Série de artigos A Ética Budista nos Negócios.

Nós estamos destacando trechos de um artigo denominado “Buddho”, autor Phra Ajaan Thate Desaransi], visando o conhecimento e o entendimento sobre o sistema de pensamento (ética, princípios e valores), o sistema organizacional (ambiente de trabalho, de relacionamentos e de políticas) e o sistema de tomada de decisões (propósitos, resultados e metas) de uma Organização Baseada na Espiritualidade (OBE), sendo esse tipo de Organização uma tendência global irreversível para as pequenas, as médias e as grandes Empresas, em quaisquer mercados de atuação, que visam a agregação de valor para todos os envolvidos nos negócios, assim como a sua própria perenidade.

Fonte

“Buddho”

Autor: Phra Ajaan Thate Desaransi

Traduzido a partir do Tailandês por Thanissaro Bhikkhu

Access to Insight (BCBS Edition), 2 November 2013, http://www.accesstoinsight.org/lib/thai/thate/buddho.html .

©1994 Metta Forest Monastery.

Nota do Editor

Para obter informações sobre este livro, escreva para: The Abbot, Metta Forest Monastery, PO Box 1409, Valley Center, CA 92082, EUA.

Tradução livre Projeto OREM® (PO)

Sobre o Autor

Phra Ajahn Thate Desaransi (1902-1994), também conhecido como Ajahn Tate, Luangpu Thet Thetrangsi, Phra Desarangsee, ou por seu título monástico Phra Rajanirodharangsee, foi um famoso mestre de meditação e monge Budista do norte da Tailândia. Ele foi discípulo de Ajahn Mun e, portanto, um estudante de primeira geração da Tradição da Floresta Tailandesa e um dos professores fundadores da linhagem. Após a morte de Ajahn Mun em 1949, ele foi considerado o Ajahn Yai, ou o chefe da linhagem da Tradição da Floresta Tailandesa, até sua morte em 1994. Fonte: Wikipedia.

Observação PO:

Buddho, em Theravada, abrange múltiplos aspectos da importância do Buda. Reflete o papel do Buda na realização pessoal e na ajuda aos outros, serve como um mantra de meditação para centrar a mente e facilitar o foco através da recitação do nome do Buda. Além disso, Buddho destaca o título do Iluminado e se relaciona com o conhecimento supremo, incorporando a atenção plena e a concentração na meditação. O termo também atua como uma palavra parikamma usada para aprimorar práticas meditativas que visam acalmar a mente. Buddho, no Budismo, abrange várias interpretações, incluindo um mantra de meditação, um ponto focal para a atenção plena, um atributo da iluminação e uma prática de recitação que visa acalmar a mente e invocar a proteção e a sabedoria do Buda. Fonte: Buddho: Significance and symbolism.

—–

Buddho

“Ao estudar meditação com qualquer grupo ou professor experiente em uma forma específica de meditação, você deve primeiro ter certeza de que o seu professor possui plena experiência nessa forma de meditação e de que a forma de meditação que ele ensina é, sem dúvida, o caminho certo. Ao mesmo tempo, demonstre respeito pelo local onde você irá meditar. Só então você deve começar a praticar.

No passado, os mestres exigiam uma cerimônia de dedicação como forma de inspirar confiança antes de você começar a estudar meditação. Eles pediam que você fizesse uma oferenda de cinco pares de velas de cera de abelha e cinco pares de flores brancas — isso era chamado de cinco khandha — ou oito pares de velas de cera de abelha e oito pares de flores brancas — isso era chamado de oito khandha — ou um par de velas de cera de abelha, cada uma pesando 15 gramas e um número igual de flores brancas. Então, eles ensinavam a sua forma particular de meditação. Esse antigo costume tem os seus pontos positivos. Existem muitas outras cerimônias também, mas não irei me aprofundar nelas. Eu mencionarei apenas uma cerimônia muito simples e fácil de seguir um pouco mais adiante.

Somente depois de você ter inspirado confiança em seu coração, como já mencionado, você deve procurar o mestre experiente nessa forma de meditação. Se ele é experiente em repetir samma araham, ele lhe ensinará a repetir samma araham, samma araham, samma araham. Em seguida, ele fará com que você visualize uma joia brilhante e clara a cinco centímetros acima do seu umbigo e lhe dirá para concentrar a sua mente ali enquanto continua a repetição, sem deixar que a sua mente se desvie da joia. Em outras palavras, você toma a joia como o ponto focal da sua mente.

Se você consultar um professor com experiência em meditar sobre a subida e a descida do abdômen, ele o fará meditar sobre a subida e a descida e concentrar a sua mente nos diferentes movimentos do corpo. Por exemplo, quando você levanta o seu pé, você pensa em levantar. Ao colocá-lo no chão, você pensa em colocar e assim por diante; ou então ele o fará se concentrar continuamente no fenômeno do surgimento e desaparecimento em cada movimento ou posição do corpo.

Se você consultar um professor com experiência em poderes psíquicos, ele o fará repetir na ma ba dha, na ma ba dha e concentrar a mente em um único objeto até que isso o leve a ver o céu e o inferno, divindades e brahmas de todos os tipos, a ponto de você se deixar levar por suas visões.

Se você consultar um professor com experiência em meditação da respiração, ele o fará se concentrar na inspiração e na expiração e manter a sua mente firmemente ocupada apenas com a inspiração e a expiração.

Se você for a um professor experiente em meditar sobre buddho, ele fará com que você repita buddho, buddho, buddho e mantenha a mente firmemente nessa palavra de meditação até que você esteja totalmente habilidoso nela. Então, ele fará com que você contemple buddho e o que está dizendo buddho. Assim que perceber que são duas coisas distintas, concentre-se no que está dizendo buddho. Quanto à palavra buddho, ela desaparecerá, deixando apenas o que estava dizendo buddho. Você então se concentrará no que estava dizendo buddho como o seu objeto.

Pessoas do nosso tempo — ou de qualquer tempo, aliás — independentemente de quão educadas ou capazes elas possam ser (eu não quero criticar nenhum de nós por tender a acreditar em coisas cuja verdade nós não temos testado, porque afinal todos nós queremos saber e ver a verdade) e especialmente aqueles de nós que somos Budistas: O Budismo ensina causas e efeitos que são inteiramente verdadeiros, mas por que nós temos que acreditar nas alegações e propagandas que nós ouvimos em todos os lugares? Isso tem que ser porque as pessoas atualmente estão impacientes e querem ver resultados antes delas terem concluído as causas, em linha com o fato de que nós deveríamos estar na era atômica.

O Budismo nos ensina a penetrar no coração e na mente, que são fenômenos mentais. Quanto ao corpo, é um fenômeno físico. Os fenômenos físicos precisam estar sob o controle dos fenômenos mentais. Quando nós começamos a praticar meditação e treinamos a mente para ficar quieta e tranquila, eu não vejo como nós estamos criando quaisquer problemas para ninguém naquele momento em absoluto. Se nós continuamos praticando até nos tornarmos habilidosos, então nós ficaremos calmos e em paz. Se mais e mais pessoas praticam dessa maneira, haverá paz e felicidade em todo o mundo. Quanto ao corpo, nós somos capazes de treiná-lo para ser pacífico apenas enquanto a mente estiver em pleno controle. No minuto em que a atenção plena falha, o corpo retorna às suas antigas atividades. Então, vamos tentar treinar a mente repetindo buddho.

Passos Preliminares para a Prática da Meditação

Antes de praticar a meditação na palavra buddho, você deve começar com os passos preliminares. Em outras palavras, inspire confiança em sua mente, como já mencionado e então curve-se três vezes, dizendo:

Araham samma-sambuddho bhagava

— Aquele Abençoado é puro e totalmente auto desperto.

Buddham bhagavantam abhivademi

— Ao Abençoado, Aquele Desperto, eu me curvo.

(Curve-se uma vez.)

Svakkhato bhagavata dhammo

– o Dhamma é bem ensinado por Aquele Abençoado.

Dhammam namassami

— Ao Dhamma, eu me curvo.

(Curve-se uma vez.)

Supatipanno bhagavato savaka-sangho

— A Comunidade dos discípulos de Aquele Abençoado tem se comportado corretamente.

Sangham namami

— À Comunidade, eu me curvo.

(Curve-se uma vez.)

Namo tassa bhagavato arahato samma-sambuddhassa. (Três vezes.)

(Pense nas virtudes do Buda, o principal mestre do mundo, liberado do sofrimento e da impureza de todos os tipos, sempre sereno e seguro. Em seguida, curve-se três vezes.)

Observação: Esses passos preliminares são apenas um exemplo. Não há nada de errado em recitar mais do que isso se você tiver mais para recitar, mas você deve se curvar diante do Buda como o primeiro passo cada vez que meditar, a menos que o local onde estiver meditando seja desfavorável.

Agora, sente-se em meditação, com a perna direita sobre a esquerda, as mãos com as palmas para cima no colo e a mão direita sobre a esquerda. Sente-se ereto. Repita a palavra buddho mentalmente, concentrando a atenção no meio do peito, no coração. Não deixe a atenção se desviar para a frente ou para trás. Esteja atento para manter a mente no lugar, firme em sua unidirecionalidade e você entrará em um estado de concentração.

Quando você entra em concentração, a mente pode ficar tão vazia que você nem sabe quanto tempo está sentado. Quando você sai da concentração, muitas horas podem ter se passado. Por esse motivo, você não deve estabelecer um limite de tempo para si mesmo ao sentar-se em meditação. Deixe as coisas seguirem o próprio curso delas.

A mente em verdadeira concentração é a mente em um estado de unidirecionalidade. Se a mente não atingiu esse estado, ela ainda não está em concentração, porque o verdadeiro coração é apenas um. Se houver muitos estados mentais acontecendo, você ainda não penetrou no coração. Você só alcançou a mente.

Antes de praticar meditação, você deve em primeiro lugar aprender a diferença entre o coração e a mente, pois eles não são a mesma coisa. A mente é o que pensa e forma percepções e ideias sobre todos os tipos de coisas. O coração é o que simplesmente permanece parado e sabe que está parado, sem formar nenhum outro pensamento. A diferença entre eles é como a diferença entre um rio e as ondas do rio.

Todas as ciências e todas as impurezas são capazes de surgir porque a mente pensa, forma ideias e se dispersa em busca delas. Você será capaz de ver essas coisas claramente com o seu próprio coração quando a mente se aquietar e alcançar o coração.

A água é alguma coisa limpa e clara por sua própria natureza. Se alguém colocar corante na água, ela mudará de acordo com o corante. No entanto, uma vez que a água seja filtrada e destilada, ela se tornará limpa e clara como antes. Essa é uma analogia para o coração e a mente.

Na verdade, o Buda ensinou que a mente é idêntica ao coração. Se não há coração, não há mente. A mente é uma condição. O coração em si não tem condições. Na prática da meditação, não importa qual seja o professor ou o método: se estiver correto, terá que penetrar no coração.

Quando você alcança o coração, você verá todas as suas impurezas, porque a mente reúne todas as impurezas em si mesma. Portanto, como você lida com elas depende de você.

Quando os médicos estão indo curar (cure) uma doença, eles em primeiro lugar precisam encontrar a causa da doença. Só então eles serão capazes de tratá-la com o medicamento certo.

À medida que nós meditamos cada vez mais, repetindo buddho, buddho, buddho, a mente gradualmente se desapega de suas distrações e inquietações e se concentra para permanecer em buddho. Ela permanecerá firme, com buddho como a sua única preocupação, até que você perceba que o estado mental que diz buddho é idêntico à própria mente em todos os momentos, independentemente de estar sentado, em pé, caminhando ou deitado. Não importa qual seja a sua atividade, você verá a mente brilhante e clara com buddho. Uma vez que você tenha alcançado esse estágio, mantenha a mente ali o máximo de tempo possível. Não tenha pressa em querer ver isso ou aquilo — porque o desejo é o obstáculo mais sério para a mente concentrada. Uma vez que o desejo surge, a sua concentração se deteriora imediatamente, porque a base da sua concentração — buddho — não é sólida. Quando isso acontece, você não consegue se agarrar a nenhuma base e fica realmente chateado. Tudo o que você consegue pensar é no estado de concentração em que você costumava ficar calmo e feliz e isso deixa a mente ainda mais agitada.

Pratique a meditação da mesma forma que os agricultores cultivam arroz. Eles não têm pressa. Espalham as sementes, aram, gradam, plantam as mudas, passo a passo, sem pular nenhuma etapa. Depois, esperam as plantas crescerem. Mesmo quando ainda não veem o arroz aparecer, estão confiantes de que ele certamente aparecerá algum dia no futuro. Uma vez que o arroz apareça, estão convencidos de que certamente colherão resultados. Eles não puxam as plantas de arroz para que elas produzam arroz quando eles as querem. Qualquer um que fizesse isso acabaria sem resultado algum.

O mesmo vale para a meditação. Você não pode ter pressa. Você não pode pular nenhuma etapa. Você precisa se firmar na certeza de que: ‘Essa é a palavra de meditação que certamente fará a minha mente se concentrar.’ Não tenha dúvidas se a palavra de meditação é adequada ao seu temperamento e não pense: Aquela pessoa usou essa palavra de meditação com esses ou aqueles resultados, mas quando eu a uso, a minha mente não se acalma. Não funciona para mim de jeito nenhum. Na verdade, se a mente estiver firmemente fixada na palavra de meditação que você está repetindo, então, não importa qual seja a palavra, ela certamente funcionará — porque você repete a palavra simplesmente para manter a mente estável e firme, isso é tudo. Quanto a quaisquer resultados além disso, todos dependem do potencial e das capacidades individuais de cada pessoa.

Certa vez, na época do Buda, havia um monge sentado em meditação perto de um lago onde ele viu uma garça mergulhando para pegar peixes e comê-los. Ele tomou isso como o seu tema de meditação até conseguir se tornar um arahant. Eu nunca tinha visto uma garça comendo peixe como tema mencionado em nenhum manual de meditação, entretanto, ele foi capaz de usá-la para meditar até atingir o estado de arahant — o que ilustra o que acabei de dizer.

Quando a mente está determinada a permanecer dentro dos limites de sua palavra de meditação buddho, com a atenção plena sob controle, ela certamente superará a sua rebeldia. Nós temos que treiná-la e contê-la, porque nós estamos buscando paz e contentamento para a mente. Normalmente, a mente tende a se preocupar em procurar distração, como eu já tenho explicado e na maioria das vezes ela se desvia para esse tipo de distração: Quando nós começamos a meditar buddho, buddho, buddho, assim que nós focamos a mente em buddho, ela não para ali. Ela sai correndo para pensar em qualquer trabalho que nós estejamos prestes a começar ou que nós tenhamos deixado de fazer. Ela pensa em fazer isso e aquilo até ficar toda agitada, com medo de que o trabalho não saia bem ou não tenha sucesso. O trabalho que nos tem sido atribuído por outras pessoas ou que nós estamos fazendo por conta própria será uma perda de tempo ou nos fará perder a credibilidade se nós não fizermos o que nos foi dito…

Essa é uma das distrações que impedem os novos meditadores de alcançar a concentração. Você precisa trazer a sua mente de volta para buddho, buddho, buddho e dizer a si mesmo: ‘Pensamentos desse tipo não são o caminho para a paz; o verdadeiro caminho para a paz é manter a mente focada em buddho e nada mais’ — e então continuar repetindo buddho, buddho, buddho…

Depois de um momento, a mente se dispersa novamente, dessa vez para a sua família — os seus filhos, a sua esposa ou o seu marido: como eles estão se saindo? Eles estão saudáveis? Eles estão se alimentando bem? Se você estiver longe, você se pergunta onde eles estão hospedados, o que eles estão comendo. Aqueles que saíram de casa pensam nos que estão em casa. Aqueles que estão em casa pensam nos que foram para longe — com medo deles não estarem seguros, de serem molestados por outras pessoas, de não terem amigos, de se sentirem solitários — pensando de 108 maneiras diferentes, tudo o que a mente é capaz de imaginar, todas as quais exagerando a verdade.

Ou, se você ainda é jovem e solteiro, pensa em se divertir com os seus amigos — os lugares que costumavam ir juntos, os bons momentos que tiveram, as coisas que costumavam fazer — a ponto de realmente dizer algo ou rir alto. Esse tipo de contaminação é o pior de todos.

Quando você está meditando buddho, buddho, buddho, as suas impurezas percebem que a situação está saindo do controle e que você escapará do controle delas, então elas procuram coisas para prendê-lo ainda mais firmemente o tempo todo. Nunca, desde o dia de seu nascimento, você tem praticado concentração em absoluto. Você simplesmente deixou a mente seguir os humores das impurezas. Só agora você começou a praticar, então, quando você repete buddho, buddho, buddho para fazer a mente se estabelecer com buddho, ela irá se contorcer da mesma forma que os peixes tentam se contorcer de volta para a água quando são jogados em terra firme. Então, você tem que trazer a mente de volta para buddho.

Buddho é alguma coisa tranquila e calma. É o caminho para dar origem à paz e ao contentamento — o único caminho que nos liberará  a partir do sofrimento e do estresse desse mundo.

Então, você puxa a mente de volta para buddho. Dessa vez, ela começa a se acalmar. Assim que você sente que ela permanece imóvel, você começa a ter a sensação de que, quando a mente permanece imóvel, ela está descansada e tranquila, de uma forma diferente de quando não está quieta, quando está inquieta e perturbada. Você decide ser cuidadoso e alerta para manter a mente nesse estado e… Ops. Lá vai de novo. Agora, ela está usando os seus interesses financeiros como desculpa, dizendo que, se você não fizer isso ou procurar aquilo, você perderá uma oportunidade realmente grande. Então, você concentra a sua mente nisso ao invés de na sua palavra de meditação. Em relação à onde buddho acaba de ir, você não tem a menor ideia. Quando você percebe que buddho acabou de desaparecer, já é tarde demais — é por isso que dizem que a mente é inquieta, escorregadia e difícil de controlar, como um macaco que nunca consegue ficar parado.

Buddho é alguma coisa tranquila e calma. É o caminho para dar origem à paz e ao contentamento — o único caminho que nos liberará  a partir do sofrimento e do estresse desse mundo.

Às vezes, depois de você ter estado sentado, meditando por muito tempo, você começa a se preocupar que o seu sangue não está fluindo corretamente, que os seus nervos morram por falta de sangue, que você fique dormente e paralisado. Se você está meditando longe de casa ou em uma floresta, é ainda pior: você tem medo de que cobras o mordam, tigres o comam ou fantasmas o assombrem, fazendo todo tipo de caretas assustadoras. O seu medo da morte pode sussurrar para você de todas as maneiras, todas as quais são apenas exemplos de você mesmo se assustando. A verdade não é nada parecida com o que você imagina. Nunca, desde o seu nascimento, você viu um tigre comer uma única pessoa. Você nunca viu um fantasma — você nem mesmo sabe como isso seria, entretanto, você cria imagens para se assustar.

Os obstáculos à meditação mencionados aqui são apenas exemplos. Na verdade, existem muitos, tantos mais. Aqueles que meditam descobrirão isso por si mesmos.

Se você mantém buddho perto do coração e usar a sua atenção plena para manter a mente focada apenas em buddho, nenhum perigo surgirá em seu caminho. Portanto, tenha fé firme em buddho. Eu garanto que não haverá perigo algum — a não ser que você tenha cometido kamma ruim no passado, algo que está além do poder de qualquer um de protegê-lo. Nem mesmo o próprio Buda é capaz de protegê-lo disso.

Se você mantém buddho perto do coração e usar a sua atenção plena para manter a mente focada apenas em buddho, nenhum perigo surgirá em seu caminho.

Quando as pessoas começam a meditar, a confiança delas tende a enfraquecer. Não importa qual seja o tema da meditação, esses tipos de impurezas certamente interferirão, pois formam a base do mundo e da mente. No minuto em que nós meditamos e tornamos a mente unidirecional (única direção), as impurezas percebem que nós iremos nos afastar delas, então elas se aglomeram ao nosso redor para que nós não consigamos escapar do mundo.

Quando nós vemos o quão sérias e prejudiciais elas são, nós devemos tornar as nossas mentes francas e a nossa confiança sólida e forte, dizendo a nós mesmos que nós nos deixamos enganar ao acreditar nessas impurezas por muitas vidas; agora é hora de nós estarmos dispostos a acreditar nos ensinamentos do Buda e tomar buddho como o nosso refúgio. Nós, então, solidificamos a atenção plena e fixamos a mente firmemente em buddho. Nós dedicamos as nossas vidas a buddho e não deixamos nossas mentes se afastarem disso. Quando nós assumimos esse tipo de compromisso, a mente mergulhará diretamente na concentração e entrará em concentração.

Quando você entra em concentração pela primeira vez, é assim que parece ser: Você não terá a mínima ideia de como será a concentração ou a fixação da atenção em um ponto determinado da mente. Você está simplesmente determinado a manter a atenção plena firmemente focada em um objeto — e o poder de uma mente firmemente focada em um objeto é o que o levará a um estado de concentração. Você não estará pensando que a concentração será assim ou assado, ou que você quer que ela seja assim ou assado. Ela simplesmente seguirá o seu próprio caminho, automaticamente. Ninguém é capaz de forçá-la.

Nesse momento, você se sentirá como se estivesse em outro mundo (o mundo da mente), com uma sensação de tranquilidade e solitude com a qual nada mais no mundo pode se comparar. Quando a mente se afasta da concentração, você lamentará que esse estado de espírito tenha passado e se lembrará disso claramente. Tudo o que nós dizemos sobre concentração vem da mente que se afastou desse estado. Enquanto ela ainda estiver concentrada nesse estado, nós não estamos interessados ​​no que os outros dizem ou fazem.

Você tem que treinar a mente para entrar nesse tipo de concentração com frequência, a fim de se tornar habilidoso e hábil, no entanto, não tente se lembrar de seus estados de concentração passados ​​e não se permita desejar que a sua concentração seja como era antes — porque não será assim e você só estará criando mais problemas para si mesmo. Simplesmente contemple buddho, buddho e mantenha a sua mente concentrada em sua repetição mental. O que ela faz então é problema dela.

Depois que a mente tiver atingido a concentração, não será da mesma forma na próxima vez, porém, não se preocupe com isso. Seja qual for a situação, não se preocupe. Apenas certifique-se de que ela esteja centrada. Quando os resultados surgirem de muitas maneiras diferentes, o seu entendimento se ampliará e você desenvolverá muitas técnicas diferentes para lidar com a mente.

O que eu acabei de mencionar aqui serve apenas como exemplo. Ao seguir essas instruções, não lhes dê muita importância, ou elas se transformarão em alusões ao passado e a sua meditação não levará a lugar nenhum. Simplesmente lembre-se delas como alguma coisa para usar como comparação depois que a sua meditação tenha começado a progredir.

Independentemente do método que você usar — ​​buddho, inspirar (subida, expansão do abdômen) e expirar (descida, contração do abdômen) ou samma araham — quando a mente estiver prestes a se acalmar na concentração, você não pensará que ela está prestes a se acalmar, ou que ela está se acalmando, ou qualquer coisa assim. Ela se acalmará automaticamente por conta própria. Você nem saberá quando abandonar a sua palavra de meditação. A mente simplesmente terá uma calma e paz distintas que não existem nesse mundo, em outro mundo ou em qualquer coisa do tipo. Não há ninguém nem nada, apenas o próprio estado separado da mente, que é chamado de mundo da mente. Nesse estado, não haverá a palavra ‘mundo’ nem qualquer outra coisa. As realidades convencionais do mundo não aparecerão ali e, portanto, nenhum insight de qualquer tipo surgirá ali.

A questão é simplesmente que você deve treinar a mente para ela estar centrada e então compare isso ao estado mental que ela não está centrada, de modo que você seja capaz de ver como os estados diferem, como a mente que acabou de atingir a concentração e então se retire para contemplar as questões do mundo e do Dhamma que diferem a partir da mente que ainda não atingiu a concentração.

O coração e a mente. Vamos falar um pouco mais sobre o coração e a mente para que você entenda. Afinal, nós estamos falando sobre treinar a mente em concentração: Se você não entende o relacionamento entre o coração e a mente, você não saberá onde ou como praticar a concentração.

Todas as pessoas que nascem — humanos ou animais — têm um coração e uma mente, no entanto, o coração e a mente têm funções diferentes. A mente pensa, divaga e forma ideias de todos os tipos, de acordo com a direção para onde as impurezas a levam. Quanto ao coração, ele é simplesmente o que ele sabe. Ele não forma nenhuma ideia em absoluto. Ele é neutro — no meio — em relação a todas as coisas. A consciência no nível da realidade (awareness) que é neutra: Esse é o coração.

O coração não tem um corpo. Ele é um fenômeno mental. Ele é simplesmente consciência no nível da realidade (awareness). Você é capaz de colocá-lo em qualquer lugar em absoluto. Ele não está dentro ou fora do corpo. Quando nós chamamos o músculo cardíaco de coração, esse não é o verdadeiro coração. Ele é simplesmente um órgão que bombeia sangue por todo o corpo para mantê-lo vivo. Se o músculo cardíaco não bombeia sangue por todo o corpo, a vida não é capaz de durar.

As pessoas em geral estão sempre falando sobre o coração: ‘O meu coração está feliz… triste… pesado… leve… abatido…’ Tudo é uma questão do coração. Os especialistas em Abhidhamma, no entanto, falam em termos da mente: a mente em um estado saudável, a mente em um estado prejudicial, a mente em um estado neutro, a mente no nível da forma, a mente no nível sem forma, a mente no nível transcendente e assim por diante, mas nenhum deles sabe como verdadeiramente são o coração e a mente.

A mente é o que pensa e forma ideias. Ela tem que usar os seis sentidos como as suas ferramentas. Assim que o olho vê um objeto visual, o ouvido ouve um som, o nariz sente o cheiro de um aroma, a língua sente o gosto de um sabor, o corpo entra em contato com uma sensação tátil — fria, quente, dura ou macia — ou o intelecto pensa em uma ideia alinhada com as suas impurezas, boas ou más: Se alguma dessas coisas for boa, a mente fica satisfeita; se elas forem ruim, ela fica descontente. Tudo isso é uma questão da mente, ou seja, da impureza. Além desses seis sentidos, não há nada que a mente seja capaz de utilizar. Nos textos, eles são analisados ​​em seis faculdades, seis elementos, seis formas de contato e todo tipo de outras coisas, no entanto, todas essas coisas residem nos seis sentidos. Portanto, essas são características da mente: aquilo que nunca é capaz de ficar parado.

Quando você treina a mente — ou, em outras palavras, pratica a concentração — você tem que controlar a mente que se contorce atrás dos seis sentidos, como já explicado e fazê-la parar com uma coisa: a sua palavra de meditação, buddho. Não a deixe se perder para frente ou para trás. Faça-a ficar parada e saiba que ela está parada: Isso é o coração. O coração não tem nada a ver com nenhum dos seis sentidos e é por isso que é chamado de coração.

Quando as pessoas, em geral, falam sobre o coração de alguma coisa, elas estão se referindo ao seu centro. Mesmo quando elas falam sobre os seus próprios corações, elas apontam para o centro do peito. Na verdade, o coração não está em nenhum lugar específico — como eu acabei de explicar — embora ele esteja bem no centro de todas as coisas.

Se você quer entender o que é o coração, você pode fazer um experimento. Inspire profundamente e prenda a respiração por um momento. Nesse ponto, não haverá mais nada, exceto uma coisa: A consciência no nível da realidade (awareness) neutra. Esse é o coração, ou ‘o que sabe’. Entretanto, se você tentar se apegar ao coração dessa maneira, você não conseguirá segurá-lo por muito tempo — apenas enquanto você for capaz de prender a sua respiração —, porém você é capaz de tentar apenas ver o que é o verdadeiro coração.

(Prender a respiração é capaz de ajudar a reduzir a dor física. Pessoas que sofrem a partir de muita dor têm que prender a respiração como uma maneira — bastante eficaz — de aliviar a dor delas.)

Uma vez que você reconheça que o coração e a mente têm funções e características diferentes, como essa, você achará mais fácil treinar a mente. Na verdade, o coração e a mente são realmente a mesma coisa. Como disse o Buda, a mente é idêntica ao coração. Quando nós praticamos a concentração, basta apenas treinar a mente; uma vez a mente treinada, é aí que nós veremos o coração.

Uma vez que a mente tenha sido totalmente treinada, usando a atenção plena para mantê-la com buddho como a sua única preocupação, ela não se desviará em busca de coisas diferentes e, ao invés disso, se reunirá em unicidade. A palavra meditação desaparecerá sem que você perceba e você sentirá uma sensação de paz e tranquilidade que nada mais pode igualar. Aqueles que nunca experienciaram essa tranquilidade antes, quando a experienciarem pela primeira vez, não serão capazes de descrevê-la, porque ninguém mais no mundo jamais experienciou esse tipo de paz e tranquilidade. Mesmo que outras pessoas já tenham experienciado, não é a mesma coisa. Por essa razão, você acha difícil descrevê-la — embora você seja capaz de descrevê-la para si mesmo. Se você tentar descrevê-la para os outros, terá que usar comparações e analogias para que eles o entendam. Coisas desse tipo são pessoais: Só você pode conhecê-las por si mesmo.

Além disso, se você tem desenvolvido muito potencial em vidas passadas, todo tipo de coisas incríveis são capazes de acontecer. Por exemplo, você pode adquirir conhecimento sobre seres celestiais ou fantasmas famintos. Você pode aprender sobre o seu próprio passado e futuro e o de outras pessoas: Naquela vida específica, você era assim; no futuro, você será assim. Mesmo que você não pretendesse saber essas coisas, quando a mente atinge a concentração, ela é capaz de saber por si mesma de uma maneira surpreendente.

Esse tipo de coisa realmente fascina os meditadores iniciantes. Quando isso acontece com eles, eles gostam de se gabar para os outros. Quando essas pessoas tentam meditar, mas não adquirem o conhecimento ou as habilidades, ficam desanimadas, pensando que não têm o mérito ou o potencial para meditar e elas começam a perder a fé na prática.

Quanto àqueles que veem esse tipo de coisa, quando esse conhecimento ou habilidade se deteriora — porque eles têm sido levados por coisas externas e não tomaram o coração como base delas — eles não serão capazes de se agarrar a nada em absoluto. Quando eles pensam nas coisas que costumavam saber, as mentes deles ficam ainda mais agitadas. Pessoas que gostam de se gabar pegam as coisas antigas que costumavam ver e falam sobre elas com entusiasmo. Ouvintes ávidos realmente adoram ouvir esse tipo de coisa, mas meditadores ávidos não se impressionam — porque os verdadeiros meditadores gostam de ouvir apenas coisas presentes e verdadeiras.

O Buda ensinou que o florescimento ou a degeneração de seus ensinamentos depende de quem os pratica. Os ensinamentos degeneram quando os meditadores adquirem apenas um pouco de conhecimento e depois se gabam para outras pessoas, falando sobre assuntos externos sem qualquer substância, ao invés de explicar os princípios básicos da meditação. Quando fazem isso, eles fazem a religião degenerar sem sequer reconhecerem isso.

Aqueles que fazem a religião florescer são aqueles que falam sobre coisas úteis e verdadeiras. Eles não falam apenas por diversão. Eles falam em termos de causa e efeito: ‘Quando você medita assim, repetindo a palavra de meditação dessa maneira, isso fará com que a mente se concentre em uma só e extinga as suas impurezas e inquietações assim…’

Quando você medita em buddho, seja paciente. Não tenha pressa. Seja confiante em sua palavra de meditação e use a atenção plena para manter a mente com seu buddho. A sua confiança é o que tornará a mente firme e inabalável, capaz de se livrar de todas as suas dúvidas e incertezas. A mente se concentrará em sua palavra de meditação e a atenção plena a manterá unicamente com buddho o tempo todo. Seja você sentado, em pé, caminhando, deitado ou em qualquer trabalho que faça, a atenção plena estará atenta a nada além de buddho. Se a sua atenção plena ainda estiver fraca e as suas técnicas ainda escassas, você tem que se apegar a buddho como o seu alicerce. Caso contrário, a sua meditação não progredirá; ou mesmo que progrida, ela não terá fundamento.

Para que a concentração seja forte, a mente tem que ser resoluta. Quando a atenção plena é forte e a mente resoluta, você decide que é isso que você quer: ‘Se eu não consigo alcançar buddho, ou ver buddho em meu coração, ou fazer com que a mente se concentre apenas em buddho, eu não me levantarei da minha meditação. Mesmo que a minha vida acabe, eu não me importo.’ Quando você faz isso, a mente se reunirá em uma só mais rápido do que você reconheça isso. A palavra buddho da meditação, ou qualquer que seja a palavra que o esteja incomodando ou deixando perplexo, desaparecerá num piscar de olhos. Até mesmo o seu corpo, ao qual você esteve apegado por tanto tempo, não aparecerá para você. Tudo o que resta é o coração — a simples consciência no nível da realidade (awareness) — serena, calma e à vontade.

As pessoas que praticam meditação realmente gostam quando isso acontece. Na próxima vez, elas querem que aconteça novamente e por isso não acontece novamente. Isso porque o desejo impede que aconteça. A concentração é algo muito sutil e sensível. Você não pode forçar a mente a ser assim ou assado — e, ao mesmo tempo, você também não pode forçar a mente a não entrar em concentração.

Se você for impaciente, as coisas ficam ainda mais complicadas. Você tem que ser muito paciente. Independentemente de a mente atingir ou não a concentração, você já meditou em buddho no passado, então continue meditando em buddho. Aja como se você nunca tivesse meditado em buddho antes. Mantenha a mente neutra e equilibrada, deixe a respiração fluir suavemente e use a atenção plena para focar a mente em buddho e nada mais. Quando chegar a hora da mente entrar em concentração, ela o fará sozinha. Você não pode arranjar a maneira como isso acontecerá. Se fosse alguma coisa que você pudesse arranjar, todas as pessoas no mundo já teriam se tornado arahants há muito tempo.

Saber como meditar, mas não fazê-lo corretamente; ter feito corretamente uma vez e querer que seja assim novamente e ainda assim não acontecer: todos esses são obstáculos à prática da concentração.

Ao meditar em buddho, você tem que se tornar rápido e habilidoso. Quando um bom ou mau humor o atinge, você tem que ser capaz de entrar em concentração imediatamente. Não deixe a mente ser afetada por esse humor. Sempre que você pensa em buddho, a mente se concentra imediatamente: Quando você consegue fazer isso, a sua mente será sólida e capaz de confiar em si mesma.

Saber como meditar, mas não fazê-lo corretamente; ter feito corretamente uma vez e querer que seja assim novamente e ainda assim não acontecer: todos esses são obstáculos à prática da concentração.

Quando você tiver praticado de modo a se tornar habilidoso e experiente dessa maneira, depois de um tempo, você descobrirá que as suas impurezas e apegos a todas as coisas desaparecerão gradualmente por conta própria. Você não tem que ficar limpando essa ou aquela impureza, dizendo a si mesmo que essa ou aquela impureza precisa ser removida com esse ou aquele ensinamento ou esse ou aquele método. Contente-se com qualquer método que você ache que funcione para você. Isso é o suficiente.

Fazer com que as impurezas desapareçam gradualmente com o método que eu acabei de explicar é melhor do que tentar organizar as coisas, entrando nos quatro níveis de absorção, abandonando o pensamento direcionado, a avaliação, o êxtase e o prazer, deixando apenas a unidirecionalidade e a equanimidade; ou tentar organizar o primeiro estágio do caminho para o nibbana abandonando visões de autoidentidade, a incerteza e o apego a preceitos e práticas; ou olhar para as suas várias impurezas e dizer a si mesmo: ‘Com essa impureza, eu fui capaz de contemplar de tal e tal maneira, então eu fui além dessa impureza. Eu tenho tantas e tantas impurezas restantes. Se eu puder contemplar de tal e tal maneira, as minhas impurezas serão eliminadas’mas você não percebe que o estado mental que deseja ver, conhecer e alcançar essas coisas é uma impureza firmemente fixada na mente. Quando você termina a sua contemplação, a mente retorna ao seu estado original e não ganhou absolutamente nada. Além disso, se alguém chega e diz algo que vai contra a sua maneira de ver as coisas, você começa a discordar violentamente, como uma fogueira na qual alguém despeja querosene.

Portanto, apegue-se firmemente à sua palavra de meditação, buddho. Mesmo que você não alcance mais nada, pelo menos você tem a sua palavra de meditação como base. As várias preocupações da mente diminuirão ou até mesmo desaparecerão, o que é melhor do que não ter nenhuma base para se apegar em absoluto.

Na verdade, todos os meditadores têm que se apegar firmemente à sua palavra de meditação. Só então eles são capazes de dizer que estão meditando com uma base. Quando a meditação deles se deteriora, eles serão capazes de usá-la como alguma coisa para se apegar.

O Buda ensinou que as pessoas que se esforçam para abandonar a impureza têm que agir como os guerreiros de antigamente. No passado, elas tinham que construir uma fortaleza com fortes muralhas, fossos, portões e torres para se protegerem dos ataques inimigos. Quando um guerreiro inteligente saía para a batalha e percebia que ele não era páreo para o inimigo, ele recuava para a sua fortaleza e a defendia para que o inimigo não a destruísse. Ao mesmo tempo, ele reunia tropas, armas e alimentos suficientes (ou seja, tornava a sua concentração direta e forte) e então saía para retomar a sua luta contra o inimigo (ou seja, todas as formas de impureza).

A concentração é uma força muito importante. Se você não tem concentração, onde o seu discernimento ganhará força? O discernimento da meditação de insight não é algo que pode ser moldado por arranjos. Ao invés disso, ele surge da concentração que tem sido dominada até que se torne boa e sólida.

Mesmo aqueles que supostamente alcançam o Despertar com ‘insight seco’: Se eles não tiverem nenhuma quietude mental, de onde eles obterão insight? É que simplesmente a quietude deles não está totalmente dominada. Só quando nós colocamos a questão dessa forma é que faz algum sentido.

Quando a sua concentração está sólida e constante a ponto de você poder entrar e sair dela à vontade, você será capaz de permanecer nela por muito tempo e contemplar o corpo em termos de sua falta de atratividade ou em termos de seus elementos físicos. Ou, se você preferir, você é capaz de contemplar as pessoas do mundo até vê-las todas como esqueletos. Ou você pode contemplar o mundo inteiro como um espaço vazio…

Uma vez que a mente esteja totalmente centrada, não importa se você esteja sentado, em pé, caminhando ou deitado, a mente estará centrada o tempo todo. Você será capaz de ver claramente como as suas próprias impurezas — ganância, raiva e delusão, que surgem da mentesurgem dessa ou daquela causa, como elas permanecem dessa ou daquela maneira e você será capaz de encontrar meios de abandoná-las com essa ou aquela técnica.

Isso é como a água de um lago, que tem estado lamacenta por centenas e centenas de anos, de repente se tornando clara, de modo que você é capaz de ver todas as coisas que jazem no fundo do lago — coisas que você nunca sonhou que estivessem lá antes. Isso é chamado insightver as coisas como elas realmente são. Seja qual for a verdade que elas contêm, essa é a verdade que você vê, sem se desviar dela.

Forçar a mente a ficar quieta pode fazê-la abandonar a impureza, mas isso acontece da mesma forma que uma pessoa corta a grama, cortando apenas a parte acima do solo, sem arrancar as raízes. As raízes certamente brotarão novos brotos quando a chuva voltar a cair. Em outras palavras, você de fato vê o mal das preocupações que surgem dos seis sentidos, entretanto, assim que o vê, você se refugia na quietude sem contemplar essas preocupações com o mesmo cuidado que o faz quando a mente está concentrada. Em suma, você simplesmente quer quietude, sem querer gastar tempo em contemplação — como um lagarto terrestre que confia em sua toca para se proteger. Assim que ele vê um inimigo se aproximando, ele corre para a toca dele, escapando do perigo apenas por um tempo.

Se você quer erradicar as suas impurezas, então quando você perceber que a impureza brota dos seis sentidos — por exemplo, o olho vê um objeto visual ou o ouvido ouve um som, o contato que é feito faz você ficar satisfeito ou descontente, feliz ou triste e então você se agarra a isso como a sua preocupação, tornando a mente turva, perturbada e chateada, às vezes a ponto de você não conseguir comer ou dormir e pode até cometer suicídio — quando você vir isso claramente, faça com que a sua concentração seja firme e então concentre a sua mente exclusivamente em examinar essa preocupação específica. Por exemplo, se o olho vê um objeto visual atraente que o faz sentir-se satisfeito, concentre-se em examinar apenas essa sensação de prazer, para descobrir se ela surge a partir do olho ou a partir do objeto visual.

Se você examinar o objeto visual, verá que ele é apenas um fenômeno físico. Seja ele bom ou ruim, ele não tenta persuadir você a ficar satisfeito ou insatisfeito, ou a fazer com que você o ame ou odeie. É simplesmente um objeto visual que aparece e depois desaparece de acordo com a sua própria natureza.

Quando você se volta para examinar o olho que vê o objeto visual, descobre que ele procura objetos e, assim que encontra um, a luz é refletida nos nervos ópticos, de modo que todos os tipos de formas visíveis aparecem. O olho não tenta persuadir você a ficar satisfeito ou insatisfeito, a amar ou odiar alguma coisa. A sua função é simplesmente ver. Uma vez que tenha visto uma forma visível, a forma desaparece.

Quanto aos outros sentidos e os objetos deles, atraentes ou não atraentes, eles devem ser examinados da mesma maneira.

Ao contemplar dessa maneira, você verá claramente que todas as coisas no mundo que se tornam objetos de contaminação o fazem por causa desses seis sentidos. Se você contemplar os seis sentidos de modo a não segui-los, as contaminações não surgirão dentro de você. Pelo contrário: Insight e discernimento surgirão, tudo por causa desses mesmos seis sentidos. Os seis sentidos são os transmissores do bem e do mal. Nós rumaremos para um destino bom ou ruim na próxima vida devido à maneira como nós os usamos.

O mundo parece amplo porque a mente não está centrada e é deixada livre para vagar entre os objetos dos seis sentidos. O mundo se estreitará quando a mente for treinada em concentração, de modo que esteja sob o seu controle e possa contemplar os seis sentidos exclusivamente dentro dela. Em outras palavras, quando a mente estiver totalmente concentrada, os sentidos externos — o olho vendo formas, o ouvido ouvindo sons e assim por diante — não aparecerão de forma alguma. Tudo o que aparecerão serão as formas e os sons que são fenômenos mentais presentes exclusivamente nessa concentração. Você não prestará atenção alguma aos sentidos externos.

Quando a sua concentração estiver totalmente sólida e forte, você será capaz de contemplar esse mundo da mente, que dá origem ao contato sensorial, às percepções, às preocupações e a todas as impurezas. A mente se afastará a partir de todas as coisas, deixando apenas o coração, ou a simples consciência no nível da realidade (awareness).

O coração e a mente têm características diferentes. A mente é o que pensa, formando percepções e preocupações a ponto de se apegar a elas, mantendo-as para si. Quando ela vê o sofrimento, o dano e o estresse decorrentes do apego a todas as impurezas, ela irá e se afastará a partir de todas as preocupações e impurezas. A mente então será o coração. É assim que o coração e a mente diferem.

O coração é o que é neutro e quieto. Ele não pensa em absolutamente nada. Ele está simplesmente ciente de sua quietude. O coração é um fenômeno genuinamente neutro ou central. Neutro, sem passado, sem futuro, sem bem, sem mal: Esse é o coração. Quando nós falamos sobre o coração de qualquer coisa, nós nos referimos ao seu centro. Até mesmo o coração humano, que é um fenômeno mental, nós costumamos dizer que ele fica no centro do peito. Mas onde está o verdadeiro coração, nós não sabemos. Tente focar a sua atenção em qualquer parte do corpo e você sentirá a consciência no nível da realidade (awareness) desse ponto. Ou você pode concentrar a sua atenção fora do corpo — em um poste ou na parede de uma casa, por exemplo — e esse é o ponto do qual você estará ciente.

Portanto, nós podemos concluir que o verdadeiro coração é a consciência no nível da realidade (awareness) quieta e neutra. Onde quer que haja consciência no nível da realidade (awareness) neutra, é lá onde o coração está.

Quando as pessoas em geral falam sobre o coração, esse não é o verdadeiro coração. Ele é simplesmente um conjunto de músculos e válvulas que bombeiam sangue por todo o corpo para mantê-lo vivo. Se essa bomba não enviar sangue por todo o corpo, o corpo não é capaz de viver. Ele terá que morrer. O mesmo se aplica ao cérebro. A mente pensa no bem e no mal usando o cérebro como ferramenta. O sistema nervoso do cérebro é um fenômeno físico. Quando os seus vários fatores causais são cortados, esse fenômeno físico não é capaz de perdurar. Ele tem que parar.

Portanto, nós podemos concluir que o verdadeiro coração é a consciência no nível da realidade (awareness) quieta e neutra. Onde quer que haja consciência no nível da realidade (awareness) neutra, é lá onde o coração está.

Mas quanto à mente, que é um fenômeno mental, o Budismo ensina que ela continua a existir e é capaz de renascer. Esse fenômeno mental só cessará quando o insight discernir os seus fatores causais e erradicar as causas subjacentes deles.

Nenhum dos vários assuntos e ciências do mundo tem um ponto final. Quanto mais você os estuda, mais eles se espalham. Somente o Budismo é capaz de lhe ensinar a chegar a um fim. No primeiro estágio, ele ensina você a se familiarizar com o seu corpo, a ver como ele é composto de várias coisas (as 32 partes) reunidas e quais são as suas funções. Ao mesmo tempo, o Budismo ensina você a ver que o corpo é inerentemente sem atração. Ele ensina você a se familiarizar com esse mundo (o mundo do ser humano), que é feito de sofrimento e estresse e que, por sua própria natureza, acabará se desintegrando.

Portanto, agora que nós recebemos esse corpo — mesmo que ele esteja cheio de coisas imundas e desagradáveis e mesmo que ele seja composto de todos os tipos de sofrimento e estresse — nós ainda podemos depender dele por um tempo, então nós devemos usá-lo para fazer o bem e pagar as nossas dívidas com o mundo antes de deixá-lo na morte.

O Buda ensina que, embora a natureza de uma pessoa (esse mundo) seja se desintegrar e morrer, a mente — a supervisora ​​desse mundo — tem que retornar para renascer enquanto ainda tiver impurezas. Assim, ele nos ensina a praticar a concentração, que é uma questão exclusivamente da mente. Uma vez que nós tenhamos praticado a concentração, nós sentiremos cada contato sensorial interior, diretamente na mente. Nós não nos preocuparemos com a visão e a audição nos olhos ou nos ouvidos. Ao invés disso, nós estaremos cientes do contato sensorial diretamente na mente. É isso que significa restringir o mundo.

Os sentidos são o melhor meio para medir a sua própria mente. Quando o contato sensorial atinge a mente, ele tem algum impacto em você? Se tiver muito impacto, isso mostra que a sua atenção plena está fraca e a sua base ainda é instável. Se tiver pouco impacto, ou nenhum impacto, isso mostra que a sua atenção plena está forte e que você é totalmente capaz de cuidar de si mesmo.

Essas coisas são como Devadatta, que criou problemas para o Bodhisattva o tempo todo. Se não fosse por Devadatta, o Bodhisattva não teria sido capaz de levar o seu caráter à perfeição plena. Uma vez que o seu caráter foi completamente aperfeiçoado, ele foi capaz de alcançar o Despertar e se tornar o Buda. Antes de alcançar o Despertar, ele teve que resistir aos massivos exércitos da tentação; e logo após o seu Despertar, as três filhas da tentação vieram testá-lo mais uma vez. Como resultado, as pessoas do mundo o louvam desde então por ter conquistado a impureza nesse mundo de uma vez por todas.

Enquanto os sentidos internos ainda existirem, o contato mental ainda é uma preocupação. Assim, aqueles que sabem, tendo visto o mal dessas coisas, estão dispostos a se afastar delas, deixando apenas o coração que é neutro… neutro… neutro, sem pensar, sem imaginar, sem criar coisa alguma. Quando isso acontecer, onde esse mundo será formado? É assim como o Buda nos ensina a alcançar o fim do mundo.”

©1994 Metta Forest Monastery.

—–

Imagem: tien-vu-ngoc-E8L5-MyoI8g-unsplash 21.05.24

—–

A Espiritualidade nas Empresas trata-se de uma Filosofia cujos Princípios são capazes de ajudar tanto as Pessoas quanto as Organizações.

—–

Autor

Graduação: Engenharia Operacional Química. Graduação: Engenharia de Segurança do Trabalho. Pós-Graduação: Marketing - PUC/RS. Pós-Graduação: Administração de Materiais, Negociações e Compras - FGV/SP. Blog Projeto OREM® - Oficina de Reprogramação Emocional e Mental - O Blog aborda quatro sistemas de pensamento sobre Espiritualidade Não-Dualista, através de 4 categorias, visando estudos e pesquisas complementares, assim como práticas efetivas sobre o tema: OREM1) Ho’oponopono - Psicofilosofia Huna. OREM2) A Profecia Celestina. OREM3) Um Curso em Milagres. OREM4) A Organização Baseada na Espiritualidade (OBE) - Espiritualidade no Ambiente de Trabalho (EAT). Pesquisador Independente sobre Espiritualidade Não-Dualista como uma proposta inovadora de filosofia de vida para os padrões Ocidentais de pensamentos, comportamentos e tomadas de decisões (pessoais, empresariais, governamentais). Certificação: “The Self I-Dentity Through Ho’oponopono® - SITH® - Business Ho’oponopono” - 2022.

0 0 votos
Article Rating
Inscrever-se
Notificar de
guest

0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
0
Adoraria saber sua opinião, comente.x