Como o título aborda, o objetivo deste artigo é avaliar as diferenças e as semelhanças entre o sistema de pensamento do Curso e o sistema de pensamento do Cristianismo tradicional, acreditando que esta percepção ajudará e muito no adequado entendimento de ambas mensagens, mas que se mostrará ao final serem não complementares de forma alguma como alguns estudantes de UCEM pensam acreditar.

  • Observação: nós destacamos com um marcador como este todas as sentenças que refletem as diferenças ou semelhanças entre os dois sistemas de pensamento, de maneira a facilitar a identificação e o entendimento.

Nós buscamos inspiração em trechos do livro “A Course in Miracles and Christianity: A Dialogue” (tradução livre “Um Curso em Milagres e o Cristianismo: Um Diálogo”), escrito por Dr. Kenneth Wapnick, Ph.D. e o Padre Jesuíta W. Norris Clarke, da Companhia de Jesus, Ph.D.

O artigo completo em inglês, que nos inspirou para este trabalho de pesquisa, foi escrito pelo Dr. Wapnick e pelo Padre Clarke e poderá ser acessado no link a seguir, que transcrevemos na íntegra em tradução livre: http://www.miraclestudies.net/Dialogue_Pref.html.

Prefácio

Por Dr. Kenneth Wapnick

“Em 4 de janeiro de 1989, na Fundação para Um Curso em Milagres (https://facim.org/), eu me engajei em um diálogo com o padre Jesuíta W. Norris Clarke, um padre e filósofo jesuíta católico romano, sobre as diferenças e semelhanças entre Um Curso em Milagres (UCEM) e o Cristianismo tradicional ou bíblico.

O Jesuíta Clarke é um padre e filósofo católico incomum, na medida em que ele tem uma mente aberta e abordagem sem julgamento aos ensinamentos não católicos, ao mesmo tempo que mantém a sua fé pessoal muito forte na verdade da Igreja Católica Romana.

O seu histórico é impressionante e é resumido brevemente aqui:

O Rev. W. Norris Clarke, Companhia de Jesus, obteve seu Ph.D. na Universidade de Louvain e foi Professor de Filosofia na Fordham University em Nova York por 31 anos até a sua aposentadoria em 1985.

Desde a sua aposentadoria, ele tem sido professor visitante em universidades e faculdades em todo o país [EUA]. Ele fundou e por vinte e cinco anos foi editor-chefe do International Philosophical Quarterly.

Ele serviu como presidente da American Catholic Philosophical Association e da Metaphysical Society of America e como membro do Conselho Executivo da American Philosophical Association.

Ele deu várias palestras e publicou mais de sessenta artigos em revistas e antologias filosóficas e teológicas e é autor de três livros.

Ele é amado e respeitado em círculos religiosos e filosóficos ao redor do mundo como um homem de profunda fé e sabedoria.

Estou honrado por ele ter aceito o convite da Fundação para se juntar a mim neste diálogo.

Padre Clarke e eu somos amigos há muitos anos e ele era a pessoa ideal com quem iniciar este diálogo. A nossa conversa foi gravada em vídeo, mas infelizmente a qualidade das fitas não foi satisfatória.

Este livro é uma versão editada do diálogo, que inclui pequenas alterações feitas para melhorar a legibilidade e material esclarecedor adicional com referências apropriadas a Um Curso em Milagres e a Bíblia. . . .

Eu estou extremamente grato ao pe. Clarke por sua disposição em participar tão graciosamente neste diálogo e pela clareza que ele trouxe à questão de comparar Um Curso em Milagres e o Cristianismo bíblico.

Do Apêndice

Nota Biográfica: Kenneth Wapnick era amigo íntimo e associado de Helen Schucman e William Thetford, as duas pessoas cuja união foi o estímulo imediato para a escrita de Um Curso em Milagres.

Ele é psicólogo clínico, tendo recebido o seu doutorado da Adelphi University em 1968 e fez parte do Conselho Executivo da Foundation for Inner Peace [Fundação para a Paz Interior], editora de Um Curso em Milagres.

Em 1982, Kenneth e sua esposa Gloria estabeleceram a Fundação para Um Curso em Milagres, da qual eles foram presidente e vice-presidente.

Esta Fundação é a organização de ensino da Fundação para a Paz Interior. Em 1988, eles abriram uma Academia e Centro de Retiros em Roscoe, Nova York. [Em 2001, a Fundação mudou-se para Temecula, CA.]

Kenneth é autor de mais de 30 livros sobre Um Curso em Milagres, um deles em coautoria com Gloria [a sua esposa].

Ele também é autor de vários artigos sobre Um Curso em Milagres e Psicoterapia.

Além de ministrar aulas e workshops na Academia da Fundação, ele e Gloria apresentaram inúmeras palestras e workshops por todo Estados Unidos, bem como na Europa, Austrália e Nova Zelândia. Eles publicavam um boletim informativo trimestral, “The Lighthouse” [“O Farol”].

Introdução

Por Kenneth Wapnick

Por mais de 2.000 anos, a Bíblia teve um controle incrível sobre a civilização ocidental e claramente dominou todas as outras formas de pensamento religioso. Além disso, exerceu a influência mais poderosa no curso da história política, econômica, social, moral e artística do Ocidente.

A razão para tal sustentação, quando alguém examina a Bíblia da perspectiva de Um Curso em Milagres, é a expressão clara que a teologia bíblica dá ao sistema de pensamento do ego, justificando para os seus crentes as suas próprias necessidades de serem especiais. (Da mesma forma, os crentes bíblicos tirariam conclusões semelhantes sobre a popularidade atual do Curso.)

Para os propósitos deste diálogo, o foco se concentrou mais no Novo Testamento, embora, como a discussão mostrará, o Antigo e o Novo Testamentos juntos refletem uma orientação teológica comum.

Muitos estudantes de Um Curso em Milagres foram tentados a chamar o Curso de ‘Terceiro Testamento’, expressando a sua crença de que ele representa a mesma teologia básica da Bíblia, embora de uma forma mais ‘purificada’ (ou seja, menos dominada pelo ego) ou forma mais evoluída espiritualmente.

Como ficará claro no diálogo entre pe. Clarke e eu, isso distorce grosseiramente o que Um Curso em Milagres ensina e é um péssimo serviço tanto para o Curso quanto para a Bíblia.

  • Na verdade, o Curso e a Bíblia refletem teologias inteiramente diferentes e mutuamente exclusivas que nunca podem ser integradas em uma espiritualidade coerente.
  • Esta diferença crucial pode ser resumida na declaração de que para os Cristãos a Bíblia é a Palavra de Deus (os Cristãos diferem apenas no grau de literalidade que as várias igrejas atribuem a ela), enquanto da perspectiva de Um Curso em Milagres, a Bíblia seria vista como apenas um entre muitos documentos religiosos que refletem a consciência da época e da cultura em que foram escritos.

Com base na importante distinção que o Curso traça entre forma e conteúdo, a Bíblia seria entendida meramente como a forma pela qual um povo expressava a sua visão do mundo e de Deus, não diferente, portanto, das obras de grandes poetas ocidentais como Homero, a Tragédia Grega, Dante, Shakespeare e Goethe, entre inúmeros outros poetas e artistas.

O conteúdo compartilhado de todas as obras inspiradas é o desejo de expressar o que é verdadeiro para os seus autores, independentemente da forma de expressão artística em que venha.

  • Compreendido desse ponto de vista, o erro do Cristianismo tem sido elevar as declarações históricas e teológicas da Bíblia a verdades absolutas, não diferente de um amante de Shakespeare afirmando que as suas grandes peças de história apresentam um relato preciso da história Inglesa.
  • Portanto, tentar essa reconciliação entre esses dois caminhos espirituais – Um Curso em Milagres e o Cristianismo tradicional – deve inevitavelmente levar à frustração, na melhor das hipóteses e à distorção severa, na pior.
  • Na verdade, pe. Clarke comentou, como mencionei no final do diálogo, que falar do Curso como uma ‘correção’ para o Cristianismo (como eu mesmo tinha falado ocasionalmente dele no passado) é enganoso (… não totalmente verdade).

Corrigir algo implica que você ainda está retendo a estrutura básica do que está corrigindo.

Um Curso em Milagres, por outro lado, refuta diretamente a própria base da fé Cristã, não deixando nada em que os Cristãos possam basear as suas crenças.

Resumidamente, aqui estão algumas das principais diferenças entre os dois:

  • [sobre o mundo] Um Curso em Milagres ensina que Deus de fato não criou o universo físico, que inclui toda a matéria, forma e corpo; a Bíblia afirma que Ele criou.
  • [sobre o pecado] O Deus de Um Curso em Milagres nem mesmo sabe sobre o pecado da separação (já que saber sobre isso o tornaria real), muito menos reagir a ele; o Deus da Bíblia percebe o pecado diretamente, como é retratado na história do Jardim do Éden, discutida posteriormente no Diálogo e as Suas [de Deus] respostas a ele [pecado] são vigorosas, dramáticas e, às vezes, punitivas, para dizer o mínimo.
  • [sobre Jesus] O Jesus de um Curso em Milagres é igual a todos os outros, uma parte do Filho único de Deus ou Cristo [Filiação]; o Jesus da Bíblia é visto como especial, à parte e, portanto, ontologicamente diferente de todos os outros, sendo o Filho unigênito de Deus, a segunda pessoa da Trindade.
  • [sobre o sofrimento] O Jesus de Um Curso em Milagres não é enviado por Deus para sofrer e morrer na cruz em um ato de expiação pelo pecado, mas ensina que não há pecado, demonstrando que nada aconteceu a ele na realidade, pois o pecado não tem efeito sobre o Amor de Deus; o Jesus da Bíblia sofre, agoniza e morre pelos pecados do mundo em um ato que traz salvação vicária à humanidade, estabelecendo assim o pecado e a morte como reais e, além disso, refletindo claramente que Deus foi afetado pelo pecado de Adão e deve responder à sua presença real no mundo, sacrificando o Seu Filho amado.

Assim, da perspectiva de Um Curso em Milagres, o Deus da Bíblia, Criador do mundo e autor do plano de expiação de sofrimento, sacrifício e morte, é um Deus ego.

Ele é aquele que representa claramente o sistema de pensamento da especialidade do ego que o Curso apresenta. O próprio Jesus faz esses paralelos no Texto, como visto nas seções iniciais dos Capítulos 3 e 6, na Introdução ao Capítulo 13, na seção importante no Capítulo 23, “As Leis do Caos”, bem como em muitos, muitos outros lugares no Curso.

A crucificação não estabeleceu a Expiação, mas a ressurreição sim. Muitos Cristãos sinceros compreenderam isto erradamente. Ninguém que esteja livre da crença na escassez poderia cometer este equívoco. Se a crucificação é vista de uma perspectiva invertida, parece que Deus permitiu e até mesmo encorajou um dos seus Filhos a sofrer porque era bom. Esta interpretação particularmente desafortunada, surgida da projeção, tem levado muitas pessoas a sentirem amargamente o medo de Deus. Tais conceitos antirreligiosos entram em muitas religiões. No entanto, o Cristão real deveria fazer uma pausa e perguntar: «Como poderia ser assim?» É provável que o próprio Deus fosse capaz de um tipo de pensamento que as Suas Próprias palavras claramente declararam como indigno do Seu Filho? (T-3.I.1:2-9)

A crucificação nada mais é senão um exemplo extremo. Seu valor, como o valor de qualquer instrumento de ensino, está apenas no tipo de aprendizado que facilita. Pode ser e tem sido compreendida de forma equivocada. Isso se deu somente porque aqueles que têm medo estão predispostos a perceber temerosamente. Eu já te disse que podes sempre recorrer a mim para compartilhar a minha decisão e assim fortalecê-la. Eu também te disse que a crucificação foi a última jornada inútil que a Filiação precisa fazer e que representa a liberação do medo para qualquer pessoa que a compreenda. Embora anteriormente eu só tenha dado ênfase à ressurreição, o propósito da crucificação e como ela, de fato, conduziu à ressurreição não foi ainda esclarecido. No entanto, ela tem uma contribuição definitiva a fazer para a tua própria vida e se a considerares sem medo, ela te ajudará a compreender o teu próprio papel como professor (T-6.I.2:1-8).

Escolhi, para o teu bem e o meu, demonstrar que a agressão mais ultrajante segundo o julgamento do ego não importa. Segundo o julgamento do mundo sobre essas coisas, mas não segundo o conhecimento de Deus, eu fui traído, abandonado, espancado, rasgado e finalmente morto. Estava claro que isso somente aconteceu devido à projeção de outros sobre mim, já que eu não causei dano a ninguém e curei a muitos (T-6.I.9:1-3).

A crucificação não pode ser compartilhada porque é o símbolo da projeção, mas a ressurreição é o símbolo do compartilhar porque o re-despertar de cada Filho de Deus é necessário para que a Filiação seja capaz de conhecer a sua integridade. Só isso é conhecimento  (T-6.I.12:1-2).

A mensagem da crucificação é perfeitamente clara: Ensina só amor, pois é isso que tu és (T-6.I.13:1-2).

Esses são alguns dos exemplos de pensamento invertido no Novo Testamento, embora seu evangelho seja realmente só a mensagem do amor. Se os Apóstolos não tivessem se sentido culpados, nunca poderiam ter me citado como se eu tivesse dito ‘Não vim trazer paz, mas uma espada.’ Isso é claramente o oposto de tudo o que eu ensinei. Nem poderiam ter descrito as minhas reações a Judas como o fizeram, se tivessem realmente me compreendido. Eu não poderia ter dito ‘Com um beijo traís o Filho do Homem?’, a não ser que eu acreditasse em traição. Toda a mensagem da crucificação era simplesmente que eu não acreditava. A ‘punição’ que se diz que eu invoquei para Judas é outro equívoco similar. Judas era meu irmão e um Filho de Deus, tão parte da Filiação quanto eu mesmo. Seria provável que eu o tivesse condenado quando estava pronto para demonstrar que a condenação é impossível? (T-6.I.15:1-9)

Se esse fosse o mundo real, Deus seria cruel. Pois Pai nenhum poderia sujeitar Suas crianças a isso como o preço a ser pago pela salvação e ser amoroso. O amor não mata para salvar. Se o fizesse, o ataque seria salvação e essa interpretação é a do ego, não a de Deus. Só o mundo da culpa poderia exigir isso, pois só os culpados poderiam conceber isso. O ‘pecado’ de Adão não poderia ter afetado a ninguém se ele não tivesse acreditado que foi o Pai Quem o expulsou do paraíso. Pois nessa crença o conhecimento do Pai foi perdido, já que somente aqueles que não O compreendem poderiam acreditar nela (T-13.In.3:1-7).

Esse mundo é um retrato da crucificação do Filho de Deus. E até que reconheças que o Filho de Deus não pode ser crucificado, esse é o mundo que verás. No entanto, não reconhecerás isso enquanto não aceitares o fato eterno de que o Filho de Deus não é culpado. Ele merece apenas amor porque só tem dado amor. Não pode ser condenado porque nunca condenou. A Expiação é a lição final que ele precisa aprender, pois ela lhe ensina que, não tendo nunca pecado, ele não tem necessidade da salvação (T-13.In.4:1-6).

As ‘leis’ do caos podem ser trazidas à luz, embora nunca possam ser compreendidas. Leis caóticas dificilmente têm significado e estão, portanto, fora da esfera da razão. No entanto, elas parecem ser um obstáculo à razão e à verdade. Vamos, então, olhá-las calmamente para que possamos olhar para o que está além delas, compreendendo o que são e não o que elas querem manter. É essencial que se compreenda para o que servem, porque o propósito que têm é fazer com que a verdade seja sem significado e atacá-la. Aqui estão as leis que regem o mundo que fizeste. E, no entanto, nada governam e não é preciso quebrá-las, simplesmente olhar para elas e ir além (T-23.II.1:1-7).

  • Em resumo, portanto, nós podemos concluir que não há como reconciliar o Deus ou a teologia da Bíblia com a teologia encontrada em Um Curso em Milagres.
  • Além disso, a figura de Jesus na Bíblia é totalmente incompatível com o Jesus que escreveu Um Curso em Milagres.

Na verdade, o próprio Jesus afirma no Curso, em óbvia referência às imagens históricas que foram tiradas das imagens bíblicas, que ‘alguns ídolos amargos foram feitos dele que apenas queria ser um irmão para o mundo’ (ET-5,5:7).

É uma fonte contínua de espanto – dadas as distinções claras entre as figuras bíblicas e as do Curso – para alguém observar com que frequência essa reconciliação é tentada. Na verdade, pe. Clarke faz essa observação no decorrer do diálogo.

Eu tenho feito frequentemente comentários públicos de que uma das lições mais importantes que um estudante de Um Curso em Milagres pode aprender é como discordar de alguém (seja essa pessoa em outro caminho espiritual ou um estudante do Curso) sem ser um ataque.

Em nosso mundo de multiplicidade, onde as projeções e percepções pessoais dominam, é quase impossível que as pessoas concordem quando se trata de sistemas de pensamento, ou em quase qualquer outra coisa, aliás.

Na verdade, o meu pai costumava dizer sobre as pessoas que têm diferenças de opinião: ‘Isso é o que faz as corridas de cavalos.’ É também o que faz o universo do ego, refletindo o pensamento original do ego de que o Filho é separado e diferente em espécie de seu Criador.

O próprio Jesus comenta em Um Curso em Milagres, como cito abaixo no diálogo: ‘Uma teologia universal é impossível, mas uma experiência universal não só é possível como necessária’ (ET-in.2:5).

A experiência universal é o amor e o diálogo com pe. Clarke foi mantido no espírito amoroso de respeitar as diferenças, concordando em discordar por assim dizer, oferecendo assim um exemplo de divergência sem julgamento ou ataque.

Portanto, é nossa esperança que este livro contribua para uma melhor compreensão dos sistemas de pensamento de Um Curso em Milagres e do Cristianismo bíblico.

Não foi nem o propósito do pe. Clarke, nem o meu de debater as diferenças claras que identifiquei brevemente acima e serão discutidas mais detalhadamente no diálogo.

Em vez disso, o nosso propósito era apresentá-las de forma simples, definindo as diferenças (e semelhanças onde ocorrem) tão claramente quanto possível.

Um Curso em Milagres, de fato, ele mesmo ensina através do uso de contrastes, como frequentemente afirma (T-13, T-14), embora tais diferenças estejam ausentes no Céu, o estado de perfeita unicidade e unidade indiferenciada.

Não vais te lembrar de mudança e deslocamento no Céu. Só aqui tens necessidade de contrastes. Contrastes e diferenças são recursos de ensino necessários, pois através deles aprendes o que evitar e o que buscar (T-13.XI.6:1-3).

Tu, que és firmemente devotado à miséria precisas, em primeiro lugar, reconhecer que és miserável e não és feliz. O Espírito Santo não pode ensinar sem esse contraste, pois acreditas que a miséria é felicidade (T-14.II.1:2-3).

Em nosso nível de aprendizado, no entanto, onde nós acreditamos que existimos dentro do sistema de pensamento do ego de tempo e espaço, de separação e especialidade, ainda nós precisamos de contraste para aprender as lições de perdão do Espírito Santo em vez das lições de ataque do ego.

Na verdade, um dos principais contrastes que Jesus usa no Curso para apresentar o seu sistema de pensamento é com o Cristianismo tradicional, com uma referência específica ocasional ao Catolicismo Romano.

Assim, na própria apresentação de Um Curso em Milagres, Jesus nos mostra que as diferenças podem ser reconhecidas de uma forma amorosa, em um espírito de não oposição e sem confronto e com o amor servindo a um propósito pedagógico.

Portanto, o espírito no qual este diálogo foi inserido também deve refletir a visão que o Curso tem de si mesmo: que ele é apenas um entre muitos milhares de caminhos espirituais:

Esse é um manual para um currículo especial, voltado para os professores de uma forma especial do curso universal. Existem milhares de outras formas, todas com o mesmo resultado (MP-1.4:1-2).

Pois, no final, ele é a experiência sem julgamento de nossa unicidade com Deus e Sua criação, ao invés da mera aceitação da teologia de Um Curso em Milagres em oposição àquela de outro sistema espiritual, que constitui o objetivo do currículo do Curso .

O diálogo foi dividido em uma Introdução e cinco capítulos: A origem do Mundo, Jesus, A Eucaristia, Vivendo no Mundo e Resumo e Conclusões.

RESUMO E CONCLUSÕES

Por Kenneth Wapnick, Ph.D. e W. Norris Clarke, S.J., Ph.D.

CLARKE: Eu penso que agora nós cobrimos os principais pontos de desacordo entre o Curso e o Cristianismo, como nós dois o vemos e agora chegou a hora de nos movermos em direção a uma conclusão. Deixe-me reunir em um resumo condensado como essas diferenças funcionam.

1) Sobre o mundo:

  • O Cristianismo acredita que Deus criou este mundo material, do nada preexistente, que é imperfeito, mas ainda uma imagem de Deus e basicamente bom e um teatro para o nosso crescimento moral e espiritual em direção à plena estatura dos filhos e filhas de Deus em peregrinação em direção à união bem-aventurada final com Deus em corpos transformados ou ‘glorificados’ no Céu.
  • O Curso acredita que este mundo material não é produto de Deus, mas de parte da consciência de Cristo original que se rompeu em uma espécie de sonho de separação de Deus (não uma separação real) e produziu este mundo material como uma espécie de mundo de sonhos ou projeção de pensamento como uma expressão da tentativa do ego de escapar de Deus. Deus nem mesmo sabe da existência deste ‘mundo de sonhos’ porque ele é de fato irreal.

2) Sobre Jesus:

  • Para o Cristianismo, Jesus é o Filho de Deus, Segunda Pessoa da Trindade, possuindo portanto a mesma natureza divina de seu Pai, que assumiu livremente um corpo real e a natureza humana, nascido de Maria, percorreu o caminho humano em um corpo neste mundo material a fim de nos mostrar como viver como filhos autênticos de Deus, realmente morreu na cruz para expiar os nossos pecados e ressuscitou em um corpo real, mas glorificado para habitar como tal para sempre com o seu Pai e o Espírito Santo no Céu.
  • O Curso acredita que Jesus não é realmente divino por natureza, mas é parte da consciência original de Cristo que tentou se separar de Deus para criar o mundo dos sonhos em que nós vivemos agora, mas foi o primeiro a acordar desse sonho e reconhecê-lo como tal e agora é um professor amoroso que ajuda o resto de nós a acordar também. Assim sendo, ele não tem um corpo real, nem, portanto, realmente morreu na cruz nem ressuscitou dos mortos possuindo um corpo real para sempre. Tudo isso é apenas parte do mundo dos sonhos da projeção do pensamento do ego como separado de Deus.

3) Sobre a crucificação e ressurreição:

  • De acordo com o Cristianismo, Jesus realmente morreu na cruz para expiar os pecados humanos, para nos ensinar tanto a profundidade do mal no pecado grave quanto a profundidade ainda maior do amor divino como disposto a nos perdoar e nos restaurar a uma união ainda mais elevada com Deus. Ele ressuscitou dos mortos em um corpo real, mas glorificado para realizar efetivamente esta restauração de nós para uma união ainda mais íntima com Deus do que tínhamos antes de nossos pecados.
  • O Curso, por outro lado, ensina que Jesus nunca realmente morreu na cruz; o seu corpo ‘de sonho’ foi de fato colocado na cruz, mas só apareceu para morrer de acordo com a projeção do pensamento daqueles que desejavam matá-lo e, assim, livrar-se dele e de Deus no processo. Ele, portanto, não ressuscitou realmente em um corpo real, que nunca foi real em primeiro lugar. O relato do Evangelho é apenas um símbolo da lembrança de Jesus por seus discípulos.

4) Sobre a Eucaristia:

  • Segundo o ensinamento cristão, a Eucaristia é o sacramento da transformação do pão e do vinho no verdadeiro corpo e sangue de Cristo, velado sob as aparências do pão e do vinho, que é o memorial incessantemente repetido da morte de Jesus pelos nossos pecados que ocorrem na missa Católica ou liturgia eucarística.
  • Para o Curso, não pode haver nenhuma transformação real de pão e vinho no corpo e sangue de Jesus, porque ele nunca teve um corpo tão real em primeiro lugar. É apenas um memorial, portanto, do amor de Jesus por nós.”

O sacramento da Eucaristia sempre foi um ritual que me intrigava por não fazer nenhum sentido para mim e, pela sua importância para a Igreja Católica e para os seus fiéis, assim como para uma melhor compreensão sobre o sistema de pensamento de Um Curso em Milagres, destaco o artigo do professor Robert Perry intitulado “Do we have a chalice list?” (tradução livre: “Temos uma lista de cálice?”) que aborda de maneira inspiradora esta questão, que transcrevo na íntegra em tradução livre a seguir. Depois retornamos à abordagem do livro do Dr. Wapnick e do padre Clarke.

Robert Perry inicia o seu artigo [estudo, pesquisa] que nos dá a visão do Curso para esse ritual:

“Eu estou trabalhando em um artigo de boletim informativo sobre a minha nova compreensão de milagres com base em exemplos concretos do ditado inicial. Um exemplo em particular tem me ocupado ultimamente em um nível pessoal.

Nesse exemplo, Helen não gosta de um amigo de Bill chamado Wally [vale destacar que essa passagem não consta da versão FIP do Curso e sim das anotações iniciais de Helen, assim como da versão Urtext do Curso]. Jesus volta a isso repetidas vezes, enfatizando como é importante para ela ‘superar’ isso.

Jesus se refere a dois princípios de milagres como a sua resposta. Um (# 7 no Curso versão FIP) implica que ela precisa purificar a sua própria mente para que ela possa dar a ele um milagre. O outro (# 8 no Curso versão FIP) implica que, por dar a ele esse milagre, ela estará dando de sua maior abundância e, assim, preenchendo a sua carência.

O que realmente me chama a atenção nesse exemplo, porém, é a linguagem que Jesus inclui sobre a devolução do ‘cálice’ de Wally. Nas primeiras orientações sobre isso, depois de dizer que Jesus se referiu a ela aos dois princípios de milagres, ela então acrescenta: ‘É por isso que Ele me deu o cálice para Wally. Pertence a ele, mas ele não pode encontrá-lo.’

Então Wally tem um ‘cálice’, que ele não consegue encontrar, embora pertença a ele. É por isso que Jesus o deu a Helen, para que ela possa devolvê-lo a Wally. Porém, há um problema: Wally o jogou fora porque não o queria. Ele tem, deste modo, medo de que o cálice volte. Portanto, não está claro se ele está pronto para aceitá-lo de volta ou não. Aqui está a troca de Helen com Jesus:

Helen: referente ao cálice de Wally – isso significa que ele está na minha lista?

Jesus: Não necessariamente … Você, entre todas as pessoas, deveria saber que as pessoas ficam assustadas se lhes devolver o cálice. O problema todo é que eles o jogaram fora e o estão negando. Portanto, agora eles estão com medo disso. Isso não deve lhe causar nenhum problema de compreensão.

Se ele está ou não, depende de uma prontidão de três vias. -Eu estou sempre pronto. -O seu trabalho é cuidar de sua prontidão. -A prontidão dele depende dele. No momento, ele é um candidato potencial.

Mas Amy está cuidando disso agora [outra passagem de Jesus que não consta da versão FIP]. Ela é uma criança que você magoou.

Isso sugere que Helen tem uma lista real de pessoas cujos cálices ela deve devolver.

Com base nos exemplos de Wally e Amy, alguém está na lista por três motivos:

Primeiro, eles jogaram o cálice fora e precisa ser devolvido a eles.

Segundo, Helen aparentemente os ajudou a jogá-lo fora. É um palpite, mas ela não gosta muito de Wally e magoou Amy, então esse parece ser o tema aqui.

Terceiro, eles estão prontos para receber o seu cálice de volta. Por esse motivo, Wally só está potencialmente na lista, pois a sua prontidão está em questão.

Para aqueles na lista, porém, como Amy, ela [Helen] deve purificar a sua mente de sua maldade para com eles e então realizar o milagre de devolver o cálice, como uma forma de preencher aquele buraco neles.

O cálice, é claro, é o copo que você bebe na Eucaristia, o que também o torna um símbolo do Santo Graal, o copo usado por Jesus na última ceia. Ele é referido posteriormente no Curso como o cálice da Expiação.

O que isso simboliza? Bem, na história da última ceia, beber deste cálice significava tomar o sangue de Jesus. Embora o Curso não seja doido por esse simbolismo canibal, há uma interpretação que o Curso aparentemente aprova, já que usa o cálice como uma imagem positiva. Eu penso que nós podemos deduzir que o Curso entenderia beber deste cálice como ingerir o espírito inocente e santo de Jesus (ao invés de seu sangue), ou como ingerir o espírito de Cristo.

Nesse simbolismo, no entanto, nós não bebemos apenas do cálice. Nós possuímos o cálice. É nosso. Isso significa que o espírito inocente e santo de Cristo é nosso. É nossa posse. Esta é uma ideia poderosa. Imagine que todas as pessoas que você conhece realmente possuem esse cálice. Ele fica em seu altar interno, como parte de quem eles são.

Agora dê um passo adiante. Imagine que um dia, muito, muito tempo atrás, eles decidiram que não queriam o cálice. Então eles jogaram fora. Você pode imaginar jogar o Santo Graal na lata de lixo da cozinha? Assim que o fizeram, eles pareceram perder o que ele continha. Eles pareceram perder a sua inocência e santidade. Uma luz se apagou em seus corações e eles lutaram como um receptáculo de escuridão.

Agora imagine que existem certas pessoas em sua vida cujo cálice você deve devolver, porque elas estão prontas para isso e porque você as ajudou a jogá-lo [o cálice] fora. Algum indivíduo vem à mente?

Pegue a primeira pessoa que vier à mente e diga a ela: ‘Eu devolvo o seu cálice’. Você pode até se imaginar entregando-lhes fisicamente de volta o cálice sagrado e, ao fazê-lo, devolvendo-lhes a inocência e a santidade que eram seu bem mais precioso, que era o cerne de sua identidade positiva. Eles realmente não o haviam perdido. Sempre foi deles. Mas tendo jogado fora, eles esqueceram que era deles.

É normal fazer isso silenciosamente com qualquer pessoa, mas entenda que se você fizer isso de alguma forma externa, deverá ser guiado pelo Espírito Santo. O fato é que, se você realmente quer dizer isso, este ato de devolver o cálice pode ser demais para eles. Pode ser mais do que eles estejam prontos, como aparentemente foi o caso de Wally.

De qualquer forma, é isso que eu venho me concentrando em fazer em minha prática nos últimos dias. Minha prática tem sido irregular, então eu estou tentando novamente hoje com um compromisso renovado. No entanto, nos momentos que eu passei com ela, parece muito poderosa. Eu sinto que isso me desperta para um problema central que está sempre lá, mas quase sempre invisível.

Nós estamos todos andando por aí com saudades do nosso cálice, sentindo-nos desolados em sua ausência, procurando por ele, mas também com medo dele.”

Retornamos então à abordagem do livro do Dr. Wapnick e do padre Clarke.

5) Sobre o sonho de separação:

  • De acordo com o Curso, a natureza do mundo de sonhos, em que nós vivemos agora, é que ele não representa uma realidade genuína, mas apenas uma projeção de pensamento de uma aparente separação de Deus, da qual surgiu o nosso ego ilusório e a sua trama deste sonho de um mundo material separado de Deus como uma fuga do ego de seu sonho de buscar a vingança de Deus. Este mundo de sonho não foi produzido por nossos egos individuais atuais, mas por um ego original que se partiu em seu mundo de pensamento e então se fragmentou progressivamente nos múltiplos egos que nós experienciamos como seres humanos individuais hoje. Mas uma vez neste mundo de sonho, nós temos que viver nele e enfrentá-lo de forma moralmente responsável, amorosa e misericordiosa, como Jesus nos ensinou, para que nós possamos acordar do sonho assim que a lição de nossa escolaridade nesta ‘sala de aula’ esteja completa e nós voltemos novamente para a união bem-aventurada com Deus que nós nunca realmente perdemos.
  • Os pensadores Cristãos se opõem à ideia de que nunca realmente pecamos ou nos afastamos de Deus e que, em um mundo de sonho, nós poderíamos ter o livre arbítrio necessário para tomar decisões morais genuínas ou decidir voltar para Deus. Eles temem que a realidade e a importância central do mundo moral desapareçam, uma vez que apenas pessoas reais, eles acreditam, podem tomar decisões morais autênticas.

Imagem timothy-eberly-VgvMDrPoCN4-unsplash.jpg

…continua Parte II…

Um milagre é uma correção. Ele não cria e realmente não muda nada. Apenas olha para a devastação e lembra à mente que o que ela vê é falso. Desfaz o erro, mas não tenta ir além da percepção, nem superar a função do perdão. Assim, permanece nos limites do tempo. LE.II.13

Nada real pode ser ameaçado.
Nada irreal existe.
Nisso está a paz de Deus.
T.In.2:2-4

Autor

Graduação: Engenharia Operacional Química. Graduação: Engenharia de Segurança do Trabalho. Pós-Graduação: Marketing PUC/RS. Pós-Graduação: Administração de Materiais, Negociações e Compras FGV/SP. Blog Projeto OREM® - Oficinas de Reprogramação Emocional e Mental que aborda os temas em categorias: 1) Psicofilosofia Huna e Ho’oponopono. 2) A Profecia Celestina. 3) Um Curso em Milagres (UCEM). 4) Espiritualidade no Ambiente de Trabalho (EAT); A Organização Baseada na Espiritualidade (OBE). Pesquisador Independente sobre a Espiritualidade Não-Dualista como Proposta de Filosofia de Vida para os Padrões Ocidentais de Pensamento e Comportamento (Pessoais e Profissionais). Certificação: “The Self I-Dentity Through Ho’oponopono® - SITH® - Business Ho’oponopono” - 2022.

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