Trechos do documento preliminar de trabalho de uma Conferência da Universidade de Santa Clara (EUA), denominado “Bridging the Gap Between Spirituality and Business” (tradução livre: “Construindo Ponte Sobre a Brecha Entre Espiritualidade e Negócio), para o nosso conhecimento e entendimento sobre as Organizações Baseadas em Espiritualidade (OBE) e o cenário de ambiente de trabalho (AT) onde essas Empresas atuam.

Debate de Santa Clara – Conferência entre 9 e 11 de março de 2001

Editor Andre’ L. DelbecqE mail: [email protected]

©Leavey School of Business

Tradução livre Projeto OREM®

Observação do Projeto OREM®: Convidamos a estudarem o artigo 234 – UCEM – A Ponte e a Pequena Brecha, como leitura adicional para conhecimento e entendimento do sistema de pensamento de Um Curso em Milagres, que também aborda o tema da Ponte e da Pequena Brecha, à luz da espiritualidade não-dualista. Acesso através do link https://orem.blog.br/um-curso-em-milagres/234-ucem-a-pequena-brecha/.

O Diálogo de Santa Clara Entre Acadêmicos de Administração, Executivos Seniores e Teólogos

Prefácio

Antecedentes

“Na virada do século, as empresas permanecem como uma instituição social dominante, em muitos aspectos tão influente como os estados-nação na formação do contexto global contemporâneo. A Universidade de Santa Clara, uma Católica, instituição Jesuíta que abriga a distinta (eminente) Leavey School of Business, reside no coração do Vale do Silício, um dos complexos industriais mais vibrantes do mundo. Situada no local de uma das originais California Missions, o campus parece ser um centro de tranquilidade no meio da indústria aeroespacial, computação, software, telecomunicações, biociências e outras empresas modernas e em rápida evolução que desempenham um papel importante na formação do nosso mundo moderno impulsionado pela tecnologia.

A tranquilidade do Mission Campus é real e enganadora. A universidade é muitas vezes a ponte entre os desafios sociais contemporâneos e uma profunda tradição religiosa. Ela proporciona um oásis onde os líderes são capazes de sair da turbulência dos vibrantes esforços sociais contemporâneos para buscar uma reflexão mais profunda. Ainda assim, essa justaposição entre tradição religiosa e modernidade é complexa.

Por ocasião da Celebração do Sesquicentenário da Universidade, acadêmicos de administração, executivos seniores e teólogos se reuniram no Mission Campus para iniciar um diálogo sério sobre uma espiritualidade apropriada para o líder empresarial moderno. Tal conversa, ligando a sabedoria antiga aos desafios modernos, era congruente com a tradição do fundador da Ordem dos Jesuítas, Inácio de Loyola, um místico do século XV. Ele exortou os seus companheiros a estarem presentes onde Deus está agindo no mundo em cada época. Certamente a empresa é um poderoso locus contemporâneo de ampla-atividade mundial. Inácio teria aprovado o diálogo.

É claro que isso não significa que a espiritualidade empresarial seja apenas uma preocupação Católica, Jesuíta. Dentro da Academia de Gestão, a associação acadêmica preeminente para professores que ensinam disciplinas de administração em escolas de negócios, uma nova divisão (Gestão, Espiritualidade e Religião) foi formada no mesmo ano em que o diálogo de Santa Clara começou. A espiritualidade é hoje um tema que interpenetra o pensamento de gestão em todo o mundo, com perspectivas que abrangem muitas tradições religiosas e não religiosas.

O diálogo de Santa Clara buscou principalmente começar a construir ponte sobre a brecha entre a tradição Cristã e uma espiritualidade de liderança organizacional. No entanto, o Vale do Silício é um caldeirão de tradições religiosas diferenciadas. Assim, na segunda fase do diálogo, foram convidados os comentários de outras tradições.

A espiritualidade é hoje um tema que interpenetra o pensamento de gestão em todo o mundo, com perspectivas que abrangem muitas tradições religiosas e não religiosas.

O abismo entre a gestão e os estudiosos da teologia é substancial. Do lado empresarial, embora a espiritualidade tenha emergido como um grande interesse na literatura empresarial tanto académica como profissional, grande parte da escrita está, na melhor das hipóteses, vagamente ligada às tradições religiosas. Em alguns casos essa falta de ligação é deliberada. Há quem prefira separar a espiritualidade da religião. Noutros casos, contudo, a separação reflete o estado da vida académica moderna, com a sua divisão entre ciências sociais aplicadas, estudos empresariais e estudo de teologia. É raro um estudioso de gestão, mesmo que inspirado para abordar a espiritualidade numa moderna escola de negócios, que tenha realizado estudos formais em teologia. Essa ausência de contato com a teologia contemporânea é exacerbada pela senioridade de muitos estudiosos de negócios atraídos para enfrentar esse desafio. Mesmo que alguém incluísse teologia ou estudos religiosos em sua educação anterior, tal estudo seria anterior à perspectiva contemporânea da teologia sobre a espiritualidade.

Do outro lado da divisão, a própria teologia passou por uma grande evolução nas perspectivas relativas a uma espiritualidade leiga. Entretanto, os teólogos e o corpo docente de estudos religiosos raramente têm contato com os estudos contemporâneos de gestão que abordam noções modernas de liderança, estrutura organizacional, tomada de decisões e novos padrões de carreira. Na verdade, em muitas escolas de religião e teologia há uma rejeição da liderança empresarial como um chamado vocacional adequado. Existe o preconceito de que as negócios estão associadas apenas à ganância e à venalidade.

A Concepção do Diálogo

O propósito, então, do diálogo de Santa Clara era forjar uma aliança entre ilustres (distintos) estudiosos da espiritualidade e da gestão. Além disso, a experiência contemporânea dos executivos seniores era para ser o ‘contexto’ para o diálogo. A participação de executivos seniores pretendia fundamentar ambos os grupos de estudiosos na experiência vivida de liderança na organização empresarial moderna.

Como iniciar esse diálogo. Foram sugeridos muitos tópicos apropriados. A própria liderança, questões de justiça, o mal organizacional, a necessidade de comunidade na vida organizacional, etc. Ao final, três temas centrais para uma espiritualidade empresarial foram escolhidos para esse primeiro diálogo interdisciplinar:

III. As Implicações de uma Espiritualidade Contemporânea para o Trabalho, a Família e a Sociedade

Quais são as características dos negócios nesse momento histórico que podem explicar o aumento do interesse pela espiritualidade? O que uma espiritualidade contemporânea tem a dizer sobre o mundo do trabalho?

IV. A Nova Carreira Autogerida – Vocação/Chamado na Tradição Espiritual.

À medida que os indivíduos se envolvem mais plenamente no ‘trabalho do conhecimento’ e à medida que eles assumem cada vez mais responsabilidade pelas escolhas profissionais, como poderá o conceito Cristão tradicional de vocação ou chamado transformar o comportamento de liderança de vida dentro da organização?

V. Tomada de Decisões Estratégicas Contemporâneas – Discernimento na Tradição Espiritual

Liderança tem a ver, acima de tudo, com a tomada de decisões. Como poderia a antiga disciplina Cristã de discernimento justificar (explicar) escolhas estratégicas complexas feitas pelo líder da organização empresarial moderna?

O diálogo prosseguiu em duas partes. Em abril de 2000, dois acadêmicos seniores de administração, dois acadêmicos seniores de espiritualidade e dois executivos seniores participaram de uma conferência de fim de semana focada em cada um dos três tópicos. No término do fim de semana, os quatro acadêmicos e dois executivos focados em um dos três temas relataram as suas perspectivas preliminares em conversa aberta entre todos os dezoito participantes. O objetivo dessa primeira reunião foi quebrar as barreiras interdisciplinares, partilhar ideias preliminares e lançar as bases para a elaboração de documentos que serviriam de base para uma segunda Conferência a ter lugar em Março de 2001.

A lista dos participantes nessa primeira conferência é apresentada na Figura 1(*).

A experiência de abertura foi meio que uma montanha-russa. Houveram tensões significativas. Reunir um grupo interdisciplinar é sempre complexo. No entanto, nesse caso haviam duas tradições intelectuais (religião e negócio) com uma história considerável de alienação entre perspectivas.

Além disso, ambos os grupos de estudiosos falaram usando uma terminologia desconhecida um do outro. No final do primeiro dia, os participantes estavam exaustos e não tinham certeza se o projeto era realista. No segundo dia, os executivos juntaram-se à conferência e aqui começou a surgir um avanço. Ambas as disciplinas foram capazes de colocar as ‘ferramentas do seu ofício’ a serviço dos desafios de que falavam os executivos em relação aos esforços de liderança contemporâneos. Ao ‘fundamentar’ o diálogo na experiência dos executivos, a riqueza e os insights das duas disciplinas começaram a se aguçar e a serem mais compreensíveis em toda a divisão acadêmica. O último dia encontrou ambos os grupos de acadêmicos começando a desenvolver esboços para documentos de trabalho e a reunião terminou com bons sentimentos. No entanto, ainda haviam notas de ceticismo em relação ao esforço.

Se o diálogo é difícil quando se tenta estabelecer uma ponte entre pontos de vista académicos separados e experiências executivas vividas, a autoria conjunta de documentos de trabalho nos meses seguintes foi ainda mais difícil.

Os documentos pretendiam capturar não apenas pontos importantes através das lentes de cada disciplina, mas também uma visão mútua. Além disso, o mandato era escrever numa língua com a qual os executivos e não apenas os académicos, se identificassem. Os documentos de trabalho apresentados à segunda Conferência erraram claramente o alvo. Eles tinham a sensação de pontos de vista separados reunidos. Uma sensação clássica de recortar e colar e no processo muito do entusiasmo ou espírito do grupo foi perdido. Essa crítica honesta desanimou o grupo. Porém, com coragem, o reafirmado a criticidade de escrever com uma voz convincente e retornado à tarefa de preparar os três ensaios contidos nesse debate. Os autores foram grandemente ajudados pelo feedback de estudiosos de outras tradições que se juntaram ao diálogo na segunda conferência. (Os nossos leitores sentirão essa riqueza ao ler dois ensaios, um da tradição Hindu e outro da tradição Ortodoxa incluídos na seção final do debate).

Uma sensação do debate desejado começou a surgir. Foi acordado que pequenas vinhetas precederiam cada ensaio. Os ensaios se concentrariam na tradição Cristã, no entanto, seriam convidados comentários de outras tradições.

Uma Expressão de Gratidão

Nós somos gratos à Universidade de Santa Clara, à Leavey School of Business [Escola Leavey de Negócios] e ao seu Institute for Spirituality of Organizational Leadership [Instituto para Espiritualidade de Liderança Organizacional] por acolherem essa importante conversa. Todos os participantes descobriram que o ensino e os estudos subsequentes foram influenciados pelo tempo passado juntos em conversas desafiadoras. Nós esperamos que os ensaios sumários incluídos nesse debate sejam úteis para outros que buscam construir ponte sobre a brecha entre teologia, vida executiva e estudos de gestão.

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Figura 1(*)
Lista de Participantes

Afiliações Fornecidas na Data da Conferência

Espiritualidade Contemporânea do Trabalho

Kirk Hanson (Stanford University)

Gerald Cavangh (Detroit Mercy University)

Bradley Hanson (Luther College)

Juan Garcia (Hillebrand Institiute)

Ricardo Levy, (CEO Catalytica Inc.)

James Kouzes (CEO Emeritus, Tom Peters Training Group)

VOCAÇÃO/Chamado e a Nova Carreira

Joseph Weiss (Bentley College)

Douglas Timothy Hall (Boston University)

John Hauughey, S.J. (Loyola University, Chicago)

Michael Skelley (DePaul University)

Chris Taylor, (VP Human Development, Xilinx)

Ruth Grouell ( Vice President of Organizational Development, Hello Direct).

DISCERNIMENTO

Paul Nutt (Ohio State University)

Gordan Walter, (University of British Columbia)

Elizabeth Liebert, SNJM (San Francisco Theological Seminary)

John Mostyn, CSC (Cristian Brothers Institute/Iona)

Hatim Tyabji Hatim Tyabji (Chairman and CEO Saraide)

Kenneth Grunzweig (CEO, On the Go Software)

ESTUDIOSOS DA RELIGIÃO MUNDIAL

BUDDHISM: Duncan Williams, Harvard University

ISLAM: Jamal Badawi, St. Mary’s University

HINDUISM: Arvind Sharma, McGill University

JUDAISM: Lewis Bogage, De Pauw University

ORTHRODOX: Benjamin Williams, St. Barnabas Project

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Rumo a uma Espiritualidade para a Organização Contemporânea: Implicações para o trabalho, a família e a sociedade

Gerald Cavanaugh – University of Detroit, Mercy

Bradley Hanson – Luther College

Kirk Hanson – Santa Clara University

Juan Hinojoso – The Hillebrand Institute

Prelúdio: Duas Vidas Profissionais

Jerry se sente bem ao sair do escritório durante o dia. Ele se orgulha de ser CEO de um Sistema de Assistência Médica que fornece serviços tão necessários aos menos favorecidos urbanos, muitas vezes em circunstâncias difíceis. Ele pondera que a sua carreira tem sido uma jornada interessante. Ele tinha começado como um contador na Price Waterhouse, mas achou o trabalho e as pressões de tempo muito pesados. Querendo passar mais tempo com a família, ele se mudou para o sistema de assistência médica e ascendeu a Controller.

Houve um período enquanto Controller em que ele se perguntou se havia cometido um erro ao fazer a mudança, dada a turbulência financeira que o seu sistema de assistência médica experienciou com a transição para a assistência médica administrada [managed care]. Ele não passou por menos estresse do que na Price Waterhouse ao ajudar o seu novo empregador a administrar uma recuperação para eliminar desperdícios e reposicionar o sistema dentro de um modelo financeiro sólido. Mas ele emergiu a partir da reviravolta com um novo senso de direção e motivação. Posteriormente, há sete anos, a Healthhelp o escolheu como Diretor Financeiro [CFO] e ele tem sido CEO há quase três anos. Hoje ele está entusiasmado com o novo plano de marketing que acabou de analisar e que promete dar à Healthhelp uma participação maior no mercado de cuidados domiciliares [home care market].

Quando Jerry se instala em uma pista na I-660, ele começa a ouvir a sua mensagem de voz. A primeira é a voz suplicante de uma mulher de Arkansas ligando sobre rumores de que o escritório regional de seu negócio em sua cidade iria fechar. ‘Os rumores são verdadeiros? Eu e meu marido trabalhamos aqui. Os compromissos familiares fazem com que seja impossível a nossa mudança e eu não sei o que nós faremos sem os nossos empregos.’ Os pensamentos de Jerry estão confusos.

A princípio ele se pergunta como ela conseguiu esse número, no entanto, em um nível mais profundo ele sente empatia pela ansiedade da mulher. Ele se lembra das dificuldades de suas próprias mudanças na carreira. Uma das grandes satisfações do seu trabalho é que a Healthhelp proporciona empregos gratificantes e bons rendimentos a tantas pessoas. Ainda assim, tem havido momentos difíceis em que foi necessário reduzir pessoal e mudar ou fechar um escritório. Foi ainda mais difícil quando as pessoas afetadas não eram apenas nomes numa lista, mas pessoas que ele conhecia e respeitava. A responsabilidade pesa sobre ele.

As próximas duas mensagens telefónicas são de acionistas da sua empresa preocupados com a queda do preço das ações e com o relatório decepcionante sobre os lucros do último trimestre. Em seguida, vem um telefonema de sua esposa, lembrando-o da partida de futebol da filha naquela noite. Jerry se sente puxado em muitas direções – a infinidade de decisões que ele tem que tomar ou compartilhar como parte de seu papel de liderança, os funcionários pedindo isso ou aquilo, os acionistas querendo lucros maiores e um aumento no preço das ações, as necessidades dos membros da família e as suas próprias visões para o futuro da Healthcare, atraindo-o para novos esforços que exigirão muita energia.

A última mensagem é de sua mãe dizendo que ela não tem notícias dele há algum tempo e se perguntando como vão as coisas. Ela termina, como sempre, com: ‘Jerry, eu te amo’. Os pensamentos de Jerry se voltam para a sua mãe. Uma Católica mais velha que reza fielmente o seu rosário, Mãe reza por ele. Ela diz isso a ele de vez em quando. Jerry não vai mais à missa, exceto em reuniões familiares especiais. Ele está desconectado da igreja desde a faculdade. No início, outras coisas pareciam mais importantes e depois, quando ele conseguiu o seu primeiro emprego em período integral, a igreja parecia irrelevante. No entanto, com o passar dos anos, Jerry tem sentido um vazio em sua vida.

Ele sentiu isso pela primeira vez quando ele passou por aquele período de questionamento sobre o seu trabalho na Price Waterhouse e durante o período turbulento em que foi o primeiro controller, mas depois disso ele acalmou. Recentemente isso tem voltado com mais força.

Ele tem se sentido atraído por artigos de revistas e livros sobre espiritualidade. Algo ali fala com ele, no entanto, ele ainda está buscando. Ele não consegue colocar isso em palavras, mas ele sente uma fome por uma conexão e paz mais profundas.

Em outra rodovia, Maria, uma mãe solteira de 31 anos, corre para buscar a filha de quatro anos antes do horário de fechamento da creche. Como Gerente de Vendas da Extel Corporation para o Sudoeste, Maria vive uma vida agitada. Garantir que a sua filha tenha uma creche de alta qualidade e que o seu ex-marido cuide de tudo quando ela estiver fora da cidade exige muita atenção. Manter contato com os seus vendedores em todo o distrito, treinar novos, organizar seminários periódicos e, acima de tudo, superar ou pelo menos atingir as suas metas de vendas – tudo isso a mantém muito ocupada. Maria tinha sido uma excelente vendedora que adorava a emoção de fechar um negócio. Agora ela ajuda outras pessoas a aprender como fechar.

Ela é uma pessoa sociável e se esforça para construir um espírito cooperativo em seu escritório e com o seu pessoal de vendas em todo o distrito. Com o seu grande interesse por computadores, trabalhar para uma fabricante de chips combina com ela. A companhia oferece produtos de alta qualidade e ela tem orgulho de representá-los.

Ultimamente, porém, Maria tem tido sentimentos mais confusos sobre o seu trabalho. Por um lado, ela está frustrada com um problema irritante. Ela recebeu algumas reclamações sobre um representante de vendas em Oklahoma City.

Embora ele esteja geralmente no topo ou perto do topo em vendas para o distrito, na reunião da semana passada dos representantes de vendas do Distrito Sudoeste da Extel, ela percebeu que ele irritava várias outras mulheres. Alguém ligou para ela mais tarde para reclamar que ele lhe fez um comentário sugestivo. Maria se pergunta se esse é um padrão normal para ele.

Ela é sensível às necessidades das mulheres que estão tentando prosperar em um ambiente dominado pelos homens. Ela sente a raiva crescer dentro dela. Ela está irritada por ter que gastar tempo e energia para lidar com essas coisas.

Mais fundamentalmente, Maria sente um conflito entre trabalho e família. Ela gostaria de trabalhar na Extel ou em outra empresa, entretanto, as exigências de uma liderança mais sênior são muito pesadas. Ela começa às 7h30, muitas vezes almoça em sua mesa, tem dificuldade para sair antes das 18h30 e geralmente faz algum trabalho depois que a filha vai para a cama, bem como nos finais de semana. Ela sente a pressão especialmente quando as vendas despencam.

A renda dela depende dos números de vendas. Para piorar a situação, o vice-presidente de vendas da Extel é um workaholic que pensa que todos deveriam trabalhar tanto e tão arduamente quanto ele. No entanto, ela sente como se o trabalho estivesse dominando toda a sua vida. A filha dela vem em primeiro lugar, ela lembra a si mesma, mas o tempo com a filha está ficando cada vez mais apertado. Maria se sente culpada por não passar tempo suficiente com ela, especialmente tempo de qualidade quando ela não está distraída pensando em questões de trabalho.

Não é que as pressões dos negócios lhe fossem desconhecidas. Maria tinha sido atraída para o mundo dos negócios em grande parte por causa do seu pai, Ricardo, que é um dos primeiros Hispânicos a ascender à gestão superior de uma grande empresa petrolífera Americana. Quando eles conversam, o pai dela reconhece que o trabalho também ameaça assumir o controle de sua vida. Recentemente, quando ele propositalmente não levou um laptop durante uma semana de férias com a sua mãe, ele encontrou 148 mensagens de e-mails esperando por ele quando ele retornou ao escritório. Embora a sua secretária as tivesse separado em três categorias, ainda haviam 27 mensagens que necessitavam de ação imediata. No seu pensamento como um homem de negócios, ele reconhece como a tecnologia tem aumentado a produtividade, no entanto, como um ser humano, ele sente o custo.

Há também momentos em que o sentido de justiça de Maria é perturbado. Ela aprecia o nível de vida que o seu trabalho proporciona a ela e à sua filha, no entanto, por vezes ela se questiona sobre a justiça do sistema económico. A partir de contatos periódicos com familiares mais afastados, ela sabe que alguns deles estão lutando apenas para sobreviver com empregos mal remunerados. Ela fica desconfortável ao dirigir até o bairro degradado de San Antonio, onde a prima Marisela mora com o marido e dois filhos. Em parte é uma questão de segurança, mas também é uma questão incómoda sobre justiça. Marisela trabalha muito em dois empregos limpando quartos de hotel e o seu marido cuida de jardinagem em várias casas. Ainda assim eles não têm seguro de saúde. Maria está ciente da sua sorte: ser filha de um homem que saiu da pobreza e incentivou os seus filhos a terem uma boa educação. Mas que chances têm Marisela e os seus filhos?

Além disso, Maria reconhece que sempre que é possível Marisela manda dinheiro para os pais e a irmã no México, porque eles estão em situação pior. As questões sobre a justiça de todo o sistema económico incomodam Maria.

Num nível ainda mais profundo, Maria tem sentimentos difíceis para articular. Ela está começando a se perguntar por que se esforça tanto no que faz. É só para pagar as contas? É para subir na escada corporativa? O pai dela fala do seu trabalho como expressão da sua fé, mas Maria não sabe o que isso significa. Além disso, ele tem trabalhado em um ambiente bem diferente. Os executivos seniores da Pure Oil em Houston são, em sua maioria, membros fiéis da igreja e vários deles vão regularmente com o pai a um grupo de oração de executivos empresariais. A cultura de sua empresa é muito diferente. Baseada no Vale do Silício, a alta administração da Extel é mais jovem e muito mais secular.

Usualmente Maria dá boas-vindas a esse momento no carro, como o único momento do dia em que ela está sozinha e pode refletir sobre as coisas sem que o trabalho, a filha ou as tarefas domésticas a sobrecarreguem. Hoje ela tenta orar, mas a sua mente tem dificuldade para se concentrar. Quando criança, Maria orava muitas vezes. Na primavera e no outono ela adorava sentar-se sozinha sob a sua árvore favorita, contemplar o céu e ouvir os pássaros. A oração vinha naturalmente então. Agora isso, muitas vezes, é difícil. Ela sente necessidade de força e ajuda para resolver as coisas, mas não tem certeza de como encontrá-las.

Em seu coração, Maria sabe que uma solução rápida não é o que ela necessita. Justamente naquele dia ela tinha recebido um anúncio que prometia uma resposta fácil. O anúncio dizia: ‘Entre no seu ‘estado de pico’ e as respostas serão instantâneas e esclarecedoras. Você vê o propósito maior para a sua vida. Velhos padrões e crenças limitantes desaparecem. Pela primeira vez na sua vida, você sabe o que significa ser LIVRE! Quero dizer REALMENTE GRÁTIS! Uma oferta e tanto: o verdadeiro propósito de vida e a liberdade genuína, tudo por apenas uma fita de vídeo de US$ 39,95.’ Não, Maria sabe que ela necessita de algo com mais substância. Nos últimos anos, ela não tem frequentado muito a igreja. De alguma forma, com o trabalho e depois com o divórcio, ela perdeu o hábito. Talvez seja hora de achar uma igreja para ela e para a sua filha.

Vidas Investigadas

As preocupações que Jerry e Maria sentem são comuns entre os líderes empresariais. Frequentemente, perto da superfície, sente-se a necessidade de um equilíbrio saudável entre o trabalho e a vida pessoal e familiar. Embora os líderes empresariais possam ser desafiados e energizados pelo seu trabalho, isso pode ser desgastante. Isso levanta questões sobre as prioridades de alguém. A minha vida pessoal deveria estar completamente envolvida com o meu trabalho? Se eu disser que a minha família é o que mais importa para mim, como é possível que isso seja verdadeiro quando eu passo muito pouco tempo de qualidade com eles?

Mais profundamente na consciência no nível da percepção [consciousness] deles estão as preocupações éticas. Jerry se esforça para tomar decisões que não somente sejam boas para os resultados financeiros, mas também sejam boas para as pessoas de sua empresa. Maria questiona-se não somente sobre as suas próprias decisões empresariais, mas também sobre a justiça do sistema econômico para as mulheres e para as pessoas menos favorecidas como a sua prima.

Muitas vezes, bem abaixo da superfície, está o anseio por um propósito mais profundo. Na correria das atividades diárias e no foco em planos de longo prazo é difícil colocar essa preocupação em palavras, mas às vezes alguém se pergunta se existe um significado maior. No final fica a pergunta: Qual é o sentido da minha vida? Essa questão pode estar menos presente na consciência no nível da percepção [consciousness] quando uma pessoa está ocupada em se estabelecer na vida – romance, carreira, lar, posição social podem parecer mais urgentes. No entanto, tendo alcançado ou não os objetivos desejados nessas áreas, alguém pode se perguntar se isso é tudo o que há. Agora que Jerry veio a ser o CEO da Healthhelp, ele tem alcançado o seu propósito na vida? Ou existe um propósito maior ao qual Jerry pode servir, seja CEO, aposentado ou até mesmo desempregado?

Há um anseio por uma base sólida de segurança em meio ao turbilhão de incertezas. Como uma pessoa na área de vendas, Maria surfa nas ondas econômicas; os altos são estimulantes, os baixos agonizantes. Como uma Texana que viu o que a recessão dos anos 80 fez a Houston e que reconhece que algumas áreas do oeste do Texas ainda estão profundamente deprimidas, Maria sabe que não se pode contar com tempos de expansão duradouros. E em tecnologia, ela reconhece que uma empresa que atualmente está em alta poderá falir em breve. Recentemente, acrescentadas a essas incertezas econômicas, na experiência de Maria estão as preocupações com a saúde.

A sua mãe está bastante frágil após a segunda cirurgia de ponte de safena e, no mês passado, uma das amigas íntimas de Maria, da faculdade, foi diagnosticada com câncer de mama e em breve começará a quimioterapia. No fundo de seu instinto, Maria começa a sentir que não só a economia, mas a própria vida é frágil. Ela conversou ontem com uma amiga que é uma das três candidatas finais a um bom emprego. A sua amiga tinha dito: ‘Eu quero o emprego, no entanto eu não irei ficar muito preocupada com isso. Se eu não conseguir isso, eu imagino que o bom Deus só me quer em outro lugar.’ Maria não tinha certeza sobre a visão que a sua amiga tinha de Deus, no entanto, ela invejou a sua segurança e paz em uma situação estressante.

Essas preocupações sobre equilíbrio, ética, significado mais profundo e segurança duradoura não são específicas apenas dos empresários da América do Norte. Elas surgem como questões para muitas pessoas em qualquer sociedade moderna e industrializada. As questões de significado e segurança são perenes para os humanos. No entanto, os líderes empresariais preocupados com essas questões sentem-se muitas vezes como viajantes sedentos num deserto, porque a atenção a essas questões é, em muitos aspectos, suprimida pelo sistema empresarial global. Assim, nós passamos à Reflexão Única para examinar o contexto do sistema empresarial moderno e o contexto da espiritualidade moderna.

Um Contexto Desafiador do Sistema de Negócios Global

Embora mais países estejam abraçando a economia de mercado livre e aspectos adicionais de uma cultura empresarial Ocidental, esse sistema pode ser indiferente – e por vezes hostil – à preocupação com outros valores fora daqueles abrangidos por essa lógica do sistema de mercado. Embora outros valores não sejam totalmente incompatíveis com o sistema empresarial, eles têm que existir em meio a pressões que os ameaçam. Dado que as críticas ao capitalismo de mercado contemporâneo e aos negócios globais são frequentes e estão facilmente disponíveis, nós mencionaremos apenas quatro dessas forças para exemplificar tais tensões latentes.

Materialismo.

A principal motivação da livre iniciativa global e do sistema empresarial moderno é criar riqueza para indivíduos e corporações. Ocorre uma distorção quando o dinheiro, os bens materiais e o status econômico vêm a ser as medidas primárias do valor pessoal e quando os lucros dos acionistas são vistos como o objetivo exclusivo da atenção da gestão. Quando os gestores dentro do sistema econômico consideram os empregados apenas como instrumentos de produção (‘o homem para o trabalho em vez de o trabalho para o homem’), os empregados individuais também tendem a concentrar-se apenas no ‘valor de mercado’ deles. O valor material reina então como a orientação dominante.

Elevação da liberdade individual sobre a comunidade.

O sistema empresarial moderno está fortemente comprometido com mercados livres e indivíduos livres. Essa ênfase na liberdade tem muitos resultados positivos. Apoia a imaginação, a inovação e a flexibilidade que são qualidades necessárias ao empreendedor. Isso permite a mobilidade laboral, possibilitando que os indivíduos busquem e achem emprego econômico satisfatório onde quer que existam maiores oportunidades. A liberdade dos mercados permite que uma economia responda rapidamente às necessidades. Indivíduos livres também são a base da democracia.

A ênfase na liberdade individual e nos mercados livres, contudo, é capaz de ocorrer às custas da comunidade. O foco prontamente se volta para o interesse próprio, sem levar em consideração os interesses dos outros. A dedicação à autorrealização pode evoluir às custas do compromisso com a comunidade. Além disso, embora o sistema de mercado livre gere riqueza, é agora evidente que grande parte dessa riqueza recentemente criada, pelo menos a curto e médio prazo, está fluindo para um grupo restrito de indivíduos e companhias.

Nos Estados Unidos, as estatísticas do rendimento nacional indicam que o rendimento real dos vinte por cento das famílias mais ricas tem beneficiado desproporcionalmente a partir da geração de riqueza interna durante os últimos trinta anos, enquanto o rendimento real dos vinte por cento da população mais pobre tem declinado. A distribuição desigual da riqueza a nível mundial é ainda mais flagrante. Embora o sistema empresarial permita que Jerry e Maria se preocupem e tomem medidas para ajudar aqueles que estão na extremidade inferior da escala, o sistema não incentiva ou fornece automaticamente essa assistência.

Juntamente com o aumento da pressão sobre a liberdade individual desde a década de 1960, tem ocorrido um ‘enfraquecimento’ das instituições sociais nos Estados Unidos. As instituições da família, da educação, do governo, dos cuidados de saúde e da religião têm sofrido um declínio em recursos, em confiança e em respeito. A desconfiança generalizada e a diminuição dessas instituições reforçam a admoestação do mercado de uma maior confiança no indivíduo.

Despersonalização.

O sistema empresarial moderno reforça a despersonalização já presente no processo de industrialização, aumentando o sentimento de distanciamento comunitário. Além disso, há a migração de um grande número de pessoas em busca de oportunidades econômicas. As empresas nacionais e globais incentivam adequadamente os gestores a adquirirem experiência numa variedade de cidades e países e buscam trabalhadores qualificados de todo o mundo para se juntarem aos seus esforços econômicos. Contudo, movimentos frequentes em busca de oportunidades econômicas e padrões de migração econômica separam a família móvel de parentes e amigos.

Devido às pressões de tempo do trabalho e às longas viagens, não há tempo suficiente para desenvolver novas amizades íntimas, seja no trabalho ou fora dele. Isso também deixa o gestor isolado e com pouco apoio social. Em conjunto, a mobilidade laboral e de gestão promove a atitude de que as pessoas são apenas partes de um sistema impessoal, partes que podem ser deslocadas ou descartadas tendo em conta apenas os resultados financeiros. Essa ‘mentalidade de sistema’ empresarial não foca o respeito pela dignidade e pelo valor de cada pessoa.

Conectividade tecnológica 24/7 [24 horas por dia, 7 dias por semana].

A tecnologia electrónica que liga unidades de negócios globais traz um dilúvio de novas exigências de informação e comunicação que exigem atenção constante. Em vez de apenas prestar atenção aos desafios locais, os líderes empresariais têm que agora acompanhar as inovações e responder com mudanças estratégicas nos mercados globais. As informações técnicas e de mercado proliferam e o líder empresarial tem que ser capaz de reagir rapidamente para ter sucesso. A onipresença das comunicações – desde telefones celulares, rede mundial de computadores, e-mails, assistentes digitais pessoais, videoconferências, etc. – tem acelerado o ritmo e prolongado o dia de cada líder empresarial. Os empresários participam de uma reunião e conversam por e-mail com outra pessoa. Eles respondem e-mails durante as férias na praia. Os celulares deles tocam no meio de eventos sociais e até de cultos religiosos. É difícil encontrar tempo para a família e para a reflexão sobre as preocupações fundamentais da vida.

Resumo

Existem, é claro, outros desafios. Impactos dos negócios globais nas culturas locais, o consumismo com a sua capacidade de transformar desejos em necessidades, a propriedade empresarial dos meios de comunicação, etc. E existem contrapressões dentro do próprio sistema empresarial por parte de líderes sensíveis a essas pressões e distorções. Os exemplos acima não pretendem ser enciclopédicos, mas sim indicar os tipos de pressões que os líderes empresariais contemporâneos sentem, à medida que eles se voltam e examinam outras orientações a pretender.

Espiritualidade, Religião e Outras Visões de Mundo

Onde é possível que os líderes empresariais possam procurar ajuda para lidar com as preocupações de equilíbrio, ética, significado mais profundo e segurança duradoura no meio de mudanças constantes num sistema cuja lógica muitas vezes se centra nas preocupações impessoais e instrumentais da eficiência? Jerry está buscando fontes rotuladas como espiritualidade. Maria está olhando para a sua tradição religiosa. Alguém poderia recorrer à psicologia de Jung ou a um seminário sobre autorrealização ou a uma ideologia política. Mesmo essa variedade de opções é confusa. Como separá-las? A escolha de uma abordagem torna-se ainda mais difícil porque não há uma definição universalmente acordada de ‘espiritualidade’ e ‘religião’ e nenhum consenso sobre como outros sistemas de pensamento se adaptam ao quadro. O que se segue é um mapa desse labirinto, embora nós não afirmemos que isso é o único possível.

Espiritualidade

Nós começamos com ‘espiritualidade’. Embora espiritualidade seja um termo popular hoje em dia, o seu significado varia muito e é muitas vezes vago. A ambiguidade de ‘espiritualidade’ vem em grande parte dos múltiplos significados de sua raiz, ‘espírito’. Dois significados são especialmente relevantes. Um significado de espírito é Deus, o Grande Espírito. Frequentemente as pessoas usam a espiritualidade para se referir ao seu relacionamento com Deus ou, mais genericamente, com o Sagrado ou Transcendente. Um segundo significado de espírito refere-se à capacidade humana de transcender as circunstâncias imediatas e buscar um sentido para a vida. Ser espiritual é exercitar essa capacidade e afirmar algum significado geral, quer inclua a crença numa realidade transcendente ou não. A espiritualidade é então o esforço deliberado para viver esse significado na existência de alguém.

Em nossa discussão, nós começamos com a espiritualidade nesse segundo sentido, mais amplo, como o esforço intencional para viver um significado global. Nós podemos expressar isso como:

uma espiritualidade = uma visão de mundo + um caminho.

Vamos descompactar essa conceituação.

1. Nós falamos de uma espiritualidade, pois não existe tal coisa como espiritualidade genérica. Embora possam existir alguns fatores comuns a todas as espiritualidades, eles só podem ser muito gerais e abstratos. Por exemplo, afirmar que as espiritualidades incluem uma visão de mundo e um caminho não diz nada específico sobre a visão de mundo ou o caminho. Então, primeiro, em nossa opinião, é importante reconhecer que não existe uma espiritualidade que sirva para todos.

2. Uma espiritualidade envolve uma visão de mundo, uma perspectiva sobre o mundo e o lugar da vida humana nele. Em outras palavras, uma visão de mundo afirma um certo significado para a vida humana. Como uma visão de mundo é complexa, é útil fazer algumas distinções.

• É importante notar que quando nós falamos de visão de mundo como parte da espiritualidade, a visão de mundo é prática; vive-se a vida de acordo com isso. Embora uma visão de mundo possa ser intelectualmente complexa e profunda, ela não é meramente teórica. Viver de acordo com uma visão de mundo implica certos compromissos que são priorizados. Alguns compromissos são mais importantes que outros e normalmente um compromisso tem prioridade sobre todos os outros. Na medida em que esse compromisso mais elevado é efetivamente seguido, ele dá unidade e coerência à existência de uma pessoa ou comunidade.

• As visões de mundo variam das muito sofisticadas às simples. Por exemplo, uma visão de mundo Zen-Budista pode ser uma perspectiva muito sofisticada, expressa tanto em declarações curtas como em explicações filosóficas densas. Uma visão de mundo também pode ser bastante simples. Como disse uma mulher: ‘Ame a Deus e ao próximo; essa é a minha visão das coisas.’ Quando pressionada, ela explicou um pouco o seu entendimento de Deus, do próximo e o que significava amá-los, mas a sua visão não era complicada. Seja complexa ou simples, uma visão de mundo é uma interpretação da existência humana e do seu contexto.

• Existe uma gama de visões de mundo que vão desde claramente religiosas até explicitamente seculares. Muitas visões de mundo são claramente identificadas com uma religião reconhecida, mas outras afirmam ser não-religiosas. Algumas visões de mundo que negam uma conexão com a religião dizem que são uma espiritualidade. No entanto, as visões de mundo não-religiosas geralmente têm uma relação mais próxima com a religião do que admitem. Em alguns casos, a ligação é histórica. Por exemplo, embora os líderes da Nova Era apresentem frequentemente a sua ‘espiritualidade’ como uma alternativa à ‘religião organizada’, alguns estudiosos respeitáveis ​​dizem que a espiritualidade da Nova Era é uma versão de uma antiga tradição religiosa na cultura Ocidental sob um novo nome. (Downey, 1997). Em outros casos, os links são semelhantes em forma e função. O estudioso das religiões mundiais, Ninian Smart, vê nas visões de mundo seculares do nacionalismo e do Marxismo as mesmas características ou dimensões gerais que observa nas religiões.

3. A espiritualidade inclui um caminho, um conjunto de práticas que nutrem e expressam a visão de mundo na vida de alguém. Em outras palavras, uma espiritualidade envolve algumas maneiras deliberadas de cultivar e mostrar o significado que uma pessoa ou comunidade afirma. Alguém comprometido com uma visão de mundo Zen Budista provavelmente seguirá certas práticas de meditação, envolver-se-á num centro Zen, participará de sessões com um mestre Zen e lerá livros sobre Zen. Se a visão de mundo de uma pessoa for secular, o seu caminho também será. Uma espiritualidade ecológica secular envolveria práticas de valorização e responsabilidade pessoal e corporativa por toda a natureza, tais como a participação no Sierra Club(*) e uma atenção cuidadosa à utilização de produtos reciclados.

[(*) O Sierra Club é uma associação ecologista das mais importantes dos Estados Unidos da América, fundada em São Francisco, na Califórnia, por John Muir, em 1892. Foi a primeira organização não-governamental Americana (ONGA) a dedicar-se à proteção do ambiente. Tem três milhões e quinhentos mil membros. Fonte Wikipedia.]

4. A espiritualidade inclui tanto uma visão de mundo como uma prática. Consequentemente, a espiritualidade não deve ser simplesmente equiparada a certas práticas como a meditação, o cultivo do silêncio ou o retiro. A visão de mundo e a prática influenciam-se mutuamente. Isso significa, por um lado, que uma visão do mundo seja ou não intelectualmente sofisticada, ela molda a existência das pessoas de forma prática e é intencionalmente manifestada e alimentada através de práticas específicas. Por outro lado, também significa que o significado de qualquer prática desse tipo varia de acordo com a visão de mundo em que ocorre. Por exemplo, embora os movimentos corporais de um determinado exercício de hatha yoga possam ser os mesmos, o significado desse exercício no âmbito da Meditação Transcendental de Maharishi Mahesh Yogi é diferente do hatha yoga realizado num contexto Cristão.

Para resumir essa discussão, nós temos dito que uma espiritualidade = uma visão de mundo + um caminho. Esse entendimento da espiritualidade tem diversas implicações. Uma implicação é que existem espiritualidades religiosas e seculares. Embora muitas formas de espiritualidade sejam explicitamente identificadas com uma tradição religiosa e algumas sejam declaradamente seculares, todas elas funcionam na sociedade e na vida das pessoas de forma muito semelhante. Frequentemente, elementos de diversas fontes são misturados. Por exemplo, Thomas More, autor contemporâneo de vários livros populares sobre espiritualidade, baseia-se livremente em várias tradições religiosas, mas a estrutura básica do seu pensamento vem da psicologia Junguiana. O próprio Carl Jung incorporou ideias e símbolos religiosos em seu pensamento, mas conselheiros não-religiosos usam as suas ideias. Assim, em nosso uso, há uma grande sobreposição entre as ideias de espiritualidade e religião, embora nós reconheçamos que a espiritualidade é mais ampla, no sentido de que algumas pessoas querem chamar a sua perspectiva de espiritualidade, mas rejeitam o termo religião.

Uma segunda e mais importante implicação desse conceito de espiritualidade é que quase todas as pessoas têm uma espiritualidade. Nós temos começado com a noção de espiritualidade como fruto do espírito humano, ou seja, da nossa capacidade de estar acima das nossas circunstâncias imediatas e fazer perguntas sobre o significado da nossa vida e o que acabará por ser de nós. A menos que a pessoa ainda seja uma criança ou esteja totalmente desorientada, todos os seres humanos têm algum significado que dá uma direção básica às suas vidas e algumas maneiras pelas quais reforçam esse significado. Portanto, todos os líderes empresariais já possuem uma espiritualidade, mesmo que não a reconheçam.

Duas espiritualidades seculares que o sistema empresarial tende a promover são o materialismo e o sucesso. O materialismo ou a riqueza são candidatos antigos à maior lealdade de uma pessoa, pois as pessoas no antigo Egito, Roma e China também estavam sujeitas a essa tentação. As sociedades contemporâneas e as suas formas variantes de sistema empresarial oferecem novos meios para a aquisição de riqueza e promovem-na agressivamente através da publicidade. A tentação para os indivíduos é medir o seu valor em termos dos seus rendimentos e posses. O sistema de mercado atual também exerce pressão sobre indivíduos e grupos para que tomem decisões empresariais exclusivamente com base no lucro. Os bens materiais vêm a ser assim o valor mais alto. Todo o resto – as relações pessoais e a saúde, o bem-estar das outras pessoas e o ambiente – está subordinado ao materialismo. Assim, os bens materiais vêm a ser aquilo que mais importa, a prioridade fundamental.

A menos que a pessoa ainda seja uma criança ou esteja totalmente desorientada, todos os seres humanos têm algum significado que dá uma direção básica às suas vidas e algumas maneiras pelas quais reforçam esse significado. Portanto, todos os líderes empresariais já possuem uma espiritualidade, mesmo que não a reconheçam.”

O sucesso é outra espiritualidade perenemente atraente. Embora o sucesso esteja geralmente relacionado com o rendimento e a riqueza no mundo dos negócios, para muitas pessoas o compromisso principal é com o sucesso. Seja possuindo o próprio negócio ou trabalhando para uma empresa, o que mais conta é atingir a meta de progresso. O cenário empresarial de hoje frequentemente exerce enorme pressão sobre as pessoas para que façam da carreira o centro de sua existência. Mais tempo e energia são dedicados ao trabalho. Outros aspectos da vida sofrem.

Quando a riqueza ou o sucesso governam a vida de uma pessoa, eles [riqueza ou sucesso] funcionam como uma espiritualidade, pois operam com uma visão de mundo e envolvem práticas intencionais para atingir o objetivo. Um exemplo literário é dado na peça clássica de Arthur Miller, Death of a Salesman. O personagem principal, Willy Loman, é um vendedor que possui uma certa visão de mundo de mercado em que o objetivo é enriquecer através do caminho de ser querido. Willy não faz grandes perguntas sobre o universo, Deus ou o futuro da humanidade. A sua perspectiva limitada molda toda a sua existência. Willy Loman certamente ama a sua esposa, mas a devoção ao seu sonho de riqueza é a sua maior prioridade e o leva a ser infiel a ela. Willy também tem um grande amor por seu filho mais velho, Biff, no entanto, o filho sofre com a expectativa de Willy de que Biff realize o sonho de seu pai. Portanto, a visão de mundo de Willy molda toda a sua vida. As práticas que Willy Loman emprega para expressar e nutrir a sua visão de enriquecer sendo querido são padrões regulares de comportamento. Ele tenta impressionar os outros e ser engraçado, mente sobre conhecer pessoas importantes e exagera o seu histórico de vendas e se inspira nos exemplos dados por seu irmão e por um vendedor idoso que ele uma vez conheceu.

Quando a riqueza ou o sucesso governam a vida de uma pessoa, eles [riqueza ou sucesso] funcionam como uma espiritualidade, pois operam com uma visão de mundo e envolvem práticas intencionais para atingir o objetivo.

No ambiente acelerado dos negócios contemporâneos, a postura de vida subjacente de uma pessoa pode ser basicamente a mesma de Willy Loman. A obtenção de riqueza ou sucesso pode ser o centro da perspectiva de uma pessoa sobre o mundo. As práticas utilizadas agora incluem vários meios eletrônicos, mas a realidade básica é que a carreira com a sua riqueza ou o seu sucesso tem precedência sobre todo o resto. Riqueza e sucesso são a espiritualidade de muitos. Embora seja improvável que aqueles que os colocam em primeiro lugar os chamem de espiritualidade, eles funcionam como um só. No entanto, a riqueza e o sucesso cobram um preço alto. Perde-se o equilíbrio na vida, as questões de ética são postas de lado, não há significado mais profundo para além da riqueza e do sucesso e a segurança que proporcionam é realmente ténue.

Felizmente, o mundo empresarial não se opõe totalmente a outras orientações. Tem havido alguns esforços importantes para considerar a vida pessoal, a ética e a espiritualidade mais profunda durante a condução dos negócios. Jerry e Maria podem buscar ajuda nessas tentativas de integração.

Riqueza e sucesso são a espiritualidade de muitos. No entanto, a riqueza e o sucesso cobram um preço alto.

Relação de referências, livros, grupos de oração, recursos adicionais, para estudo complementar, constam na parte II desse artigo.

…continua Parte II…

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A Espiritualidade nas Empresas trata-se de uma Filosofia cujos Princípios podem ajudar tanto as Pessoas quanto as Organizações.

Autor

Graduação: Engenharia Operacional Química. Graduação: Engenharia de Segurança do Trabalho. Pós-Graduação: Marketing PUC/RS. Pós-Graduação: Administração de Materiais, Negociações e Compras FGV/SP. Blog Projeto OREM® - Oficinas de Reprogramação Emocional e Mental que aborda os temas em categorias: 1) Psicofilosofia Huna e Ho’oponopono. 2) A Profecia Celestina. 3) Um Curso em Milagres (UCEM). 4) Espiritualidade no Ambiente de Trabalho (EAT); A Organização Baseada na Espiritualidade (OBE). Pesquisador Independente sobre a Espiritualidade Não-Dualista como Proposta de Filosofia de Vida para os Padrões Ocidentais de Pensamento e Comportamento (Pessoais e Profissionais). Certificação: “The Self I-Dentity Through Ho’oponopono® - SITH® - Business Ho’oponopono” - 2022.

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