chateados porque nós escolhemos o ego ao invés do Espírito Santo. A nossa identificação com o corpo, então, é basicamente o fim da história do ego e do enredo do ego.
O ego alcançou o seu propósito tornando-nos ‘sem mente’ (irracionais), porque de agora em diante, nós experienciamos todos os tipos de problemas, tanto em um nível individual quanto em termos de um nível coletivo ou social. E todos os nossos problemas estão focados no corpo, de uma forma ou de outra, psicologicamente ou fisicamente.
Quando nós falamos sobre o corpo, ele inclui tanto o nosso ser físico quanto a nossa personalidade, o nosso ser psicológico. Ambos são o que o Curso quer dizer com ‘o corpo’.
Como nós vivenciamos todos os nossos problemas aqui no mundo e no corpo, é aqui que nós buscamos as soluções ou as respostas. Parece que não há outro lugar para olhar. Nós de fato não somos bem-informados sobre a mente, por causa do véu do esquecimento (incapacidade de lembrar) (ver gráfico).
Helen acordou uma manhã e ouviu a si mesma dizendo a si mesma enquanto se levantava:
‘Nunca subestime o poder da negação.’ Isso mais tarde saiu no Curso como: ‘…não subestimes o poder da crença do ego [culpa]’. (T-5.V.2:11)
Esse véu do esquecimento é a mais poderosa e a mais primitiva de todas as nossas defesas e funciona perfeitamente. Se eu não estou ciente de que tenho uma mente, como poderia mudá-la?
Esse é o propósito do mundo: nos distrair de onde o problema realmente está. Outro termo que nós poderíamos usar para descrever o mundo é que ele é um dispositivo de distração.
Muito brevemente agora – porque nós voltaremos a ele mais tarde – o milagre, para completar todo esse quadro, simplesmente inverte o que o ego fez. É por isso que é extremamente importante não confundir o significado de milagre do Curso com qualquer coisa externa.
O milagre simplesmente tira a nossa atenção, que se desviou de nossa mente e se escondeu no corpo e o traz de volta ao tomador de decisões. Portanto, o milagre simplesmente nos lembra que realmente nós temos uma escolha.
O milagre diz que o meu problema não está fora de mim, no corpo – não é o que o mundo está fazendo comigo, não é o que o meu corpo está fazendo comigo, não é o que a minha família fez comigo. O meu problema é o que eu fiz para mim.
O único erro que todos nós cometemos como um Filho só, logo no início, é o mesmo erro que nós cometemos o tempo todo, indefinidamente. Simplesmente nós fizemos a escolha errada. Nós abandonamos a mão do Espírito Santo e pegamos a mão do ego.
O milagre simplesmente nos traz de volta à mente, para que nós possamos fazer outra escolha.
Uma definição extremamente importante do milagre é que ‘o milagre é o primeiro passo na devolução à Causa da função da causalidade, não do efeito’ (T-28.II.9:3). A causa é a mente, o mundo é o efeito.
O ego nos diz que o mundo causa a nossa angústia. Na realidade, o mundo é simplesmente o efeito de uma decisão tomada em nossas mentes, que é a causa.
O milagre restaura para a mente, restaura para a causa, a sua função de ser o agente causador. Uma vez que eu sei que eu tenho uma escolha – o propósito básico e primário do Curso é nos ajudar a saber isso – eu posso escolher entre o sistema de pensamento do meu ego com a sua avaliação de mim e o sistema de pensamento do Espírito Santo com a Sua avaliação de mim.
Essa é uma maneira muito simples de entender do que se trata o Curso – é simplesmente uma maneira de nos lembrar que, de fato, nós temos uma escolha.
Para avaliar previamente algo que eu discutirei mais tarde: O papel de Jesus ou do Espírito Santo é ser aquele lugar dentro de nossas mentes, aquele farol de luz, aquele farol que simplesmente brilha a sua presença como um lembrete constante. Como um farol brilha a sua presença para os barcos que se perdem ou ficam presos. O papel deles é nos lembrar que realmente nós temos outra escolha. É por isso que repetidamente no Curso, Jesus diz:
‘Escolha novamente.’
A Metafísica da Separação e do Perdão – III
Eu quero voltar ao desenvolvimento do sistema do ego, porém, agora especificamente em termos da noção de separação. Outro termo que nós somos capazes de usar para a separação é rompimento. Basicamente, tudo o que eu falei pode ser resumido como uma sequência de quatro divisões ou quatro separações. Entender isso virá a ser mais fácil entender porque o Curso fala sobre perdão dessa forma e porque Jesus fala tanto sobre união.
O primeiro rompimento, ou a primeira separação, acontece quando a ideia diminuta e louca parece ocorrer – aquela Mente parece agora coexistir com uma mente separada. Portanto, o primeiro rompimento, a primeira separação, é a mente da Mente.
No Início – o “I” maiúsculo nos ajuda a perceber que nós estamos falando de um estado eterno e atemporal – havia apenas a Mente de Deus e a Mente de Cristo totalmente unificadas. Assim que o sonho pareceu ocorrer, parecia haver duas mentes, a Mente e a mente – a Mente de Cristo e a mente separada.
O segundo rompimento, ou a segunda separação, vem a seguir, conforme a própria mente dividida separa a si mesma e se divide. Existem agora duas partes na mente dividida – a parte onde está o ego e a parte onde está o Espírito Santo.
Com a primeira divisão, a mente parece existir rompida e separada da Mente, que parece estabelecer a mente como sendo por si mesma. Ele tem uma existência independente da Mente Crística e, obviamente, independente de Deus.
Essa mente então se divide em duas – o que o Curso se refere como a mentalidade errada e a mentalidade certa. A mentalidade errada mantém o pensamento do ego de separação e a mentalidade certa, o pensamento da Expiação do Espírito Santo – que a separação nunca aconteceu.
Eu estou falando disso como se ocorresse em sequência, assim como antes, quando descrevi o desenvolvimento do sistema do ego, parecia sugerir uma sequência. Na realidade, nada disso acontece em sequência – não acontece em um intervalo de tempo ou espaço.
O que nós estamos vendo aqui – e ficará ainda mais claro à medida que nós continuarmos – é que o pensamento de separação do ego segue a mesma lei do Pensamento de Deus.
Os pensamentos são totalmente diferentes, entretanto, o princípio é o mesmo. O amor de Deus simplesmente se estende. Visto que o amor de Deus é perfeitamente unificado, íntegro e eterno, ele continua a se estender e a se tornar ele mesmo. Isso não faz sentido para nós aqui, no entanto, o princípio é que o amor simplesmente se estende.
O pensamento do ego segue a mesma lei da mente – extensão (Deus, o Espírito Santo) ou projeção (ego). Uma vez que o pensamento do ego é separação, divisão e fragmentação, é isso que ele continua a se estender ou projetar. Tudo o que eu estou fazendo agora é descrever esse processo.
Portanto, a primeira separação é a mente da Mente. A segunda separação ocorre dentro da mente que agora parece ser duas. Como nós vimos antes, o Filho de Deus, como tomador de decisões, então se junta ao ego, acreditando que ele veio a ser esse ser – pecador, culpado e merecedor de ser punido. E isso justifica o seu medo.
É quando ocorre o terceiro rompimento. Depois que a mente primeiro se separa da Mente e então se divide entre a mente errada e a mente certa, a própria mente errada agora se divide. Esse é o terceiro rompimento e é extremamente importante que ele seja entendido.
Nós temos esse ser pecaminoso e separado, que eu denotarei por uma linha vertical (veja o gráfico). Esse é o Filho de Deus que experiencia a si mesmo como o lar do pecado e da culpa, como uma criatura pecaminosa e culpada.
O ego diz ao Filho que ele é capaz de escapar do pecado e da culpa dividindo-se em dois. Assim o ser se divide em dois: ele se divide para a ira de Deus. Esse é o nascimento do medo. O Filho começa como pecador e culpado e então divide a si mesmo, projetando a culpa de forma que agora parece haver um ser separado.
Onde antes havia apenas um ser na mente do ego – o eu pecaminoso e culpado – agora existem dois seres. Eles constituem o elenco de personagens no campo de batalha: o Filho pecador e culpado que agora acredita que está em guerra com o seu irado e insano Pai. Na realidade, é claro, não existe um Pai insano e irado – a coisa toda é inventada. É uma parte separada da mente do Filho que parece estar fora dela.
Basicamente, isso é projeção. Simplesmente nós pegamos algo dentro de nós, colocamos fora de nós e então esquecemos o que fizemos. E o que parece estar fora de nós é, na realidade, ainda parte de nossas mentes. Efeito e causa sempre permanecem unidos – as ideias nunca deixam a sua fonte.
Nós achamos que há algo fora de nós, entretanto, é simplesmente uma projeção do que está dentro de nós. Esse ser culpado e pecaminoso, o Filho, se dividiu em dois e a parte do ser que ele odiava, o pecado e a culpa, agora parecem estar fora do ser, colocados em um ser que repentinamente veio à existência. A culpa não está mais dentro do Filho. É projetada no Pai. E agora esse Pai – esse Deus colérico e vingativo – é ‘o vilão’. Ele é Aquele Que ataca, Aquele Que está cheio de vingança. Ele veio a ser o vitimizador.
Na realidade, o Filho acredita que é o vitimizador, porque acredita que vitimou Deus – Deus é realmente a vítima. É por isso que o Filho é pecador e se sente culpado. No entanto, uma vez que ele projeta o pecado e a culpa, Deus vem a ser o vilão. Deus vem a ser o vitimizador e o Filho agora é a vítima inocente.
Isso é o que se encontra no grande mito Ocidental de Adão e Eva. No final dessa história bíblica, Deus é o vilão. Ele é Aquele Que pune. E é um inferno de um castigo! Ele destrói os Seus próprios filhos. Ele diz a eles que eles morrerão e então os bane de Seu Reino. Obviamente, um Deus amoroso não age assim.
Essa história maravilhosa da Bíblia descreve em termos gráficos o sistema de pensamento do ego e como ele surgiu. E Deus acaba tendo todos os atributos do Filho pecador e culpado. É claro que Ele tem todos os atributos do Filho pecador e culpado, porque Ele é o Filho pecador e culpado. Ele é simplesmente uma parte separada da mente do Filho – o terceiro rompimento. Não há campo de batalha na mente do Filho. A coisa toda é inventada. E em outro nível, não há Filho pecador e culpado em primeiro lugar. Isso também é inventado.
O que começou como um único ser agora se dividiu em dois, assim como uma célula se divide por meio da mitose. O ego se separou e o Filho se esquece do que se separou. Uma das características de toda essa procissão de divisão é que, por causa do véu da negação (ver gráfico), uma vez que o Filho se divide, ele se esquece de onde se separou.
Quando a mente passa a existir, ela se esquece de como é a Mente de Cristo e a Mente de Deus. Tudo o que sabe é que está por conta própria. Esse é o primeiro rompimento. Uma vez que a mente dividida se divide e o Filho escolhe o ego, o Filho se esquece do Espírito Santo. Para o que o Filho divide, ele se identifica e do que ele divide, ele esquece.
Com o terceiro rompimento, o Filho de Deus esquece que é pecador e culpado, porque o pecado e a culpa repousam sobre o que foi colocado fora dele. O pecado e a culpa agora recaem sobre o Pai que é visto como o vingador, o agressor, o vitimizador.
Para o que é separado é lembrado e do que é separado é esquecido.
É importante ter em mente que não há ninguém fora do Filho. O Deus Que é visto como externo, Que tem o poder de ferir e vitimar, literalmente não existe. Ele é simplesmente uma parte separada da mente do Filho.
Da mesma forma, o ser pecaminoso e culpado não existe – a coisa toda é inventada. O ego continua se dividindo. Para o que se divide é inventado e do que se divide é inventado. Mas aquilo em que o Filho se divide vem a ser mais assustador do que aquilo de que ele se separou – cada passo sucessivo traz consigo um novo medo que requer uma nova defesa, que envolve outro rompimento.
Isso nos leva ao quarto e último rompimento.
Uma vez que o ego se dividiu em dois, com o Filho vítima inocente agora à mercê do Pai vitimizador – esse Deus vitimizador Que o destruirá – tudo o que o Filho é capaz de fazer é correr para salvar a sua vida. Então, agora vem o quarto e último rompimento, onde a mente se divide, fazendo com que um corpo se separe da mente.
Nessa divisão, nós achamos uma explosão incrível, que é uma metáfora para o único Filho de Deus se fragmentando em bilhões e trilhões e zilhões de pedaços. Não existe um número grande o suficiente para descrever e abranger o que essa divisão acarretou.
Vejamos uma parte do Texto, Capítulo 18, que trata disso, a seção chamada “A realidade substituta”. Esta seção é provavelmente o melhor relato do Curso sobre a origem do mundo.
‘Tu, que acreditas que Deus é medo, fizeste apenas uma substituição. Ela tomou muitas formas, porque foi a substituição da verdade pela ilusão, da totalidade pela fragmentação. Ela veio a ser tão partida, subdividida e de novo dividida, vezes e mais vezes, que agora é quase impossível perceber que alguma vez foi uma só e que ainda é o que era.’ (T-18.I.4:1-3)
A última seção desse Capítulo, ‘Os dois mundos‘, é provavelmente o melhor relato no Curso sobre o propósito do mundo: ocultar a nossa culpa.
Quando nós acreditamos que Deus é medo, que é o que o ego nos disse, nós fizemos apenas uma substituição – há apenas um erro. Nós substituímos o sistema de pensamento do ego no lugar do Espírito Santo. Houve apenas um erro, uma substituição.
Assumiu muitas formas, porque foi a substituição da ilusão no lugar da verdade; de fragmentação no lugar da integridade. Ela [essa substituição] veio a ser tão fragmentada, subdividida e dividida novamente, continuamente, que agora é quase impossível perceber que uma vez foi uma e ainda é o que era.
Essa passagem muito importante descreve o quarto e último rompimento, quando a mente se separa de si mesma e vem a ser um corpo, fragmentando-se continuamente. É como se o inferno explodisse. Esse único pensamento do ego, esse único Filho de Deus, se fragmenta em bilhões e zilhões de pedaços.
O mundo resultante vem a ser um esconderijo muito eficaz, um dispositivo de distração e uma cortina de fumaça, porque resultamos no que os hindus chamam de ‘mundo da multiplicidade’.
Esse mundo vem a ser tão incrivelmente complicado, tão incrivelmente vasto, que é quase impossível conceber que o erro ‘uma vez foi um só e ainda é o que era’ – nada mudou. Houve apenas um erro – o Filho de Deus voltou-se para o ego ao invés do Espírito Santo. Esse erro está presente em cada mente fragmentada e em cada corpo fragmentado – cada um de nós carrega dentro de nós aquele único erro.
Cada um de nós também carrega dentro de nós a capacidade de fazer outra escolha.
Basicamente, o Curso vê a mente dividida, especialmente como a experienciamos aqui, como holográfica, embora Jesus nunca use esse termo. E uma das principais características de um holograma é que o todo é encontrado em todas as partes. Qualquer parte ou fragmento de uma imagem holográfica contém a totalidade dela. Você é capaz de reproduzir uma imagem inteira de apenas um fragmento.
Dentro de cada minúsculo fragmento que cada um de nós representa está contido todo o sistema de pensamento do ego, o sistema de pensamento do Espírito Santo e a capacidade do tomador de decisões de escolher um ou outro. No entanto, tudo vem desse processo de cisão (rompimento), onde continuamente nos separamos um do outro.
Deixe-me repassar os rompimentos mais uma vez.
- Primeiro a mente se separa da Mente e se esquece de onde veio.
- Então a mente se divide em duas – o tomador de decisões escolhe o ego, ou a parte da mente errada e esquece o Espírito Santo, ou a parte da mente certa.
- A mente errada, que consiste em pecado e culpa, então se divide em duas – um Filho pecador e culpado e um Pai irado. Mas o Pai irado assumiu os atributos do Filho pecador e culpado, de modo que o Filho se esquece de que realmente é culpado. O que era um agora parece ser dois, exceto o que parece ser o outro ser é simplesmente uma parte separada de um único ser.
- Finalmente, esses dois seres se separaram e a realidade aparente de um campo de batalha em nossas mentes agora toma forma fora de nós. E o mundo inteiro parece ser um campo de batalha. Mas se o campo de batalha em minha mente é um conflito entre dois seres que são realmente um ser só, aparentemente rompidos em dois, isso significa que o campo de batalha que experiencio aqui no mundo, onde eu sou a vítima e você é o vitimizador, simplesmente envolve as partes separadas de um único ser.
Quando Jesus no Curso diz que o seu irmão é você mesmo, ele quer dizer isso literalmente. Há muitas passagens no Curso que devem ser tomadas metaforicamente, como Jesus dizendo que …Deus é solitário sem os Seus Filhos… (T-2.III.5:11), que …Deus chora por Suas crianças… (T-5.VII.4:5), e que …Deus nos deu o Espírito Santo em Resposta à separação… (por exemplo, T-5.II.2:5). Essas são metáforas, não devem ser interpretadas literalmente. Mas quando Jesus diz que o seu irmão é parte de você, ele quer dizer isso literalmente. E os rompimentos explicam por que isso acontece.
O vingativo, Deus irado Que nós acreditamos ser o vitimizador, fazendo de nós as suas vítimas, é na verdade uma parte separada de nós mesmos.
Esse pensamento está enterrado na mente sob o véu da negação. Nós projetamos esse pensamento e construímos um mundo. A divisão vítima-vitimizador na mente – o campo de batalha – é vista fora da mente.
No entanto, o princípio é exatamente o mesmo, porque nada mudou. O meu corpo vitimizado, que está fora da minha mente, parece uma presa do seu corpo vitimizador, que também está fora da minha mente. Mas ambos são partes do meu ser.
Então basicamente, perdão significa que eu realmente estou perdoando o que nunca aconteceu: nós nunca nos separamos.
Quando o Curso fala sobre relacionamentos de cura [healing] – mudar um relacionamento especial para um relacionamento santo com o meu parceiro especial – significa que a pessoa especial em quem eu tenho investido tanto ódio ou tanta necessidade é literalmente uma parte separada de mim mesmo. Eu estou literalmente me unindo a mim mesmo – não ao ser que tem um nome – porque a pessoa com quem me identifico como vítima e a pessoa que identifico como o vitimizador são, na verdade, partes separadas de um ser maior.
Toda a mensagem e todo o plano do Curso – em qualquer extensão que nós sejamos capazes de falar de um plano, porque Jesus não tem um plano como tal – é que todos de quem nós nos separamos, gradualmente nós nos reunimos.
Esse é o círculo da Expiação. E é por isso que o Curso tem tanta ênfase na união uns com os outros. E essa união não ocorre em um nível físico – não é uma união entre uma pessoa e outra. É lembrar que, na verdade, nós somos partes de um ser maior.
Ao me reunir com você – o que significa que não o vejo mais como o vitimizador – eu devo estar fazendo a mesma coisa com Deus, porque eu estou realmente fugindo do Deus dividido que eu criei. Toda a dinâmica de projetar a minha culpa em outro ser que eu literalmente inventei – que eu penso que é Deus – é reprimida e então vista para fora.
Voltemos a uma passagem de “O sonhador do sonho”, no Capítulo 27 do Texto, que faz com que isso seja extremamente claro. No início do parágrafo quinze, Jesus diz:
‘Sonha suavemente com o teu irmão sem pecado, que se une a ti em santa inocência.” Então, no final, ele diz: “Ele [o seu irmão] representa o seu Pai [o seu irmão representa Deus], Que tu vês como Aquele Que oferece ambas, vida e morte’. (T-27.VII.15:1-7)
Ele parece estar oferecendo vida e morte para mim porque eu tenho uma mente dividida. O meu ego me diz que Deus está me oferecendo a morte; o Espírito Santo diz que Deus está me oferecendo vida. Visto que essa é a divisão em minha mente que tornei real no mundo, então qualquer pessoa com quem eu esteja me relacionando carregará as mesmas qualidades que eu projetei em Deus.
Eu estou reencenando o rompimento que todos nós fizemos quando nos separamos de nosso ser pecaminoso e culpado e o colocamos nas mãos de Deus. Você então vem a ser a representação de Deus para mim. Visto que vejo Deus representando a vida ou a morte, é assim também que eu vejo você.
E então Jesus diz:
‘Irmão, Ele dá só a vida.” Deus apenas dá vida – essa é apenas outra declaração do princípio da Expiação. E ele continua: ‘Entretanto, o que vês como as dádivas que o teu irmão te oferece representa as dádivas que sonhas que o teu Pai te dá’. (T-27.VII.16:1-2)
Com essa passagem, nós somos capazes de começar a ver a conexão que eu mencionei no início entre a metafísica do Curso e a sua ênfase muito prática em como nós vivemos uns com os outros – é tudo a mesma coisa. Nós somos capazes de começar a entender por que o perdão é tão central no Curso e por que é tão importante reconhecer o nosso ódio e todos os especialismos que nós sentimos uns pelos outros.
Eles são um reflexo do ódio original que nós sentimos por Deus. E não necessito entrar em contato com esse ódio original. Eu só tenho que reconhecer que, ao me sentir vitimado por você, eu estou reencenando o terceiro rompimento em que senti que estava sendo vitimado por Deus. Se eu puder curar [to heal] o meu relacionamento com você, o que significa simplesmente mudar de ideia (voltaremos a isso em breve), então eu estou realmente curando [healing] o meu relacionamento com Deus, porque é o mesmo problema.
Tudo é o mesmo problema. Não importa quantas vezes eu a rompe e a fragmente, a substituição permanece o que sempre foi. O imenso significado dessa passagem de ‘A realidade substituta’ (T-18.I) é que ela mostra claramente que o problema sempre permanece o mesmo. Ele permanece um, apesar de sua aparência de bilhões e zilhões de relacionamentos, cada um com os seus próprios problemas. Existe apenas um relacionamento. Começa quando me vejo como culpado porque eu dei ouvidos ao ego ao invés do Espírito Santo.
Essa culpa é tão horrível que eu a separo para que a veja fora de mim. Mas isso, por sua vez, vem a ser horrível porque significa que eu serei morto por Deus. Então, eu separo isso e faço acreditar que isso nunca aconteceu. Eu crio um mundo e o povoo com bilhões de corpos. E reencenarei com cada fragmento o mesmo problema que eu tenho com Deus: vejo-me como uma vítima inocente do que outra pessoa tenha feito. A forma do relacionamento é ódio especial ou amor especial, mas sempre termina da mesma forma.
Eu não necessito voltar em minha mente ao meu relacionamento com Deus. Eu simplesmente tenho que ser capaz de escolher deixar Jesus me ajudar a olhar para a divisão. (Nós discutiremos isso um pouco mais tarde.) Jesus me ajuda a entender que o problema não é você. O problema é que eu separei algo em mim mesmo que eu não quero olhar. Então eu vejo isso em você. Se eu sou capaz de dizer que o seu aparente pecado não tem efeito sobre mim, eu estou na verdade dizendo que você não existe fora de mim. E então eu estou realmente começando a me reunir comigo mesmo.
Alguns dos antigos textos Gnósticos têm Jesus falando sobre como ele está ‘retornando a si mesmo’ ou ‘reunindo a si mesmo’, como ele está ‘coletando todos os fragmentos e reunindo-os dentro de si mesmo’. Essas foram maneiras muito brilhantes de descrever esse processo pelo qual todos nós acabaremos como um só ser.
O conceito do Curso da Segunda Vinda é que todos os fragmentos aparentemente separados da Filiação se reunirão como um Filho.
O processo começa onde quer que eu esteja, sempre que eu sinta que há alguém fora de mim que pode me machucar ou me salvar – não importa, é o mesmo erro.
Quero aprender que tudo o que vejo do lado de fora é uma parte separada de mim mesmo. Ao perdoar você e me unir a você, estou realmente me unindo a mim mesmo.
Imagem pexels-pixabay-2150.jpg
..…Continua Parte II…..
Um milagre é uma correção. Ele não cria e realmente não muda nada. Apenas olha para a devastação e lembra à mente que o que ela vê é falso. Desfaz o erro, mas não tenta ir além da percepção, nem superar a função do perdão. Assim, permanece nos limites do tempo. LE.II.13