Trechos do Workshop realizado na Fundação para Um Curso em Milagres – Temecula CA – Ministrado pelo Dr. Kenneth Wapnick, Ph.D.
Artigo: “Jesus: The Manifestation of the Holy Spirit”
Tradução livre Projeto OREM®
“Este conjunto de fitas foi originalmente um workshop realizado em dezembro de 1990 na Fundação para Um Curso em Milagres. A apresentação concentrou-se na importância de nós permanecermos fiéis à nossa experiência de Jesus, ao mesmo tempo em que nós reconhecemos que a sua realidade transcende essas experiências individuais. A discussão no workshop também se concentrou em profundidade na relação de Jesus com Helen Schucman, a escriba do Curso e com o próprio Um Curso em Milagres. A nossa experiência e a realidade de Jesus são apresentadas no contexto do símbolo de uma escada, o símbolo usado no panfleto escrito ‘A Canção da Oração’.
A nossa jornada de volta para casa é um processo, com Jesus servindo tanto como nosso guia na ilusão, experienciada nas formas mais significativas para nós, quanto ao mesmo tempo como o final da jornada como lembrete de nossa verdadeira realidade como Cristo. Nas palavras da Lição 302 no Livro de Exercícios: ‘O nosso Amor nos espera quando vamos a Ele e anda ao nosso lado mostrando-nos o caminho. Ele não falha em nada. Ele é o fim que buscamos e o meio pelo qual vamos a Ele.’
O que se segue são excertos da transcrição editada do workshop.
Jesus: A Manifestação do Espírito Santo
Parte I
Originalmente, eu pensei que um bom subtítulo para esse workshop sobre Jesus e o Espírito Santo fosse: ‘Quem diabos são eles, afinal?’ [Risos]
Isso realmente implica sobre o que nós vamos falar. Um pouco mais sério e na verdade ainda mais direto, é o título que alguém me sugeriu: ‘Jesus e o Espírito Santo: O que no mundo Eles são?’ Mas talvez um subtítulo ainda melhor para o título principal do workshop, ‘Jesus: a manifestação do Espírito Santo’, seja ‘A ilusão e a realidade de Jesus’.
É basicamente sobre isso que nós passaremos a maior parte do workshop falando. Embora provavelmente seja verdade para todos os workshops que eu faço, eu penso que é ainda mais o caso aqui que estou conceituando o workshop como um todo. Muito do que eu falarei – especialmente no início – pode parecer muito fora de ‘sincronia’ com o que você provavelmente já me ouviu dizer outras vezes, ou com o que você mesmo experienciou sobre Jesus ou o Espírito Santo. Eu estou basicamente definindo um contexto para muito do que nós falaremos mais tarde. Assim, nesse caso, o todo não é encontrado em cada parte como na Filiação. Mas cada parte é parte integrante do todo. Então, por favor, não saia depois dessa primeira parte do workshop se eu disser algo que pareça blasfemo ou herético.
Eu gostaria de falar primeiro sobre o nosso velho amigo, Platão – ele conceituou algo que é referido no Curso pelo menos uma vez especificamente e implicitamente em todo o caminho. Uma declaração no Manual de Professores, que cito frequentemente, diz que ‘…as palavras não são senão símbolos de símbolos. Estão, assim, duplamente afastadas da realidade’ (MP-21.1:9-10).
Essa afirmação, embora não seja literalmente tirada de Platão, é bastante próxima do que ele disse sobre as representações de objetos dos artistas: ‘[eles] estão em terceiro lugar da realidade’. (O contexto completo e a referência para essa descrição aparecem abaixo.) Eu gostaria de começar com isso, pois é uma boa entrada para uma discussão sobre a realidade e a ilusão no Curso e ainda mais especificamente sobre a realidade e a ilusão de Jesus.
Um dos maiores problemas com que Platão lutou durante toda a sua vida – isso é basicamente um dos principais temas de todos os seus tratados filosóficos – é a diferença entre aparência e realidade. Muito do que eu falarei aqui no início, em termos de Platão, você reconhecerá como um antecedente do que nós encontramos no Curso. Mais tarde no workshop, eu discutirei o papel de Jesus, assim como de Helen, em termos do ditado do Curso. Quando eu fizer isso, eu discutirei novamente como Platão foi uma das maiores influências na forma em que o Curso vem.
Deixe-me começar a fazer um Gráfico – isso será diferente do que muitos de vocês estão acostumados a me ver fazer. Nós vamos colocar a realidade no topo do gráfico. Ao lado da realidade nós colocaremos a verdade. Enquanto Platão geralmente não falava de Deus como tal, ele falava sobre verdade e perfeição e o mundo das Ideias. Eu não darei uma longa discussão sobre Platão; mas ele falou sobre o mundo das Ideias, que do ponto de vista do Curso, seria o mundo do Céu ou espírito. O conceito de realidade de Platão não é exatamente o mesmo, mas certamente o seu lugar em sua filosofia é paralelo ao lugar do Céu na filosofia do Curso. É a única verdade.
Basicamente, Platão ensinou que para cada conceito ou categoria de objeto e pensamento (ou seja, material ou abstrato) que nós percebemos aqui no mundo, há uma Ideia perfeita correspondente ou pensamento perfeito – o que ele chamou de ‘o mundo das Ideias’.
Um exemplo famoso que ele usou é o de uma cama – algo muito comum. No mundo das Ideias, existe a cama perfeita, ou a Ideia da cama. Depois, há a categoria ou conceito da cama, ou seja, um símbolo concreto ou forma conceitual da cama ideal. Platão usou o exemplo de um carpinteiro que constrói uma cama perfeita. E depois há as palavras que descrevem uma cama. Platão fala inicialmente de um pintor representando uma cama, mas depois passa a falar do poeta (especificamente Homero) como um artista representando coisas através de palavras. Os três níveis são descritos no seguinte trecho da República de Platão (598b-e; trad. Desmond Lee):
. . . o que ele [o carpinteiro] produz não é a forma da cama que, segundo nós, é o que realmente é uma cama, mas uma cama particular. . . . o seu produto assemelha-se à ‘o que é’ sem sê-lo. E qualquer um que diga que os produtos do carpinteiro ou de qualquer outro artesão são, em última análise, reais, dificilmente estará dizendo a verdade. . . . a cama que o carpinteiro faz é uma coisa sombria comparada à realidade. . . . existem três tipos de cama. A primeira existe na natureza, e nós diríamos. . . que foi feita por Deus. Ninguém mais poderia ter feito isso. . . . A segunda é feita pelo carpinteiro. . . . E a terceira pelo pintor. . . . a representação do artista está em terceiro lugar da realidade. . . . Assim, o poeta trágico, se a sua arte é a representação, está por natureza em terceiro lugar do trono da verdade; e o mesmo vale para todos os outros artistas representativos.
Então, quando o Curso diz que ‘…as palavras não são senão símbolos de símbolos e estão, assim, duplamente afastadas da realidade’, nós podemos ver a progressão – há uma palavra que descreve uma cama, então um conceito particular, ou seja, uma cama física real, e finalmente a realidade ou a verdadeira natureza da cama, que é a cama perfeita. O tema principal da obra de Platão era que esse nível final é a única verdade – está além do mundo físico, o que nós não podemos ver. Todo o resto é apenas uma aproximação disto.
Eu colocarei aqui a cama perfeita (ver Gráfico). E abaixo disso o carpinteiro que constrói a cama perfeita. E depois há o pintor que pinta a cama ou o poeta que descreve a cama num poema. Em termos de palavras sendo ‘símbolos de símbolos’, a cama física ou conceito é um símbolo, a palavra cama é um símbolo e, portanto, a palavra é um símbolo do símbolo, o conceito da cama perfeita. O símbolo é uma tentativa de representar algo que está além de qualquer coisa nesse mundo. Assim, a realidade é a única verdade — isso é espírito. Tudo o mais que tenha a ver com o mundo das aparências é ilusório.
. . . . . . .
Vejamos agora o que o Curso tem a dizer sobre Deus. Nós vamos primeiro considerar a versão de Deus do ego. O ego desenvolve um conceito de Deus como um pecado – contra Deus – como nós sabemos que o sistema de pensamento do ego começa com a ideia de que nós pecamos contra Deus e O atacamos separando-nos Dele. Assim, o conceito de Deus do ego – obviamente, uma distorção do Deus verdadeiro – é que Ele é um Deus contra-o-qual-pecamos.
O ego então usa um grupo de símbolos para descrever o pecado contra Deus: Ele é vingativo, odioso, insano, Ele acredita em barganhas, Ele está irado, etc. Todas essas são maneiras pelas quais nós descreveríamos Deus dentro do sistema de pensamento do ego. Obviamente, em um nível consciente, a maioria de nós não pensaria em Deus dessa maneira, mas, como Jesus nos explica no Curso, é assim que nós pensamos em Deus inconscientemente. Para repetir, nós começamos com o Deus verdadeiro ou Deus puro. O ego então cria uma versão de Deus contra-o-qual-pecamos e então desenvolve toda uma série de símbolos ou palavras para nos descrever o que é esse Deus.
Um dos poemas de Helen inclui o verso: ‘O amor não crucifica, ele… simplesmente é’ (‘Amen’, The Gifts of God, p. 91). Agora, a razão para essa linha é que nós acreditamos que o amor crucifica. Claro, as Igrejas Cristãs foram construídas sobre a ideia de que nós sabemos que Deus nos ama porque Ele crucificou e matou o Seu próprio Filho. É isso que o amor faz: ele crucifica e castiga. Isso faz todo o sentido dentro do sistema de pensamento do ego. Lembre-se, esse é um Deus ‘contra-o-qual-pecamos’ – esse é o conceito de Deus na caixa do ego no Gráfico. E um Deus contra-o-qual-pecamos se traduz em um Deus que é vingativo, odioso e insano, que barganha conosco e está irado. Esse é um Deus Que crucifica. Assim nós aprendemos a ter medo do Amor de Deus.
Então há Deus segundo o Espírito Santo. Esse Deus é um Deus amoroso, contra Quem não se pecou. Esse é o Deus da Expiação. O princípio do Curso da Expiação é que a separação nunca realmente aconteceu. De acordo com o Espírito Santo, muitas palavras diferentes podem ser usadas para descrever esse Deus: Ele é afetuoso, amoroso e generoso. Três outras palavras usadas no Curso para descrever Deus – palavras às quais nós voltaremos mais tarde -são: Deus está solitário sem nós, Deus derrama lágrimas sem nós e Deus é incompleto sem nós. Se as palavras são símbolos de símbolos, então Jesus está usando tais palavras no Curso para representar outro símbolo – Deus como amoroso. E essas são apenas tentativas de refletir o que nunca pode ser entendido nesse mundo – ou seja, o que realmente significa dizer que Deus é Amor.
O princípio do Curso da Expiação é que a separação nunca realmente aconteceu.
Quando o Curso fala sobre Deus sendo afetuoso, amoroso, generoso, solitário, que derrama lágrimas e incompleto, ele está usando os símbolos do mundo da ilusão, o mundo das aparências. Da mesma forma com Platão, nem a cama pintada por um artista ou a cama construída por um carpinteiro é a cama perfeita. Assim, o Curso está usando palavras para simbolizar um conceito de Deus que está além das palavras específicas. Mas o conceito de Deus como amoroso também não é a realidade. Mais uma vez, ‘…as palavras não são senão símbolos de símbolos e estão, assim, duplamente afastadas da realidade’.
Como nós consideraremos com maior profundidade mais adiante, nós estamos todos aqui porque todos nós pensamos em nós mesmos como pessoas com identidades específicas que podem ser descritas por todos os tipos de palavras. Nós pensamos em nós mesmos como homens ou mulheres, como Americanos ou Britânicos ou Canadenses ou Russos, etc., como Judeus, Católicos, Protestantes, Muçulmanos, Agnósticos, Ateus, etc. Também nós pensamos em nós mesmos em termos de identidades culturais ou geográficas, etc. ., todos esses são exemplos de palavras que nós usamos para representar conceitos de nós mesmos. Há outros exemplos disso também: nós podemos pensar em nós mesmos como Americanos, como o povo escolhido de Deus, que é bom e santo, que acredita na democracia e na liberdade, etc. Mas nada disso se relaciona com quem realmente nós somos como Filhos de Deus.
Finalmente, para completar essa visão geral antes de começar a discuti-la com mais detalhes, nós colocaremos Deus no topo novamente (veja o Gráfico), e abaixo de Deus colocaremos o Espírito Santo e Jesus. Nesse nível, basicamente, nós estamos falando de um conceito. O conceito que Jesus e o Espírito Santo representam é o princípio da Expiação — que a separação de Deus nunca aconteceu de verdade. O Espírito Santo pode ser entendido no Curso como sendo a memória do Amor de Deus que veio conosco quando nós adormecemos. Nós levamos essa memória do Amor de Deus e a nossa Identidade como Cristo conosco em nosso sonho quando nós adormecemos. Jesus é referido no Curso como a manifestação do Espírito Santo (T-12.VII.6:1; CO-6.1:1), que obviamente é um tema central desse workshop. Nós voltaremos a isso mais tarde. Assim, Jesus também representa esse mesmo conceito — o princípio da Expiação.
No terceiro nível, nós colocaremos o Espírito Santo e Jesus (ver Gráfico) que nos aparecem ou que nós experienciamos no mundo da forma em termos de atividades concretas ou específicas. Assim, o Espírito Santo ‘fala conosco’ – Ele é definido no Curso como a Voz de Deus. Ele também é definido no Curso como o nosso Professor, o nosso Mediador, o nosso Amigo e o nosso Guia. Jesus no Curso obviamente fala de si mesmo da mesma maneira – ele é o nosso professor, o nosso irmão mais velho, o nosso amigo, o nosso guia. Ele é quem nos levará de volta. Do ponto de vista da função no Curso, Jesus e o Espírito Santo podem ser usados alternadamente.
Portanto, nós estamos falando de dois níveis diferentes de compreensão do Espírito Santo e de Jesus. Existe o nível conceitual em que Eles são a expressão simbólica do princípio da Expiação – ou seja, que a separação do Amor de Deus nunca aconteceu. Nós sabemos que isso nunca aconteceu porque experienciamos o seu Amor e a sua Presença em nossas mentes. E há o nível da forma – as maneiras específicas pelas quais experienciamos a sua Presença e o seu Amor. Essas incluem os papéis específicos como Professor, Guia, Mediador, Amigo, etc., onde os experienciamos como fazendo coisas específicas para nós no mundo – respondendo às nossas perguntas específicas, encontrando vagas para estacionar, curando doenças, etc., o nível da forma, ao qual nós voltaremos mais tarde.
Mas se nós entendermos a ideia de que ‘palavras não são senão símbolos de símbolos’ e que elas estão, assim, ‘duplamente afastadas da realidade’, então nós saberemos que ter uma experiência do Espírito Santo ou Jesus falando diretamente conosco e respondendo às nossas perguntas, ou fazendo coisas para nós no mundo é realmente estarmos ‘duplamente afastados’ da realidade. Uma vez afastado da realidade seria simplesmente ter uma experiência de Jesus ou do Espírito Santo como a Presença do Amor de Deus – isto é tudo, apenas como uma Presença do Amor. Isto, também, é apenas um reflexo da verdadeira realidade – ele está uma vez afastado. No Céu não há Jesus ou Espírito Santo com uma identidade específica.
Vejamos uma passagem no Esclarecimento de Termos sobre o Espírito Santo que é relevante aqui: ‘A sua Voz é a Voz por Deus e, portanto, tomou forma. Essa forma não é a Sua realidade, que somente Deus conhece junto com Cristo, Seu Filho real, Que é parte Dele’ (ET-6.1:4-5). A Voz por Deus seria uma forma no nível inferior do nosso Gráfico – então nós experienciamos o Espírito Santo como uma Voz que fala conosco, ou como um Professor específico que nos ensina. Mas essa forma não é a Sua realidade – A Sua realidade só Deus conhece, porque a Sua realidade é simplesmente uma extensão ou uma expressão do Amor de Deus no Céu. Perto do final dessa Seção, a ideia continua: ‘Pois no lugar dela’ – em outras palavras, no lugar dos sonhos do ego – ‘o hino a Deus é ouvido por pouco tempo. E então a Voz terá desaparecido, para não mais tomar forma, porém para regressar à eterna Ausência de Forma de Deus’ (ET-6.5:7-8).
Enquanto nós estivermos dentro do sonho – basicamente essas duas caixas inferiores (veja o Gráfico) – nós experienciaremos o Espírito Santo ou Jesus como uma pessoa ou presença específica e, no fundo, como alguém que atende às nossas necessidades e nos responde quando nós precisamos dele. Quando o sonho acaba, a forma desaparece. E então o Espírito Santo retorna à Sua verdadeira Identidade como parte da eterna ausência de forma de Deus (na caixa superior do Gráfico).
Essa é uma ideia extremamente importante para se ter em mente – que é a razão pela qual eu estou começando com ela – porque enquanto nós trabalhamos com o Curso, nós podemos facilmente cair na armadilha de confundir ilusão com realidade. Ou como disse Platão, de confundir aparência com verdade. Esse ponto é colocado muito claramente em uma passagem importante no Panfleto de A Canção da Oração, que nós leremos daqui a pouco. Nós não estamos buscando o Jesus que faz as coisas por nós aqui. Nem mesmo nós procuramos o Jesus que é essa presença abstrata de amor. O que realmente nós queremos é voltar para casa. Esse é o fim, esse é o objetivo. Esse não é o objetivo final do Curso, no entanto. O seu objetivo final é fazer com que nós experienciemos essa Presença de Amor que nós chamamos de Espírito Santo ou Jesus, porém reconhecer que ela não nos exclui, que também nós somos essa Presença de Amor.
Embora Jesus seja mencionado no Curso (no início da seção que acabamos de ler) como a ‘manifestação do Espírito Santo’, nós somos solicitados (também parte dessa Seção) a nos tornarmos a sua manifestação no mundo também. Assim como Jesus é a manifestação do Espírito Santo porque ele não tem mais nada em sua mente, exceto o princípio da Expiação – nenhum pensamento de separação, culpa, pecado, medo, etc. – o nosso objetivo é nos tornarmos essa mesma manifestação. É a isso que o Curso se refere como estar no mundo real. Nesse ponto, nós não experienciamos mais uma diferença entre nós e Jesus ou entre nós e o Espírito Santo. Na verdade, nós não precisamos mais de Jesus nesse ponto. Ele nos diz no Curso que o objetivo de qualquer bom professor é tornar-se dispensável (T-4.I.5:1-2). Uma vez que nós tenhamos aprendido tudo o que Jesus é e o que ele sabe, nós não precisamos mais dele como professor. Na verdade, nós não nos sentiremos mais como uma entidade separada de todos os outros. Isso é o que significa estar no mundo real. Nós podemos ainda parecer estar neste mundo físico, mas nós sabemos que é um sonho. E nós sabemos que a nossa verdadeira identidade é compartilhada com todos, inclusive com Jesus. Nesse ponto nós nos tornamos como ele.
Um poema maravilhoso que Helen anotou chamado ‘Uma Oração a Jesus’ é basicamente uma oração nossa para ele, orando para que nós nos tornemos como ele. Quando finalmente nós nos tornarmos como ele, o que todos nós faremos – em outras palavras, nós estaremos livres de nossos egos – então nós também nos tornaremos a manifestação do Espírito Santo. E não haverá mais as entidades separadas que nós temos na segunda caixa (veja o Gráfico). Todos nós faremos parte do princípio da Expiação. Todos nós seremos a manifestação viva de que a separação do Amor de Deus nunca aconteceu. Esse é o objetivo. Quando isso acontece, o Curso diz que Deus então dá o último passo e tudo desaparece, exceto Deus. E todos nós desaparecemos na eterna ausência de forma de Deus. Ou, como diz perto do final do Livro de Exercícios em uma passagem muito bonita, todos nós ‘desaparecemos no Coração de Deus’ (LE-pII.14.5:5). Nesse ponto não há mais separação.
O nosso objetivo é simplesmente estar no mundo real para que nós nos tornemos esse conceito da Expiação. Como nós veremos – e esse é um tema importante do workshop – todos nós temos que chegar a esse ponto. E para alcançá-lo, nós precisamos de um símbolo do Amor de Deus com o qual possamos nos relacionar, que possamos experienciar. Isso é o que eu estou chamando de natureza ilusória de Jesus, ou a ilusão de Jesus. É extremamente importante – e esse é um ponto que eu reiterarei ao longo do workshop – não pular etapas. Enquanto nós acreditarmos que nós somos um corpo separado – como todos nós acreditamos, caso contrário, nenhum de nós estaria aqui –, então nós precisamos da ilusão de alguém que é separado, mas que representa algo diferente do que nós acreditamos ser. Todos nós acreditamos que nós somos egos bons e saudáveis. Portanto, nós precisamos da ilusão de alguém que represente o Amor de Deus por nós. Jesus, em termos do Curso, é essa pessoa para nós.
Há uma bela seção no Manual de Professores, que nós veremos mais adiante no workshop, que expressa isso. Enquanto nós acreditarmos que nós estamos aqui, enquanto nós tivermos a ilusão de que nós temos uma identidade separada, física e psicológica – lembre-se de que nós estamos duplamente afastados da realidade – então nós precisamos da ilusão de outra pessoa que parece ter uma identidade física e psicológica separada, a quem nós chamamos de Jesus, para pegar a nossa mão e nos levar além desse sistema de pensamento. O objetivo, no entanto, é, em última análise, perceber que a mão que nós seguramos é a nossa — não a nossa como ego, mas a nossa com ‘N’ maiúsculo. A mão que nós seguramos é realmente a mão de Cristo. Mas até que nós possamos aprender que é a nossa própria mão, a nossa experiência é que Jesus estende a sua mão. Como ele explica no início do Texto, ao pegar em sua mão nós estamos transcendendo o ego (T-8.V.6:8). Ao escolher Jesus como o nosso professor, nós estamos dizendo que nós não queremos mais o ego como o nosso professor.
Quando nós tomamos a mão de Jesus e nenhuma outra mão, quando nós aceitamos o seu amor e nenhum outro amor, quando nós aceitamos a sua realidade como a única realidade, então nós aprendemos todas as lições. Nós nos tornamos o mesmo amor do qual ele é uma expressão. Esse é o fim. Até esse momento, no entanto, nós precisamos desesperadamente de alguém que possa representar essa outra escolha para nós. Várias referências no Curso – que nós veremos mais adiante – explicam como no momento em que a separação pareceu ocorrer e todos nós adormecemos, surgiu o princípio da Expiação. É a isso que o Curso se refere em algumas passagens como a criação do Espírito Santo. Na verdade, não é que Deus tenha dado uma resposta à separação, porque se Deus realmente desse uma resposta à separação, isso significaria que realmente houve uma separação. Quando o Curso fala assim – como eu explicarei em breve – ele está falando no reino do simbolismo ou mitologia.
Na realidade, quando nós parecíamos adormecer, nós levamos conosco para o sonho a lembrança do Amor de Deus – esse é o elo de ligação. Esse é o princípio da Expiação. O Curso explica que o plano ainda tinha que ser posto em ação, o que significa que, dentro do sonho, algum aspecto da Filiação separada teria que viver ou manifestar esse princípio da Expiação. E essa pessoa, claro, é Jesus. É por isso que ele fala no Curso de estar encarregado da Expiação (T-1.III.1:1). Tudo isso são símbolos e metáforas. Jesus não é um general que foi encarregado das forças – não é nada disso. O Curso está usando uma metáfora para descrever Jesus como o nosso irmão mais velho – ele é um símbolo para nós. Outras culturas e religiões têm outros símbolos, mas para nós ele é o símbolo de alguém que demonstrou que o princípio da Expiação é verdadeiro – que é possível estar no sonho e lembrar do Amor de Deus sem reservas ou qualificações. Assim, o princípio da Expiação passou a existir no momento em que a separação pareceu ocorrer. Mas dentro do mundo da ilusão, ainda tinha que ser posto em movimento e foi Jesus quem fez isso por nós. Novamente, tudo isso está dentro do domínio da simbologia.
Parte II
Agora deixe-me voltar atrás um pouco. Há um tema maior aqui que nós estamos apenas começando a explorar em termos de Jesus e do Espírito Santo – o tema da forma e do conteúdo. Essa é outra maneira de falar sobre aparência e realidade. O verdadeiro conteúdo é o Amor de Deus e a forma são as diferentes formas de expressá-lo. Dentro do sistema de pensamento do ego, o conteúdo é culpa, ódio e separação, e a forma são os diferentes aspectos de um mundo separado e as nossas experiências aqui de estarmos separados. Relacionamentos especiais é o termo básico do Curso para abranger todas as diferentes formas nas quais nós expressamos o nosso ódio uns pelos outros e por Deus.
Quando eu falo sobre a ilusão e a realidade de Jesus, o conteúdo – o Amor de Deus – seria a realidade e as diferentes formas em que nós experienciamos esse amor seriam a ilusão. O Curso também deixa claro que o perdão, que é seu ensinamento central, é uma ilusão – e que o próprio Curso, como um conjunto de três livros, é uma ilusão. Mas, ao contrário de todas as ilusões do mundo, essas ilusões não alimentam ilusões, nem geram mais ilusões – elas nos levam além de todas as ilusões. Jesus se enquadra nessa categoria. Ele é uma ilusão porque parece ser uma pessoa separada. Mas ao pegar a sua mão e caminhar com ele, nós compartilhamos o seu sistema de pensamento e compartilhamos a sua mente. O seu sistema de pensamento não é a realidade. Ainda é um reflexo, ainda é um conceito — porque o perdão é um conceito. Mas é um conceito que nos leva para além deste mundo inteiramente.
Novamente, isso é extremamente importante, quando nós trabalhamos com o Curso, entender essa diferença crucial para que nós não fiquemos atados e presos ainda mais na ilusão. Para antecipar um pouco do que nós falaremos mais adiante: Escolher o milagre nesse contexto é aceitar e experienciar o amor de Jesus. Magia – o Curso frequentemente contrasta magia e milagre – é se envolver no que Jesus faz por nós ou nos diz. Agora, isso não significa que isso não seja útil, mas se nós ficarmos nesse nível, nós seremos pegos. Nós realmente queremos nos unir a Jesus, aceitar o seu amor e aceitar o seu sistema de pensamento – esse é o milagre. E essa é a diferença entre a ilusão e a realidade. Nós não queremos realmente o Jesus que faz coisas por nós no mundo. Nós queremos o Jesus que está em nossas mentes. Nós queremos um conceito de Jesus que represente o conceito da Expiação, que diz que nós nunca nos separamos do Amor de Deus e nunca o atacamos.
“O Curso também deixa claro que o perdão, que é seu ensinamento central, é uma ilusão – e que o próprio Curso, como um conjunto de três livros, é uma ilusão. Mas, ao contrário de todas as ilusões do mundo, essas ilusões não alimentam ilusões, nem geram mais ilusões – elas nos levam além de todas as ilusões.”
Em uma passagem de A Canção da Oração que eu lerei um pouco mais adiante, Jesus fala sobre a canção da oração como sendo o Amor que o Pai e o Filho compartilham no Céu. E ele nos diz que é a canção que nós queremos. Nós não queremos as formas em que a música nos aparece. Nós não queremos os ecos, os sobretons, os harmônicos. Em outras palavras, nós não queremos o que está representado no nível inferior do Gráfico. Nós realmente queremos a canção (CO-1.I.2-3) – a canção que nós cantamos para o nosso Ser, que o nosso Ser canta de volta para nós. Na verdade, não existem duas pessoas cantando uma para a outra – nós somos aquela canção de amor, nós somos aquela canção que Deus e Cristo compartilham. Até que nós saibamos disso, nós experienciamos um Jesus ou um Espírito Santo em nossas mentes, que canta essa canção para nós, assim como nós cantamos a canção para ele.
Nós não queremos realmente o Jesus que faz coisas por nós no mundo. Nós queremos o Jesus que está em nossas mentes. Nós queremos um conceito de Jesus que represente o conceito da Expiação, que diz que nós nunca nos separamos do Amor de Deus e nunca o atacamos.
Há uma bela passagem em Platão no final de sua discussão sobre as três camas — a cama perfeita, a cama do carpinteiro e a cama do pintor. Platão observa aí que o artista lida com as aparências e não com a realidade. Ora, a original seria a perfeita, um símbolo para Platão do mundo do espírito, o mundo da verdade, o mundo que está além de tudo nesse mundo. A cópia, claro, seria algo que está no mundo das aparências. Platão pergunta retoricamente: ‘Suponha que um homem pudesse produzir tanto o original quanto a cópia? Você acha que ele gostaria de se dedicar seriamente à fabricação de cópias e torná-las o objetivo mais alto da vida? Claro que não! Se ele realmente soubesse das coisas que representava, ele se dedicaria a elas e não às suas representações.’
Esse é exatamente o mesmo sentimento que Jesus está expressando em A Canção da Oração quando diz que é a canção que nós queremos. É o original que nós queremos, não a cópia. Platão está exortando os seus ouvintes e leitores a não perseguirem as coisas desse mundo. O que nós queremos é a ideia. Nós queremos o amor por trás das aparências. No Curso, Jesus está dizendo a mesma coisa para nós: Nós não queremos os vários presentes que nós pensamos receber aqui no mundo. Nós queremos o seu amor. Aprender a identificar-se com o seu amor é a preparação para o último passo de Deus, quando nós percebemos que nós somos esse amor e que de fato nós nunca saímos de nossa Fonte. Nesse ponto, o Curso explica, ‘o mundo é esquecido e o tempo acaba para sempre, enquanto o mundo vai girando para o nada de onde veio’ (ET-4.4:5).
O nosso objetivo, no entanto, não é desaparecer no nada de Deus, ou no Coração de Deus. O nosso objetivo é nos tornarmos o mesmo amor da Expiação que Jesus é. O mundo real ainda está dentro do sonho, ainda dentro do mundo da ilusão. Nesse ponto, a mente não tem mais pensamentos de ataque e separação dentro dela. Até nós chegarmos ao mundo real, Jesus permanece em nossas mentes, brilhando o amor, a luz e a verdade e nos convidando a voltar para ele.
Agora nós voltaremos para uma passagem no Capítulo 25 do Texto que é provavelmente a declaração mais clara do que eu estou falando. E deixe-me primeiro resumir. Vou colocar uma linha roxa aqui, como costumo fazer – tudo acima da linha roxa é Deus. Essa é a única realidade – é onde Cristo também está. Como o Curso ensina, Deus não conhece esse mundo, porque se Ele o conhecesse, o mundo seria real. Isso é extremamente importante – se Deus soubesse sobre o mundo, então haveria um mundo. Todo o ensinamento do Curso é que não há mundo. Na verdade, há uma passagem no Livro de Exercícios que diz isso literalmente: ‘Não há nenhum mundo! Esse é o pensamento central que o curso tenta ensinar’ (LE-pI.132.6:2-3). Então, se Deus soubesse sobre a separação e desse uma resposta a ela, então realmente teria havido uma separação. Caso contrário, Deus não teria dado uma resposta a isso. Mas isso não faz sentido a menos que nós entendamos que Jesus está falando conosco em símbolos. É por isso que eu tenho os três níveis de caixas. No topo está a realidade – com o Deus perfeito, cuja perfeição é a Sua extensão ou criação, Cristo. E nada mudou isso.
Deus não está totalmente envolvido com qualquer coisa que esteja fora de Sua Mente, porque se estiver fora de Sua Mente, não existe. Assim, também, o conceito do Espírito Santo como uma Voz separada que fala em nossas mentes também faz parte da ilusão, porque não há separação na realidade, no Céu. No nível inferior, nós encontramos símbolos que dão forma à separação – nós pensamos no Espírito Santo como uma pessoa, nós pensamos em Jesus como uma pessoa, nós pensamos uns nos outros como pessoas. Assim, na caixa do segundo nível, nós temos a palavra conceito, e na terceira caixa, a forma das palavras.
Não há como qualquer um de nós aqui dentro do sonho – identificando-nos como corpos separados, personalidades separadas – ter alguma ideia ou experiência do que é a realidade. A realidade é que nós somos perfeitamente um só com Deus. Uma linha maravilhosa no Livro de Exercícios afirma que ‘em nenhum lugar o Pai chega ao fim para dar início ao Filho como algo separado de Si Mesmo’ (LE-pI.132.12:4). Não há consciência separada ou diferenciada que possa retroceder e observar a si mesma em relação ao outro. Deus não pode observar, perceber ou experienciar Cristo. Cristo não pode observar, perceber ou experienciar Deus. Não há mente separada, nem consciência separada, nem ser separado que possa ver a si mesmo ou experienciar a si mesmo em relação ao outro. Esse tipo de experiência do outro só ocorre dentro do sonho (abaixo da linha roxa no Gráfico).
Não há nenhuma maneira aqui – como nós veremos na passagem que estamos prestes a ler – que nós podemos entender como nós somos totalmente um só com a nossa Fonte e Criador. Não é incomum que os estudantes perguntem o que mais Deus criou além de Cristo, porque nós não somos espírito como identificamos a nós mesmos e, portanto, nós não temos como entender como é realmente um mundo espiritual; e assim Cristo é tão irreal quanto Deus é. Então, não faria sentido para Um Curso em Milagres refletir apenas em nossa realidade como um só com a nossa Fonte e Criador. Em uma passagem do Livro de Exercícios, Jesus diz: ‘Dizemos ‘Deus é’ e então deixamos de falar…’ (LE-pI.169.5:4). Isso não é muito útil. O que teria acontecido se Helen tivesse anotado essas palavras maravilhosas e tudo o que esse Livro continha fosse ‘Deus é’? As pessoas diriam: ‘Deus é o quê?’ ou ‘Cristo é o quê?’ Não faria sentido para nós. E certamente não seria útil. E o propósito do Curso, como observa muitas vezes, é ser prático.
Então esse é o contexto para essa passagem. É a afirmação mais clara em todo o Curso da diferença entre o que diz no nível da forma ou das palavras e a realidade que as palavras refletem. É extremamente útil quando nós lemos e estudamos o Curso para entender a diferença entre forma e conteúdo, entre símbolo ou aparência e realidade. Caso contrário, nós ficaremos presos no próprio sistema de pensamento do qual nós queremos escapar. Muitas passagens do Curso devem ser lidas como um poema seria lido – sem analisar, mas sim deixar as palavras fluírem e permitir que isso se transforme em uma experiência. Essa passagem da Primeira Seção no Capítulo 25 deixa isso muito claro (T-25.I.5):
Parágrafo 5 – Sentença 1: ‘Já que tu acreditas que estás separado, o Céu se apresenta a ti como se fosse separado também.’
Já que nós acreditamos que nós estamos separados aqui no mundo da forma – cada um com uma identidade separada – então Jesus e o Espírito Santo são apresentados a nós como uma identidade separada. De fato, o Curso se refere ao Espírito Santo, não como um ‘isso’, mas como Ele, como uma Pessoa. Ele é um Mestre, um Guia, um Consolador, um Amigo, um Mediador – sempre em termos que têm a ver com um corpo. Então Ele é apresentado a nós no Curso como separado de nós – é isso que essa primeira frase significa.
Parágrafo 5 – Sentença 2: ‘Não que ele o seja na verdade, mas para que o elo que te foi dado para unir-te à verdade possa chegar a ti através de algo que compreendes.’
O Céu não é verdadeiramente separado na verdade. Na verdade, na realidade (acima da linha roxa no Gráfico), o Céu é totalmente unificado. Deus e Cristo são totalmente um só e o Amor de Deus para o qual o Espírito Santo é a Voz, é a essência de Deus e Cristo. E todos nós somos totalmente um só. Não há diferenciação.
O elo que nos foi dado é o Espírito Santo e Ele nos foi dado de uma maneira que nós podemos entender – Ele vem a nós como Alguém que é separado, porque nós acreditamos que nós somos separados. Uma das principais premissas do Curso – chave para entender os sistemas de pensamento do ego e do Espírito Santo – é que o que nós tornamos real dentro de nós é exatamente o que fora de nós experienciaremos. Provavelmente, a analogia mais clara com isso é se nós pensarmos em nós mesmos em um cinema assistindo a um filme na tela à nossa frente. O que nós vemos na tela é idêntico ao que está no filme passando pelo projetor que está atrás de nós. É impossível que haja algo nesse filme que nós não vemos na tela. É impossível que nós vejamos algo na tela que não esteja no filme. Se o filme estiver passando e houver um ponto preto no filme, nós o veremos na tela.
Já que nós acreditamos que nós estamos separados, nós precisamos experienciar o Amor de Deus como separado, porque o que está dentro de nós é exatamente o que experienciaremos fora de nós. Se nós nos sentirmos como um corpo, se nós pensarmos em nós mesmos como um organismo separado que é diferente e separado de outros organismos e se nós acreditarmos que isso é o que nós acreditamos ser – o que é inerente a acreditar que nós somos um corpo – então é impossível para nós conceber Deus como outra coisa senão um corpo. No Texto, Jesus diz: ‘Não podes sequer pensar em Deus sem um corpo…’ (T-18.VIII.1:7). Isso deve ser porque nós não podemos pensar em nós mesmos sem um corpo. Jesus também inclui no Curso a declaração bíblica de que Deus criou o homem à sua própria imagem e semelhança (T-3.V.7:1), significando que Deus é puro espírito e assim nós somos puro espírito. A Bíblia, no entanto, significa que, de alguma forma estranha, nós somos carne – um corpo – e que isso de alguma forma é um espelho de Deus. Assim, no Curso, Jesus reinterpreta essa citação para significar que Deus é espírito puro e, portanto, nós somos espírito puro.
“Uma das principais premissas do Curso – chave para entender os sistemas de pensamento do ego e do Espírito Santo – é que o que nós tornamos real dentro de nós é exatamente o que fora de nós experienciaremos.”
Curiosamente, nós fizemos exatamente a mesma coisa – nós fizemos Deus à nossa própria imagem. Em uma declaração que se tornou famosa, Voltaire proclamou que Deus criou o homem à sua própria imagem e então o homem retribuiu o elogio. O Deus que criamos é a projeção do que nós acreditamos ser. Nós acreditamos que nós somos separados, pecadores, culpados e irados e que nós somos assassinos. Portanto, o Deus que nós criamos deve ser um Deus separado, colérico, irado e assassino. É impossível que o que nós pensamos de nós mesmos não determine o que nós pensamos de Deus. Uma vez que nós acreditamos que nós estamos separados – isso é um dado porque nós estamos todos aqui nesse mundo ou assim nós pensamos, pois a nossa experiência é que nós estamos aqui nesse mundo – nós devemos pensar em Deus como separado também. E porque nós o fazemos, experienciaremos o Amor de Deus como separado – mas não porque esse Amor seja separado na verdade. Na verdade (acima da linha roxa no Gráfico), o Amor de Deus é perfeitamente unificado. Lembre-se, ‘em nenhum lugar o Pai chega ao fim para dar início ao Filho como algo separado de Si Mesmo’. O amor não é dividido ou quebrado. Mas porque nós acreditamos que nós estamos em um mundo de forma, nós só podemos experienciar o Amor de Deus em um mundo de forma. Já que nós acreditamos que nós somos um corpo, nós só podemos experienciar o Amor de Deus através de um corpo. Então nós pensamos no Espírito Santo como uma pessoa – as pessoas costumavam pensar nele como um pássaro, mas um pássaro também tem um corpo. Ou nós pensamos em Jesus como um corpo, uma pessoa.
“Jesus também inclui no Curso a declaração bíblica de que Deus criou o homem à sua própria imagem e semelhança (T-3.V.7:1), significando que Deus é puro espírito e assim nós somos puro espírito”
Parágrafo 5 – Sentença 3: ‘Pai, Filho e Espírito Santo são como Um só, assim como todos os teus irmãos se unem como um só na verdade.’
Essa é a mesma ideia – há perfeita unidade no Céu. E os nossos irmãos são todos parte do mesmo Cristo, a Segunda Pessoa da Trindade – todos nós somos parte da Filiação.
Parágrafo 5 – Sentença 4: ‘Cristo e Seu Pai nunca foram separados e Cristo habita dentro da tua compreensão, na parte de ti que compartilha a Vontade do Seu Pai.’
O início da Sentença é uma declaração do princípio da Expiação. E a parte de nós que compartilha a Vontade de Seu Pai é a parte de nossas mentes que nunca deixou Deus. Essa é a parte de nossas mentes para a qual o Espírito Santo é o elo de ligação, como nós veremos na próxima sentença.
Parágrafo 5 – Sentença 5: ‘O Espírito Santo liga a outra parte – o diminuto, louco desejo de ser separado, diferente e especial – com o Cristo, para fazer com que a unificação [unicidade] fique clara para o que é realmente um.’
As nossas mentes são realmente uma só — totalmente unidas a Deus. Mas nós acreditamos que nós estamos separados e por isso nós precisamos de uma experiência dentro do sonho desse Amor e unicidade de Cristo e Deus que então nos leva de volta. É por isso que no Curso o Espírito Santo é muitas vezes referido como o Elo ou a Ponte. O Curso repetidamente O descreve como o Elo de Comunicação entre Deus e Seus Filhos separados (T-6.I.19:1; T-8.VII.2:2; ET-6.3:1). Essa ligação ainda é uma ilusão porque nós nunca nos separamos. Mas enquanto nós acreditarmos que nós nos separamos, nós precisamos de uma ilusão ou de um símbolo que represente para nós a verdade da unidade perfeita e do Amor ininterrupto de Deus e Cristo.
Parágrafo 5 – Sentença 6: ‘Nesse mundo, isso não é compreendido, mas pode ser ensinado.’
Nós somos ensinados, não por ser ensinado sobre Deus – nós não podemos ser ensinados sobre Deus. No início do Curso, na Introdução ao Texto, Jesus diz que esse não é um curso sobre amor porque o amor não pode ser ensinado. É antes um curso que visa remover os bloqueios à consciência da presença do amor (T-in.1:6-7). Portanto, nós não somos ensinados sobre a natureza do Céu ou realidade ou criação ou Cristo ou Deus. Nós somos ensinados a nos unir ao conceito ou símbolo do Amor de Deus que nós conhecemos como Jesus. Que nós podemos ser ensinados. E, como nós sabemos de nosso estudo do Curso, nós aprendemos a nos unir a Jesus unindo-nos uns aos outros – nós veremos isso mais tarde. E o que nos ajuda a nos unirmos uns aos outros é nos unirmos a ele.
Nós estamos falando aqui totalmente dentro de um mundo de símbolos – mas são símbolos que representam e refletem a verdade do Céu. Eles não são a verdade do Céu, mas refletem essa verdade. E não é o reflexo que nós queremos — nós queremos a verdade. Não são os sobretons ou harmônicos que nós queremos – nós queremos a canção. Nos termos de Platão, nós não queremos a pintura da cama, nós não queremos a cama em si, nós queremos a ideia da cama perfeita. Nós queremos a verdade. Aprender a unir-se uns aos outros através do perdão e a deixar de lado as nossas mágoas é exatamente a mesma dinâmica de aprender a se unir a Jesus. Eu não posso me unir a você no perdão sem me unir a ele. Eu não posso me juntar a ele sem me juntar a você. Se eu me separo de ti, eu me separo de Jesus e vice-versa.
É por isto que esse é um curso de perdão e de desfazer a culpa através do milagre. Aprender a nos unir a Jesus e a nos unir uns aos outros é como nós aprendemos a nos lembrar de Deus. Portanto, aqui nesse parágrafo – e nós veremos novamente à medida que nós continuarmos – há uma declaração muito clara sobre a diferença entre aparência e realidade, entre ilusão e verdade. Esse não é um curso sobre a verdade. Se fosse sobre a verdade, não seria um curso. A verdade nunca é ensinada — a verdade não pode ser aprendida. A ilusão é o que ensinamos a nós mesmos e, portanto, a ilusão é o que precisamos desaprender. Quando a ilusão é desaprendida, resta a verdade que sempre existiu.
Há outro bom paralelo entre o Curso e Platão. A teoria da educação de Platão afirmava que você não dá conhecimento a um aluno – você desperta o conhecimento nele. A verdade já está presente em nós – nós só precisamos nos lembrar dela. Um tema principal do Curso em termos de seu processo é que nós vemos a face de Cristo um no outro – o que significa que nós perdoamos – e então a memória de Deus surge em nossa mente (por exemplo, ET-3,4:1; ET-5,2:1). A memória de Deus já está em nossas mentes, mas nós a esquecemos.
“É por isto que esse é um curso de perdão e de desfazer a culpa através do milagre. Esse não é um curso sobre a verdade. Se fosse sobre a verdade, não seria um curso. A verdade nunca é ensinada — a verdade não pode ser aprendida. A ilusão é o que ensinamos a nós mesmos e, portanto, a ilusão é o que precisamos desaprender. Quando a ilusão é desaprendida, resta a verdade que sempre existiu.”
Imagem jonathan-borba-3eC5n6gHwe8-unsplash.jpg – 6 de setembro de 2022
…Continua Parte II…
Um milagre é uma correção. Ele não cria e realmente não muda nada. Apenas olha para a devastação e lembra à mente que o que ela vê é falso. Desfaz o erro, mas não tenta ir além da percepção, nem superar a função do perdão. Assim, permanece nos limites do tempo. LE.II.13
Nada real pode ser ameaçado.
Nada irreal existe.
Nisso está a paz de Deus.
T.In.2:2-4